Há exatamente uma semana, passei por uma situação estranha, ao me ver esbarrando em uma moça desconhecida, em meio a um baile de formatura, o que por um breve instante me desequilibrou e me fez cair ao chão. Enquanto os amigos, embalados pela festa e música dançante, riam da situação, achando que se tratava de uma brincadeira minha, estava eu me contorcendo de dor profunda, sem ainda compreender tamanha amplitude do que estava de fato acontecendo naquele instante.O "tropeçar dançante" me causou um rompimento do ligamento no joelho, uma lesão do menisco e um pequeno edema no osso da perna esquerda. O socorro veio tão logo, assim como os semblantes, antes risonhos e descompromissados, se tornaram sérios e preopantes. Vi-me cercado de olhares perturbadores, como se gritassem com seus pensamentos : "como isso pode ter acontecido?"E é o que ainda me pergunto: "como?"...Assim como um atleta se integra aos perigos de fortes impactos, um jogador dribla sem piedade seu adversário, um bailarino rodopia desafiando seu corpo com movimentos traiçoeiros, eu apenas brincava na pista, sem me atentar para um simples fato: somos seres fracos. Basta um desequilíbrio, um inocente tropeço, um inesperado empurrão para o corpo responder com fraqueza ou desatenção. Fui pego de surpresa e não houve tempo hábil para reação precisa de um bom equilibrista. Estamos vivendo numa eterna corda bamba...Uma semana depois, ainda debilitado e impossibilitado de andar, passei por outra experiência, esta no mínimo curiosa.Ao passear em um shopping da cidade, por conta das compras finais para época natalina, optei, por força maior e melhor conforto meu, andar de cadeira de rodas, emprestada pelo centro comercial.Durante meu esforço em conduzir com presteza aquele pequeno veículo, fui observando aos poucos os diferentes olhares dos transeuntes. Para muitos, o fato de um homem jovem, tendo em princípio um grave defeito físico, despertava certa compaixão de pessoas desconhecidas. Alguns tentavam disfarçar, desviando os olhares ou abrindo um tímido sorriso, quando eu pedia licença para passar. Já outros eram mais dispostos a abrirem espontaneamente a passagem, quando não, a empurrarem o carrinho para me pouparem do esforço físico.Engraçado que essa mesma impressão teve minha mãe, que espontaneamente comentou comigo os mesmos olhares, discretos ou indiscretos, durante nossa caminhada pelo shopping. Mas ao mesmo tempo, a experiência fez refletir sobre as dificuldades reais que os deficientes passam em lugares públicos, que deveriam apresentar mais estrutura e conforto. Um exemplo seriam as cabines de provas de roupa nas lojas, que não comportam uma cadeira de rodas, muito menos espaço para entrada e saída do deficiente.São casos como esses que percebemos como nós mesmos não estamos acostumados a pensar no próximo e só passando por essas experiências para percebemos as dificuldades alheias.
22 de dezembro de 2012
Joelho Desequilibrado
21 de dezembro de 2012
E o fim do mundo?
“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar...”
Essa história de fim de mundo se tornou piada e programa de
tv. São muitas histórias, especulações, adivinhações e premunições sobre o
assunto. Brincadeiras e Nostradamus a parte, o que podemos refletir sobre o
verdadeiro fim desse mundo?
As catástrofes naturais, os terremotos, furacões e outros
fenômenos atravessam continentes, proporcionando tragédias imensuráveis. São
povos, ricos ou pobres, devastados, que sofrem com inúmeras perdas, materiais e
humanas. Ao mesmo tempo, vivenciamos um período de guerras entre nações,
violências, misérias, desigualdades, assassinatos, terrorismo que nos assuntam
e desesperam. Enquanto é notícia de jornal, só lamentamos, mas quando a vítima
é alguém muito próximo, a raiva e a intolerância se fazem presentes,
perguntando: “até quando?”.
Pois é, até quando ainda viveremos assustados, amedrontados
e, em muitos casos, injustiçados? Até quando o “mal” vencerá o “bem”?
Para os estudiosos do Espiritismo, vivemos no período de
Provas e Expiações, quando os conflitos e as tragédias são elementos, como
próprio nome define, de provas e expiações que nós, seres imortais, espíritos
encarnados, estamos vivendo aqui na Terra. Assim como nós, nosso planeta está
em constante evolução. E se “depois da tempestade, sempre vem a bonança”, o
planeta Terra também está em fase de transformação. Estamos caminhando para o
próximo período – Regeneração.
