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Há exatos 10 anos,
ingressei na faculdade de Comunicação da Escola de Comunicação da UFRJ. Era
setembro e o segundo semestre começava com atraso, por conta de uma longa
greve. A expectativa era grande. Depois de passar por um conturbado vestibular
e conquistar uma das 101 vagas para o disputado curso de comunicação, chegava o
momento de começar uma nova etapa da vida. Ambiente novo, pessoas novas, o início
de uma trajetória profissional.
Logo no primeiro dia, o
tradicional trote ao mesmo tempo que assustava os calouros, proporcionava uma
mistura de ansiedade e êxtase. O velho palácio da Praia Vermelha recebia seus
novatos, todos com cara de criança, recém saídos do antigo 2º grau. Nada de uniforme,
recreio, inspetor, formação, hino, tabuada. O uniforme era bermuda, chinelo e
camiseta. Laguinho, sujinho, medinho, CA eram como velho pátio da escola. Em
pouco tempo, já éramos reconhecidos como ecoínos (de Escola de Comunicação –
ECO).
No início, era todo mundo
misturado. Apenas no terceiro período é que nos separamos, quando cada um
escolheu sua carreira: jornalismo, publicidade, rádio e TV, ou produção
editorial. E foi também o período que muitos desistiram da faculdade. Os grupos
já estavam se formando, as amizades foram se estreitando. E o nosso grupo já
tinha um apelido: Os melancias.
O que seria uma ofensa se
tornou uma definição, um elogio, um estado de espírito. O grupo recebeu o
título de um colega de turma: “nossa, como vocês adoram aparecer! São
verdadeiras melancias”. E não demorou muito para o grupo assumir o apelido
carinhoso. Em um carnaval, foi formado o “bloco dos melancias”, com direito a
camisa “pendure a sua também”! A letra foi adaptada do samba “Vou festejar” e
virou: “São os melancias, perdendo a linha no carnaval/ Eu vou farofar/
FA-RO-FA-FA/ O teu sofrer/ O teu penar/ Você ficou sem reação/Ao assistir nosso
chão chão chão”!
Época da faculdade foi sem
dúvida a melhor fase da minha vida. Havia responsabilidades, mas não se
comparavam a época chata da escola, das cobranças dos pais com as boas notas. Era
o início da fase adulta, mas ainda vivendo como adolescente. A mesada foi
substituída pela bolsa do estágio e, por milagre, era possível chegar até o
final do mês com aquela miséria.
Período das festinhas, das
viagens de turma, dos encontros na casa dos amigos. A cidade do Rio de Janeiro
nunca foi tão explorada por nós, desbravadores! Caíamos em cada buraco à
procura de aventura! “Festa estranha com gente esquisita” virou rotina, mas
tudo valia a pena! O primeiro porre também nasceu na faculdade, nas inesquecíveis
chopadas! “Experimenta, experimenta!” e assim conheci o que era a famosa
bebidinhalegre – uma mistura de vinho, sprite e vodka, que nos permitia falar
besteira com toda sinceridade do mundo!
Quatro anos passaram
rápido demais. Mas foram o bastante para transformar nossas vidas para sempre! Nosso
aprendizado foi além das teorias de Comunicação. Tornamos comunicólogos e,
portanto, críticos até demais! Reclamávamos das aulas chatas de teoria, dos
professores malas e daqueles que fingiam que nos ensinavam alguma coisa. Aprendemos
sobre a vida de Silvio Santos em aulas que deveriam ser de Economia, ouvimos
histórias fantásticas “vivenciadas” pelo nosso antigo diretor nas aulas de
redação jornalística, tivemos experiências antropológicas em trabalhos de
campo, conhecemos todo acervo de Glauber Rocha, Eduardo Coutinho e outros “ícones”
do Cinema Novo. Conhecemos o significado dos princípios masculinos e femininos
em edição gráfica, fizemos prova oral em aula de fotografia e descobrimos
livros incríveis em aula de radiojornalismo. Entramos na faculdade com sonhos
impossíveis, e depois dos primeiros estágios, aprendemos que a vida de um
jornalista estava longe de ser o de um âncora atrás de uma bancada do
telejornal. Os plantões de fins de semana, as pautas recomendadas, os
entrevistados malas, o salário miséria e as broncas estúpidas dos chefes
rabugentos.
Mesmo assim, nos formamos
felizes. Não nos tornamos rabugentos, nem idealistas. Apenas aprendemos com
percalços da carreira e nos adaptamos à realidade do mercado. Saudosismo não é bem
a palavra para relembrar com carinho esse período de descobertas, sonhos e
realizações. Mas ao comemorar uma década daquilo que lhe proporcionou uma
mudança de vida e que definiu a escolha da minha profissão, é uma forma de recordar com
satisfação e alegria uma fase importante das nossas vidas!
Fico feliz em reconhecer
que fiz a escolha certa e que os amigos continuam presentes em minha vida.