Há tempos tinha vontade de rever a minissérie Chiquinha
Gonzaga que foi exibida na TV em 1999. Na época, eu tinha 17 anos e, apesar de
gostar muito das músicas, estudar piano e conhecer um pouco da trajetória dela,
eu não tinha “olhos críticos” como tenho hoje. Resolvi pegar a série completa e
assisti recentemente. Confesso que fiquei um pouco decepcionado porque a obra
segue o estilo Jayme Monjardim (diretor
do seriado): arrastado, melancólico, clichê e brega em alguns momentos. Mas
valeu pela história fantástica dessa mulher.
Ao começar pela escolha das atrizes, Gabriela Duarte e
Regina Duarte, que pecam na interpretação excessivamente sentimental e
melancólica (a voz da Gabriela é irritante!), e o fundo musical que é o mesmo
do início ao fim do seriado (um arranjo péssimo que “assassinou” a melodia de
Chiquinha). Para se ter uma idéia do que estou falando, há uma cena da
Chiquinha jovem que enquanto é estuprada pelo marido, solta uns gritinhos sem
graça e sem emoção nenhuma, com uma ópera de fundo. Sinceramente, o bom gosto
passou longe. Se analisar, esse estilo está em toda obra do Jayme,
principalmente no filme Olga e na recente minissérie Maysa – nesta então a
atriz passou o seriado todo com aquela cara de “meu mundo caiu”.
Voltando para o que de fato interessa comentar, a história
de Chiquinha Gonzaga impressiona até as feministas do século XXI. Em uma época
que casamento era arranjado pelo pai e era considerado sagrado, Chiquinha não
só se separou, como foi viver com seu grande amor, João Batista de Carvalho, deixando
para trás dois filhos. Isso lhe custou o rompimento de seu pai (militar
absurdamente severo) e de sua mãe (totalmente submissa). Como o segundo marido
não fugia à regra da época (e tinha várias amantes), não se submeteu à vida de
dona de casa submissa e o abandonou, deixando mais uma filha. O único filho que
o acompanhava era o mais velho, por quem Chiquinha tinha um carinho especial.
Trabalhou com música – sua verdadeira paixão – até sua morte
aos 85 anos e não se incomodava com os preconceitos da época. Lutou contra a
escravidão (chegava a vender suas partituras para comprar alforria de
escravos), lutou pelo fim da monarquia, chegando a ser presa, e criou, ao lado
do músico Joaquim Callado, uma das expressões musicais brasileiras mais
importantes (e mais difíceis também!): choro brasileiro.
Escandalizava a sociedade com suas músicas, seu estilo
livre, seus pensamentos e atitudes e, principalmente, com seus casos amorosos.
Pioneirismo pode ser a palavra que resume sua personalidade. Foi a primeira
mulher a se apresentar em público como musicista, a primeira mulher a assinar
um musical, a primeira a reger (ou seja, a primeira maestrina) uma orquestra e,
consequentemente, a primeira a ser conhecida e reconhecida, com todos os
preconceitos peculiares da época. Nasceu em 1847, casou-se aos 16 anos em 1863,
e morreu aos 85 anos em 1935. Vivenciou abolição, a Proclamação da República e a
primeira grande guerra mundial.
Quando estudava piano, aprendi a tocar Lua Nova, uma de suas músicas mais conhecidas e mais bonitas
também. Para quem gosta de música popular brasileira, principalmente chorinhos,
polcas, valsas, conhecer a história dela é conhecer a história da MPB.
Site Chiquinha Gonzaga, porWandrei Braga
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