O cerrado brasileiro guarda um dos cenários mais incríveis
do País. Chapada dos Veadeiros, em Goiás, a cerca de 250 km de Brasília, é um
lugar cercado de belas cachoeiras, montanhas e trilhas fantásticas. O lugar
virou destino certo para os aventureiros que curtem a natureza, sem luxo nem
ostentação. Desde 1989, a região passou a receber turistas de todas as regiões,
mas nós cariocas estamos descobrindo esse paraíso de uns anos para cá e cada
vez mais aumenta o número de visitantes. Em alta temporada, algumas cachoeiras
chegam a receber dois mil turistas por mês (ou até mais).
Aproveitei a baixa temporada e o período de seca para
conhecer a Chapada e aqui conto minha experiência, descrevendo os principais
passeios e dando algumas dicas para quem pretende conhecer. Minha primeira dica
é escolher o melhor período de visitar a Chapada, por conta do período de
chuvas. Este começa no mês de dezembro e se estende até abril. Já o período de
seca ocorre de maio a novembro, o que garante cachoeiras com volume d´água
menor, mais tranquilo para mergulhar. Eu fui durante o mês de maio e tive a
sorte de pegar uma semana sem chuvas.
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Vista da estrada para Morro da Baleia |
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A Chapada dos Veadeiros abrange vários municípios, como
Colinas do Sul, Cavalcante e Alto Paraíso. Mas é na Vila de São Jorge, distrito
de Alto Paraíso, que se encontra o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,
criado em 1961. Alguns turistas optam por dividir entre Alto Paraíso, São Jorge
e Cavalcante. Em Alto Paraíso, a estrutura é melhor, com mais opções de
restaurantes, comércio, bancos etc. Mas escolhemos a Vila de São Jorge por ser
mais próximo não só do parque, mas dos principais passeios. Na vila, há
(poucas) boas opções de restaurante, mas vale pela tranquilidade e sua
simplicidade. Vila de São Jorge fica a 30 km de Alto Paraíso e a estrada que
liga um ponto do outro é perfeita, com visual que vale a pena parar. Uma das
cenas mais incríveis foi acompanhar o nascer da lua na estrada, com céu
estrelado (pena que não conseguimos registrar).
Para facilitar, separei o roteiro por dias, com as
cachoeiras visitadas e suas classificações em relação à distância da Vila de
São Jorge (Percurso de Carro – PC), ao tempo de trilha e ao nível de esforço
físico. Vale ressaltar que essa classificação é em relação ao nosso esforço
físico. Éramos quatro adultos, sendo duas mulheres e dois homens, com
condicionamento físico ok, sem dificuldades para trilhas, mas também sem
pretensão de fazer correndo o percurso. Em algumas trilhas, paramos algumas
vezes para recuperar o fôlego, tomávamos uma água, e seguíamos com ritmo
tranquilo. Nosso guia nos ajudou a classificar os passeios indicados para
crianças a partir de 5 anos.
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Cataratas de Couros |
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Por falar nisso, adianto que todos os dias fazíamos uma
trilha. Em exceção de um ou dois passeios, a maioria exige um tempo de
caminhada até a cachoeira. Por isso, é importante frisar que Chapada dos
Veadeiros é um lugar para quem curte natureza, caminhar por trilhas de pedras,
algumas com subidas e descidas, em áreas com muita vegetação. As fotos
geralmente só mostram as belezas imperdíveis da Chapada, mas não demonstram o
percurso até lá.
Como a distância é maior para quem sai de Goiânia (400 km),
a maioria dos visitantes prefere sair de Brasília, pegando a estrada GO-118,
que tem ótimas condições de conservação, bem sinalizada, e com cenários
incríveis. Chegamos à capital federal ao meio-dia e nosso guia nos buscou no
aeroporto. Muitos preferem alugar um carro no aeroporto e contratar um guia já
em Alto Paraíso ou em São Jorge. Como recebemos indicação do nosso guia, já
fechamos um pacote completo, com transfer de ida e volta no carro dele.
