2 de setembro de 2008

Linha de Passe – o Filme


Quatro irmãos e uma matriarca. Cinco vidas, cinco histórias dentro de um filme. Estou falando do novo filme de Walter Salles e Daniella Thomas. O primeiro, muitos já conhecem por Central do Brasil e Diários de Motocicleta, já a segunda, pouco conhecida, é cineasta e cenógrafa, filha de Ziraldo e que um dia já foi casada com nada mais nada menos que Geraldo Thomas (até ela admite que seu casamento durou mais que deveria).

Para quem conhece um pouco o estilo de Walter, apresentado nesses filmes citados acima, sabe que seus filmes têm uma narrativa própria, com seqüencias longas, às vezes tensas, mas sempre buscando o verdadeiro. São personagens verdadeiros, sem clichê, sem ser caricatural, ali é realidade. Por um lado, isso isso bom, por outro não.

O lado bom, é que esse filme, como Central do Brasil, mostra a realidade de uma nação ainda muito pobre, em que a oportunidade demora chegar, quando chega. São pessoas comuns, em que nada muito extraordinário acontece... como no filme mesmo... nada demais acontece, o que pode irritar alguns espectadores (ou expectador mesmo, no sentido de permanecer na expectaviva!). Porém, é uma bela história de uma mãe batalhadora que tenta cuidar e educar seus quatro filhos, de pais diferentes, com idades e personalidades muito diferentes.

O lado ruim é que mais uma vez é vendida uma imagem de um país pobre, em que a violência impera, o medo, a falta de oportunidade e tudo que nós, brasileiros, estamos cansados de conhecer, mas que os estrangeiros ainda adoram. Não é à toa que filmes como este ganham prêmios em festivais internacionais, no caso o prêmio em Cannes 2008.

Para quem aguarda um filme de ação, com mortes e feridos, esquece de assistir. Mas se você espera um filme que retrata a vida de uma família de classe baixa, mostrando sua realidade, seu dia-dia, suas dificuldades, seus sonhos, seus pesadelos, suas relações, sua visão de mundo, então, você vai encontrar um belo filme. É realmente um retrato da vida, em que captura-se um momento da vida desses cinco personagens. O que significa que o espectador não irá encontrar um grand finale. Até porque as nossas histórias reais também são assim... elas passam e o clichê se faz: “e a vida continua”.

Então, você conhecerá um Dênis (João Baldasserini), o filho mais velho, motoboy, que se esforça para manter um filho, fruto de um dos seus vários relacionamentos, Dinho (José Geraldo Rodrigues) que busca seu refúgio na religião, Dario (Vinícius de Oliveira, o mesmo de Central do Brasil), que insiste em se tornar jogador de futebol, mesmo com seus 18 anos e o caçula, Reginaldo, o único negro entre os filhos, que tenta encontrar seu pai.

Ontem, tive a oportunidade de assistir à pré-estréia, em que os diretores e o elenco estavam presentes. É uma experiência única, estar diante daqueles que brilharam na tela. E se eu pudesse dar o prêmio de melhor ator para esse elenco, iria contra os jurados de Cannes, que premiaram a matriarca da história, atriz Sandra Corveloni. Quem realmente rouba a cena de todo filme é o filho caçula da família, o pequeno ator Kaique de Jesus Santos, que tem uma naturalidade incrível na interpretação, pouco comum entre os atores mirins.

2 comentários:

Camila disse...

Vou conferir com certeza!

Anônimo disse...

o Kaique realmente arrasa! dá um show! gostei do filme, da fotografia, trilha sonora... acho que todos juntos contribuem para dar corpo e consistência ao filme. Entendo o fato da rotina, de mostrar o dia-a-dia, mas acho que ele levantou muitos assuntos e não terminou nenhum. Já vi mt filme europeu nesse estilo e confesso que estou ficando um pouco cansada. isso não tira as qualidades da obra, mas acho que o final poderia ser um pouco diferente.