22 de dezembro de 2012

Joelho Desequilibrado

Há exatamente uma semana, passei por uma situação estranha, ao me ver esbarrando em
uma moça desconhecida, em meio a um baile de formatura, o que por um breve instante
me desequilibrou e me fez cair ao chão. Enquanto os amigos, embalados pela
festa e música dançante, riam da situação, achando que se tratava de uma brincadeira
minha, estava eu me contorcendo de dor profunda, sem ainda compreender tamanha
amplitude do que estava de fato acontecendo naquele instante.
O "tropeçar dançante" me causou um rompimento do ligamento no joelho, uma lesão do menisco e um pequeno edema no osso da perna esquerda. O socorro veio tão logo, assim como os semblantes, antes risonhos e descompromissados, se tornaram sérios e preopantes. Vi-me cercado de olhares perturbadores, como se gritassem com seus pensamentos : "como isso pode ter acontecido?"
E é o que ainda me pergunto: "como?"...
Assim como um atleta se integra aos perigos de fortes impactos, um jogador dribla sem piedade seu adversário, um bailarino rodopia desafiando seu corpo com movimentos traiçoeiros, eu apenas brincava na pista, sem me atentar para um simples fato: somos seres fracos. Basta um desequilíbrio, um inocente tropeço, um inesperado empurrão para o corpo responder com fraqueza ou desatenção. Fui pego de surpresa e não houve tempo hábil para reação precisa de um bom equilibrista. Estamos vivendo numa eterna corda bamba...
Uma semana depois, ainda debilitado e impossibilitado de andar, passei por outra experiência, esta no mínimo curiosa.
Ao passear em um shopping da cidade, por conta das compras finais para época natalina, optei, por força maior e melhor conforto meu, andar de cadeira de rodas, emprestada pelo centro comercial.
Durante meu esforço em conduzir com presteza aquele pequeno veículo, fui observando aos poucos os diferentes olhares dos transeuntes. Para muitos, o fato de um homem jovem, tendo em princípio um grave defeito físico,  despertava certa compaixão de pessoas desconhecidas. Alguns tentavam disfarçar, desviando os olhares ou abrindo um tímido sorriso, quando eu pedia licença para passar. Já outros eram mais dispostos a abrirem espontaneamente a passagem, quando não, a empurrarem o carrinho para me pouparem do esforço físico.
Engraçado que essa mesma impressão teve minha mãe, que espontaneamente comentou comigo os mesmos olhares, discretos ou indiscretos, durante nossa caminhada pelo shopping. Mas ao mesmo tempo, a experiência fez refletir sobre as dificuldades reais que os deficientes passam em lugares públicos, que deveriam apresentar mais estrutura e conforto. Um exemplo seriam as cabines de provas de roupa nas lojas, que não comportam  uma cadeira de rodas, muito menos espaço para entrada e saída do deficiente.
São casos como esses que percebemos como nós mesmos não estamos acostumados a pensar no próximo e só passando por essas experiências para percebemos as dificuldades alheias.

21 de dezembro de 2012

E o fim do mundo?



“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar...”

Essa história de fim de mundo se tornou piada e programa de tv. São muitas histórias, especulações, adivinhações e premunições sobre o assunto. Brincadeiras e Nostradamus a parte, o que podemos refletir sobre o verdadeiro fim desse mundo?

As catástrofes naturais, os terremotos, furacões e outros fenômenos atravessam continentes, proporcionando tragédias imensuráveis. São povos, ricos ou pobres, devastados, que sofrem com inúmeras perdas, materiais e humanas. Ao mesmo tempo, vivenciamos um período de guerras entre nações, violências, misérias, desigualdades, assassinatos, terrorismo que nos assuntam e desesperam. Enquanto é notícia de jornal, só lamentamos, mas quando a vítima é alguém muito próximo, a raiva e a intolerância se fazem presentes, perguntando: “até quando?”.

Pois é, até quando ainda viveremos assustados, amedrontados e, em muitos casos, injustiçados? Até quando o “mal” vencerá o “bem”?

