27 de outubro de 2007

Especial: Íntimo & Pessoal

Começamos hoje a sessão das páginas amarelas, com suposto ping pong das very important people! Como já devem conhecer essa praxe do jornalismo instantâneo, o esquema é simples: perguntas curtas para respostas rápidas. A pauta segue um critério rigoroso de escolha de perguntas, com objetivo de alcançar o superego do entrevistado, o mais profundo do ser, a alma, o coração, ou seja, o âmago de sua intimidade.
Para estrear bem nossa sessão, e prestar uma homenagem ao aniversariante ilustre do dia, nada mais nada menos que o nosso Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua imaginária entrevista!

Nome: Luiz Inácio Lula da Silva
Idade: 62 anos, completados hoje!
Cidade Natal: Caetés, Pernambuco
Hobby: Sair do protocolo. Tirar fotos com companheiros de luta!
Ídolo: Getúlio Vargas, pai dos pobres
Carro: Rolls-Royce Silver Wraith 1953, modelo conversível, usado na cerimônia de posse.
Esporte: futebolzinho na Granja do Torto!
Comida predileta: jabá com jerimum
Bebida: pinga da boa (corta isso, por favor, é melhor colocar água). Água.
Cor: vermelho sangue
Perfume: quem cuida disso é minha primeira dama. Ela diz que é L´eau d´issey pour homme.
Filme: Eles não usam black-tie
Programa de TV: Carga Pesada
Ator / atriz: Wagner Moura, é um sucesso nacional com seu Cap. Nascimento.
Música: No dia em que saí de casa (Zezé Di Camargo e Luciano)
Cantor / cantora: Zezé Di Camargo e Luciano
Viagem predileta: Veja bem, companheiro, essa pergunta é difícil responder. No final, eu respondo. Outra pergunta, por favor.
Roupa: terno preto e gravata vermelha, com boton do PT, ops, da bandeira nacional
Livro: Notícias do Planalto, porque fala da ascensão e queda do meu adversário político querido Fernando Collor.
Sonho: Fome Zero
Pesadelo: Fome Zero
O que gosta de fazer quando está sozinho? Fazer palavras cruzadas, pra tentar lembrar de algumas palavras bonitas em meus discursos.
Quem você levaria para uma ilha deserta? Minha primeira dama, é claro!
Quem você deixaria numa ilha deserta? Vocês, da imprensa. O primeiro barco seria só para o pessoal da Veja.

26 de outubro de 2007

Procuram-se (atrizes) garotas de programa!

500 candidatas para o papel de puta! 500 jovens sonham em interpretar a ilustre Bruna Surfistinha, a ex-garota de programa que virou celebridade depois de contar, primeiro em seu blog e depois em seu livro, histórias picantes com seus clientes anônimos! Personagens como ela merecem um filme, é claro! Aliás, está além de um filme pornô, porque isto, a própria já protagonizou. O interessante é justamente contar a vida de uma menina nascida na classe média que abandonou tudo para ser independente e viver com seu próprio dinheiro!

Em um pensamento estratosférico, penso que (algumas) mulheres gostam de assumir papéis de puta, justamente por não serem! Ou seja, extravasam um sentimento talvez guardado em seu íntimo nesses momentos de interpretação! A matéria do Globo (http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/10/26/326911350.asp) fala sobre essas candidatas que passaram a quarta-feira mais chuvosa dos últimos tempos fazendo testes de 2 minutos para conquistar tal papel na telona. Algumas propuseram se despir diante do diretor para melhor encarnar a personagem! Uma inclusive ficou totalmente nua!

Em outro pensamento, também translúcido (que deixa passar a luz, mas que não permite ver de forma clara e nítida os objetos), imagino o fascínio que atores, em geral, têm em interpretar personagens criados por Nelson Rodrigues. Muitos deles carregam justamente esse exagero de ser, ousados e sem pudor. Daí, encontramos homem que gostava de se vestir de noiva, mulher que gostava de apanhar do seu macho, putas, malandros... Personagens do mundo chulo, da sarjeta, do obscuro, do surreal.

Realmente deve ser prazeroso, por um lado, interpretar personagens tão intensos, capazes de mexer com seus domínios, suas crenças, seus princípios! Ao mesmo tempo, o ator expõe seus mais profundos sentimentos, até então reclusos.

Talvez seja esse o pensamento de uma mulher que queira tanto interpretar um papel de puta, mulher que vive às custas do prazer alheio, sendo dominante e dominada.

Segundo Rodrigo Pitta, o responsável pela seleção das meninas, a escolha independe de profissionalismo! Se tiver que colocar uma garota de programa de verdade para exercer o papel, melhor, mais realismo ao filme! “Estamos procurando pessoas do mundo real, a verdadeira namoradinha de aluguel das telas”! Por isso, muitas candidatas, mesmo não sendo atrizes profissionais, foram tentar a sorte e testaram seu talento... para puta!

Cá entre nós, há todo um charme em interpretar uma puta bonita e diferente, ainda mais agora depois do sucesso de Bebel na novela Paraíso Tropical.

Mas será que se a personagem fosse, digamos, Suzane Von Richthofen, a menina que matou os pais com ajuda do namorado e do cunhado, haveria 500 candidatas? Ou melhor, se a história fosse da jovem Valéria Polizzi, que em seu maravilhoso livro – “Depois daquela viagem” (muito reconhecido por sinal) – descreve sua vida depois de contrair AIDS aos 16 anos?

Ambas são excelentes personagens para uma boa atriz! Sem dúvida um puta desafio (desculpe o trocadilho)! Taí, proponho um filme sobre essas duas mulheres! Com certeza gerariam um ótimo enredo!

