20 de março de 2011

Quase trinta


Qual a sensação dos “quase trinta”? Em um momento, você percebe que seus vinte anos já estão ficando para trás e, com eles, parte de sua juventude mais desvairada, alucinada, transloucada... [até parece]. Quando você é jovem acredita que tudo é viável e tem que se tornar real logo, porque quanto mais o tempo passa, mais difícil para você realizar suas loucas fantasias. A puberdade é sinônimo de liberdade para os que pensam que a consciência não bate a sua porta e os prazeres pecados são todos perdoados. “ah, isso é da idade”, dizem alguns.

Mas se você não ousou, não experimentou, não alucinou na tal juventude transviada? Será que passou seu time? Será que já é tarde demais? O que você gostaria de ter feito com seus vinte e poucos anos e não conseguiu realizar?

Há os que vão dizer: “gostaria de ter beijado mais”, “curtido mais as noitadas”, “ter feito mais amigos”, ou simplesmente, “ter levado a vida menos a sério”. Já os mais radicais diriam “transado mais, bebido mais, fumado mais”...

Quando você entra na fase dos trinta, algo começa a mudar seus pensamentos e comportamentos. Será? Nos meus quase trinta anos, não consigo ainda pensar em casamento, filhos, creches, fraldas, reuniões de pais, plano de saúde familiar, reforma da casa...

Mas também não lamento as micaretas que não fui, as bebedeiras não que tomei, as drogas que não usei, nem as mulheres que não “comi”. Vivi o que tinha para viver. Os vinte anos se passaram correndo, é verdade, mas sem muitos arrependimentos. Ok, poderia ter me arriscado mais em algumas circunstâncias. Talvez pudesse ter trocado mais de emprego, ter me dedicado mais aos estudos, ter namorado mais... mas nada muito radical a ponto de dizer “isso foi coisa da juventude”. Conheço pessoas que renegam o passado, talvez porque não se reconhecem nas pessoas que foram aos vinte e poucos anos. Outras se arrependem por aquilo que deixaram de fazer quando tinha “idade para isso”, e hoje são pessoas um tanto frustradas, tentando, quando podem, recuperar o tempo perdido.

Essa questão do “tempo perdido” é que me intriga. Será realmente que desperdiçamos o tempo ou o tempo não nos permitiu fazer certas coisas? Na época, havia a liberdade e as facilidades que presenciamos hoje entre os jovens? Deixei de fazer muitas coisas porque não havia oportunidade, não havia dinheiro, ou simplesmente porque meus pais não permitiam. Ao mesmo tempo, não os culpo por aquilo que não fiz na época. Se não tinha dinheiro para viajar, sei lá, para Disney, por exemplo (como a maioria dos adolescentes da minha geração), não me sentia um garoto frustrado ou fora do grupo. Talvez esse seja o exemplo mais tosco que veio na minha cabeça. Mas ao mesmo tempo, agradeço aos meus pais por não me darem tanta liberdade a ponto de provar coisas que hoje viria me arrepender.

Outra questão: quanto mais velho ficamos, mais careta nos tornamos. Afinal, o que é ser careta para você? Será que Lobão ficou careta depois de velho? E a Sandy que agora resolveu ser "devassa"? Mais uma vez eu penso: aqueles que renegam seu passado, certamente se tornaram caretas, porque hoje seus “princípios” mudaram (ou não!). Já os que sempre foram “certinhos”, não se enxergam caretas hoje. Mas há os que se arrependem por aquilo que não fizeram porque na época eram caretas e hoje não.

Fato é que, sendo careta ou não, a sensação que temos, quando vamos chegando perto dos trinta, é que não queremos envelhecer pra valer. Ou melhor, não queremos deixar para trás “os melhores anos de nossas vidas”. A juventude, seja ela vivida como queira, é algo novo, bom, leve, divertido, despojado, arrojado, engraçado, aventureiro. Até as partes pesadas, tensas e chatas (como provas, perdas etc) são vistas como passageiras, que se tornarão lembranças apenas, experiências acumuladas.

Meus vinte anos realmente estão ficando para trás. O que mudará de fato na minha vida? Não sei, não somos programados para trocar a pilha, o chip, nem o cartão de memória. Vamos computando tudo, acumulando tudo e assim nos tornarmos uma biblioteca ambulante, reunindo livrinhos infantis, gibis, revistas de mulheres peladas, artigos acadêmicos, dicionários, enciclopédias, bulas de remédios, certidões de nascimento, casamento, divórcio até o... óbito.

Um comentário:

railer disse...

eu acho que depois dos 30 anos a gente passa a ter prioridades diferentes na vida e isso tem a ver com amadurecimento. tudo que você viveu até então ajudou nisso.
bem vindo aos vinte e dez!