Para os estudiosos do Espiritismo, vivemos no período de Provas e Expiações, quando os conflitos e as tragédias são elementos, como próprio nome define, de provas e expiações que nós, seres imortais, espíritos encarnados, estamos vivendo aqui na Terra. Assim como nós, nosso planeta está em constante evolução. E se “depois da tempestade, sempre vem a bonança”, o planeta Terra também está em fase de transformação. Estamos caminhando para o próximo período – Regeneração.

Aos poucos, estamos sendo preparados para Nova Era. E para isso, muitos de nós aqui encarnados estão passando por momentos cruciais. É o fim do mundo? Para alguns sim. Mas àqueles que prezam pela verdade, pelo amor ao próximo, pela caridade e pela prática do bem, esse é um período de regenerar-se, corrigir-se, reabilitar-se.
Em uma passagem do livro “Transição Planetária”, psicografado por Divaldo Franco, pelo espírito Manoel de Miranda, a explicação vem nessas belas palavras:

“As grandes transformações, embora ocorram em fases de perturbação do orbe terrestre, em face dos fenômenos climáticos, da poluição e do desrespeito à Natureza, não se darão em forma de destruição da vida, mas de mudança de comportamento moral e emocional dos indivíduos, convidados uns ao sofrimento pelas ocorrências e outros pelo discernimento em torno da evolução. (...) os novos obreiros do Senhor se sucederão ininterruptamente alterando os hábitos sociais, os costumes morais, a literatura e a arte, o conhecimento em geral, ciência e tecnologia, imprimindo novos textos de beleza que despertarão o interesse mesmo daqueles, que momentaneamente, encontram-se adormecidos.

Antes, porém, de chegar esse momento, a violência, a sensualidade, a abjeção, os escândalos, a corrupção atingirão níveis dantes jamais pensados, alcançando o fundo do poço, enquanto as enfermidades degenerativas, os transtornos bipolares de conduta, as cardiopatias, os cânceres, os vícios e os desvarios sexuais clamarão por paz, pelo retorno à ética, à moral, ao equilíbrio... (...) Como em toda batalha, momentos difíceis surgirão exigindo equilíbrio e oração fortalecedora, os lutadores estarão expostos no mundo, incompreendidos, desafiados por serem originais na conduta, por incomodarem os insensatos que, ante a impossibilidade de os igualarem, irão combate-los.

Trata-se, portanto, de um movimento que modificará o planeta para melhor, a fim de auxiliá-lo a alcançar o patamar que lhe está reservado”.

4 de dezembro de 2012

Amigo Oculto

-->
Mais um fim de ano, fui o escolhido para organizar o famoso amigo oculto do grupo do trabalho. Para facilitar o sorteio, eu crio um grupo naquele site “amigo secreto” e mando o convite para todos participarem. Até aí, tudo bem.

Mas nesse ano, a equipe aumentou e novos colegas passaram a fazer parte desse amigo oculto corporativo. Como de praxe, há sempre um que não sabe mexer direito no site e acaba me pedindo ajuda.

- Oi, qual seu nome mesmo?
- Mário
- Oi Mário, tudo bem?
- Tudo...
- O meu amigo oculto mandou uma mensagem naquele site que você enviou, perguntando o que eu gostaria de ganhar. Mas eu não sei responder. Você poderia me ajudar?
- Claro! Entra no site com a sua senha que eu lhe mostro como enviar uma mensagem para ele, colocando suas sugestões de presente.
- Ah... obrigada!
- Está vendo aqui (apontando para tela do computador) onde você deve escrever? Então, coloca aqui suas sugestões e envia para ele.
- Você pode escrever para mim? Coloca, por favor, “em breve, mandarei minhas sugestões”.
- Ok. Pronto, já escrevi e enviei.
- Ah, muito obrigada!
- Disponha!

Preciso dizer que sou eu o amigo oculto dela?

27 de novembro de 2012

1982 – Feliz Ano Velho

No Réveillon passado, meia noite, um pensamento veio na mente: 2012 será um ano especial. E realmente foi. O principal motivo estava na comemoração dos 30 anos.

1982 foi um ano cheio de importantes acontecimentos, principalmente no universo cultural. E para minha satisfação, acabei comemorando os meus 30 anos em diversos momentos, celebrando junto com outros balzaquianos da estrada.