Aos poucos, estamos sendo preparados para Nova Era. E para
isso, muitos de nós aqui encarnados estão passando por momentos cruciais. É o
fim do mundo? Para alguns sim. Mas àqueles que prezam pela verdade, pelo amor
ao próximo, pela caridade e pela prática do bem, esse é um período de regenerar-se,
corrigir-se, reabilitar-se.
Em uma passagem do livro “Transição Planetária”,
psicografado por Divaldo Franco, pelo espírito Manoel de Miranda, a explicação
vem nessas belas palavras:
“As grandes transformações, embora ocorram em fases de perturbação
do orbe terrestre, em face dos fenômenos climáticos, da poluição e do
desrespeito à Natureza, não se darão em forma de destruição da vida, mas de
mudança de comportamento moral e emocional dos indivíduos, convidados uns ao
sofrimento pelas ocorrências e outros pelo discernimento em torno da evolução.
(...) os novos obreiros do Senhor se sucederão ininterruptamente alterando os
hábitos sociais, os costumes morais, a literatura e a arte, o conhecimento em
geral, ciência e tecnologia, imprimindo novos textos de beleza que despertarão
o interesse mesmo daqueles, que momentaneamente, encontram-se adormecidos.
Antes, porém, de chegar esse momento, a violência, a
sensualidade, a abjeção, os escândalos, a corrupção atingirão níveis dantes
jamais pensados, alcançando o fundo do
poço, enquanto as enfermidades degenerativas, os transtornos bipolares de
conduta, as cardiopatias, os cânceres, os vícios e os desvarios sexuais
clamarão por paz, pelo retorno à ética, à moral, ao equilíbrio... (...) Como em
toda batalha, momentos difíceis surgirão exigindo equilíbrio e oração
fortalecedora, os lutadores estarão expostos no mundo, incompreendidos,
desafiados por serem originais na conduta, por incomodarem os insensatos que,
ante a impossibilidade de os igualarem, irão combate-los.
Trata-se, portanto, de um movimento que modificará o planeta
para melhor, a fim de auxiliá-lo a alcançar o patamar que lhe está reservado”.
4 de dezembro de 2012
Amigo Oculto
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Mais um fim de ano, fui o escolhido para organizar o famoso
amigo oculto do grupo do trabalho. Para facilitar o sorteio, eu crio um grupo
naquele site “amigo secreto” e mando o convite para todos participarem. Até aí,
tudo bem.
Mas nesse ano, a equipe aumentou e novos colegas passaram a
fazer parte desse amigo oculto corporativo. Como de praxe, há sempre um que não
sabe mexer direito no site e acaba me pedindo ajuda.
- Oi, qual seu nome mesmo?
- Mário
- Oi Mário, tudo bem?
- Tudo...
- O meu amigo oculto mandou uma mensagem naquele site que
você enviou, perguntando o que eu gostaria de ganhar. Mas eu não sei responder.
Você poderia me ajudar?
- Claro! Entra no site com a sua senha que eu lhe mostro
como enviar uma mensagem para ele, colocando suas sugestões de presente.
- Ah... obrigada!
- Está vendo aqui (apontando para tela do computador) onde
você deve escrever? Então, coloca aqui suas sugestões e envia para ele.
- Você pode escrever para mim? Coloca, por favor, “em breve,
mandarei minhas sugestões”.
- Ok. Pronto, já escrevi e enviei.
- Ah, muito obrigada!
- Disponha!
Preciso dizer que sou eu o amigo oculto dela?
27 de novembro de 2012
1982 – Feliz Ano Velho
No Réveillon passado, meia noite, um pensamento veio na
mente: 2012 será um ano especial. E realmente foi. O principal motivo estava na
comemoração dos 30 anos.
1982 foi um ano cheio de importantes acontecimentos,
principalmente no universo cultural. E para minha satisfação, acabei
comemorando os meus 30 anos em diversos momentos, celebrando junto com outros
balzaquianos da estrada.
Só para citar alguns desses, estão a banda Blitz, Kid Abelha
e a chegada das canções pop rock de Lulu Santos, como minha preferida “Tempos
Modernos”. Foi o ano de “E.T. – O Extraterrestre”, “Rambo”, “Blade Runner”,
“Atari” e, claro, do lançamento de “Thriller”, segundo LP de Michael Jackson.