Infelizmente, o apelo sexual ainda impera na mídia. Assim como a violência, as drogas, o submundo... Não quero ser radical a ponto de achar que esses assuntos não devem ser abordados em filmes, novelas, peças. Não é isso. Só acho que o fato de 500 candidatas, atrizes ou não, desejarem interpretar uma puta é um tanto assustador. É uma torção dos valores humanos. Não seremos puritanos, para não tender à hipocrisia, mas também não seremos sexumanos!

Antes que eu esqueça, o título é de propósito! As 500 candidatas foram apenas de São Paulo. Os testes no Rio começam em novembro agora!!!

25 de outubro de 2007

A máfia da fichinha!


Há uns cinco anos, mais ou menos, conheci um mundo obscuro, cercado de pessoas estranhas com suas armas de Jorge, coordenadas por uma espécie de cafetão. As clientes eram velhinhas aparentemente inocentes, que se produziam para o bote! O ataque vinha ritmado, com “dois pra lá, dois pra cá”, segurando um braço aqui, um pescoço ali, um tanto obsceno para idade avançada.

O cenário contribuía: uma casa de show de grande repercussão, principalmente nos dias carnais do carnaval. Uma mistura de cassino com boate dos anos 70, com decoração espelhada, brilhos, luzes e poltronas de parede acolchoadas.

O leitor deve estar perguntando: como fui parar neste lugar?

Bem, de forma resumida, digo que por um tempo fui o bendito fruto de quatro mulheres na idade da loba. Calma, vou explicar melhor. Eu as ensinava o "dois pra lá e dois pra cá", apenas. Por falta de aluno masculino, eu fazia o papel de professor-instrutor-acompanhante (dos bailes).

Com um convite de uma delas para uma “tarde dançante”, não pude escapar e fui conferir o cenário, apesar de já imaginar o que viria pela frente!

O esquema era simples: a Dona Odete comprava um número considerável de fichas para uma tarde dançante com o... vamos chamar de cafetão. Cada ficha valia um real e cada música valia uma ficha! A partir daí, ela só escolhia sua mira, apontava seu indicador e: “é você quem eu quero! Vamos dançar!”. O mais importante: depositava sua ficha na POCHETE do rapaz, estrategicamente localizada na região frontal do elemento.

Enquanto seus soldados marchavam no salão, o cafetão observava discretamente o andamento ritmado do ambiente. Quem chegava, quem dançava, quem comprava suas fichas, até que de repente ele passou a me observar. Perigo. Um olhar investigativo questionava: “quem é esse rapaz que está invadindo meu espaço e tirando proveito de minhas clientes?”.

Na minha inocência, estava eu apenas dançando com as minhas alunas, quando fui chamado por uma delas ao canto:

- Ele gostou muito de você, disse que dança muito bem. Gostaria de te chamar para fazer parte do grupo dele.

Então, o negócio é este. Ele observa o produto, verifica se encaixa no perfil de dançarino de programa, com boa aparência, pé de valsa e pronto. Fechamos o negócio. Afinal, eu estava na área dele e lá “tá tudo dominado”. Não é qualquer um que vai chegando assim e chamando atenção...

- Peraí, eu estou à venda? Ah não, desculpe, sou descartável por uma música, não é isso? Não, muito obrigado, mas neste negócio clandestino estou fora.

- Fazemos festas também, contratamos um grupo e ficamos durante duas horas à mercê das convidadas.

Que beleza, estamos agregando valor ao produto! O negócio é lucrativo e a demanda só aumenta com o avanço da medicina, com a expectativa de vida aos 100 anos, com a liberdade sexual na terceira idade! Carpe Diem, meus velhinhos, enquanto há tempo!

Quero deixar claro que não sou contra a puberdade da terceira idade, mas pega mal aproveitar desses garotos dança-dança da Estrella (bonecos movidos a fichinha) em plena luz do dia!

23 de outubro de 2007

Um filete de azeite


Então você resolve fazer uma dieta. Afinal nos últimos meses você vem exagerando um pouco na picanha mal passada, no pastel, na batata frita, no bobó de camarão. Outro motivo importante: o final de ano está chegando e com ele as 1.345 comemorações, festa da empresa, amigos ocultos, ceia de natal e ano novo.
É a hora que você intensifica os exercícios na academia, passa a correr mais na esteira, tenta fazer a aula de spinning, nada mil metros (e acha que tem tempo pra isso).
Voltando para dieta, você resolve também pedir ajuda a um profissional, porque dieta por conta própria é um perigo. Tudo você acha que não engorda tanto assim. O problema está justamente no “tanto assim”. Em uma consulta informal com uma amiga nutricionista, você pergunta: Como faço para emagrecer sem me sacrificar muito, ou seja, sem deixar de comer o que há de melhor na gastronomia brasileira?
- Depende do que você considera “o melhor da gastronomia”, responde ela.
Você aposta todas suas fichas na nova dieta e sua eficiência só dependerá dela: da nutricionista! Se você não emagrecer... a culpa é da nutricionista, e não sua!
Primeiro passo: ela pede para você escrever seu hábito alimentar, ou seja, escrever tudo que come, anotando pelo menos três dias da semana (sendo um final de semana). Quando ela fala tudo, é TUDO! Exemplo: “você toma uma vitamina com leite desnatado, banana, aveia e mel no café da manhã. No almoço, você coloca uma concha de feijão, meia colher de arroz, duas folhas de alface, duas rodelas de tomate, um bife pequeno sem gordura. Lanche: uma maçã. À noite uma salada de alface com pepino, cenoura ralada com um pequeno pedaço de frango grelhado e na ceia um copo de leite desnatado”.
Bem, se ela achava que eu como isso normalmente, sinceramente, eu não ia precisar fazer dieta. Depois desse exemplo, fiquei com vergonha de declarar o meu exemplo de refeição. Na sexta, por exemplo, só no almoço, consegui reunir bacalhau com batata, bobó de camarão, farofa, arroz com camarão e um pequeno quiche de queiro: 570 gramas!
(...)
Segundo passo: é hora de substituir então as gorduras desnecessárias por uma alimentação balanceada, nutritiva e saudável. Esses adjetivos são muito bonitos na teoria, mas quando são traduzidos em pratos reais, o que se vê é muita abobrinha, pepino, vagem, cenoura, verde, verde, verde e... UM FILETE DE AZEITE!
Calma, não é só isso! Aí começa a história que você PODE comer um pão integral aqui, com queijo minas (magro) ali, arroz e feijão de forma moderada (traduz meia concha de feijão e meia colher de arroz), e frutas, muitas frutas!
Destaque para o momento frutinha da história:
- Então você vai substituir o biscoito ou o pão da tarde por uma frutinha!
- Peraí, você está me dizendo que eu tenho que levar uma fruta para o trabalho? Como?
Acho graça quando pensa que homem é tão eficiente quanto mulher no quesito frutinha! É muito fácil pedir isso para elas! Elas é que têm bolsa-mala que cabe tudo! Mais uma fruta-iogurte-barra-de-cereal ou menos uma, pra elas não faz diferença! Já pra homem...
- Desculpa, mas eu não posso e nem quero ficar todo dia levando frutinha pro trabalho. Imagina, você lá, no meio do trabalho, diante do computador, de uma entrevista, de uma reunião, falar: “pessoal, só instante que está na hora da minha frutinha!”. Fala sério!
Daí eu escuto da amiga nutricionista:
- Ah, mas eu acho um charme um homem engravatado, com cara de sério, trabalhador... comendo uma maçã! Olha que sexy!
Sexy? Sexy foi Eva comer a fruta do pecado para Adão!
Não adianta! Eu não vou viver de frutinha!

