19 de agosto de 2009

Jeunes filles au piano, déjà vu


É engraçada a sensação de rever um momento do seu passado, quando nos deparamos com lugares, cheiros, pessoas ou situações que nos levam às lembranças da infância. Depois de receber um convite inesperado, resolvi comparecer a um sarau. O lugar já não é mas o mesmo, nem as pessoas, mas o ambiente me inspirava o passado. A anfitriã deste encontro, e quem me fizera o convite, foi uma das minhas ex-professoras de piano, que há anos não me via. Ela não escondeu a emoção ao me rever depois de tantos anos. Há pelo menos dez anos deixei a escola de música e desde então pouco fiz contato com a casa. Muitos professores e alunos da época já não estão por lá... nem a querida secretária.

Guardo boas lembranças dessa época, quando pude aprender e apurar meu breve talento musical. Foi lá também que descobri o prazer do teatro. O lugar respirava arte para todos os lados, e meu encanto era tanto, que praticamente fazia deste o meu terceiro lar (o segundo certamente era casa de meus avós). É desta época também minhas primeiras aventuras no palco, quando minhas mãos molhadas de suor arriscavam Mozart, Johann S. Bach, Chiquinha Gonzaga, Zequinha de Abreu...

E foram justamente essas lembranças que me fizeram conferir de perto este sarau. Quando cheguei à antiga casa, deparei-me com janelas fechadas, porta trancada e a ausência do letreiro. “Poxa, cadê a escola?” Foi quando me lembrei do antigo (e por sorte o mesmo) telefone e pude conferir o novo endereço.

Já no novo espaço, reparei as expressões dos novatos, a simpatia peculiar de minha ex-professora e seu cuidado com os convidados, a tensão pré-apresentação dos alunos... nossa! Exatamente quando era um deles. “Este aqui foi nosso aluno desde os seis anos de idade”, orgulhava-se Tia Cecília ao me apresentar para os presentes. E minha figura ainda se fazia presente de alguma maneira naquele novo espaço: havia fotos dos antigos alunos no mural na recepção, e eu estava lá, em pelo menos duas fotos.

No final das contas, toda essa lembrança me deu vontade de voltar a estudar música, mas infelizmente as prioridades da vida adulta são outras, o que nos forçam optar pelos cursos de pós, idiomas, reciclagens e tantos outros para crescimento na carreira. Quem sabe, na aposentadoria não volto a me dedicar aos exercícios, arranjos e harmonias musicais?

Para terminar esse raciocínio, volto a dizer como é bom rever nossas lembranças do passado. Durante anos, enquanto estudei piano, lembro-me de uma réplica do quadro de Pierre August Renoir, chamado Jeunes filles au piano, que ficava em cima do antigo piano da sala. Lógico que não me importava o nome do pintor, o nome do quadro, quando foi pintado, muito menos o museu em que se encontrava. Mas sua figura era marcante, tanto que guardei em minha memória.

Em janeiro de 2008, quando tive a grande oportunidade de visitar o Museu D´Orsay, em Paris, ao adentrar em uma das salas, deparei-me com o quadro original. Foi inevitável a emoção do instante. Pois naquele momento, depois de tantos anos, revi minha infância celebrada naquela pintura singular e inesquecível.

Ontem, revi o velho quadro, ou melhor, a velha réplica que tanto me marcou na infância, exatamente em cima do velho piano... só que em outra sala.

Um comentário:

railer disse...

nossa, eu sou uma negação pra música...