Nessa
longa discussão sobre o “futuro do jornalismo” na Era Digital, é interessante
refletir que tipo de jornalismo nos é servido diariamente. Por um lado, as mídias
tradicionais querem impor seu monopólio como os únicos intermediários da notícia.
As Organizações Globo lançaram em agosto “Princípios Editoriais das Organizações”,
com intuito de reafirmar sua credibilidade diante do público. Em outras
palavras, o recado é simples: “ainda somos uma empresa de comunicação
respeitada, confiável, transparente e seguimos princípios éticos, o que nos mantém
no posto de liderança nesse mercado”. Será?
Por outro
lado, somos massacrados diariamente por informações destorcidas, forjadas,
implantadas e sensacionalistas nas mesmas mídias tradicionais que se dizem éticas
e transparentes. Para o grande público, o processo de produção pode não ser tão
transparente assim, mas nos bastidores, sabemos bem o que significa a famosa
matéria REC (Recomendada), pautas prontas (pagas) e “orientações editoriais”
sobre uma determinada matéria (quando o repórter induz na resposta do
entrevistado ou edita apenas o que lhe interessa informar).
Como
profissional de comunicação e jornalista de formação, tento acompanhar as
mudanças e as novidades trazidas pelas as novas mídias, mas confesso que o
avanço tecnológico é mais rápido que minha curiosidade. Quando o filósofo francês
Pierre Levy diz que devemos distinguir canais de fontes, isso quer dizer que
podemos usar um canal e escolher diferentes fontes. Ele usa o twitter para
exemplificar: “o twitter é uma rede, ou seja, um canal. As pessoas que usam é
que são as fontes – sendo essas confiáveis ou não. Cada um é responsável por
filtrar essas informações, porque as fontes estão enviando várias informações
ao mesmo tempo”.
Esse
raciocínio deve ser também para as grandes mídias, ou melhor, as mídias
tradicionais. A exemplo das Organizações Globo, sabemos que há diferentes
fontes dentro de um mesmo canal. No caso dela, há vários canais para diferentes
públicos. Nós - leitores, ouvintes, telespectadores e internautas – devemos filtrar
as informações que recebemos e selecionar as fontes que nós confiamos.
O dia a dia
de uma redação pode gerar pautas viciadas e clichês como “Enchentes causam
transtorno no Rio”, “Tiroteio/Assalto/Tumulto/ causam pânico na cidade”, “Fulano
é flagrado almoçando no Leblon”, do mesmo modo que os blogs, redes sociais e o
próprio tt podem nos informar algo realmente novo, inovador ou instantâneo. Resta
a nós escolhermos qual notícia iremos “digerir” diariamente, diante de múltiplos
intermediários (os tradicionais e os novos).
Para os
profissionais de comunicação, restam trabalhar diariamente em um jornalismo
inovador, interativo e, claro, confiável. A transparência que Pierre Levy
defende na nova esfera pública deve estar presente em todas as mídias,
sejam elas tradicionais (principalmente nelas!) quanto às novas. A confiança é
uma conseqüência dessa transparência.
Portanto,
o discurso sobre os “princípios editoriais” devem sair da teoria nas academias,
dos manuais de redação, para a prática diária nas redações. Isso tudo está
muito além da polêmica sobre a obrigatoriedade do diploma em jornalismo, porque
independe se o profissional que escreve é formado ou não, mas sim se ele é ético
e confiável em sua prática.
Chamo
atenção do seguinte parágrafo retirado de “Princípios Editoriais das Organizações
Globo”:
“Com a consolidação
da Era Digital, em que o indivíduo isolado tem facilmente acesso a uma
audiência potencialmente ampla para divulgar o que quer que seja, nota-se certa
confusão entre o que é ou não jornalismo, quem é ou não jornalista, como se
deve ou não proceder quando se tem em mente produzir informação de qualidade. A
Era Digital é absolutamente bem-vinda, e, mais ainda, essa multidão de
indivíduos (isolados ou mesmo em grupo) que utiliza a internet para se
comunicar e se expressar livremente. Ao mesmo tempo, porém, ela obriga a que
todas as empresas que se dedicam a fazer jornalismo expressem de maneira formal
os princípios que seguem cotidianamente. O objetivo é não somente diferenciar-se, mas facilitar o
julgamento do público sobre o trabalho dos veículos, permitindo, de forma
transparente, que qualquer um verifique se a prática é condizente com a crença.
As Organizações Globo, diante dessa necessidade, oferecem ao público o
documento ‘Princípios Editoriais das Organizações Globo’.”
Diante da reflexão anterior e o que está escrito acima, tire
suas conclusões.
2 comentários:
hoje em dia é preciso não ler só um jornal, não se fixar em uma só fonte e sempre pesquisar pra saber se é verdade.
oi mário, quero o resumo sim!
abraços!
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