Qual a sensação dos “quase trinta”? Em um momento, você
percebe que seus vinte anos já estão ficando para trás e, com eles, parte de
sua juventude mais desvairada, alucinada, transloucada... [até parece]. Quando
você é jovem acredita que tudo é viável e tem que se tornar real logo, porque
quanto mais o tempo passa, mais difícil para você realizar suas loucas
fantasias. A puberdade é sinônimo de liberdade para os que pensam que a
consciência não bate a sua porta e os prazeres pecados são todos perdoados. “ah, isso é
da idade”, dizem alguns.
Mas se você não ousou, não experimentou, não alucinou na tal
juventude transviada? Será que passou seu time? Será que já é tarde demais? O
que você gostaria de ter feito com seus vinte e poucos anos e não conseguiu
realizar?
Há os que vão dizer: “gostaria de ter beijado mais”,
“curtido mais as noitadas”, “ter feito mais amigos”, ou simplesmente, “ter
levado a vida menos a sério”. Já os mais radicais diriam “transado mais, bebido
mais, fumado mais”...
Quando você entra na fase dos trinta, algo começa a mudar
seus pensamentos e comportamentos. Será? Nos meus quase trinta anos, não
consigo ainda pensar em casamento, filhos, creches, fraldas, reuniões de pais,
plano de saúde familiar, reforma da casa...
Mas também não lamento as micaretas que não fui, as
bebedeiras não que tomei, as drogas que não usei, nem as mulheres que não
“comi”. Vivi o que tinha para viver. Os vinte anos se passaram correndo, é
verdade, mas sem muitos arrependimentos. Ok, poderia ter me arriscado mais em
algumas circunstâncias. Talvez pudesse ter trocado mais de emprego, ter me
dedicado mais aos estudos, ter namorado mais... mas nada muito radical a ponto
de dizer “isso foi coisa da juventude”. Conheço pessoas que renegam o
passado, talvez porque não se reconhecem nas pessoas que foram aos vinte e
poucos anos. Outras se arrependem por aquilo que deixaram de fazer quando tinha
“idade para isso”, e hoje são pessoas um tanto frustradas, tentando, quando
podem, recuperar o tempo perdido.
Essa questão do “tempo perdido” é que me intriga. Será
realmente que desperdiçamos o tempo ou o tempo não nos permitiu fazer certas
coisas? Na época, havia a liberdade e as facilidades que presenciamos hoje
entre os jovens? Deixei de fazer muitas coisas porque não havia oportunidade,
não havia dinheiro, ou simplesmente porque meus pais não permitiam. Ao mesmo
tempo, não os culpo por aquilo que não fiz na época. Se não tinha dinheiro para
viajar, sei lá, para Disney, por exemplo (como a maioria dos adolescentes da
minha geração), não me sentia um garoto frustrado ou fora do grupo. Talvez esse
seja o exemplo mais tosco que veio na minha cabeça. Mas ao mesmo tempo,
agradeço aos meus pais por não me darem tanta liberdade a ponto de provar
coisas que hoje viria me arrepender.
Outra questão: quanto mais velho ficamos, mais careta nos
tornamos. Afinal, o que é ser careta para você? Será que Lobão ficou careta depois de velho? E a Sandy que agora resolveu ser "devassa"? Mais uma vez eu penso: aqueles
que renegam seu passado, certamente se tornaram caretas, porque hoje seus “princípios”
mudaram (ou não!). Já os que sempre foram “certinhos”, não se enxergam caretas
hoje. Mas há os que se arrependem por aquilo que não fizeram porque na época
eram caretas e hoje não.
Fato é que, sendo careta ou não, a sensação que temos,
quando vamos chegando perto dos trinta, é que não queremos envelhecer pra
valer. Ou melhor, não queremos deixar para trás “os melhores anos de nossas
vidas”. A juventude, seja ela vivida como queira, é algo novo, bom, leve,
divertido, despojado, arrojado, engraçado, aventureiro. Até as partes pesadas,
tensas e chatas (como provas, perdas etc) são vistas como passageiras, que se
tornarão lembranças apenas, experiências acumuladas.
Meus vinte anos realmente estão ficando para trás. O que
mudará de fato na minha vida? Não sei, não somos programados para trocar a
pilha, o chip, nem o cartão de memória. Vamos computando tudo, acumulando tudo e
assim nos tornarmos uma biblioteca ambulante, reunindo livrinhos infantis,
gibis, revistas de mulheres peladas, artigos acadêmicos, dicionários, enciclopédias, bulas de remédios, certidões de nascimento, casamento,
divórcio até o... óbito.
Um comentário:
eu acho que depois dos 30 anos a gente passa a ter prioridades diferentes na vida e isso tem a ver com amadurecimento. tudo que você viveu até então ajudou nisso.
bem vindo aos vinte e dez!
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