O Rock nacional ganhou espaço nas rádios e fez sucesso entre
os adolescentes “rebeldes” e jovens da época. Até hoje, a década de 80 é
referência quando são lembrados ícones nacionais como Renato Russo, Cazuza,
Lulu Santos, Lobão, Herbert Vianna, Arnaldo Antunes, Nando Reis etc. Ainda
vivíamos a ditadura militar, porém com os dias contados. Por isso, a geração
Coca-Cola vinha escrachar de vez, debochar dos políticos, se rebelar contra
sociedade hipócrita: “Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem
religião, somos o futuro da nação/ E aí então vocês vão ver, suas crianças
derrubando reis, fazer comédia no cinema com as suas leis”. Ao mesmo tempo,
Lulu garantia a presença de gente fina, elegante e sincera, com olhar otimista
para os tempos modernos.
Nascemos numa época de transição. Os militares deixavam o
poder e a democracia chegava de forma tímida, apesar das campanhas de “Direta
Já”, com comícios fervorosos nas ruas da cidade. Crescemos em meio às crises
econômicas no país, castigado pela alta inflação e pelas mudanças de moedas –
Cruzeiro, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro de novo, Cruzeiro Real e finalmente
Real. Tudo bem que pouco importava o troco no bolso. Nossa preocupação era
saber se Papai Noel iria trazer minha Caloi (“Não esqueça a minha Caloi”), os
novos cartuchos do Atari 2600, Meu Primeiro Gradiente e até o famoso Ursinho
Teddy.
Quando os primeiros minutos de 2012 chegavam, imaginei como
o ano seria cheio de recordações, comemorações e emoções (desculpe a
aliteração). Muitos amigos, assim como eu, também chegaram na casa dos 30, o
que só intensificou as celebrações. E como não podia deixar de lembrar também, nada
mais significativo ressaltar outro clássico de 1982, o livro “Feliz ano velho”,
de Marcelo Rubens Paiva, que não deixou de ser atual, jovem e contemporâneo,
como nós, balzaquianos. É assim que continuo celebrando o meu ano: Feliz 1982!
22 de novembro de 2012
Sala de estar
Como já escrevi aqui, eu moro sozinho há alguns anos. E para quem mora sozinho ou é recém casado, uma das primeiras "tarefas do lar" é arrumar a casa. E isso inclui a etapa decoração.
No meu caso, o apartamento continuou com a mesma cara de quando meus pais moravam comigo. Aqueles velhos quadros na parede já me incomodavam, assim como o sofá, a cortina, a mesa de jantar etc. Eu realmente precisava mudar algumas coisas e resolvi iniciar pela sala de estar. É o lugar onde recebo os amigos, assisto à TV, toco meu piano e, portanto, o lugar mais frequentado.
Decoração é algo interessante, mas certamente mais prazeroso quando se tem dinheiro. Quando o orçamento é curto, você tem que ter boas ideias, para tudo ser prático e viável. Ao mesmo tempo, busquei alternativas para imprimir aquilo que tem a ver comigo. E um ponto que sempre gostei e acho que tem tudo a ver com decoração é fotografia.
Pensando nisso, tive a ideia de aproveitar algumas fotos minhas de lugares que já viajei e outras do Rio de Janeiro, onde eu nasci e moro.
Primeiro passo: mudei a cor da sala, antes bege bem claro, para branco neve. Segundo passo: escolhi uma parede (a do corredor), que não fosse tão grande mas ao mesmo tempo não escondida, para passar uma tinta especial imantada (Suvinil Fundo Magnético). Nessa parede, resolvi colocar diversas fotos (viagens, do Rio, objetos etc.) com filtros especiais, todas publicadas no aplicativo Instagram.
13 de novembro de 2012
Ensaio fotográfico da Carla
Depois de um longo tempo sem postar, voltei aqui com um post especial. Trata-se de um ensaio fotográfico que eu experimentei pela primeira vez, tendo como "cobaia" minha amiga de infância Carla. Na sua última semana de gestação (38 semanas), e na minha última semana de férias, fomos para praia da Barra, em plena terça-feira, e levei minha câmera para fazer algumas fotos.
Como somos amigos há mais de vinte anos, não foi difícil fotografar Carlinha. Temos tanta afinidade, que levamos o ensaio como uma grande brincadeira, com altas gargalhadas!
