31 de janeiro de 2011

Cartas do além mar


Tive uma grata surpresa por esses dias. Na época do colégio, uma professora de inglês havia perguntado quem gostaria de trocar correspondências com pessoas da mesma idade em outros países. O objetivo era treinar inglês e fazer “amizades internacionais”. Eu topei e logo depois estava eu recebendo uma carta da Espanha de uma tal de Maria.

Escrevíamos regularmente, sempre contando um pouco sobre nossas vidas, família, gostos etc.. E eu particularmente gostava muito de receber cartas de Maria, que quase sempre vinham cheirosas (ela passava perfume!) e cheio de adesivos ou fotos. O mais interessante que essa foi uma época que nem sonhávamos com internet, muito menos redes sociais...

O caso é que com o tempo acabamos perdendo contato. Deixamos de nos corresponder e ficamos sem saber se o endereço era o mesmo, se a vida havia mudado bastante, afinal, éramos adolescentes. Lembro também que no final nós já tínhamos preguiça em escrever em inglês, então eu escrevia em português mesmo e ela espanhol, e nos entendíamos perfeitamente (ou quase, rs!).

Mais de quinze anos depois, Maria me “achou” no facebook e voltamos a trocar mensagens, só que agora virtualmente, sem cartas perfumadas, adesivos e fotos em papel. A facilidade da internet nos trouxe de volta para nossas vidas. Ao mesmo tempo que mudamos (afinal nos tornamos adultos!), conquistamos alguns dos nossos sonhos do passado. Ela se formou em serviço social e eu em jornalismo, como já planejávamos. Seu rosto continua o mesmo, porém com o ar de maturidade. Imagino o quanto eu devo ter mudado para ela também.

E esse retorno nos faz pensar como estamos vivendo em uma nova era, e como a tecnologia transforma as nossas vidas e resgata antigos contatos. Ainda somos da geração das cartas, das pesquisas em biblioteca, dos trabalhos escolares feitos à mão (no máximo “batido” em máquina de escrever, ou no antigo computador, e impresso na saudosa impressora matricial) e por aí vai. Mas ao mesmo tempo, entramos na era digital pela porta da frente e hoje não nos imaginamos sem pc, Google, redes sociais, downloads, Microsoft Office...

26 de janeiro de 2011

Amor de tatuagem


Os anos leves da adolescência nos deixam encantados, senão, atordoados. Você se apaixona por uma pessoa loucamente e nada mais comum que cometer... loucuras de amor (clichê assim mesmo). Então, você vive esse romance como se fosse o último – Amou daquela vez como se fosse a última...

Não basta fazer promessas de amor e pactos de sangue, é preciso ir mais, ir além, ir ao máximo da entrega carnal. A prova maior é quando surge a brilhante idéia de tatuar uma marca, um objeto ou próprio nome da pessoa amada, como se perpetuasse na pele a sua razão de viver. “Quero morrer ao seu lado, quero ser eternamente seu...”. Os diálogos geralmente são recheados de declarações calorosas, certezas absolutas e incontestáveis.

Ela tatua uma caveira feminina, ele uma masculina. E aquele símbolo do amor só diz respeito a eles, os apaixonados. Uma verdadeira prova de amor. Quero ficar no teu corpo feito tatuagem / Que é prá te dar coragem / Prá seguir viagem / Quando a noite vem...

Até que um dia...

Há um desentendimento. Os dois terminam o romance e com ele todas as juras, promessas, declarações, pactos... menos as tatuagens. Elas resistem a quase tudo. O símbolo do amor, que até então só tinha significado para eles, passa a incomodar profundamente. Geralmente é coberto (quando possível) por panos, cabelos, pulseiras e afins, tudo para tentar esconder algo do passado, algo desimportante, algo que já foi, já era.

O amor de tatuagem vem para ficar, mesmo que o objeto motivador não exista mais... nunca mais. Tirá-la talvez seja mais doloroso que sofrer por amor.

Não sei por que, mas acabei associando isso aos adolescentes, apesar de conhecer muitas histórias de pessoas bem mais velhas que cometem o mesmo... ato.