Só para citar alguns desses, estão a banda Blitz, Kid Abelha e a chegada das canções pop rock de Lulu Santos, como minha preferida “Tempos Modernos”. Foi o ano de “E.T. – O Extraterrestre”, “Rambo”, “Blade Runner”, “Atari” e, claro, do lançamento de “Thriller”, segundo LP de Michael Jackson.

O Rock nacional ganhou espaço nas rádios e fez sucesso entre os adolescentes “rebeldes” e jovens da época. Até hoje, a década de 80 é referência quando são lembrados ícones nacionais como Renato Russo, Cazuza, Lulu Santos, Lobão, Herbert Vianna, Arnaldo Antunes, Nando Reis etc. Ainda vivíamos a ditadura militar, porém com os dias contados. Por isso, a geração Coca-Cola vinha escrachar de vez, debochar dos políticos, se rebelar contra sociedade hipócrita: “Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação/ E aí então vocês vão ver, suas crianças derrubando reis, fazer comédia no cinema com as suas leis”. Ao mesmo tempo, Lulu garantia a presença de gente fina, elegante e sincera, com olhar otimista para os tempos modernos.

Nascemos numa época de transição. Os militares deixavam o poder e a democracia chegava de forma tímida, apesar das campanhas de “Direta Já”, com comícios fervorosos nas ruas da cidade. Crescemos em meio às crises econômicas no país, castigado pela alta inflação e pelas mudanças de moedas – Cruzeiro, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro de novo, Cruzeiro Real e finalmente Real. Tudo bem que pouco importava o troco no bolso. Nossa preocupação era saber se Papai Noel iria trazer minha Caloi (“Não esqueça a minha Caloi”), os novos cartuchos do Atari 2600, Meu Primeiro Gradiente e até o famoso Ursinho Teddy.

Quando os primeiros minutos de 2012 chegavam, imaginei como o ano seria cheio de recordações, comemorações e emoções (desculpe a aliteração). Muitos amigos, assim como eu, também chegaram na casa dos 30, o que só intensificou as celebrações. E como não podia deixar de lembrar também, nada mais significativo ressaltar outro clássico de 1982, o livro “Feliz ano velho”, de Marcelo Rubens Paiva, que não deixou de ser atual, jovem e contemporâneo, como nós, balzaquianos. É assim que continuo celebrando o meu ano: Feliz 1982!

22 de novembro de 2012

Sala de estar

Como já escrevi aqui, eu moro sozinho há alguns anos. E para quem mora sozinho ou é recém casado, uma das primeiras "tarefas do lar" é arrumar a casa. E isso inclui a etapa decoração.

No meu caso, o apartamento continuou com a mesma cara de quando meus pais moravam comigo. Aqueles velhos quadros na parede já me incomodavam, assim como o sofá, a cortina, a mesa de jantar etc. Eu realmente precisava mudar algumas coisas e resolvi iniciar pela sala de estar. É o lugar onde recebo os amigos, assisto à TV, toco meu piano e, portanto, o lugar mais frequentado.

Decoração é algo interessante, mas certamente mais prazeroso quando se tem dinheiro. Quando o orçamento é curto, você tem que ter boas ideias, para tudo ser prático e viável. Ao mesmo tempo, busquei alternativas para imprimir aquilo que tem a ver comigo. E um ponto que sempre gostei e acho que tem tudo a ver com decoração é fotografia.

Pensando nisso, tive a ideia de aproveitar algumas fotos minhas de lugares que já viajei e outras do Rio de Janeiro, onde eu nasci e moro.
Primeiro passo: mudei a cor da sala, antes bege bem claro, para branco neve. Segundo passo: escolhi uma parede (a do corredor), que não fosse tão grande mas ao mesmo tempo não escondida, para passar uma tinta especial imantada (Suvinil Fundo Magnético). Nessa parede, resolvi colocar diversas fotos (viagens, do Rio, objetos etc.) com filtros especiais, todas publicadas no aplicativo Instagram. 


 A ideia é montar um mosaico com fotos no tamanho 10 x 10 cm, misturando cores, momentos importantes, lugares por onde passei e gostei. As fotos já são impressas em papel fotográfico magnético.

