Mônica era
praticamente casada. Vivia um romance há seis anos com um cara bacana, daqueles
que fazem amizade fácil. Sentia-se realizada, e só não se casava mesmo, de
papel passado, porque não tinha dinheiro para bancar a festa. Ah... a festa!
Ela sonhava com uma grande recepção, com banda, jantar e muitos convidados.
Só faltava ela
passar para o concurso público, e ele também. Os dois fizeram direito e já
estudavam juntos há dois anos. O trato era: quando o primeiro passar na prova,
já marcava a data do casamento.
Em meio ao
estresse dos estudos, da pressão diária, Mônica resolveu investir seu talento
na dança. Ingressou em uma academia no centro da cidade e começou suas aulas na
turma de iniciantes, sempre às terças e quintas. Em um ano, ela dançava mais
que mulata de escola de samba. Os estudos não foram esquecidos, mas aquele
empenho e dedicação de antes foi ficando para trás. Bem diferente de seu
namorado, que continuava estudando rigorosamente todos os dias.
(Cont.)
Mônica foi se empolgando a cada passo novo da coreografia, até que o professor resolveu colocar o tal rapaz mulato ao seu lado. Mônica não conseguiu disfarçar sua simpatia e soltou um “agora sim vou dançar com alguém que sabe fazer pegada”. A turma toda riu, o rapaz olhou com um olhar capcioso e Mônica percebeu sua atirada nada discreta, ficando vermelha de tanta vergonha.
Mônica
saiu da dança, deixou academia, a turma, os amigos, as coreografias de fim de
ano e o tal rapaz mulato. Agora só tinha um objetivo: organizar sua tão sonhada
festa de casamento. Voltou a amar como nunca seu noivo, voltou a estudar para o
concurso e, segundo ela, voltou a ser feliz.
No final
do ano, tinha a apresentação dos alunos no baile em comemoração ao ano novo.
Mônica estava empolgada com os ensaios. Conheceu uma turma nova, aprendeu novos
passos e marcava seus ensaios aos sábados e domingos. Nessa turma, Mônica
conheceu um mulato alto, que se destacava no samba e chamava atenção das damas
nos bailes.
Discretamente,
Mônica admirava aquele rapaz dançando na sua coreografia. Imaginava como ela se
encaixava perfeitamente no passo “puladinho” da gafieira, quando as coxas se
grudam formando um só corpo. Os ensaios continuavam até tarde e seu namorado já
começava implicar com as constantes demoras. Mas Mônica estava a fim de se
divertir e deixava o resmungo de seu namorado pra lá.
Mônica foi se empolgando a cada passo novo da coreografia, até que o professor resolveu colocar o tal rapaz mulato ao seu lado. Mônica não conseguiu disfarçar sua simpatia e soltou um “agora sim vou dançar com alguém que sabe fazer pegada”. A turma toda riu, o rapaz olhou com um olhar capcioso e Mônica percebeu sua atirada nada discreta, ficando vermelha de tanta vergonha.
O
professor não perdeu tempo e arranjou de encaixar no meio da dança uma pegada
daquelas de deixar qualquer dama tonta. O tal mulato seria responsável por
rodopiar Mônica no ar, traçando o famoso “5 em 1” , quando todas as pernas da
dama passam pela cabeça, tronco, braço do homem, terminando a dama sentada no
colo dele. Pronto, o circo já estava armado. Mônica gostou da experiência e,
apesar da tontura, pedia para repetir o difícil passo.
A
apresentação no dia do baile foi perfeita, menos a cara de mau humor do
namorado, que não só assistiu de camarote o “5 em 1” da namorada no tal mulato,
como filmou tudo, a pedido de Mônica. O futuro promotor de justiça não sabia
para onde fugir, de tanta raiva que ficou. Mônica não entendeu tamanho “esculacho”
que levou do namorado e saiu arrasada do baile.
No dia
seguinte, o mulato mandou um torpedo “Oi, tudo bem? Ainda não entendi porque
você foi embora ontem do baile de repente, sem falar comigo. Aconteceu alguma
coisa? Qualquer coisa me liga, beijos”. Mônica ficou atônita, sem saber
disfarçar a sua cara de surpresa. Pela primeira vez, sentiu-se balançada e
parou para pensar o que estava acontecendo com seu namoro de anos.
Passou a
questionar por que seu namorado levava tão a serio uma rotina de estudos,
trabalho, responsabilidades e nunca tinha tempo para o divertimento. Nunca fez
questão de acompanhá-la nas aulas de dança. Não parecia ser aquele namorado tão
festeiro, alegre e brincalhão de outros tempos. E aquele rapaz da dança? Como
ele surgiu de repente em sua vida e em tão pouco tempo mexeu com seus
sentimentos de forma estranha? Sei lá, mas Mônica já não pensava como antes.
Uma coisa
ela tinha certeza: era fiel ao homem que amava. O problema era esse: o verbo
amar já não aparecia no presente, mas sim no pretérito imperfeito. Seu romance
já estava imperfeito há muito tempo, e uma traição não soava tão absurdo
assim...
Depois
daquele baile, já no ano seguinte, as turmas mudaram, e Mônica passou a fazer
aula às segundas e quartas. Justamente nos mesmos dias que o tal rapaz mulato.
Ele já era bem avançado na dança, mas como gostava de praticar bastante,
chegava sempre antes da sua aula para ajudar na turma anterior a sua. Ou seja,
a turma da Mônica.
Eles
passaram a dançar cada vez mais juntos, trocavam passos, tropeçavam,
consertavam, riam, debochavam, cochichavam... as aulas nunca foram tão
divertidas. E depois das aulas, ela dava um jeito de voltar com ele, ou
rachando um táxi ou dando uma carona até sua casa.
Em uma dessas
caronas, o rapaz diretamente lançou “o que está acontecendo com a gente?”.
“Oi?” desconversou Mônica, sem reação. Ele insistiu: “o que está rolando entre
nós dois? Eu tô a fim de você, e acho que você também tá...”
Não
demorou um minuto e eles se atracaram de um jeito louco, ali, dentro do carro
dela, parado no sinal, no centro da cidade. O negócio foi esquentando,
esquentando, Mônica não tinha fôlego para respirar direito e foi logo tirando a
camisa dele. O vidro fumê impedia que qualquer transeunte presenciasse aquele
assombro. Os beijos foram sendo prolongados com apertos, puxões, lambidas... um
tesão só. Após toda aquela tensão nervosa e intensa, os dois pararam, tentaram
se ajeitar como duas pessoas normais e ela, discretamente, deixou ele na porta
de casa, com um “até logo”.
O
namorado estava aguardando em casa, todo arrumado e perfumado, com uma garrafa
de espumante em uma mão e duas taças em outra. “Oi meu amor, precisamos
comemorar!!!! Eu passei no concurso! Saiu o resultado da prova hoje!!!”. Mônica
era uma mistura de alegria e depressão. Tinha acabado de se atracar com outro
homem em seu carro e agora estava diante de seu futuro marido, o futuro
promotor de justiça, todo feliz.
Outros Contos aqui
Um comentário:
Ah Mônica..Será que realmente voltou a ser feliz ou apenas arrumou um jeito de fugir de si mesma!?
(Não perca o próximo capítulo "A festa")
Adorei o "conto"!
Beijocasssss
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