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Cachoeira Almecega I |
Minha dica é contratar um guia, por facilitar o deslocamento
na região para os passeios, além de sua orientação nas trilhas e nos melhores
pontos turísticos. Nosso guia Alex, super recomendado, se tornou um grande
companheiro nas nossas aventuras! Além de atencioso, Alex gostava de parar para
tirar fotos (o que para nós é um fator importante, rs) e sempre tinha as dicas
imperdíveis dos lugares. Ele foi o responsável pela seleção das cachoeiras em
nosso roteiro. Já adianto que não é necessário contratar guia local para o
Parque Nacional e outros passeios, mas para Santa Bárbara sim. Sentimos falta
de alguns passeios, mas por falta de tempo e por conta da seca na região,
optamos em não realizar.
No dia que chegamos, num domingo, não incluímos nenhum
passeio porque já era tarde. Apenas deu tempo de ver o pôr do sol do mirante do
abismo ou, como é conhecido na região, “disco-porto”, onde se presume que seja
o local preferido para os extraterrestres pousarem suas “naves”, segundo os
locais. Aliás, toda a região de Alto Paraíso e de São Jorge tem a fama de ser
um local privilegiado por atrair objetos voadores não identificados. Há muitos
turistas que vão para região para vigiar e tentar encontrar um. A explicação é
que o local guarda uma riqueza mineral de fama internacional, já tendo sido um
dos principais pontos de exploração no País (na década de 1920). Diz-se que o
município está sobre uma enorme placa de quartzo. Para quem chega à cidade de
Alto Paraíso, chama atenção o portal da estrada em formato de disco voador,
além das lojas e restaurantes que vendem objetos sobre E.T. e esse universo
extraterrestre. Ninguém nunca até hoje viu de fato um ser extraterrestre, mas
as aparições de ovni para moradores e visitantes acabam instigando ainda mais a
curiosidade.
Então, vamos ao roteiro:
1º Dia – Cataratas
dos Couros
Primeiro passeio que fizemos foi para as Cataratas dos
Couros. Uma sequencia de quedas d´águas incríveis, com visual fantástico. A
trilha até a primeira parada é super tranquila, mas conforme descíamos à beira
do rio, o nível de dificuldade aumentava. O passeio garante várias paradas para
mergulho e fotos, lembrando que em período de chuva, não é possível mergulhar
pelo forte volume d´água.
Percurso de Carro (PC) – saída da Vila de São Jorge: 110 km
Trilha: 3.9 km (ida e volta), cerca de 40 minutos de
caminhada parando para fotos.
Nível Médio
Custo de entrada: gratuito
Criança – indicada até a primeira parada.
2º Dia – Parque
Nacional da Chapada dos Veadeiros
Optamos pela trilha até Cânions 2 e Cachoeira das Cariocas.
Há três opções de trilhas, sendo que uma delas só é possível por um período do
ano, porque são 23 km e exige pernoitar no parque. A segunda opção é para
Cachoeira de Saltos, sendo uma boa caminhada de 6 horas totalizando 10 km (com
subida intensa no final). Nossa escolha foi pelo prazer de pular e ficar mais
tempo na cachoeira, o que em Cariocas é perfeito.
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trilha sinalizada no Parque Nacional |
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Cachoeira das Cariocas |
PC – não tem (entrada fica em São Jorge)
Trilha: 11 km (ida e volta), 1h30 de caminhada puxada.
Nível Médio para Difícil
Custo de entrada: gratuito
Não recomendada para criança
3º Dia – Cachoeiras
Santa Bárbara e Capivara (cidade de Cavalcante)
A mais disputada cachoeira da região é conhecida por suas
águas cristalinas que impressionam. Chegar até lá não é tão fácil. Quem parte
de São Jorge, roda 160 km de carro, tendo 30 km de estrada de terra. Dependendo
do veículo, após a entrada da fazenda, é preciso pegar um transporte
alternativo, do tipo pau de arara, por conta da irregularidade da estrada. Caminha-se
ainda uns 30 minutos até a cachoeira, mas nada muito puxado. Há limite de
visita por dia, e cada turista pode permanecer até uma hora no local. Em alta
temporada, esse tempo diminui para 30 minutos.
