24 de março de 2010

Entrelaçados (conto)

Parte I

Era aniversário dele, e ele resolveu ir à praia logo cedo. O sábado estava com sol convidativo. O primeiro dia de outono. Aquele calor sufocante do verão já ficara para trás. A brisa suavizava o clima, a areia estava ainda vazia, com uns grupos de turistas americanos maravilhados com o mar de Copa.


Tudo estava calmo naquela manhã. Ele resolveu ir sozinho, com seu mp3 player, uma cadeira de praia, algum trocado para o mate e seu celular para receber as ligações do dia. Preferiu não levar nenhum documento. Estava próximo de sua casa, a poucos metros da praia. Sabia que não iria demorar muito, porque já havia marcado um almoço em família para comemorar seus 28 anos.


Depois de alguns telefonemas, resolveu se esticar na cadeira, escutar uma música dançante enquanto tomava um sol. E este começou a esquentar um pouco, conforme o passar das horas. A brisa já não era constante e os primeiros pingos de suor já lhe incomodavam. Foi então que resolveu dar um mergulho.


Próximo do mar, sentiu a água bater nas canelas, passou as mãos molhadas na nuca e pediu proteção a sua mãe Iemanjá. Sempre foi de admirar o mar antes de entrar. Pisciano típico, encontrava nas águas salgadas um refúgio dos males terrenos, um remédio para o corpo e para alma, onde acreditava-se na purificação e no poder de cura do mar. Não era devoto de nenhum santo, muito menos “batia” cabeça, mas tinha lá suas crenças. Mal sabia o que estava para ser.


Quando entrou definitivamente, mentalizou mais uma vez e agradeceu por mais um ano de vida. Foi nadando para o fundo até ser surpreendido por uma onda grande. Sentiu-se atordoado, nem conseguiu encostar os pés na areia. O cachote foi inevitável, e a mistura de espuma e areia lhe deixou sufocado. Mal conseguiu levantar a cabeça, foi surpreendido por outra onda gigante, que mais uma vez, lhe fez rodopiar embaixo d´água. Não havia tido tempo para buscar ar entre uma onda e outra, e seu fôlego já se esvairia. O desespero não lhe permitia raciocinar e a respiração forçada só lhe fez engolir água. O corpo já não lhe respondia. Ele desfaleceu em pleno mar de Copacabana.


Quando alguns banhistas perceberam aquele corpo moribundo, logo se movimentaram para resgatá-lo. Viam-se os primeiros salva-vidas correndo em direção do mar, tentando burlar o tempo, como se voassem para próximo do corpo. Naquela circunstância, boa parte da extensão da areia já se voltava para o acontecido. E aos poucos já se viam os primeiros socorros, com ele estirado à beira mar.


Uma senhora, que estava próximo aos pertences do rapaz afogado, ao perceber que era o mesmo a quem minutos atrás tinha lhe dirigido a palavra para pedir que tomasse conta de seus objetos enquanto se banhava, não demorou para procurar seus documentos e tentar ajudar na identificação dele.


Não encontrando qualquer documento, percebeu que havia apenas um celular e que neste estava escrito a saudação no display. Ao se aproximar dos salva-vidas com o celular do rapaz, um deles alertou: “por favor, avisem algum parente dele pelo telefone, já que ele está sozinho”.

parte II

3 comentários:

Ju disse...

Hummm o que será que acontecerá?

Ju disse...

Adorei a mudança do layout! Só não gosto desta palavra de verificação que vc colocar no comentário.. hehehe

Sabia que li uma reportagem que ela não é necessária?? na verdade, já basta o modo identificação por login! OS dois ficam redundantes!

bjinhos

Anônimo disse...

Querido, deixa eu te perguntar:

Você não sabe nadar ou se descuidou?