PS1: o post foi inspirado na linda finda história de amor vivida pela ainda jovem Yasmin Brunet.
“A caveira fiz há uns seis anos, para um cara que namorei. Era uma em cada pé, uma menina e um menino. Achava que íamos ficar juntos até a morte, aquela coisa de namoro aos 15 anos, retardada (risos). Quando terminamos, queria cortar meus pés fora (risos). Fiz 20 sessões de laser para tirar e foi a pior dor que senti na vida.”

PS2: Depois que publiquei esse post, conferi em um desses sites de compra coletiva (acredite!) uma super promoção para apagar de uma vez por todas a marca da paixão! Confira abaixo a propaganda fantástica!




24 de janeiro de 2011

W.C.

Acho incrível a criatividade das pessoas para inventarem ícones na porta de banheiro público. Outro dia, fui a um teatro, onde na entrada dos banheiros estavam duas imagens: Sol e Lua. Confesso que levei alguns segundos até descobri o que eu era ali, daí veio o artigo definido “O Sol”, “A Lua”. Mesmo assim, ainda desconfiado, antes de entrar de fato, ainda dei uma conferida com olhar para verificar se estava entrando no banheiro certo. “Opa, tem um mictório”, ufa! Fico imaginando um bêbado, muito apertado, filosofando na entrada do banheiro: “o que sou eu? Sol ou Lua? Sou amante da noite, poeta das sombras, cantor do luar...”, pronto, entra no banheiro errado.

Não bastava o primeiro estranhamento, saí do teatro e fui a um bar. Lá pelas tantas, resolvi visitar o banheiro e, desta vez, me deparei com... uma borboleta azul e outra rosa. Pronto, deixei de ser o Sol para ser uma borboleta!

Se eu fosse colecionar todas as figuras representativas do sexo masculino, poderia montar uma galeria de arte. Já fui Charles Chaplin, Piloto de avião, Japonês, Malandro, Mao Tse tung, Júlio César, boi e até sapo (o banheiro oposto era princesa!). Seria muito mais fácil se fosse apenas “homem”.

18 de janeiro de 2011

Língua pátria, língua mátria, língua estranha, língua.


Ninguém se lembra, ou pelo menos isso não é comum, quando aprende a falar e, portanto, a comunicar com o mundo. Somos seres comunicáveis por natureza e isso a ciência tem como provar. Mas daí ser entendido pelo outro já é uma outra questão.

Comunicar deixou de ser o velho paradigma de Emissor => Meio => Receptor, como se este receptor só recebesse a ação, sem reagir. Hoje, o paradigma nos atualiza que a verdadeira comunicação acontece entre interlocutores, portanto I <=> I (relembrando as aulas de teoria!). Para acontecer uma comunicação de fato, o receptor precisa identificar a mensagem, compreendendo-a. Quantas vezes falamos, falamos e não recebemos o tal feedback?

Viajar para um país estranho e deparar com uma língua diferente da nossa nos mostra como ainda somos seres inquietos, justamente por não conseguirmos obter esse feedback. A sensação é horrível: falar e não ser compreendido, assim como ouvir e não entender nada. Ok, há diversas formas de se comunicar, mas ainda somos baseados na linguagem falada.

Percebemos diferenças e entraves na comunicação também entre gerações: enquanto o vovô diz que é “uma brasa mora” namorar um “brotinho”, o neto responder “viajou na maionese”, “tá ligado”, “boladão”. Entre regiões de um mesmo país, com a mesma língua pátria, existem jargões próprios.

Linguagem informal, linguagem formal, sem linguagem. Aprendemos desde cedo a forma certa de se comunicar: com o amigo da mesma idade, com as pessoas mais velhas, com estranhos, com pessoas de cargo superior, com colega de trabalho etc. Medimos a nossa fala para todas as ocasiões, assim como escolhemos as nossas roupas para os momentos de festa, lazer, esporte, trabalho. Talvez a maior dificuldade de “moldar” nossa fala seja no período da adolescência, quando as gírias predominam (o homem é produto do meio!) e quando deparamos com situações em que elas devem ser evitadas (parece que há um bloqueio e que não conseguimos falar a nossa própria língua).

