17 de junho de 2010

As vaidades humanas


“Você sabe com quem você está falando?”. Essa vergonhosa frase é bastante conhecida e temida por muitos. Mas além de achar prepotente, ela soa superior, coisa que nós, seres humanos, não somos definitivamente. Acho incrível como as pessoas, digamos, mais instruídas (e que tiveram boas oportunidades na vida) utilizam para passar por cima do próximo. Infelizmente essas criaturas esquecem a verdade absoluta tanto na lei do homem (muitas vezes falha), quanto na Lei Divina: Todos somos iguais.

Parece estranho repetir o senso comum, mas para maioria não é. Para os mais oprimidos, a ignorância lhe faz pensar que qualquer “culto” torna-se “doutor”. E por sua vez, para os doutores (só os que fizeram doutorado), essa formação não permite que sejam superiores a ninguém.

O que mais se escuta em um primeiro diálogo é: “este é fulano, doutor em blábláblá, presidente do glugluglu, catedrático em fufufu, já esse aqui é especialista...”, e por aí vai. Antes de ser tudo isso, ele é um ser como outro qualquer, com os mesmos defeitos e qualidades de um semelhante.


E sem querer, querendo, nós absorvemos essa forma de agir e pensar e, quando nos percebemos, estamos tratando o fulaninho como o respeitável doutor e o Zé das Couves como um qualquer. Não é de hoje que conheço essa frase: “quer conhecer alguém de verdade, mesmo sendo seu melhor amigo? Observe como ele irá tratar um garçom”. E é a pura verdade. Mesmo as pessoas mais simpáticas e carismáticas que conhecemos e achamos amigas, muitas vezes nos decepcionam quando percebemos essas destratando um garçom, um porteiro ou mesmo a sua empregada doméstica. “Ela tem que saber o lugar dela”. Que história essa? Qual é o “lugar” dela? Então tratamos as pessoas conforme sua posição social, sua formação (ou falta dela) e ocupação profissional?

“Gentileza gera gentileza”. Virou clichê a frase dita pelo “profeta” Gentileza, sendo estampada até camisetas na cidade do Rio. Mais uma vez, infelizmente, não é isso que presenciamos no nosso cotidiano. As pessoas não têm mais paciência com ninguém. São todos uns mal educados, grossos e prepotentes, quando não querem passar a imagem de “espertos’, furando a fila do banco, conseguindo vantagens, entrando nos lugares “exclusivos” por conhecerem alguém influente etc.

A vaidade humana é um dos males mais perigosos. Digo isso porque ela é invisível aos olhos vivos. É muito mais fácil perceber a maldade, a inveja, a violência do homem do que a vaidade. Ela está nos pequenos atos do dia-a-dia, nos diálogos entre chefes e subordinados, velhos e jovens, e principalmente entre ricos e pobres. 


No meio acadêmico chega ser patético. Primeiro porque os doutores da ciência se preocupam muito mais em mostrar superioridade intelectual do que ensinar e passar a própria experiência aos que querem aprender. Todos querem ser Ph.Deuses, buscam cargos importantes e disputam prestígio no meio, com reputação do nome e sobrenome. Segundo que esses esquecem que toda sabedoria e competência devem servir de verdade para o progresso da ciência e da humanidade – ou seja, para o bem maior – e não para o próprio umbigo.

Não sou contra (em absoluto) que cada pessoa busque crescer profissionalmente na vida. E para isso, o estudo é único, fundamental. Já diz minha mãe que a melhor herança a ser deixada por ela é a formação que ela pôde me proporcionar durante minha juventude. Dinheiro se gasta, cultura se perpetua. Entretanto, a busca pela boa formação não pode ser encarada como uma corrida ao egocentrismo, ao quem pode mais, manda mais e se entrega ao mundo da arrogância e da vaidade. Já ouvi pessoas muito próximas dizerem “quero passar para um bom emprego público, para ganhar muito, trabalhar pouco e torrar o dinheiro em luxo e riqueza”. Pobres de espírito.

Essas pessoas não têm idéia (ou fingem que não têm) como ferem o próximo com seus atos e preconceitos. A pior sensação do ser humano é se sentir rebaixado, humilhado e inferior. Somos criados para sermos competitivos o tempo todo, querendo ou não. “Não basta ser bom, tem que ser o melhor”. E quando não conquistamos esse pódio de número um na vida, nos sentimos um merda (desculpa o termo chulo), um fracassado, um nada. Então, para “ser alguém na vida”, com Nome e Sobrenome reconhecido, você tem que buscar a perfeição, ser o máximo, o poder em pessoa. Isso muito me assusta. Assusta por não saber onde tudo isso vai acabar, que seres estamos formando, que gerações irão construir o progresso necessário do nosso planeta. Alguém ouviu dizer em Caridade, Abnegação, Humildade, Amor ao Próximo, Doação?

2 comentários:

railer disse...

infelizmente tem gente que acha que quando morrer não vai feder...

Franklin Ferreira disse...

Por algum motivo, o ser humano tem sempre a intenção de se achar melhor que os outros. Parece que está no DNA. Um bebê já apresenta essas características. Isso está enraizado na sociedade como um todo. Quer um exemplo? Porque será que existem tantos tipos de carro?
Esse sentimento que estruturou nossa sociedade vai acabá-la.
Amém!