Quando criança, sempre há um adulto com a velha questão: “o que você vai ser quando crescer?”. A grande maioria sai com profissões promissoras e óbvias, outras costumam se deslumbrar por profissões desafiadoras como astronautas e bombeiros. Porém, alguns lançam pérolas que, na visão do adulto, podem parecer estranhas, como “quero ser caixa de supermercado” ou “quero ser gari”.
Na visão inocente do pequeno, o caixa de supermercado lida com uma máquina fantástica, que soma tudo aquilo que o pai e a mãe estão comprando, em questão de minutos. Sua agilidade e presteza com que manuseia a fabulosa máquina chama atenção. Já o gari, vestido com um uniforme para lá de ousado, laranja com detalhes que “brilham” à noite, tem a grande tarefa de “varrer o mundo”, acabando com o lixo que os mal educados lançam às ruas.
Porém, não são só os guris que admiram esses profissionais, classificados como “mão de obra barata”. Uma ex-caixa de supermercado francesa resolveu criar um blog (mais uma vez o BLOG!) para contar suas experiências no seu ambiente de trabalho. Em princípio, pode parecer banal a experiência de vida de uma caixa de supermercado, mas o que chamou atenção dos leitores foi justamente o comportamento humano diante de uma caixa. O blog fez tanto sucesso que virou um livro e hoje está sendo traduzido para várias línguas.
A matéria conta um pouco desse sucesso e como a francesa ganhou o mundo com suas histórias. Mas o que gostaria de desenrolar aqui é o quanto nossas experiências profissionais podem se tornar interessantíssimas para o grande público, às vezes de forma despretensiosa, como no caso dela.
Imagina quanta coisa deve acontecer na vida de um professor de dança, um personal trainer, um taxista, um cabeleireiro, um massageador, um fisioterapeuta, trocador de ônibus, secretária de médico, manicure, instrutor de paraquedas, bicheiro, pai de santo, coveiro, enfermeira, bilheteiro de cinema pornô, vendedor de bala e cigarro em banheiro de boate...
Nessa onda, a grande sacada do filme Central do Brasil foi justamente contar a história de uma professora que escrevia cartas para transeuntes analfabetos da estação de trem da Central do Brasil. Na verdade, a história não é dela, mas sua profissão serviu como pano de fundo para o enredo fascinante do filme.
Somos todos personagens nessa vida, portanto, não podemos menosprezar qualquer profissão. Se optamos por uma carreira ou aproveitamos a oportunidade que nos é dada por uma determinada profissão, façamos a nossa história de vida.
Para encerrar, lembro-me das tardes em que meu querido avô contava por longas horas suas experiências profissionais desde quando foi um office boy de um ginecologista (imagina as histórias!), até quando foi gerente de uma farmácia na Lapa. Para muitos, poderiam parecer histórias bobas, fúteis, sem grandes acontecimentos, mas para mim foram fantásticas. Por insistência minha, algumas dessas histórias foram escritas e mais tarde reunidas em um livro, digamos, caseiro que eu mesmo preparei. Hoje, certamente, este livro é a lembrança mais gostosa que ele poderia ter deixado.
6 comentários:
caramba, mário, que postagem fantástica! fiquei emocionado! parabéns, ótimo texto! e que bacana isso que o seu avô deixou.
eu não tenho lembranças do meu avô e, por isso, pra não acontecer o mesmo com minha avó, eu comecei a fazer várias entrevistas em vídeo com ela. hoje, depois que ela se foi, é ótimo ver os vídeos e matar a saudade (imensa) que tenho dela.
esqueci de comentar, quando criança eu sempre respondia que queria ser 'professor de natação'!
e por que seria um professor de natação?
Quando criança, meu sonho era trabalhar num lugar que tivesse uma mesa cheia de papéis. Hoje fujo deles !!!!!!!
Bjs.
Que lindo! Adoro histórias, contar, ouvir, repassar... A vida se perpetua nas histórias. Quem não sabe nada de onde veio ou de quem está ao seu redor sabe menos sobre si mesmo. Gostei muito do post. E conta ai mais uma história. bjs
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