Já a Cachoeira da Capivara, a 26 km do centro de Cavalcante,
tem uma área maior que Santa Bárbara, recebe sol direto e também é ótimo para
mergulhar. A caminhada é um pouco mais íngreme, mas ainda vale a pena conhecer.
Santa Bárbara
PC – 160 km (sendo 30 km de estrada de terra)
Trilha – 1.3 km, 30 minutos de caminhada
Nível Fácil
Custo de entrada: R$20 por pessoa (serve para Capivara
também).
Indicada para criança
Capivara
PC – 160 km
Trilha – 1 km, 15 minutos (com descida)
Nível fácil para médio
Indicada para criança
4º Dia – Vale da Lua,
Raizama e Águas Termais Morro Vermelho
Quem vai para Chapada, tem que conhecer Vale da Lua. Não
existe uma queda d´água como as outras cachoeiras, mas a formação rochosa é tão
diferente, que a sensação é que realmente você está andando na lua. Em período
de seca, é possível mergulhar entre as rochas e a experiência é incrível!
Há
algumas cavernas que vale a pena desvendar. O trecho de rochas não é tão longo
e a piscina formada no final do passeio é convidativo.
Já Raizama é uma
cachoeira que fica em uma propriedade meio louca (rs), onde havia shows num
palco peculiar, cercado de figuras da música internacional. Vale uma pausa para
tirar fotos nos instrumentos velhos que servem de cenário. A cachoeira é bem
tranquila, assim como sua trilha. A queda d´água mesmo a gente não vê porque
ficar numa área de difícil acesso. Vale o mergulho.
Para terminar bem o dia, uma parada nas águas termais que
garantem um relaxamento nos pés cansados das caminhadas. A água morna que brota
do solo é convidativa para ficar nas piscinas artificiais criadas. Na entrada,
diz que é proibido levar bebida (principalmente garrafa de vidro), mas nós
conseguimos levar um vinho para curtir até umas 20h30 o local.
Vale da Lua
PC – 12 km
Trilha – 1 km, 15 minutos de caminhada
Nível fácil
Indicada para criança
Custo de entrada: R$20 por pessoa
Raizama
PC – 3 km
Trilha – 3.5 km, 40 min de caminhada
Nível médio (muitas pedras)
Indicada para criança (com dificuldade)
Custo de entrada: R$20 por pessoa
Águas Termais Morro
Vermelho
PC – 13.5 km
Trilha – não tem trilha (só 5 minutos da entrada até a
piscina)
Nível – fácil
Indicada para criança
Custo de entrada: R$20
5º Dia – Cachoeira do
Segredo
Uma cachoeira reveladora, com uma queda d´água fantástica,
formando uma grande e profunda piscina. O caminho de terra não é fácil nem para
carro, passando pelo rio algumas vezes. Dependendo do período do ano, o sol não
chega na queda, o que deixa a água ainda mais fria. Mas vale muito a pena
encarar a caminhada de 6 km, sendo, particularmente, uma das cachoeiras mais
bonitas da região.
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caminho para Cachoeira do Segredo |
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Cachoeira do Segredo |
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PC – 20 km
Trilha – 6 km, 1 h de caminhada*
*em período de seca. Em período de chuva, o estacionamento é
mais distante, o que aumenta para 9 km a trilha
Nível médio para difícil (muitas pedras)
Custo de entrada: R$20
Não indicado para criança
6º Dia – Almecegas 1
e 2, Cachoeira São Bento
Almecegas 1 e 2 além
de São Bento ficam em um hotel fazenda entre Alto Paraíso e Vila de São Jorge. Para
quem viaja por curto período, esse passeio é uma ótima opção, por ter três
opções boas de cachoeiras para conhecer. Almecega 1 é sem dúvida a mais bonita
e interessante, com uma queda d´água exuberante! Em todas as paradas, um
mergulho quase obrigatório!
Almecega I
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vista do mirante Almecega I |
São Bento
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Cachoeira São Bento |
PC – 26 km
Trilha – 1.5 km (até Almecega 1), 30 minutos
Nível médio (Almecega 1)**
Custo de entrada: R$30 (vale para os 3)
Indicada para criança
** não há trilhas para Almecega 2 e São Bento, apenas uma
caminhada
7º Dia – Cachoeira
Morada do Sol
Nosso último dia de passeio na Chapada foi nessa
cachoeira super tranquila e deliciosa.
