8 de outubro de 2009

O primeiro amor (Parte 1)

A vida nos prepara uns inesperados encontros que nos deixam entorpecidos...

Quando eu era garoto, com meus, sei lá, dez, onze anos, conheci aquela que eu depois definiria como meu primeiro amor. Bem parecido com a letra de Lulu Santos [Ai veio a adolescência (...) A garota mais bonita/ Também era a mais rica/ Me fazia de escravo do seu bel prazer], ela também era a garota mais bonita e a mais rica do colégio. Chegava de caminhonete, com motorista todos os dias. Tinha pais separados e, como a caçula de três irmãos e única menina da família, era bem mimada por todos. Seus longos cabelos loiros e lisos e seus belos olhos azuis traduziam aquilo que eu também defini como beleza perfeita. Ela era perfeita... pelo menos para mim.

E nesses olhares de garoto, eu criei meu primeiro amor platônico, fantasioso e intensamente desejado. Aos mais próximos, não escondia minha admiração por ela. Mas ela, como todo tímido que se presta, não imaginava minha paixão. E essa paixão surgiu na terceira séria primária e persistiu por longos anos até o ano da separação, na sétima série. Neste ano, ela resolveu deixar o colégio público e passou a estudar no pomposo Notre Dame. Durante todos esses anos, o ingênuo apaixonado procurava se aproximar como amigo íntimo para então fazer parte de sua vida. Realmente nos tornamos grandes amigos, de altos papos e confidências dignos da pré-adolescência.

E graças a essa proximidade, o amigo se fez presente, sempre ouvindo as histórias e as primeiras aventuras amorosas dela. Por dentro, intimamente, eu sofria imensamente. O medo de perder essa amizade era maior que a coragem para revelar meu amor, por isso, preferia continuar naquela incômoda situação de amigo/confidente.

Depois da sétima série, nunca mais nos vimos pessoalmente. Ainda éramos muito novos, e não havia meios para manter contato, como há atualmente. Mas a lembrança da linda menina permanecia e com ela a esperança de um dia reencontrá-la. Por muitas vezes, me pegava pensando nela: “como estaria ela hoje?”, “será que continua bonita, simpática?”, “será que me reconheceria hoje? Afinal, não sou mais aquele garoto de óculos, cabelo liso estilo ‘asa delta” e bochechudo”; “quais são os amigos dela agora? Quais os lugares que ela deve freqüentar? Será que está namorando?”. O tempo e a distância fizeram o papel inevitável da separação e do esquecimento.

Então surgiu o Orkut – essa inovadora ferramenta poderosa que conseguiu em muito pouco tempo reunir em sua rede pessoas que um dia fizeram parte de sua vida. É como se pudéssemos resgatar uma memória praticamente esquecida e nos atualizar daquilo que nunca imaginaríamos rever.

Tão logo entrei na rede, passei a catar todos aqueles que de alguma maneira me traziam boas lembranças, principalmente no período escolar. E ela não seria diferente. De certo, foi uma das primeiras a quem busquei. Não seria tão difícil assim, afinal, seu nome completo ainda estava vivo em minha memória.

Então, com um simples botão de busca, um turbilhão de sentimentos veio à tona diante da tela do computador. Sim, eu havia encontrado, pelo menos em foto, aquela menina de treze, quatorze anos, loirinha, de olhos claros, pele clara, magrinha. Era a própria, agora, com seus vinte e poucos anos. Logicamente, seus traços já eram adultos, mas a fisionomia era a mesma.

Desde esse momento, reacendeu aquela velha esperança de reencontrá-la, pelo menos para uma conversa de velhos amigos. Não, não estava confundindo os velhos sentimentos. Não voltei a ser aquele garoto tímido e apaixonado. Não tinha a intenção (e nem queria) reviver a velha paixão. Afinal de contas, nós crescemos, somos adultos. Mas há de convir que algo de estranho ressurgiu. Não sei explicar exatamente, mas é como de alguma maneira parei para pensar que um dia essa menina foi a pessoa mais “importante” para minha vida durante anos. Não tinha idéia na pessoa em que ela “se transformou”. Poderia ter se tornado uma mulher completamente diferente daquela que conheci na infância e adolescência. Só o fato de poder revê-la, mesmo sabendo disso, me trazia um sentimento de saudade. Acho que é isso. A palavra certa então é saudade. E uma saudade boa, de um período bom, daquele tempo em que éramos apenas jovens...

Finalmente trocamos mensagens. Ela me adicionou em sua rede de amigos. Eu já fazia “parte de sua vida” novamente, pelo menos virtualmente. Mas durante esses anos de Orkut, poucas vezes nos falamos para falar a verdade. E a idéia do reencontro pessoalmente permanecia.

Como seria esse reencontro? Onde seria? Qual seria minha reação? E a dela? Será que ficaríamos na formalidade do estilo: “olá, quanto tempo”, apenas? Cheguei a imaginar encontrá-la num bar à noite, ou numa caminhada na Lagoa, sei lá. O que eu falaria? E o que ela responderia?

2 comentários:

Anônimo disse...

Engraçado, Eu tive um amor que hoje sei que foi uma amor de verdade e que passou pela adolececência e que seguiu para a vida de gente grande..rss, Sim pois foi um amor tão grande que nos casamos e fomos muito mas muito felizes mesmo até que ele um dia sem mais e nem menos desenvolveu a tal Esquisofrenia e tornou a vida dele em um verdadeiro mundo o qual ele chamava de só "meu" (dele), mas o amor que eu nutria por ele foi maior que a tal Esquisofrenia, pois com ele fiquei dias e mais dias confinados dentro de casa sem poder sair, pois corria risco dele me matar (em inconciência total de suas faculdades mentais) e assim foram 15 anos de muita luta com médicos psiquiatras , pois era totalmente contra a internação dele nestes hospitais dos quais se dizem especiais pra esses casos. Mas me orgulho muito de te-lo feito, pois não conseguiria imaginar o meu amor num lugar como esses. E sendo assim eu ficava isolada com ele esperando a crise passar só tratando dele com carinho e paciência (mas claro que tomava alguns tipos de medicamentos dos quais eu dava pra ele diluido em sucos e na alimentação), mas o tratamento que funcionava mesmo era o carinho, dedicação, paciência e uma dose muito forte de AMOR).
Coisa que jamais ele teria no caso de uma internação, por isso não admitia sua remoção pra um hospital.
Mas a história é linda....Hoje ele ja esta morto, mas eu carrego na alma a Paz que de ele deixou como companhia.
Desculpe a minha descrição, mas lendo aqui em seu blog me deu vontade de escrever isso.
Acho que é uma maneira de eu dizer que o AMOR quando VERDADEIRO ele vive uma vida inteira em nós.

Mário Cesar Filho disse...

uma pena vc não ter assinado! adorei sua história! O verdadeiro amor é aquele que nos acompanha para sempre mesmo, na saúde ou na doença. Acredito que você tenha hoje a sensação de "dever cumprido", e guarda com carinho os tempos felizes da juventude. Continue comentando no blog e se puder, identifique-se. Bjs