Essa foi sua segunda gravidez e Rafael chegou ao mundo no dia 4 de novembro, com cara de anjo! Na primeira gravidez, da Isabela, não tinha a câmera ainda e nem programamos o ensaio. Resolvi postar aqui o resultado, como simples registro. Algumas pessoas têm preconceito com esse tipo de ensaio e acham brega. Dependendo do "olhar" do profissional, realmente o resultado pode ser desastroso. Mas a nossa ideia aqui foi ser o mais natural possível. Por isso, a descontração e as gargalhadas foram fundamentais. Ela curtiu seu momento "modelo" e eu confesso que gostei muito da brincadeira.
Carlinha, foi um prazer fazer essas fotos, e lamento não ter feito na sua primeira gravidez.
Fotos tiradas dia 30 de outubro de 2012 - Praia da Barra da Tijuca
Como somos amigos há mais de vinte anos, não foi difícil fotografar Carlinha. Temos tanta afinidade, que levamos o ensaio como uma grande brincadeira, com altas gargalhadas!
Essa foi sua segunda gravidez e Rafael chegou ao mundo no dia 4 de novembro, com cara de anjo! Na primeira gravidez, da Isabela, não tinha a câmera ainda e nem programamos o ensaio. Resolvi postar aqui o resultado, como simples registro. Algumas pessoas têm preconceito com esse tipo de ensaio e acham brega. Dependendo do "olhar" do profissional, realmente o resultado pode ser desastroso. Mas a nossa ideia aqui foi ser o mais natural possível. Por isso, a descontração e as gargalhadas foram fundamentais. Ela curtiu seu momento "modelo" e eu confesso que gostei muito da brincadeira.
Carlinha, foi um prazer fazer essas fotos, e lamento não ter feito na sua primeira gravidez.
27 de setembro de 2012
Os melhores anos de nossas vidas
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Há exatos 10 anos,
ingressei na faculdade de Comunicação da Escola de Comunicação da UFRJ. Era
setembro e o segundo semestre começava com atraso, por conta de uma longa
greve. A expectativa era grande. Depois de passar por um conturbado vestibular
e conquistar uma das 101 vagas para o disputado curso de comunicação, chegava o
momento de começar uma nova etapa da vida. Ambiente novo, pessoas novas, o início
de uma trajetória profissional.
Logo no primeiro dia, o
tradicional trote ao mesmo tempo que assustava os calouros, proporcionava uma
mistura de ansiedade e êxtase. O velho palácio da Praia Vermelha recebia seus
novatos, todos com cara de criança, recém saídos do antigo 2º grau. Nada de uniforme,
recreio, inspetor, formação, hino, tabuada. O uniforme era bermuda, chinelo e
camiseta. Laguinho, sujinho, medinho, CA eram como velho pátio da escola. Em
pouco tempo, já éramos reconhecidos como ecoínos (de Escola de Comunicação –
ECO).
No início, era todo mundo
misturado. Apenas no terceiro período é que nos separamos, quando cada um
escolheu sua carreira: jornalismo, publicidade, rádio e TV, ou produção
editorial. E foi também o período que muitos desistiram da faculdade. Os grupos
já estavam se formando, as amizades foram se estreitando. E o nosso grupo já
tinha um apelido: Os melancias.
O que seria uma ofensa se
tornou uma definição, um elogio, um estado de espírito. O grupo recebeu o
título de um colega de turma: “nossa, como vocês adoram aparecer! São
verdadeiras melancias”. E não demorou muito para o grupo assumir o apelido
carinhoso. Em um carnaval, foi formado o “bloco dos melancias”, com direito a
camisa “pendure a sua também”! A letra foi adaptada do samba “Vou festejar” e
virou: “São os melancias, perdendo a linha no carnaval/ Eu vou farofar/
FA-RO-FA-FA/ O teu sofrer/ O teu penar/ Você ficou sem reação/Ao assistir nosso
chão chão chão”!
Época da faculdade foi sem
dúvida a melhor fase da minha vida. Havia responsabilidades, mas não se
comparavam a época chata da escola, das cobranças dos pais com as boas notas. Era
o início da fase adulta, mas ainda vivendo como adolescente. A mesada foi
substituída pela bolsa do estágio e, por milagre, era possível chegar até o
final do mês com aquela miséria.