13 de novembro de 2012

Ensaio fotográfico da Carla

Depois de um longo tempo sem postar, voltei aqui com um post especial. Trata-se de um ensaio fotográfico que eu experimentei pela primeira vez, tendo como "cobaia" minha amiga de infância Carla. Na sua última semana de gestação (38 semanas), e na minha última semana de férias, fomos para praia da Barra, em plena terça-feira, e levei minha câmera para fazer algumas fotos.

Como somos amigos há mais de vinte anos, não foi difícil fotografar Carlinha. Temos tanta afinidade, que levamos o ensaio como uma grande brincadeira, com altas gargalhadas!

Essa foi sua segunda gravidez e Rafael chegou ao mundo no dia 4 de novembro, com cara de anjo! Na primeira gravidez, da Isabela, não tinha a câmera ainda e nem programamos o ensaio. Resolvi postar aqui o resultado, como simples registro. Algumas pessoas têm preconceito com esse tipo de ensaio e acham brega. Dependendo do "olhar" do profissional, realmente o resultado pode ser desastroso. Mas a nossa ideia aqui foi ser o mais natural possível. Por isso, a descontração e as gargalhadas foram fundamentais. Ela curtiu seu momento "modelo" e eu confesso que gostei muito da brincadeira.

Carlinha, foi um prazer fazer essas fotos, e lamento não ter feito na sua primeira gravidez.















Fotos tiradas dia 30 de outubro de 2012 - Praia da Barra da Tijuca

27 de setembro de 2012

Os melhores anos de nossas vidas

-->
Há exatos 10 anos, ingressei na faculdade de Comunicação da Escola de Comunicação da UFRJ. Era setembro e o segundo semestre começava com atraso, por conta de uma longa greve. A expectativa era grande. Depois de passar por um conturbado vestibular e conquistar uma das 101 vagas para o disputado curso de comunicação, chegava o momento de começar uma nova etapa da vida. Ambiente novo, pessoas novas, o início de uma trajetória profissional.

Logo no primeiro dia, o tradicional trote ao mesmo tempo que assustava os calouros, proporcionava uma mistura de ansiedade e êxtase. O velho palácio da Praia Vermelha recebia seus novatos, todos com cara de criança, recém saídos do antigo 2º grau. Nada de uniforme, recreio, inspetor, formação, hino, tabuada. O uniforme era bermuda, chinelo e camiseta. Laguinho, sujinho, medinho, CA eram como velho pátio da escola. Em pouco tempo, já éramos reconhecidos como ecoínos (de Escola de Comunicação – ECO).

No início, era todo mundo misturado. Apenas no terceiro período é que nos separamos, quando cada um escolheu sua carreira: jornalismo, publicidade, rádio e TV, ou produção editorial. E foi também o período que muitos desistiram da faculdade. Os grupos já estavam se formando, as amizades foram se estreitando. E o nosso grupo já tinha um apelido: Os melancias.

O que seria uma ofensa se tornou uma definição, um elogio, um estado de espírito. O grupo recebeu o título de um colega de turma: “nossa, como vocês adoram aparecer! São verdadeiras melancias”. E não demorou muito para o grupo assumir o apelido carinhoso. Em um carnaval, foi formado o “bloco dos melancias”, com direito a camisa “pendure a sua também”! A letra foi adaptada do samba “Vou festejar” e virou: “São os melancias, perdendo a linha no carnaval/ Eu vou farofar/ FA-RO-FA-FA/ O teu sofrer/ O teu penar/ Você ficou sem reação/Ao assistir nosso chão chão chão”!

Época da faculdade foi sem dúvida a melhor fase da minha vida. Havia responsabilidades, mas não se comparavam a época chata da escola, das cobranças dos pais com as boas notas. Era o início da fase adulta, mas ainda vivendo como adolescente. A mesada foi substituída pela bolsa do estágio e, por milagre, era possível chegar até o final do mês com aquela miséria.

Período das festinhas, das viagens de turma, dos encontros na casa dos amigos. A cidade do Rio de Janeiro nunca foi tão explorada por nós, desbravadores! Caíamos em cada buraco à procura de aventura! “Festa estranha com gente esquisita” virou rotina, mas tudo valia a pena! O primeiro porre também nasceu na faculdade, nas inesquecíveis chopadas! “Experimenta, experimenta!” e assim conheci o que era a famosa bebidinhalegre – uma mistura de vinho, sprite e vodka, que nos permitia falar besteira com toda sinceridade do mundo!