18 de outubro de 2007

Tropa de Elite do Jornalismo

Não é só a polícia que tem uma tropa considerada de elite que corre atrás de bandido com táticas de guerra e total preparo físico (e nem sempre psicológico) para enfrentar o tráfico nos morros. Fiquei surpreso em conhecer hoje a Tropa de Elite do Jornalismo! Sim, nós também podemos contar com uma equipe capaz de enfrentar qualquer tipo de guerra! Ao ler o Por dentro do Globo (18-10-07), descobri o curso de segurança para áreas hostis. Trata-se de um curso, de três semanas, para instruir jornalistas em coberturas de conflitos – traduz-se confronto entre policiais e traficantes em favelas do Rio. O instrutor é um ex-fuzileiro inglês que há dez anos trabalha em empresa especializada em segurança.

Durante o curso, os jornalistas passam por situações reais (em cenários de favelas) com direito a tiros (de bombinhas) e sangue (de mentira). Tudo para preparar o jornalista para o combate! Dica número 1: não seguir a polícia em áreas de conflito, afinal ela é alvo principal!

Vale lembrar que nenhum dos 25 jornalistas participantes do curso é correspondente de guerra (pelo menos a matéria não especificou). Será que José Hamilton Ribeiro recebeu esse tipo de treinamento para cobrir a Guerra do Vietnã?
Por favor, alguém me lembra onde moramos? Hã? Bagdá? Não, não, no Rio de Janeiro mesmo.

Outro detalhe importante, o treinamento foi realizado pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio, com apoio dos sindicatos patronais de jornais e revistas e de rádio e TV e do International News Safety Institute (INSI). Eles querem preservar a vida do repórter-herói-caveirão!

Será que treinamentos como esses serão incluídos no currículo dos jornalistas? Melhor, será que as faculdades de comunicação exigirão mínimo de créditos na grade de seus cursos?

Bem, como eu não sei meu futuro na profissão, por enquanto vou treinando no paintball com os amigos!

Espetáculo de jogo: Brasil X Globais



Quarta-feira é dia de? Jogo! A novela acaba mais cedo e quem não gosta de futebol troca de canal. Mas nesta última quarta-feira, o canal não foi trocado. Por quê? Ah! Não é sempre que tem a seleção brasileira jogando. Então, hoje é dia de jogo, Brasil e Equador, e o canal não foi trocado. Até quem não gosta de futebol acaba assistindo. Mas, tirando a Copa, quando o povo se torna mais patriota do que nunca, este jogo teve um gosto especial. Afinal, há sete anos a seleção não jogava no Maracanã.

Que jogador de futebol se tornou celebridade, isso todo mundo já sabe! Mas eu nunca vi uma partida de futebol se tornar tão espetacular, de altíssima produção, como esta, com direito a área vip para famosos globais, comidas, bebidas, taça da Copa América em exposição, festa, lounge, DJs. Parecia que estava assistindo à cobertura dos desfiles de escola de samba ou o show do Rolling Stones na praia, cercado de celebridades. A espetacularização foi tanta que, pela primeira vez, a Rede Globo não exibiu no intervalo do jogo os melhores momentos, como é praxe em toda quarta-feira.
Nos quinze minutos de intervalo o que se viu foi o glorioso “15 minutos de fama”, profetizado por Andy Warhol, o pai da Pop Art. Galvão Bueno narrou, como na partida de futebol, todas as celebridades que apareciam na tela, às vezes parecendo esquecer algum nome (só parecendo).

O desfecho desse desfile de estrelas não podia ser melhor! O repórter esportivo, acostumado a entrevistar jogadores-semi-analfabetos-inexpressíveis na saída da grama, entrevistou nada mais nada menos que a diva do teatro (como ele mesmo ressaltou), Fernanda Montenegro – até Montenegro foi ao Maraca. Depois de responder a algumas perguntas óbvias (você já veio ao Maracanã? Já assistiu a seleção jogar aqui?), veio a melhor resposta para tudo aquilo que a noite proporcionava:
- E a festa? Está gostando?
- Interessante. Tem gente que realmente vibra! Torcida animada, que extravasa bem! Mas também tem gente que vem pra ver, né? Comer, se divertir... é uma feira!