Período das festinhas, das
viagens de turma, dos encontros na casa dos amigos. A cidade do Rio de Janeiro
nunca foi tão explorada por nós, desbravadores! Caíamos em cada buraco à
procura de aventura! “Festa estranha com gente esquisita” virou rotina, mas
tudo valia a pena! O primeiro porre também nasceu na faculdade, nas inesquecíveis
chopadas! “Experimenta, experimenta!” e assim conheci o que era a famosa
bebidinhalegre – uma mistura de vinho, sprite e vodka, que nos permitia falar
besteira com toda sinceridade do mundo!
Quatro anos passaram
rápido demais. Mas foram o bastante para transformar nossas vidas para sempre! Nosso
aprendizado foi além das teorias de Comunicação. Tornamos comunicólogos e,
portanto, críticos até demais! Reclamávamos das aulas chatas de teoria, dos
professores malas e daqueles que fingiam que nos ensinavam alguma coisa. Aprendemos
sobre a vida de Silvio Santos em aulas que deveriam ser de Economia, ouvimos
histórias fantásticas “vivenciadas” pelo nosso antigo diretor nas aulas de
redação jornalística, tivemos experiências antropológicas em trabalhos de
campo, conhecemos todo acervo de Glauber Rocha, Eduardo Coutinho e outros “ícones”
do Cinema Novo. Conhecemos o significado dos princípios masculinos e femininos
em edição gráfica, fizemos prova oral em aula de fotografia e descobrimos
livros incríveis em aula de radiojornalismo. Entramos na faculdade com sonhos
impossíveis, e depois dos primeiros estágios, aprendemos que a vida de um
jornalista estava longe de ser o de um âncora atrás de uma bancada do
telejornal. Os plantões de fins de semana, as pautas recomendadas, os
entrevistados malas, o salário miséria e as broncas estúpidas dos chefes
rabugentos.
Mesmo assim, nos formamos
felizes. Não nos tornamos rabugentos, nem idealistas. Apenas aprendemos com
percalços da carreira e nos adaptamos à realidade do mercado. Saudosismo não é bem
a palavra para relembrar com carinho esse período de descobertas, sonhos e
realizações. Mas ao comemorar uma década daquilo que lhe proporcionou uma
mudança de vida e que definiu a escolha da minha profissão, é uma forma de recordar com
satisfação e alegria uma fase importante das nossas vidas!
Fico feliz em reconhecer
que fiz a escolha certa e que os amigos continuam presentes em minha vida.
10 de agosto de 2012
O que temos para hoje?
Uma filosofia de vida é não esperar nada em troca de
ninguém, não criar altas expectativas de um projeto futuro, de não se importar
com a antipatia alheia...
Aprendemos todos os dias a nos bastarmos com o que é possível
ter. E isso não se refere a condições financeiras. Temos que compreender quando
os acontecimentos tomam outros rumos, às vezes não desejados. Afinal, não temos
domínio de tudo. Saber lidar com imprevisto, compreender quando algo deu
errado, quando alguém lhe foi injusto, quando a pressa é inimiga da perfeição,
quando o resultado final não foi o planejado.
Se pararmos para pensar, quantas vezes conseguimos aplicar
em inúmeras situações do cotidiano a frase “é o que temos para hoje!”? Aprendi
isso com uma amiga do trabalho e achei graça.
Quando a fila do banco está grande. Quando o cardápio do
restaurante não está bom. Quando alguém de sua família lhe trata com desprezo.
Quando o pneu do carro fura em lugar inseguro. Quando o chefe lhe passa mais
trabalhos quase impossíveis com prazos curtos. Quando a atendente de uma
lanchonete não está nos seus melhores dias. Quando você tenta resolver um
problema de conta com SAC por telefone. Quando você aguarda séculos para
entrega de um produto e quando chega ele vem com defeito. Quando o elevador
quebra e você é obrigado a subir muitos andares por escada. Quando você chega
cansado em casa depois de um dia intenso e descobre que sua geladeira está
completamente vazia. Quando você realiza um ótimo trabalho, mas o reconhecimento
passa longe, quiçá um singelo “parabéns”. É o que temos para hoje.
Porém isso não é sinônimo de derrota. Saber lidar com as
frustrações faz de nós um ser humano melhor. Não é se acomodar, se revoltar,
nem rebaixar, muito menos se anular. É apenas compreender e tentar conviver com
as pedras do caminho. Pode ser que o que teremos para amanhã ou depois seja
muito melhor.
