25 de setembro de 2008

Filme para Oscar ver?


Começa hoje o Festival de Cinema do Rio 2008. Certamente é um dos eventos mais aguardados pelos amantes da sétima arte. E entre os filmes mais esperados, e também podemos dizer polêmicos, é Última Parada – 174, de Bruno Barreto. Digo polêmico porque não só eu, mas como muitas pessoas, antes mesmo de assistir ao filme, já tem uma concepção sobre este estilo de filme, que cineasta brasileiro adora fazer para gringo ver. Nessa linha, temos Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite, e de uma certa forma os recentes Era uma vez e Linha de Passe, sempre trabalhando com o viés da violência urbana.

A polêmica aumentou depois que Última Parada foi indicada por uma comissão especializada para concorrer ao Oscar do ano que vem. Ele concorreu com filmes como Meu nome não é Johnny (Mauro Lima) e O passado (de Hector Babenco), só para citar alguns.

Então, ontem, assisti a uma entrevista no canal TV Brasil, no programa 3 a 1, com a participação do ator Caio Blat e do crítico Mario Abbade (Almanaque Virtual), com o cineasta e diretor do Última Parada – 174, Bruno Barreto. E o que ele falou sobre o filme, sobre o cinema nacional e sua profissão, vale a pena repassar aqui, de forma resumidíssima, é claro.

Barreto já começa a ressaltar que seu filme, diferente de outros, dos quais já citei alguns acima, não tem como foco a violência urbana em si, porém as conseqüências dela na sociedade.

Quando questionado, por que resolveu fazer um filme em que a temática já é bem conhecida pelos brasileiros, por ter sido um episódio “massacradamente” espetacularizado não só na tv mas no cinema, com o documentário feito por José Padilha em 2002; Barreto respondeu: “porque eu fiquei com muitas perguntas depois que assisti ao doc do Padilha e precisava investigar quem eram aqueles personagens, passando para ficção. Quando vi a cena do enterro de Sandro (o “seqüestrador” do ônibus) com a mãe de criação dele carregando uma rosa na mão e uma expressão de ‘uma mãe que enterra um filme’, eu queria saber quem era essa mãe, qual a história dela, como foi sua relação com Sandro”.

A partir desse viés, segundo Barreto, ele buscou contar a história “De uma mãe a procura do filho, e de um filho a procura da mãe”, porque tanto a mãe de criação de Sandro tinha perdido um filho (chamado Alessandro), como o próprio Sandro já teria perdido sua mãe biológica. Além disso, ele também procurou traçar a trajetória deste menino que acabou se tornando o inimigo número um do país. “Todos que conhecem meu trabalho sabem que minha linha é investigar o comportamento humano. Ninguém é bonzinho 100%, assim como ninguém é mauzinho 100%”, ressalta o cineasta.

Em outra comparação interessante, Barreto afirma que, ao contrário dos filmes de 1960 e 70, os atuais têm um olhar mais humanístico e não ideológico. “A miséria (vista, por exemplo, em Cinco vezes favela de 1962) era lírica, em que o pobre era um santo, um objeto e não o sujeito. Hoje não, eles são sujeitos da ação, despidos de preconceito”, interpreta Barreto.

O crítico Mario Abbade apontou, no entanto, uns takes do filme em que Barreto prefere filmar de cima, com um olhar geral, em que Sandro aparece como mais um na multidão. Segundo Barreto, a idéia foi passar uma imagem de que Sandro, comparado a um rato, é mais um numa cidade que o ignora diariamente, preocupada com os negócios, as compras, os prazeres, os lazeres e afins da sociedade. “Eu acredito na redenção da raça humana. E meu filme trata também de encontros e desencontros, em que é possível sim a redenção, de resgatar, de reparar e compensar. Espero que as pessoas saiam do filme carregando algo novo, que os faça enxergarem a vida um pouco melhor” diz o cineasta.

Por último, Barreto foi questionado se um filme para concorrer ao Oscar deve ser o melhor, entre os concorrentes, ou o que apresenta mais chance de ganhar, levando em consideração o estilo da academia, a temática social etc. “Acho que o meu filme foi escolhido por ser um bom filme, e não porque teria mais chance de ganhar. Ele foi julgado pelo que é e não por sucesso de público”. Será? Vamos conferir...

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