Com 20 minutos do segundo tempo, mas afinal, e o futebol? Com a palavra, Arnaldo César Coelho: “Acho que o futebol está pouco”. Realmente. Diante de tanto acontecimento, o tímido 1 X 0 do Brasil parecia ser a celebridade instantânea da noite!
Entretanto, uma chuva de gols que se seguiu surpreendeu os descrentes (com o segundo gol e o quinto sendo qualquer coisa! Em outras palavras, esquisitos mesmo!) e o jogo foi realmente um espetáculo... de futebol! Afinal, foram 5 X 0, com show de Robinho de seu drible “são dois pra lá, dois pra cá”.

Obs: escrevi este texto durante o jogo. Mudei o resultado 4 vezes! Pelo menos...

17 de outubro de 2007

Por favor, desliguem seus celulares.


Li uma matéria na revista de domingo de O Globo (14/10/07) sobre camisetas com estampas engraçadinhas que viraram moda carioca. Uma delas apareceu com Lobão, “Peidei, mas não fui eu”, que virou até campanha. Uma delas me chamou atenção pela paródia da campanha “Se beber, não dirija” com a frase (que vai pegar, se já não pegou!) “Se beber... não ligue”. Isto é fato, quem bebe além da conta parece não conter seu impulso de ligar para quem quer que seja. Já vi gente ligar para o pai às 3 da manhã, pra amiga pra contar do fora que levou de um cara, pro ex-namorado pra xingar ou pra dizer que ainda lhe ama etc.
Lembro de pelo menos quatro episódios com essa história de celular (não necessariamente em situação de bebedeira). Duas aconteceram em uma mesma viagem a Porto Seguro, excursão de colégio, no segundo grau. Época que celular ainda era para poucos. Pois bem, em uma noite depois de muito capeta, voltando para o hotel, uma resolveu ligar para o pai. “Criatura, pra que você vai ligar para o seu pai às três da manhã, bêbada desse jeito”. “Dá licença? Eu quero ligar, me deixa... o celular é meu, o pai é meu!”.
Já na volta para casa, durante as 18 horas de viagem, de madrugada, um estrondo absurdo. “Que que está acontecendo? Que isso? Ai meu Deus, vamos morrer!” O ônibus não parava de tremer e cair para o lado direito. Tudo escuro dentro e fora do ônibus. Todos desesperados sem saber o que estava acontecendo. No meio da confusão, uma pega seu celular e: “Pai, pai! Sou eu! Pai, eu te amo! Estou morrendo, pai! Estou me despedindo! Te amo, te amo...”
O pneu traseiro tinha estourado e até o motorista parar o ônibus e explicar a situação, o coitado do pai já tinha escutado a tragédia fantasiosa de sua filha. Tudo por conta de um celular.
Por último, em outra viagem, uma resolveu ligar para o ex-namorado. Ou melhor, pediu para uma amiga ligar – também bêbada - que não poupou o cara em elogios. “Fulano? Oi tudo bem? Quem fala aqui é uma conhecida sua. Seguinte cara, eu quero te dizer que você é um babaca por ter acabado com a... (por um instante ia chamar pelo nome), você sabe muito bem. E o pior, você trocou por aquela vesga de cabelo ruim, seu merda? Mas pensando bem, vocês dois se merecem, seu ruim de cama!”.
A tempo, em um Réveillon na praia resolvi ligar meia noite para meus pais e desejar feliz ano novo. Muito feliz, comecei: “Alô? Pai? Oi pai! Feliz ano novo pai! Te amo, pai! Tá maravilhoso aqui, pai! E aí? Legal! Pai, chama minha mãe!”... do outro lado da linha: “Mãe? Quem está falando?”. “Hã? Como assim, quem está falando?”, perguntei. “Tá maluco, meu filho, que mãe o que?”... ok, não liguei para o telefone de casa. Valeu a intenção.

16 de outubro de 2007

O taxista


É comum alguns taxistas assumirem a função além de motorista. Muitos acabam exercendo papel de psicólogo, psiquiatra, consultor técnico sobre mecânica de carro, consultor amoroso, pai de santo e por aí vai. Acontece que às vezes, nós, ilustres passageiros, também passamos por situações as quais vivemos o personagem de psicólogo, psiquiatra...
A história começa quando eu entro no taxi de uma cooperativa já conhecida.
- Bom dia.
- Bom dia, eu respondo. Vamos para o hotel Excelsior em Copa, sabe onde é?
- Sei.
Silêncio. E por um bom tempo ficamos em... Silêncio.
De repente uma mulher em seu carro Renault atravessa a pista na frente do taxi. Os dois se entreolham. Ela encara ele. Ele encara ela. Silêncio.
-Você viu isso? Você viu o que ela fez?
Vi, respondi e soltei um riso, apenas para não o deixar sem graça.
É por essas e outras que eu não deixo minha mulher pegar meu carro. Fala sério! Desculpa o termo, mas aquela filha da puta nunca vai pegar meu carro. Ah mas não vai mesmo! O meu carro ela não pega! Ele custou muito caro. Todo de fibra de vidro, rebaixado, duas portas, novinho... não, nem a pau ela pega meu carro.

Outro dia veio me pedir pra deixar a chave do carro em casa para ela ir se acostumando com o carro quando precisar. Como assim “se acostumando”? Ela está achando que eu vou deixar pegar meu carro? Nem o cacete! Mulher é foda!

Bem, a essa altura pensei: “comecei bem meu dia. Pego um taxista que sete e pouca da manhã já começa a contar sua vida, assim de graça, sem ter me perguntado nada”. Mas logo percebi que ali se tratava de um personagem peculiar. Já estava atrasado mesmo para o evento quando percebi que ele escolheu o caminho mais engarrafado para chegar em Copa.

