Por conta de uma dor na região lombar, procurei o médico que por sua vez me indicou o exame ressonância magnética. Até aí, tudo bem. Eu já fiz esse exame quando mais novo, mas como o foco era outro (cabeça), o aparelho só tinha uma espécie de arco que passava pela região do corpo e pronto. Para quem já fez esse exame, sabe que se trata de um aparelho em que o indivíduo adentra em um tubo – esse sendo totalmente fechado ou não. Aí que está o detalhe.
Quando marquei o exame, não me lembrei deste detalhe importante e não fiz nenhuma objeção. Fui ao local sozinho e na hora marcada entrei na sala de exame. Na ante-sala, enquanto aguardava o término do exame anterior, a responsável pelo atendimento (acho que a técnica, não sei dizer) me fez algumas perguntas, mas em NENHUM MOMENTO me perguntou se eu tinha fobia por lugares fechados. Quando terminou o exame anterior, a paciente era uma idosa bem fragilizada, que deveria ter uns 90 e poucos anos, e precisou da ajuda da filha e da enfermeira para sair da sala. Daí, ouvi um: “parabéns, a senhora se comportou muito bem!”, e a filha completou “ela está merecendo até um sorvete, não é?”. Achei a cena bonitinha, por se tratar de uma senhora bem debilitada, mas confesso que não entendi tantos elogios.
Na minha vez, a mesma moça me entregou um tapa ouvidos (?), me direcionou para deitar corretamente no leito e ainda completou: “você não irá poder se mexer de maneira alguma, tudo bem?”, inocente eu respondi: “tudo bem”. Como estava começando a ficar gripado, o espirro era inevitável, então ela completou: “e sem espirrar”. Foi então, que ela resolveu me dar um cobertor, já que o ar-condicionado da sala estava um pouco forte. Para completar, ela me entrega uma espécie de bombinha e diz: “qualquer emergência, você aperta isso que vai acionar o alarme para gente; mas isso só em último caso!”. Mais uma vez, eu inocente pergunto: “que tipo de emergência?”. “Ora, se você sentir fobia, ou alguma dor, ou mesmo se espirrar. O exame leva 30 minutos”.
“Fobia? Dor? Não se mexer? Só apertar o botão no último caso? Tapa ouvidos?”, que diabos era aquilo que eu estava entrando? Confesso que ao ver o aparelho, não percebi um túnel por trás do tal arco que já tinha visto da última vez. Deitei, me posicionei, e ainda pensei: “ah, vai ser tranqüilo. Estou com sono mesmo, vou acabar dormindo...”
Assim que deitei naquele aparelho e me vi entrando no tal tubo, por um milésimo de segundos abri o olho e vi que o tubo era extremamente apertado e que a distância entre minha cabeça e o tubo fechado era mínima. Logo de início, me desesperei. Como assim, eu estava entrando em um tubo, TOTALMENTE fechado, imobilizado, durante 30 MINUTOS? Não ia conseguir, pensei. Eu que SEMPRE tive pavor de caixão, desde criança*
E aqui eu abro um parêntese: desde que me entendo por gente, eu sempre tive pavor, quase desespero quando via um caixão. Era capaz de atravessar a rua só para não passar diante de uma funerária só em pensar em ver um por perto. Talvez, o medo superava qualquer situação macabra, como ficar perto de um cadáver. E talvez isso tenha explicação em outras vidas. Sério, eu acredito que em uma de minhas encarnações, me enterraram vivo e por isso esse temor em entrar em lugar fechado e escuro.
Nem preciso dizer que só pensei nisso na hora. Eu estava preso em um caixão. O calor do medo me fez transpirar absurdamente, e aquele cobertor que antes ia me proteger do frio era mais um motivo de desespero pelo tempo que ficaria coberto sentido aquela ardência.
Por mais que o pensamento fosse controlável, eu fiquei imaginando mil coisas negativas. Pensei “e se acaba a luz agora nessa clínica? Até o gerador entrar em funcionamento, vai demorar séculos para eu sair daqui. E se pega fogo? Essas mulheres não vão pensar em me tirar daqui primeiro e vão embora. Se a máquina entrar em pane? Como vão me tirar daqui rapidamente?”, e por aí vai.
Nessa hora, comecei a imaginar as pessoas que são soterradas em deslizamentos. Como deve ser desesperador não poder se mexer, não poder se comunicar e ainda não ter idéia se alguém vai conseguir salvar. Passar horas naquela situação horrível.
Para o desespero não aumentar mais ainda e acabar com aquele exame, só me vinha na cabeça a imagem da velhinha saindo da sala e sendo parabenizada pela filha e pela funcionária do laboratório. “Eu também mereço um sorvete quando sair daqui”, pensei na hora. Imagina o vexame se eu apertasse o botão por conta do meu medo, logo depois do exemplo maravilhoso da velhinha? Foi meu alento.
A partir dali, fiquei pensando em coisas boas, tentando ignorar o barulho infernal que era emitido pelo aparelho durante o processo (e por isso do tampa ouvido!). Era como se eu estivesse em uma rave, sem poder dança, é claro. Então, os pensamentos passaram a ser: “imagina que estou num cruzeiro, na sala de spa, deitado agora, esperando as mãos deliciosas da massagista em meu corpo. Ou então, pegando um solzinho na praia tranqüila, com esse calorzinho gostoso que está fazendo agora (o cobertor continuava esquentando absurdamente)”.
Em um minuto, o aparelho parou de funcionar. Escuto a porta abrir e ouvi alguém gritando: “vê se agora vai”. Pronto. Toda minha calmaria foi por água abaixo. Como assim “vê se vai agora?”, o aparelho não estava funcionando como deveria? Quanto tempo mais eu precisava agüentar aquele tormento?
Para minha felicidade, pouco tempo depois, ouvi o silêncio do aparelho e logo em seguida o leito se movendo para baixo, e finalmente eu me livrando daquele aperto terrível. Abri os olhos para ver “a luz no fim do túnel” com toda expectativa.
Quando vi a funcionária, fiquei tranqüilo e a certeza que o pesadelo tinha acabado. “Nossa, como você está vermelho. Está tudo bem?”. Não, definitivamente não estava nada bem. Eu desabafei durante uns cinco minutos narrando os 30 minutos mais angustiantes. No final, pensei: “pelo menos eu tive controle da mente, e não acionei o alarme”. Mas no fundo, eu devo a minha coragem e meu agradecimento aquela bendita velhinha!
2 comentários:
Sua motivação foi totalmente a velinha!! hehehe
E vc? o que ganhou de presente? um cupcake? hehehe
beijos, ju
Nossa! Meu coração até disparou com a sua narrativa! Pra que serve esse exame? Não quero fazer! Credo Cruis!
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