23 de março de 2015

Trinta e três



Este ano completei 33 anos. Para muitos, é tempo suficiente para constituir uma família, ter filhos, consolidar uma carreira etc. Meu pai, por exemplo, se tornou pai pela terceira vez com essa idade e já se considerou um “pai velho”, já que o primeiro foi aos 25 anos.

Acredito que na vida fazemos muitas escolhas. Entretanto, sei também que muitas escolhas são feitas antes de nascermos, ainda no plano espiritual. Não sei exatamente qual foi meu plano, mas sei que minha trajetória até aqui foi pautada por oportunidades e lições aprendidas. Sinto-me feliz em ter uma família maravilhosa e amigos de verdade. Sinto-me realizado profissionalmente, apesar de tentar buscar novas oportunidades e gostar de outras áreas que infelizmente a carreira deixou de lado.

“Caminhando sem olhar para trás, é como rota da história que nunca pode parar. Há um turbilhão de anseios despertando a nossa voz. Há um mundo de esperança, esperando, esperando por nós. E a gente vai seguindo só olhando para frente, procurando nosso mundo de paz”. Essa letra descobri recentemente, e percebo que vivo o presente, olhando para o futuro, desejando alcançar aquilo que não consegui até hoje.

Para os cristãos, Jesus Cristo foi o maior exemplo de homem que já encarnou na Terra. Ele não só trouxe ensinamentos para ser um “homem de bem”, como principalmente deu seu testemunho ao longo de seus 33 anos, até sua crucificação.

Penso que pouco fiz nesses 33 anos para minha reforma íntima e moral, diante de tudo aquilo que Jesus nos trouxe. Somos capazes de conquistar muito mais. Sabedoria para lidar com as dificuldades do dia a dia, paciência, perseverança, confiança em si mesmo, compaixão e mais doação. Quanto mais servimos ao próximo, mais estamos fazendo por nós.

Não deixo de agradecer tudo que conquistei até aqui. Acredito que plantei boas sementes e já colho bons frutos hoje. Mas quero mais. Não riquezas vazias, descartáveis. O desejo é crescer mais como ser humano em evolução. Aprender mais com as oportunidades e pôr em prática seus ensinamentos. A sensação que tenho é que 33 ainda são muito pouco para realizar tudo aquilo que somos capazes. E isso é bom.

12 de março de 2015

A bela vida



Ontem fui pego de surpresa com a notícia triste de uma mulher, que pouco tinha contato, mas que sua história de vida me comovia e que infelizmente perdeu a batalha para o câncer. Aos 35 anos, foi diagnosticado um câncer de mama que, mesmo depois de intenso tratamento, tornou-se metástase alcançando o cérebro e a coluna. Linda, com corpo de bailarina, ela chamava atenção em suas apresentações de dança. A surpresa veio porque, mesmo sabendo do peso que uma doença dessa traz, a esperança da cura sempre existia. E ela lutou durante três anos, sempre mostrando que a vida valeria a pena. Não teve filhos, mas deixou muitos amigos. Amigos que lamentam a morte tão precoce de alguém que respirava dança.

Em outra história, uma amiga bem próxima também passa por uma situação de uma doença grave, mas ainda sim curável. Nessas últimas semanas tivemos um susto, quando foi internada por conta de uma inflamação na medula, o que a levou a perder a sensibilidade dos membros inferiores. Aquele medo da perda foi inevitável. Mais uma vez, o cenário é de uma jovem, com muitos sonhos e desejos pela frente. Até outro dia, dançávamos juntos, como sempre fazemos toda semana em nossa aula. Sua disposição e alegria contagia qualquer um.

E daí, pergunto: estamos preparados para morrer? Sabemos o que isso significa em plena juventude? De forma geral, não desejamos a morte de ninguém, nem dos mais idosos, mesmo sabendo que a trajetória natural da vida caminha para isso. Mas quando se trata de pessoas jovens, com nossas idades, bate um certo desespero de achar que a vida não pode ser interrompida assim, do nada, de repente.