- Antes desse meu carro, eu tive um Ipanema que era minha paixão. Toda bonitinha, ajeitada. Linda. Aí ela veio com um papo que gostaria de colocar silicone nos seios, porque estavam caídos, feios depois que teve as duas filhas. Ela queria que EU pagasse o silicone dela...

Vendi meu Ipanema e paguei os peitos dela. Falei logo: “olha, agora não vem com história de comprar carro depois! Fique satisfeito com seu peito”. Agora quer pegar meu carro? Ah, o cacete, o silicone que a pros lugares!

Minha mulher é foda. Ela que compre o carro dela! Ela não trabalha? Então compra, porra. Outro dia ela veio me propor vender meu carro e comprar um importado, dizendo que dividiria comigo. Ah, é ruim! Não troco meu carro!

- Então por que ela não compra um para ela? Que seja um simples...
- Ela? Ela vive endividada. Nunca tem dinheiro pra nada. Gasta tudo. Vive no vermelho. Não pode ver ninguém vendendo nada que sai logo comprando, sem saber se tem dinheiro pra pagar as contas. Aí no final, quem acaba pagando?
- Você?
- Eu não, o babaca! BABACA aqui!
- Ela é mais nova?
- 31 anos. Já não é novinha, né? Tava na hora de aprender a lidar com dinheiro. Mas não, deixa pra eu pagar tudo.

Este mês ela veio com papo que queria comprar um biquíni. Disse que estava sem dinheiro (porra, já no início do mês) e queria um biquíni. Aí eu fui comprar. Encontrei uma loja na Rua da Alfândega... não era de camelô, era de loja, com tecido bom. Comprei. Quando entreguei, ela olhou... “onde você comprou isso?”. Ela adora marca. Só compra roupa de marca pra ela. “Pô, comprei na Alfândega. Numa loja boa. Não é porcaria não”. Ela veio dizer “pra você trazer isso, preferia que você não me trouxesse nada. Essa porcaria aqui?”. Cara, me deu uma vontade de dar uma porrada na cara dela. “Eu não vou dar mais porra nenhuma pra você!”, disse ele convencido! - Minha vontade era de ter jogado no meio da rua, mas ela pegou mesmo assim. Da próxima vez... (bem, agora ele vai ter uma atitude!) eu dou o dinheiro pra ela comprar! Ah, porra!

- Você é casado?, perguntou ele pra mim.
- Eu não.
- Porra, mulher é tudo igual!
- É sua segunda esposa?, perguntei.
- Não, na verdade eu já me juntei duas vezes, mas quando me pegava no saco, eu largava tudo e ia embora. Eu era muito estourado! (era, penso eu). Mas até eu me casar com essa.
- Quantos anos de casados?
- Treze. Ela tinha 17 anos, e eu 31. Eu não queria casar não. Ela que quis casar logo. Tinha um fogo do cacete. Queria transar antes do casamento. Recém casados, era foda sempre. Não podia sair de casa sem antes dar uma. Agora? Nunca quer. Tá sempre cansada!

Cara, antes de casar eu peguei muita mulher! Tinha semana que eu saía toda dia, uma a cada dia. Pô, feio desse jeito, eu pegava muita mulher. Cheguei a marcar uma vez com três ao mesmo tempo. Nossa, esse dia foi foda. Elas quiseram me matar quando descobriram. Aí casei né?
- E com essa, você ficou mais calmo.
- Engulo muito sapo, né? Muitas vezes quis chutar o balde, mas eu sempre penso nas meninas. Uma de três e outra de nove. Aí não dá.
- A diferença é um pouco grande né? Talvez ela te veja como um pai... por isso se acostumou mal. (pronto, lá estava eu me achando o psicólogo)
Com uma voz baixa, como se fosse uma confissão, meio desabafo, finalmente assumiu a culpa:
- Pô, acho que eu sou culpado disso. Sempre acabei pagando tudo. A única responsabilidade dela é pagar a empregada. Quando ela quis trabalhar fora, eu disse que tinha que ter uma empregada. Mas que ela pagasse. Ela paga. Mas eu acabo ajudando, né? Pago a passagem... no final acabo dividindo...

Nessa hora o taxi já entrava na rua do hotel. A sessão de terapia automobilística chegava ao fim.
- é aqui.
- Rapaz, você vai lembrar dessa conversa de hoje. Aprende com isso! Mulher é tudo igual!