O fato é que comunicação, por mais que seja um ato inerente ao homem, é complicado. Há pessoas que falam sem parar, outras medem cada palavra que fala e chegam a ser lentos. A rapidez de raciocínio também influencia na fala. Quando deparamos com uma situação de perigo, ou bronca, ou surpresa, é comum gaguejar, justamente porque a fala não acompanha o raciocínio lento.

Tudo isso eu escrevo (e reflito enquanto escrevo) para dizer o quanto é complicado pelo menos para mim aprender uma nova língua e conseguir, com desenvoltura, a comunicação ideal. Somos lentos para decifrar o significado das palavras, absorver a mensagem e compreendê-la de forma plena. Mais difícil é canalizar o que pensamos em nossa língua mátria e traduzir em novas palavras, totalmente estranhas ao nosso vocabulário comum. Ok, os especialistas afirmam que não devemos pensar em nossa língua, mas sim na nova – o que dificulta ainda mais o processo.

Somos capazes de nos comunicarmos, de toda forma, porque no final, damos um jeito na mímica, nos gestos, nas caras e bocas, nos desenhos... quem brinca de Imagem&Ação sabe o que estou falando. E tenho dito, rs!


12 de janeiro de 2011

Você tem medo de quê?


Medo é um sentimento ruim, mas às vezes necessário para dar impulso a uma tomada de decisão. Temos medo do futuro, se ele será tranqüilo, turbulento ou pelo menos compensador. Temos medo de ficar doente, de perder um ente querido, de ficar desempregado sem perspectiva, medo de ficar sozinho no mundo (sem parentes, sem amigo etc).

Mas há medos que nos acompanham e vão ficando até que você toma coragem para resolvê-lo. Vamos aos exemplos práticos.

Desde pequeno, eu não gostava de ficar sozinho em casa. Ouvia coisas estranhas, tinha sensação que estava sempre acompanhado e ficava impressionado com qualquer movimentação ou barulho ao redor. Dormir sozinho era quase uma tortura: quarto escuro, aquele silêncio ensurdecedor...

Quando eu resolvi morar sozinho, houve gente que duvidou quanto tempo iria agüentar, porque achava que eu não estava “curado” ainda do meu medo. Hoje, eu me acostumei de tal forma, que não sei mais dividir espaço com ninguém por muito tempo (sei que será um problema quando casar, por exemplo). Ou eu aprendia a dormir sozinho, ou passaria noites e mais noites em claro. Uma hora o cansaço iria dominar o medo e eu iria acabar dormindo de qualquer jeito. Não foi preciso passar nem uma noite em claro: meu sono falou mais alto desde o primeiro dia!

Outro medo que ainda preciso trabalhar seriamente é meu bloqueio com a língua inglesa. E isso é sério. Eu tenho verdadeiro trauma porque fiz o curso completo em um dos cursos mais conhecidos e respeitados do país, mas sempre odiei estudar inglês. Resultado: hoje sou um zero à esquerda na língua e por mais que eu entenda o quanto é necessário para minha vida (principalmente a profissional), eu não consigo aprender plenamente. Ao mesmo tempo, já ouvi várias histórias – umas com resultados felizes outras nem tanto – de pessoas que tinham o mesmo bloqueio e resolveram da forma mais brutal e agressiva possível: morar fora do país e aprender na marra. Ou você se comunica, ou você morre de fome.

E esse será meu próximo passo.

Na verdade, eu não quero nem posso “passar uma temporada” fora, porque trabalho e não teria como tirar “licença sabática” para isso. Mas a idéia de aproveitar um mês de férias para estudar fora já está dentro das minhas possibilidades... o problema é o medo. Medo de viajar sozinho, entrar num país desconhecido sem falar e, o pior, entender direito o que as pessoas falam e com isso não conseguir me virar na cidade.

“Navegar é preciso”, já diziam os descobridores dos mares. Eles se aventuravam destemidos do que iriam encontrar no horizonte longínquo. Tenho uma certa “inveja” dessas pessoas que dominam bem uma língua e sai pelo mundo a fora descobrindo, experimentado, desbravando, aventurando e passando pelos perrengues (porque esses sempre existem!) da forma mais natural possível.