Quatro anos passaram rápido demais. Mas foram o bastante para transformar nossas vidas para sempre! Nosso aprendizado foi além das teorias de Comunicação. Tornamos comunicólogos e, portanto, críticos até demais! Reclamávamos das aulas chatas de teoria, dos professores malas e daqueles que fingiam que nos ensinavam alguma coisa. Aprendemos sobre a vida de Silvio Santos em aulas que deveriam ser de Economia, ouvimos histórias fantásticas “vivenciadas” pelo nosso antigo diretor nas aulas de redação jornalística, tivemos experiências antropológicas em trabalhos de campo, conhecemos todo acervo de Glauber Rocha, Eduardo Coutinho e outros “ícones” do Cinema Novo. Conhecemos o significado dos princípios masculinos e femininos em edição gráfica, fizemos prova oral em aula de fotografia e descobrimos livros incríveis em aula de radiojornalismo. Entramos na faculdade com sonhos impossíveis, e depois dos primeiros estágios, aprendemos que a vida de um jornalista estava longe de ser o de um âncora atrás de uma bancada do telejornal. Os plantões de fins de semana, as pautas recomendadas, os entrevistados malas, o salário miséria e as broncas estúpidas dos chefes rabugentos.

Mesmo assim, nos formamos felizes. Não nos tornamos rabugentos, nem idealistas. Apenas aprendemos com percalços da carreira e nos adaptamos à realidade do mercado. Saudosismo não é bem a palavra para relembrar com carinho esse período de descobertas, sonhos e realizações. Mas ao comemorar uma década daquilo que lhe proporcionou uma mudança de vida e que definiu a escolha da minha profissão, é uma forma de recordar com satisfação e alegria uma fase importante das nossas vidas!

Fico feliz em reconhecer que fiz a escolha certa e que os amigos continuam presentes em minha vida.

10 de agosto de 2012

O que temos para hoje?


Uma filosofia de vida é não esperar nada em troca de ninguém, não criar altas expectativas de um projeto futuro, de não se importar com a antipatia alheia...

Aprendemos todos os dias a nos bastarmos com o que é possível ter. E isso não se refere a condições financeiras. Temos que compreender quando os acontecimentos tomam outros rumos, às vezes não desejados. Afinal, não temos domínio de tudo. Saber lidar com imprevisto, compreender quando algo deu errado, quando alguém lhe foi injusto, quando a pressa é inimiga da perfeição, quando o resultado final não foi o planejado.

Se pararmos para pensar, quantas vezes conseguimos aplicar em inúmeras situações do cotidiano a frase “é o que temos para hoje!”? Aprendi isso com uma amiga do trabalho e achei graça.

Quando a fila do banco está grande. Quando o cardápio do restaurante não está bom. Quando alguém de sua família lhe trata com desprezo. Quando o pneu do carro fura em lugar inseguro. Quando o chefe lhe passa mais trabalhos quase impossíveis com prazos curtos. Quando a atendente de uma lanchonete não está nos seus melhores dias. Quando você tenta resolver um problema de conta com SAC por telefone. Quando você aguarda séculos para entrega de um produto e quando chega ele vem com defeito. Quando o elevador quebra e você é obrigado a subir muitos andares por escada. Quando você chega cansado em casa depois de um dia intenso e descobre que sua geladeira está completamente vazia. Quando você realiza um ótimo trabalho, mas o reconhecimento passa longe, quiçá um singelo “parabéns”. É o que temos para hoje.

Porém isso não é sinônimo de derrota. Saber lidar com as frustrações faz de nós um ser humano melhor. Não é se acomodar, se revoltar, nem rebaixar, muito menos se anular. É apenas compreender e tentar conviver com as pedras do caminho. Pode ser que o que teremos para amanhã ou depois seja muito melhor.

6 de agosto de 2012

Maria Rita canta Elis



Certamente um dos shows mais esperados pelo público que gosta tanto da mãe quanto da filha. Mais especialmente para quem viveu na época que a “doce pimetinha” fazia sucesso cantando “O Bêbado e a Equilibrista”, “Arrastão” e “Fascinação”.