Segundo lugar, graças à mãe

Logo no meu primeiro texto deste blog, terminei citando a importância do reconhecimento da minha mãe. Parece engraçado falar isso, afinal, no mais comum das histórias, a mãe é a primeira pessoa na vida de qualquer ser humano que elogia e reconhece qualquer que seja o talento de seu filho. É bem aquela idéia de que: “pelo menos para minha mãe, eu sei que sou bonito”.
Pois bem, minha querida mãe, acima de ter este papel de mãe, sempre assumiu o papel de A JUSTICEIRA. Vou explicar. Para entender melhor este papel que lhe atribui (e antes de contar o fato de fato), tenho que relembrar (porque já escrevi isso também no meu primeiro texto) que minha mãe é uma excelente professora de português e literatura brasileira. O que isso quer dizer? Que durante toda minha vida escolar, ela SEMPRE se preocupou em corrigir os meus “normais” erros de português. Sua influência foi tanta que talvez tenha que atribuir a escolha de minha profissão a ela. Confesso até que pensei em fazer letras também, com medo do vestibular concorridíssimo para comunicação.
Agora vamos ao fato. Lá pelos meus quatorze anos, mais ou menos, fazia um conhecido curso de aperfeiçoamento de matemática, chamado Kumon. Pois bem, este mesmo curso, além de ensinar o método japonês para o aprendizado em matemática, havia também o mesmo método para português e o inglês. Eu só fazia o de matemática.
Na época, minha professora tinha me convidado a participar de um concurso de leitura em que alunos, na maioria do curso de português, teriam que ler um texto para um júri formado por profissionais de letras. Eu aceitei participar, dentro da minha faixa etária.
Ao mesmo tempo, minha professora lembrou que minha mãe era professora de português e lhe perguntou se não gostaria de participar do júri. Em princípio, minha mãe achou injusto participar de um concurso, como jurada, em que seu filho seria um dos concorrentes. Mas depois, convencida de que ela estaria assumindo o papel de profissional (e não de mãe), resolveu participar, sendo, portanto, justa e imparcial durante o concurso.
Depois de alguns concorrentes, chegou minha hora de subir ao palco e ler o texto previamente ensaiado. Com a entonação correta, respirando no tempo certo, lendo com ritmo, respeitando a pontuação... troquei uma simples e única palavra em todo texto, que logo em seguida foi corrigida, sem mesmo prejudicar o andamento da leitura. No final, só aplausos e a confiança de que, apesar do ínfimo e quase imperceptível erro, a leitura foi realizada com sucesso.
No júri, três profissionais, uma delas, minha mãe.
No final do concurso, o resultado. Depois de chamado o terceiro colocado, a atenção estava voltada para os segundo e primeiro lugares. A expectativa era grande, afinal, tinha feito quase tudo certo!
- Em segundo lugar... Mário Cesar!
Putz, segundo lugar?, pensei.
Depois de alguns murmúrios na platéia, diante da surpresa do resultado, minha então professora me chamou no canto. Ela foi responsável pela contagem das notas, tirando a média.
- Mário, você obteve duas notas máximas e uma que tirou apenas meio ponto.
- Nossa, jura? Quem me tirou então o meio ponto?
- Quem? Sua mãe!
- Minha mãe? Como assim?
Para ser justa, ela tinha me tirado o meio ponto pelo quase imperceptível erro cometido em toda leitura. Ela percebeu o quase imperceptível e me deu o segundo lugar.

O cravo & as rosas

Era apenas um cravo...

Uma: - Deixa eu terminar! Tá doendo? Calma, não se mexe! Pronto saiu. Vou te mostrar a prova do crime. Nossa que enorme, olha, olha!
Outra: - E esse? NOoooossa! Lindo!
Uma: - Você quer pra você?
Outra: - Não pode ficar.
Uma: - Disfarça, disfarça, ela tá vindo.
Outra: - Opa!
Uma: - Pera! (...) Tá vai!
Outra: - Estou indo devagar... tá doendo?
Ele: Porra, duas ao mesmo tempo não, é foda!
Outra: - Tá, então você primeiro!
Uma: - Ah, obrigada!
Uma: - Olha quanto saiu deste???? Nossa! Que maravilha!
Outra: - Ai que nojo, mas é lindo! Adoro fazer isso!
Ele: Chega?
Uma: - Não, só mais um pouquinho! E... pronto! Acabou.
Outra: -Agora vamos lá lavar a mão, né?
Uma: - Isso, vamos!
Uma: - Tá tudo bem? Foi bom pra você? (pra ele)
Outra: - Nossa, você está outro agora! Olha sua pele como melhorou!
Ele: - Obrigado, meninas!

15 de outubro de 2007

Do que as mulheres gostam


Esse é o título do filme, estrelado por Mel Gibson, que cai muito bem para o pensamento que vamos desenrolar aqui. Este mês a editora Abril está lançando mais uma revista feminista, ops, feminina (desculpe, mulheres, meninas, adolescentes...). O fato é que, depois de realizar uma pesquisa de mercado, a editora identificou um nicho ainda não explorado. Acho que estou sendo grosseiro ao tratar de nicho um público tão delicado e inteligente. Trata-se de mulheres entre 18 e 28 anos, ou seja, mulheres que já saíram da fase adolescente de ser, mas também não são classificadas como mulheres bem resolvidas, seja no amor, no trabalho, na família etc. (como se houvesse realmente uma mulher assim, mesmo com seus oitenta anos, mas enfim). Portanto, saindo dessas outras faixas etárias, em que revistas já conhecidas (como Capricho, para as mais novinhas, e Marie Claire, Nova, para as mais “experientes”), eis que lançam Gloss! Uma revista que está aberta para novas experiências, dúvidas, descobertas, dicas de beleza, de saúde, de emprego, de homem, ops, errei de novo, de relacionamento (melhor assim) – ou seja, tudo aquilo que uma mulher desta faixa de gaza quer ler na praia, no salão, no ônibus, no táxi, no consultório...

Antes de ser lançada, a editora criou um concurso voltado apenas para mulheres publicitárias (que trabalham em agências) que estivessem encaixadas no público alvo da revista. Para participarem, elas deveriam enviar um vídeo de um minuto apenas, com baixíssima resolução, que contasse de forma livre o que é ser uma “mulher gloss”. O prêmio seria um curso de curta duração (entre as opções de escolha havia um curso sobre moda, por exemplo) em Londres. Uma grande amiga, publicitária, resolveu participar. Depois de contar sobre o concurso, em uma sexta-feira à noite, antes de uma sessão de cinema, eu e mais dois amigos (além da nossa mulher gloss, é claro) nos reunimos numa mesa de bar para discutir como seria o tal vídeo. Várias idéias surgiram, entre elas a de um clipe com várias fotos da nossa protagonista durante sua vida, entre família, amigos etc. (um tanto clichê, como apontou um dos participantes do papo). Vale lembrar aqui que todos somos comunicadores (dois publicitários, uma radialista e um jornalista). A idéia saiu da mesa e, como o tempo era curto, começamos o trabalho logo no dia seguinte, na praia da Urca.