O engraçado dessa história que minha personalidade combina com o perfil dessas pessoas, pois – como muitos me definem – sou uma pessoa comunicativa, gosto de conhecer pessoas, de certa forma faço amizades facilmente mas tudo isso... na minha língua nativa, ou seja, em bom português claro!

Resta-me decidir o que mais vale agora: continuar com medo ou enfrentá-lo, claro, de forma segura, planejada e que venha ser desafiadora no bom sentido, sem trazer mais traumas ou frustrações. Vamos aguardar os próximos passos...

3 de janeiro de 2011

Adeus ou até logo?


Quem duvida que o nosso ex-presidente Lula vai pendurar as chuteiras levanta a mão! _0/

Ele vai tirar suas férias depois de oito anos na presidência, mas para quem lutou para chegar onde chegou desde 1989, é evidente que ele não vai sossegar até voltar, talvez não como presidente, mas como senador, ministro... vide o velhinho Sarney que não larga o osso há décadas (quem o viu na posse da Dilma, percebeu que sua mão anda tremendo mas nem por isso ele deixa de trabalhar...)

Das inúmeras entrevistas e discursos que vi e até presenciei, Lula se sentiu bem a vontade, já com espírito de ex, quando conversou com a inusitada Regina Casé. O papo foi informal, descontraído, mas não deixou de ser revelador. O cargo de presidência não deixou Lula menos bonachão, extrovertido e povão, no bom sentido da palavra. Ele agora abre a boca para dizer que vai tirar férias, beber cerveja e andar de sunga à vontade. Definitivamente não podemos comparar o carisma (quase nulo) de Dilma com o de Lula (aliás, de nenhum outro ex-presidente também).

E dessa conversa entre Regina e Lula, duas passagens são interessantes, e que Lula repetiu algumas vezes, principalmente no seu último período (já se despedindo do cargo) na presidência. A primeira delas é que ele reconhece que o Brasil deixou de ter “complexo de vira lata”, como afirmava Nelson Rodrigues e hoje “ganhou respeito” diante do mundo. O Brasil passou a ser respeitado, porque o presidente foi o primeiro a dar o exemplo, mostrando que não precisa saber falar a língua deles para ser reconhecido. Mostrou que somos capazes e talentosos em diversas áreas, não só no senso comum futebol e carnaval. Crescemos em vários segmentos, exportamos talentos e cultura e sabemos o valor do nosso trabalho.

Outra etapa da entrevista mostrou como Lula se mostrava acessível ao povo, quando crianças podiam perguntar, francamente, o porquê do dedo amputado. Eu presenciei um presidente acessível, caloroso, carinhoso e expressivo. Emocionou-se relembrando passagens difíceis durante seu mandato, emocionando também a platéia. “Cada brasileiro se via um pouco em você, na sua história de vida”, disse Casé. O “ser do povo”, ao contrário das figuras imponentes de Collor, FHC e Sarney (Itamar Franco sempre foi apagado), mostrava justamente como o cargo político mais importante do país poderia ser ocupado por um homem “comum”, por um “operário”, “metalúrgico”, trabalhador como outro qualquer. “Ao contrário dos outros presidentes, Lula sempre passou a imagem de um trabalhador. Ele gosta de trabalhar”, disse Gilberto Gil.

O legado de Lula só será percebido de fato daqui um tempo, quando poderá ser comparado com feitos da nova presidenta. Muitos irão dizer que ele foi mais um presidente a prometer, sem cumprir a metade de suas metas; outros já vão dizer o oposto: que ele foi um dos poucos a concretizar sonhos, ideais, mesmo deixando muita coisa ainda para ser feita. Eu prefiro dizer que ainda é cedo para afirmar com toda certeza se seus oito anos só geraram bons frutos. Sabemos que o Brasil é um país do futuro, mas que este futuro está sendo implantado agora. Falta muita coisa, começando pela consciência de patriotismo por parte de sua nação. Estamos longe de termos orgulho (de fato) de sermos brasileiros. Ainda é mais fácil culpar o governo pela falta de governança, do que olhar para as próprias atitudes (começando na escolha dos votos, vide Tiririca e Maluf deputados).