Sábado assisti a esse show que Maria Rita homenageia sua mãe, trinta anos depois de sua morte, com repertório de Elis. Desde o início da carreira, que começou há exatos dez anos, Maria Rita sempre foi “pressionada” a cantar as músicas de Elis, principalmente pela enorme semelhança das vozes. Mas Maria Rita foi resistente e buscou desde o início traçar sua própria carreira, com um repertório que mesclava uma MPB repaginada (Marcelo Camelo, O Rappa etc), MPB de Milton Nascimento e outros ícones, samba de raíz e por aí vai. Até que, amadurecida, resolveu encarar o projeto criado pelo seu irmão, o produtor musical João Marcello Bôscoli, em cantar não só algumas músicas como preparar um show “redescobrindo” Elis.

  
O repertório não poderia ser melhor. Ao longo de duas horas de show, Maria Rita passa por vários momentos da carreira da mãe, desde “Arrastão”, interpretado por Elis no Festival da Música Brasileira em 1965, até seus clássicos “Como nossos pais”, “Águas de Março”, “Saudosa Maloca”, “Ladeira da Preguiça”, “O Bêbado e a Equilibrista”, “Me deixas louca”, “Zazueira”, “Alô, Alô, Marciano”, “Aprendendo a Jogar”, “Romaria” e “Madalena”.

Entre uma sequência e outra, Maria Rita dava uma pausa e falava um pouco da personalidade de sua mãe, de suas histórias e de sua admiração pela artista que foi. Quando a cantora morreu, Maria Rita era muito nova e pouco guarda lembrança da mãe. Mas por vontade própria, Maria Rita buscou conhecer não só a artista, mas a mulher Elis, conversando com pessoas que conviveram com ela. Entre elas, a pessoa que Rita mais admira e respeita, seu padrinho Milton Nascimento. Para Rita, Milton foi o amigo leal, o irmão e companheiro que soube preservar a memória de Elis. Maria Rita se emociona ao falar da mãe guerreira, da mulher idealista, politizada e intensa. Aos poucos, Rita vai redescobrindo a mãe, conhecendo seus repertórios, entendendo suas escolhas e a personalidade forte. “Ela se entregava aos seus amores, seus desamores, aos seus filhos, a sua carreira”.

Maria Rita conta que sente a presença de sua mãe, não necessariamente espiritualmente, mas nas suas atitudes, nos comportamentos e até no seu jeito de ser mãe. Ela diz que imagina como seria sua relação com Elis, hoje. Como seria a Elis avó, mãe, companheira, amiga. E nesse universo entre mãe e filha, Maria Rita canta “Essa Mulher” (Essa menina, essa mulher, essa senhora/Em que esbarro toda hora/No espelho casual/É feita de sombra e tanta luz/De tanta lama e tanta cruz/Que acha tudo natural) e “Se eu quiser falar com Deus”, clássico de Gilberto Gil, com interpretação inesquecível de Elis.

Inevitável não comparar Maria Rita a Elis. Não só pela voz, pelo jeito de cantar, mas também pelas expressões, pelos gestos, pela força e interpretação de cada canção. Impossível não se emocionar ao “redescobrir” uma Elis na voz de sua criação. Difícil também imaginar como Maria Rita seguirá em sua longa carreira sem cantar Elis daqui para frente.

Em uma letra de Rita Lee – “Doce Pimenta”, Maria Rita afirma “essa realmente era minha mãe: uma pimenta, mas não deixava de ser doce”: “Cada um vive como pode/E eu não nasci pra sofrer/ Cara feia pra mim é fome/ E eu não faço manha pra comer/ A vida é como uma escola/ E a morte é o vestibular/ No inferno eu entro sem cola/ Mas o céu eu vou ter que descolar/ Mas quando alguém precisa de um carinho meu/ Não há nada que me prenda/ Mas se eu sentir que um bicho me mordeu/ Sou mais ardida que pimenta!/ No fundo eu sou otimista/ Mas eu sempre penso o pior/ Me cansa essa vida de artista/ Mas cada vez o prazer é maior”.