Para encurtar o papo, o vídeo ficou muito interessante, tanto que classificou nossa amiga gloss entre as dez finalistas do concurso (já adiantando, ela infelizmente não conseguiu a viagem). No vídeo, a nossa protagonista falava sobre suas experiências, expectativas, dúvidas, sentimentos, enquanto caminhava livremente na areia da praia (ao som de Walk on, de U2).

Mas o que eu gostaria de contar aqui, e daí vem o título “Do que as mulheres gostam?”, é justamente a velha questão: Por que é tão difícil entender as mulheres?

Em um primeiro pensamento, podíamos pensar assim: “ora, se quiséssemos mesmo entendê-las e saber como agir em diferentes situações da vida, bastávamos comprar uma dessas revistas femininas (e aí a Gloss seria mais uma para ajudar!) e ler todas as histórias contadas por elas”. Nessas revistas, você encontra desde a melhor opção de roupa e maquiagem para um encontro a dois, até o que dizer na cama no primeiro encontro. E claro, o que elas pensam de nós, principalmente na cama. Pronto, seria só seguir essa dica: comprar todas essas revistas, ou melhor, assinar todas para ter o conforto de receber em casa (o porteiro não entenderia sua preferência, mas o que importa?) e assim descobrir de uma vez por todas o que as mulheres gostam.

Seria fácil, mas não é bem assim.

Nós sabemos que nem elas sabem o que querem de fato. Um namorado novo para viver novas experiências ou continuar com o que tem, porque este já sabe bem ou mal o que você gosta de fazer? Um homem romântico, a ponto de levar flores com cartões apaixonados, abrir a porta do carro, puxar a cadeira no restaurante, surpreender com jantares a luz de velas, sempre pagando a conta no final, repetir pelo menos uma dúzia de “eu te amo” durante uma mesma noite; ou um homem que chega apertando e puxando, dando um chupão no pescoço, rosnar feito animal mesmo, para mostrar que é bicho macho, segurando sua presa, dando uns tapinhas na hora H (ou bater forte, quando o negócio já estiver esquentando) e, até mesmo exagerar nos palavrões pra mostrar virilidade (eu juro que já escutei isso de uma mulher, querendo dizer que adora homem falando palavrão!)?

Você pode agradar a mulher, levando ao shopping, esperando ela experimentar cada peça das 37 roupas selecionadas em apenas uma loja, e deixando de jogar futebol com seus amigos (para quem gosta de futebol, é claro). Mas ao mesmo tempo, deve compreender quando um dia ela quiser sair apenas com as amigas. Mesmo assim ela pode pensar: “poxa, ele não tem ciúmes quando eu saio com as minhas amigas para night, parece que não liga pra nada”, ou então: “ele deixou de ter a vida dele, de sair com os amigos dele para viver grudado a mim, com os meus amigos. Ele não sabe o que é viver sem mim. Ele é muito dependente”.

Se você saiu com uma menina numa noite e no dia seguinte não ligar (ou no terceiro, quarto, quinto dia), ela vai achar que você não gostou dela, ou que você é safado mesmo, galinha, só queria uma vez e ponto. Mas, se você liga logo no dia seguinte, assim, tipo, à tarde... pronto, este está desesperado, gamou, agora vai ficar no meu pé. “Ai que saco, odeio garoto chiclete”.

Depois que você já conquistou,mas ainda está na fase de descobrir o que ela gosta, você fica naquela de perguntar ou não o que ela está a fim de fazer. “Ai, odeio os caras que não tomam atitude, nem pra decidir se come uma pizza ou um japonês depois do cinema”. Ou então: “ah, ele não me pergunta se eu gosto de teatro, vai logo me levando; queria sair pra dançar hoje. Ele parece velho, só faz programinha de velho, ou então pra engordar”.

Primeiro beijo, primeiro amasso, primeira oportunidade de... “calma, meu filho. Não é assim não. Vamos com calma, parece um polvo”. Ok, estava com pressa. Da próxima vez vou mais devagar. Daí vem a próxima vez, e você, com mais calma, não avança, dar os amassos, mas não sai muito disso, ou melhor, espera a resposta dela. “Ai que saco, da outra vez estava com um fogo só, tive que dar um freio. Hoje que eu vim preparada pra tal, não faz nem sai de cima. Odeio cara lerdo. Parece que está nervoso ou com medo”.

Aí eu me lembro rapidamente da cena em que Nick (personagem de Mel Gibson no filme), lendo os pensamentos delas, vai para cama com uma ensandecida por sexo. Depois de escutar coisas do tipo: “ai, mas era só isso? Nossa esperava mais. Que cara fraco. Que decepção”, ele resolve tomar AQUELA atitude e... bem, pra quem não se lembra do filme, é a melhor resposta que NÓS podíamos dar àquelas que acham que não sabemos o que elas gostam.

Pena que isso foi uma obra de ficção.

Importante: este texto não é machista.

EU sou bom... bom não, sou o melhor!

