10 de agosto de 2012

O que temos para hoje?


Uma filosofia de vida é não esperar nada em troca de ninguém, não criar altas expectativas de um projeto futuro, de não se importar com a antipatia alheia...

Aprendemos todos os dias a nos bastarmos com o que é possível ter. E isso não se refere a condições financeiras. Temos que compreender quando os acontecimentos tomam outros rumos, às vezes não desejados. Afinal, não temos domínio de tudo. Saber lidar com imprevisto, compreender quando algo deu errado, quando alguém lhe foi injusto, quando a pressa é inimiga da perfeição, quando o resultado final não foi o planejado.

Se pararmos para pensar, quantas vezes conseguimos aplicar em inúmeras situações do cotidiano a frase “é o que temos para hoje!”? Aprendi isso com uma amiga do trabalho e achei graça.

Quando a fila do banco está grande. Quando o cardápio do restaurante não está bom. Quando alguém de sua família lhe trata com desprezo. Quando o pneu do carro fura em lugar inseguro. Quando o chefe lhe passa mais trabalhos quase impossíveis com prazos curtos. Quando a atendente de uma lanchonete não está nos seus melhores dias. Quando você tenta resolver um problema de conta com SAC por telefone. Quando você aguarda séculos para entrega de um produto e quando chega ele vem com defeito. Quando o elevador quebra e você é obrigado a subir muitos andares por escada. Quando você chega cansado em casa depois de um dia intenso e descobre que sua geladeira está completamente vazia. Quando você realiza um ótimo trabalho, mas o reconhecimento passa longe, quiçá um singelo “parabéns”. É o que temos para hoje.

Porém isso não é sinônimo de derrota. Saber lidar com as frustrações faz de nós um ser humano melhor. Não é se acomodar, se revoltar, nem rebaixar, muito menos se anular. É apenas compreender e tentar conviver com as pedras do caminho. Pode ser que o que teremos para amanhã ou depois seja muito melhor.

6 de agosto de 2012

Maria Rita canta Elis



Certamente um dos shows mais esperados pelo público que gosta tanto da mãe quanto da filha. Mais especialmente para quem viveu na época que a “doce pimetinha” fazia sucesso cantando “O Bêbado e a Equilibrista”, “Arrastão” e “Fascinação”.

Sábado assisti a esse show que Maria Rita homenageia sua mãe, trinta anos depois de sua morte, com repertório de Elis. Desde o início da carreira, que começou há exatos dez anos, Maria Rita sempre foi “pressionada” a cantar as músicas de Elis, principalmente pela enorme semelhança das vozes. Mas Maria Rita foi resistente e buscou desde o início traçar sua própria carreira, com um repertório que mesclava uma MPB repaginada (Marcelo Camelo, O Rappa etc), MPB de Milton Nascimento e outros ícones, samba de raíz e por aí vai. Até que, amadurecida, resolveu encarar o projeto criado pelo seu irmão, o produtor musical João Marcello Bôscoli, em cantar não só algumas músicas como preparar um show “redescobrindo” Elis.

  
O repertório não poderia ser melhor. Ao longo de duas horas de show, Maria Rita passa por vários momentos da carreira da mãe, desde “Arrastão”, interpretado por Elis no Festival da Música Brasileira em 1965, até seus clássicos “Como nossos pais”, “Águas de Março”, “Saudosa Maloca”, “Ladeira da Preguiça”, “O Bêbado e a Equilibrista”, “Me deixas louca”, “Zazueira”, “Alô, Alô, Marciano”, “Aprendendo a Jogar”, “Romaria” e “Madalena”.

Entre uma sequência e outra, Maria Rita dava uma pausa e falava um pouco da personalidade de sua mãe, de suas histórias e de sua admiração pela artista que foi. Quando a cantora morreu, Maria Rita era muito nova e pouco guarda lembrança da mãe. Mas por vontade própria, Maria Rita buscou conhecer não só a artista, mas a mulher Elis, conversando com pessoas que conviveram com ela. Entre elas, a pessoa que Rita mais admira e respeita, seu padrinho Milton Nascimento. Para Rita, Milton foi o amigo leal, o irmão e companheiro que soube preservar a memória de Elis. Maria Rita se emociona ao falar da mãe guerreira, da mulher idealista, politizada e intensa. Aos poucos, Rita vai redescobrindo a mãe, conhecendo seus repertórios, entendendo suas escolhas e a personalidade forte. “Ela se entregava aos seus amores, seus desamores, aos seus filhos, a sua carreira”.

Maria Rita conta que sente a presença de sua mãe, não necessariamente espiritualmente, mas nas suas atitudes, nos comportamentos e até no seu jeito de ser mãe. Ela diz que imagina como seria sua relação com Elis, hoje. Como seria a Elis avó, mãe, companheira, amiga. E nesse universo entre mãe e filha, Maria Rita canta “Essa Mulher” (Essa menina, essa mulher, essa senhora/Em que esbarro toda hora/No espelho casual/É feita de sombra e tanta luz/De tanta lama e tanta cruz/Que acha tudo natural) e “Se eu quiser falar com Deus”, clássico de Gilberto Gil, com interpretação inesquecível de Elis.

Inevitável não comparar Maria Rita a Elis. Não só pela voz, pelo jeito de cantar, mas também pelas expressões, pelos gestos, pela força e interpretação de cada canção. Impossível não se emocionar ao “redescobrir” uma Elis na voz de sua criação. Difícil também imaginar como Maria Rita seguirá em sua longa carreira sem cantar Elis daqui para frente.

Em uma letra de Rita Lee – “Doce Pimenta”, Maria Rita afirma “essa realmente era minha mãe: uma pimenta, mas não deixava de ser doce”: “Cada um vive como pode/E eu não nasci pra sofrer/ Cara feia pra mim é fome/ E eu não faço manha pra comer/ A vida é como uma escola/ E a morte é o vestibular/ No inferno eu entro sem cola/ Mas o céu eu vou ter que descolar/ Mas quando alguém precisa de um carinho meu/ Não há nada que me prenda/ Mas se eu sentir que um bicho me mordeu/ Sou mais ardida que pimenta!/ No fundo eu sou otimista/ Mas eu sempre penso o pior/ Me cansa essa vida de artista/ Mas cada vez o prazer é maior”.