25 de novembro de 2016

Sob Pressão – O Filme



Um soco no estômago da sociedade. Isso resumo o filme “Sob Pressão” (2016), de Andrucha Waddington, que retrata a triste realidade da saúde pública no País. O cenário é um hospital público localizado em uma comunidade que vive a guerra do tráfico de drogas. Não bastasse a falta de recursos no hospital, a equipe médica vive a difícil tarefa de “escolher” quem será salvo primeiro entre os pacientes: um traficante, um policial e uma criança, todos eles baleados.

A questão é muito maior que a discussão de salvar o “herói” ou o “bandido”, como repercutiu negativamente nas redes sociais. É uma questão de sobrevivência da “medicina de guerra”, como é tratado no filme. Os médicos sofrem pressão de todos os lados, até mesmo entre eles, para saber quem vai atender quem e como, já que falta tudo.

A realidade do País é uma saúde pública sucateada, que não enxerga no médico um profissional e sim um milagroso, que vai tentar salvar vidas com os poucos recursos, com horas seguidas de plantão, em uma rotina estressante e sob pressão. O filme consegue passar essa adrenalina, como se o espectador fizesse parte da equipe médica, sofrendo com tal pressão, mas ao mesmo tempo torcendo para que todos os pacientes sejam socorridos a tempo.

Impossível não se frustrar quando o paciente não resiste e acaba morrendo. Mas também todos são conscientes que não existe milagre. Nem todos têm estomago para assistir a um filme realista, que mostra a verdade dos fatos. Já ouvi dizer “não consigo ver na tela do cinema um filme como esse, quando vivemos em uma cidade tão violenta todos os dias”.

Mas para os “fortes”, recomendo esse longa. Todo elenco está ótimo na interpretação, com destaque do Júlio Andrade, Ícaro Silva, Marjorie Estiano e Andrea Beltrão. O roteiro de Renato Fagundes é fascinante e passa toda tensão “necessárias” para viver o drama que propõe o longa.

Sobre a polêmica de quem salvar primeiro, minha opinião é a mesma que a do médico chefe da equipe, interpretado por Júlio Andrade: deve-se fazer o certo. E naquele caso, o certo era salvar o traficante, ao invés do policial. Não é questão de ser o bandido e o policial. A questão ética é qual o estado de saúde mais crítico, independente de quem seja. O que acontece, numa sociedade como a nossa, é achar que o “certo” é salvar quem teoricamente nos defende e “deixar morrer” aquele que supostamente nos mataria. O médico não fez juramento para salvar quem “merece ou não” viver.

O que a sociedade deveria lutar para que esse médico não viva seu drama diário de ter que escolher sobre qual vida socorrer primeiro.

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