Às vezes me pergunto o que fizeram com o ser humano. Vivo em uma época em que o homem tem que ser perfeito: bonito, sarado, rico, inteligente, ter amigos, ter uma namorada, ter várias experiências sexuais, conhecer física, matemática, português, história, falar inglês fluente, francês e espanhol também, já italiano e alemão é charme. Saber escolher o vinho certo para o jantar refinado, conhecer vários estilos musicais (os clássicos, os nacionais, os alternativos, os mais tocados), conhecer filmes de todos os tempos, cult, blockbuster, e as melhores peças teatrais também. Falar sobre política, responsabilidade social, economia, sustentabilidade, meio ambiente, injustiça social. Saber investir na bolsa. Dançar bem, jogar futebol, vôlei, basquete, boliche, baralho e sinuca. Saber se defender, aprendendo pelo menos uma luta na vida. Viajar muito. Conhecer desde o inverno de Fernando de Noronha até o verão do Alaska. Saber tocar instrumento, nem que sejam as cifras básicas do Legião Urbana para tocar em rodinha de violão com os amigos. Ter um bom papo, saber chegar em mulher na night. Ler pelo menos dois jornais de grande circulação diariamente, ser fiel leitor de pelo menos dois colunistas, além de ler uma revista semanal para ficar por dentro dos “fatos mais importantes do mundo”. Ter lido os clássicos da literatura brasileira e estrangeira, e ficar por dentro dos Best Sellers. Conquistar recordes em jogos eletrônicos. Gostar de malhar todos os dias, ter barriga de tanque para exibir na praia ou no churrasco da turma. Rosto liso, sem espinhas. Ter estilo próprio. Estar na moda. Manjar de informática, sempre (incluindo baixar música, ter noção de html, programar, mexer no photoshop etc). Tirar boas fotografias. Ter coleção de alguma coisa. Assistir sempre seu time jogar, de preferência no Maracanã e, claro, comentar cada lance do jogo depois. Saber cozinhar, do mais simples ao mais refino prato. Surfar com os amigos. Saber beber sem mostrar fraqueza entre os amigos. Pegar muita mulher e, se puder, competir com os amigos e “finalizar o serviço”. Conhecer toda a mecânica de um carro. Saber escolher o melhor motor, o melhor carro, a melhor marca. Ser o melhor motorista. Pagar sempre a conta da namorada. Ser romântico, mas ao mesmo tempo cafajeste, afinal, tem que ter pegada. Mandar bem na cama, sempre. Ser um profissional reconhecido por todos, exemplo de empenho e dedicação. Ser confiante, seguro de si. Não roncar nunca. Nem tirar meleca do nariz, nem arrotar. Peidar, só se estiver sozinho. Ser saudável! Correr na praia, tomar açaí, não ter vícios, não abusar das noitadas, dormir cedo, evitar gordura e açúcar. Beber muita água. Gostar de comida japonesa. Não ser careta. Não ser rebelde. Não ser lerdo. Ser responsável. Ter atitude. Ser corajoso. Saber questionar. Não criticar o próximo. Ter educação. Saber dizer não. Saber dizer sim. Ser caridoso. Ser honesto. Ser justo. Ter moral. Ser único. Ser humilde. Não ser deus. Mas ser EU.

Enfim, um blog para chamar de meu

Sempre resistir às novas tendências da informática. Foi assim com o icq, Orkut, MSN, música baixada na internet... e agora finalmente com blog! (fugi do fotolog, porque este já é demais)

Mas por que resisti tanto tempo? Não sei exatamente, mas acho que agora vem a vontade de extravasar minhas idéias perdidas em rascunhos mentais em textos passados a limpo. Por isso o nome: Rascunho passado a limpo. Aqui vou tentar contar histórias, de forma livre, sem seguir tendências, linhas, teorias ou quaisquer que sejam “regras” (se é que em blog exista regra). Afinal, esse blog é meu. Eu escrevo o que der na telha. Não tem foco, não tem objetivo, não tem público (por enquanto!), não tem pretensão de se tornar “um dos mais acessados na internet”. Com certeza será um canto para experimentos. Histórias minhas, suas, deles... de quem quiser chegar. Mas pode ser também um espaço para críticas pessoais a filmes, músicas, peças, danças, enfim, arte em geral. O que gosto de consumir, quando posso e quando tenho dinheiro.

Não sei se isso de alguma forma me influenciou, mas acabei de participar de um seminário sobre “O Futuro do Jornalismo e o Jornalismo do Futuro”, em que um dado muito interessante foi apresentado por um dos palestrantes. Segundo uma pesquisa internacional, a cada dia são criados novos 120 mil blogs. Certamente, hoje eu sou o 120º mil do mundo ao criar este blog.

Uma discussão que teve durante o seminário é justamente esse número (assustador por sinal) de blogs criados diariamente em todo mundo. Uns profissionais de comunicação, talvez mais radicais, acreditam que a profissão de jornalista pode ser banalizada, já que agora qualquer um pode escrever o que quiser e difundir suas idéias, opiniões, críticas e informações dos mais diferentes temas.

Outros já pensam ao contrário. Esses acreditam que o profissional de comunicação será cada vez mais respeitado porque tem o compromisso de difundir a “verdade” dos fatos, mesmo sabendo nós que não existe verdade absoluta para nada (ou para tudo) nesta vida. Mas de qualquer forma, o fato de que o profissional, por ser profissional, sabe escrever tecnicamente bem e da melhor forma possível, diferente de pessoas que escrevem em seus blogs de forma livre, pode ser mais reconhecido. Confesso que às vezes me assusta o modo como alguns blogueiros escrevem em seus respectivos. Além de assassinarem a língua portuguesa, não têm noção do que escrevem.

O internauta tem toda liberdade de escrever o que quiser, da maneira que quiser. Mas daí ter sucesso de público, ou até mesmo ter credibilidade, já é duvidoso.

Não quero dizer também aqui que só os jornalistas, escritores, letrados ou qualquer profissional acostumado com a escrita terão sucesso com seus blogs, visto personagens que se fizeram na internet, como a garota de programa que virou celebridade ao escrever suas experiências na internet. Acho que é isso que vale no final. Ser um bom personagem ou saber contar boas histórias! Mesmo que não tenha um português fluente na escrita (afinal, quem são os Machados de Assis contemporâneos?), uma boa história sempre chama atenção!

Só sei que por falta de uma coluna no jornal O Globo, Estado de São Paulo, Folha, JB, aqui estou eu, a fim de escrever, escrever, escrever, escrever... para quem quiser, puder e tiver a fim de ler. Não tenho a pretensão de ser um Veríssimo da vida, nem um Cony, muito menos um João do Rio, mas se tiver pelo menos o reconhecimento da minha mãe (professora de português e literatura brasileira), já está valendo.