21 de dezembro de 2011

“Não se afobe não que nada é para já”


Se você tiver pressa para casar, espere. Não pense que os anos são cruéis e que a juventude é um sopro breve que pode passar despercebido. Calma, não se precipite. Não faça nada que venha se arrepender depois, mesmo sabendo (lá no fundo) que não vai dar certo.

O recado acima é para as mulheres desesperadas, que sonham casar cedo porque não querem envelhecer sem constituir uma família, com filhos bonitos, um marido ideal e um lar perfeito. Às vezes dá certo, mas às vezes não.

Na época da faculdade, uma amiga namorou um rapaz por quem já era apaixonada desde a adolescência. O namoro ia muito bem, com projetos de casamento à vista, até que ele resolveu romper e voltar para ex. Minha amiga ficou deprimida, “seu mundo caiu” e por alguns anos tentou se apaixonar loucamente por qualquer Zé Mané da esquina. Bastavam prometer um happy end, que ela já sonhava alto. Mas nenhum deu certo e o “falecido” renasceu das cinzas se dizendo arrependido e coisa e tal. Conclusão, quatro meses depois já estavam com casamento marcado.

Ela dizia que ele tinha mudado, estava mais companheiro, mais carinhoso, mais cuidadoso. Os amigos mais próximos se espantaram com a decisão tão rápida. Na época, rolou um email mal criado para os amigos no estilo “a quem interessa, estamos bem, obrigada. Se alguém deveria perdoá-lo esse alguém sou eu, apenas”. E o casamento foi realizado, com todos os requintes (des)necessários.

Ele nunca foi um exemplo de simpatia, mas esforçava-se aos poucos a se aproximar dos amigos de sua companheira. Logo após o casamento, ele tomou uma atitude decisiva em sua vida: realizou uma cirurgia para diminuição do estômago, o que muito lhe favoreceu para o término de sua obesidade. Não precisa ser nenhum psicólogo ou especialista para afirmar que depois de tal cirurgia sua auto-estima, antes baixa e inquieta, cresceu em proporções gigantescas. Enquanto sua felicidade subia, diminuía-se proporcionalmente a de minha amiga. Esta não conseguia disfarçar aquele casamento frustrado, egoísta e depressivo.

Como uma Amélia, ela se tornou a esposa ideal, fingindo um casamento perfeito e sofrendo internamente as angústias de um casamento fracassado. Ele ostentava uma vida rica e feliz. Mas para se sentir o máximo, sua tática era diminuir sua companheira. Ela nunca estava bonita, bem vestida, nem lhe satisfazia sexualmente como antes. “Quando parei de fingir para ele e para mim mesma é que percebi que meu casamento já tinha chegado ao fim”.

Foi ele quem pediu a separação, mas isso lhe soou como um grito de liberdade, um alívio, a salvação para todos os problemas. Demorou para perceber, mas ela descobriu (e isso era óbvio) que o fracasso do casamento era fruto do egocentrismo dele. E a mudança gerada pós-cirurgia só veio intensificar isso.

A separação veio no momento certo, depois de dois anos de auto-sabotagem. Afinal de contas só ela mesma achou que um casamento desse poderia dar certo. Todos, sem exceção, levantaram a plaquinha “Eu já sabia”, quando ela anunciou o feito. Mas é aquela velha história, quando a pessoa não enxerga o que está diante de seus olhos, ninguém consegue alertar ou mesmo convencer do contrário. Ela “precisou” se aventurar nesse casamento para perceber por conta própria que não era isso que lhe faria feliz de verdade.

Por isso, sábio Chico Buarque alerta aos precipitados: “não se afobe não porque nada é para já”. Lá atrás, quando ela tomou a decisão de voltar para ele e ainda se casar, infelizmente ela acreditou que só com ele ela poderia constituir sua família. Apostou todas as fichas num casamento já predestinado a morrer. No fundo, ela lhe conhecia bem. Acredite, a auto-sabotagem existe e faz muita gente sofrer, às vezes, por anos. Ela se recuperou rapidamente, o que foi bom. Mas quando a pessoa passa anos casada com alguém que não acrescenta em nada, ao contrário, só atrapalha? Para essas, restam apenas os filhos e netos, e um tempo perdido.

2 comentários:

railer disse...

ótimo texto.
infelizmente algumas pessoas preferem pagar pra ver, mesmo sabendo qual será o final da história.

me lembrou essa minha postagem aqui.

abraços!

Biessa disse...

É, amigo.
Não é apenas com casamento. Claro que casamento é mais sério mas quantas pessoas (eu m incluo nessa!) já namoraram apenas para não ficar sozinhas?

Me parece que quando estamos bem com nós mesmos, e quando ficar sozinho não é um fardo, é que aparecem as melhores oportunidades, as melhores pessoas.
Beijos