Há certamente explicações para essas vidas serem interrompidas tão bruscamente. Nós é que insistimos em não buscar essas razões. Apesar do conhecimento da doutrina espírita, que nos tenta ensinar o verdadeiro valor da vida terrena e, mais que isso, mostrar que a vida é eterna, só não se restringe ao nosso mundo corpóreo, ainda insistimos na cegueira e somos extremamente egoístas.
Daí você dá uma olhada em sua volta e percebe como a roda da vida não para um segundo. Enquanto uns choram a morte de um ente querido, publicando fotos e textos, outros comemoram o nascimento do primeiro filho com a foto do bebê recém-nascido ainda na maternidade. O “Feed de notícias” te atualiza de tudo, mostra o ciclo da vida, traz a realidade de que estamos apenas de passagem, vivendo a cada dia as emoções de partidas e chegadas.

Entro no meu álbum de fotografias e a primeira foto que me deparo representa tudo isso: meus sobrinhos (um com dois anos e outro de oito meses) no colo da bisa, no dia do seu aniversário de 84 anos. E naquele momento passa um longo filme na minha cabeça de 32 anos (prestes aumentar para 33) pensando que não há nada de surpreendente nessa vida que não sejam: a morte, o nascimento e o... renascimento! Renascemos a cada dia, a cada alvorada. Renascemos a cada vez que passamos por dificuldades, por derrotas, por perdas. Renascemos a cada vitória, conquistas e sonhos realizados. Renascemos ao perceber o quanto a vida nos proporciona emoções díspares a cada momento, a cada “feed de notícias”. 

Hoje já chorei de tristeza, já chorei de alegria. E a cada renascimento sinto uma emoção diferente.

1 de março de 2015

Rio de Janeiro - o anti-herói


Entende-se  por anti-herói aquele herói torto, cheio de defeitos, imperfeito. Geralmente ele só quer curtir a vida e tirar sarro do herói. Costuma ser vaidoso e nada modesto,  além de transformar algo sem graça em interessante.

  Ipanema, Urca, Lapa e Vila Isabel
Se pudéssemos personificar o Rio, eu diria que ele é um verdadeiro anti-herói. Sabe que é bonito, safo, famoso e admirado, mas nem por isso esconde que é um "purgatório da beleza e do caos". Suas paisagens são antagônicas. Seja luxo, seja lixo. Seja praia, seja centro, seja favela, seja subúrbio. Seja limpo, seja sujo. Seja velho, seja novo. Seja Zona sul, seja Zona norte.  Seja descolado, seja almofadinha,  seja vagabundo, seja engravatado.

Desfile do Grupo de Acesso 2015 na Sapucaí 

O anti-herói se faz às vezes de herói, às
vezes de vilão. As manchetes de jornal mostram o lado perverso, com a violência, a corrupção,  o tráfico,  a pobreza e o descaso. Mas quando o assunto é sobre o aniversário do Rio, ah...

Arcos da Lapa durante uma manhã 
Aí as notas frias dão lugar às crônicas e aos belos textos sobre as belezas naturais da cidade,  do carisma do carioca, do carnaval, das praias, da cidade maravilhosa. Vamos falar então do Cristo, Pão de Açúcar,  Lapa, Maracanã,  Jardim Botânico, Lagoa Rodrigo de Freitas, Ipanema, Leblon, Copacabana, Rocinha, Vidigal, Vila Isabel, Madureira.

Pôr do sol em Ipanema durante SUP

O Rio dos contrastes, de seus personagens, das dificuldades de qualquer metrópole,  e de suas peculiaridades. A cidade cercada de montanhas, com uma das maiores florestas urbanas do mundo, com 750 favelas e com metro quadrado mais caro que Nova York.

É óbvio que anti-heróis não agradam a todos. Nem o Rio. Mas quem disse que eles se importam com isso?

Viva os 450 anos da minha cidade. Viva o Rio de Janeiro. Viva o anti-herói.

Vista do Parque das Ruínas em Santa Teresa