Caminhada leve, próximo à vila, e uma queda pequena, mas nem por isso deixa de
ser convidativa para um mergulho. É para relaxar mesmo e aproveitar os últimos
minutos nesse paraíso.
PC – 6 km
Trilha – 1.3 km, 15 minutos caminhada
Nível fácil
Custo de entrada: R$20
Indicada para criança
Ficou de fora...
Ainda faltaram alguns passeios, mas que nosso guia nos
ajudou a classificar. São eles:
Parque Nacional –
trilha Saltos
PC – não tem / Trilha – 10 km, 1h40 (cada trecho) /Nível
difícil
Mirante da Janela e
Cachoeira do Abismo*
*apenas em período de chuvas
PC – 2 km / Trilha – 3.5 km, 1 hora / Nível muito difícil
Poço Encantado
PC – 80 km / Trilha – 5
minutos / Nível fácil – indicado para criança
Cachoeira dos
Cristais
PC – 40 KM de São Jorge / 10 km
de Alto Paraíso / Trilha – 1 km, 20 minutos caminhada / Nível fácil – indicado
para criança
Cachoeira Loquinhas
PC – 40 KM de São Jorge / 6 KM de
Alto Paraíso / Trilha – 1 km, 20 min / Nível fácil – indicado para criança
É difícil classificar quais são as
melhores cachoeiras, porque depende do gosto de cada um. Geralmente, optamos em
conhecer aquelas mais badaladas, mas nem sempre o tempo de viagem permite, ou
pela distância, ou pelo nível de dificuldade, ou pelo período de chuva/seca que
também influencia. Particularmente, classifico as 12 cachoeiras que tive a
oportunidade de conhecer por ordem de beleza natural e possibilidade de
mergulhar. 1º Catarata dos Couros; 2º Vale da Lua, 3º Segredo, 4º Parque
Nacional (Cânions e Cariocas), 5º Santa Bárbara, 6º Almecega 1, 7º Capivara, 8º
Morada do Sol, 9º Raizama, 10º Almecega 2, 11º São Bento, 12º Águas Termais.
Mais dicas...
O que comer?
Tanto para quem fica em São Jorge quanto para quem prefere
por Alto Paraíso, há várias opções de restaurantes, com preços justos. Em
alguns passeios mais distantes, optamos em almoçar no meio do caminho, ou
próximo da cachoeira. Foi o caso do restaurante dentro da fazenda onde se
encontra a Cachoeira de Santa Bárbara, em Cavalcante. Restaurante simples com
comida caseira e deliciosa. A famosa matula, comida típica dos tropeiros na
região feita com feijão, mandioca, farofa de carne seca e outras carnes, experimentamos
no Rancho do Waldomiro, na estrada.
Vale experimentar:
Santo Cerrado Risoteria – o melhor restaurante da Vila de
São Jorge. Um risoto serve para 2 pessoas, com preços na média de R$70
Rancho do Waldomiro – matula com acompanhamentos – R$30
Restaurante Nenzinha – comida caseira, serviço a quilo, até
17h.
Luar com Pimenta – a comida é boa, mas o serviço é péssimo!
Papa Lua – serve crepe e pizza com preço justo
Pousada Água das Flores – serve tanto almoço quanto jantar,
com pratos executivos com ótimo preço.
Jambalaya (Alto Paraíso) – restaurante mais chique com
excelentes pratos, custo um pouco maior
O que levar?
- Repelente e protetor solar para todas as trilhas
- água e garrafa térmica para as trilhas mais demoradas
- Vale preparar lanche ou levar biscoitos e barras de cereal
para aguentar o almoço só no final do passeio
- Tênis confortável para as caminhadas. A melhor opção é a
bota para trilha, que protege e ainda é resistente à água dos rios, além de
evitar escorregar.
- Toalha e roupa de banho, porque é possível mergulhar em
quase todas as cachoeiras.
Pousada Caminho das Cachoeiras
Vila de São Jorge - Alto Paraíso / GO
(61) 9921-2672 / (61) 9807-4342/ (62)98591-1123/ (62) 3455-1045