6 de agosto de 2012
Maria Rita canta Elis
Certamente um dos shows mais esperados pelo público que
gosta tanto da mãe quanto da filha. Mais especialmente para quem viveu na época
que a “doce pimetinha” fazia sucesso cantando “O Bêbado e a Equilibrista”,
“Arrastão” e “Fascinação”.
Sábado assisti a esse show que Maria Rita homenageia sua
mãe, trinta anos depois de sua morte, com repertório de Elis. Desde o início da
carreira, que começou há exatos dez anos, Maria Rita sempre foi “pressionada” a
cantar as músicas de Elis, principalmente pela enorme semelhança das vozes. Mas
Maria Rita foi resistente e buscou desde o início traçar sua própria carreira,
com um repertório que mesclava uma MPB repaginada (Marcelo Camelo, O Rappa etc),
MPB de Milton Nascimento e outros ícones, samba de raíz e por aí vai. Até que,
amadurecida, resolveu encarar o projeto criado pelo seu irmão, o produtor
musical João Marcello Bôscoli, em cantar não só algumas músicas como preparar
um show “redescobrindo” Elis.
O repertório não poderia ser melhor. Ao longo de duas horas
de show, Maria Rita passa por vários momentos da carreira da mãe, desde
“Arrastão”, interpretado por Elis no Festival da Música Brasileira em 1965, até
seus clássicos “Como nossos pais”, “Águas de Março”, “Saudosa Maloca”, “Ladeira
da Preguiça”, “O Bêbado e a Equilibrista”, “Me deixas louca”, “Zazueira”, “Alô,
Alô, Marciano”, “Aprendendo a Jogar”, “Romaria” e “Madalena”.
Entre uma sequência e outra, Maria Rita dava uma pausa e
falava um pouco da personalidade de sua mãe, de suas histórias e de sua
admiração pela artista que foi. Quando a cantora morreu, Maria Rita era muito
nova e pouco guarda lembrança da mãe. Mas por vontade própria, Maria Rita
buscou conhecer não só a artista, mas a mulher Elis, conversando com pessoas
que conviveram com ela. Entre elas, a pessoa que Rita mais admira e respeita,
seu padrinho Milton Nascimento. Para Rita, Milton foi o amigo leal, o irmão e
companheiro que soube preservar a memória de Elis. Maria Rita se emociona ao
falar da mãe guerreira, da mulher idealista, politizada e intensa. Aos poucos,
Rita vai redescobrindo a mãe, conhecendo seus repertórios, entendendo suas
escolhas e a personalidade forte. “Ela se entregava aos seus amores, seus
desamores, aos seus filhos, a sua carreira”.
Maria Rita conta que sente a presença de sua mãe, não
necessariamente espiritualmente, mas nas suas atitudes, nos comportamentos e
até no seu jeito de ser mãe. Ela diz que imagina como seria sua relação com
Elis, hoje. Como seria a Elis avó, mãe, companheira, amiga. E nesse universo
entre mãe e filha, Maria Rita canta “Essa Mulher” (Essa menina, essa mulher, essa senhora/Em que esbarro toda hora/No
espelho casual/É feita de sombra e tanta luz/De tanta lama e tanta cruz/Que
acha tudo natural) e “Se eu quiser falar com Deus”, clássico de Gilberto
Gil, com interpretação inesquecível de Elis.
Inevitável não comparar Maria Rita a Elis. Não só pela voz,
pelo jeito de cantar, mas também pelas expressões, pelos gestos, pela força e
interpretação de cada canção. Impossível não se emocionar ao “redescobrir” uma
Elis na voz de sua criação. Difícil também imaginar como Maria Rita seguirá em
sua longa carreira sem cantar Elis daqui para frente.
Em uma letra de Rita Lee – “Doce Pimenta”, Maria Rita afirma
“essa realmente era minha mãe: uma pimenta, mas não deixava de ser doce”: “Cada
um vive como pode/E eu não nasci pra sofrer/ Cara feia pra mim é fome/ E eu não
faço manha pra comer/ A vida é como uma escola/ E a morte é o vestibular/ No
inferno eu entro sem cola/ Mas o céu eu vou ter que descolar/ Mas quando alguém
precisa de um carinho meu/ Não há nada que me prenda/ Mas se eu sentir que um
bicho me mordeu/ Sou mais ardida que pimenta!/ No fundo eu sou otimista/ Mas eu
sempre penso o pior/ Me cansa essa vida de artista/ Mas cada vez o prazer é
maior”.
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