21 de junho de 2008

Ser carioca...

É acordar no sábado, abrir a cortina e descobrir um sol convidativo. “Hoje vai dar praia”!
É ter uma bike stand by para deixar a preguiça de lado e dar uma volta na Lagoa.
É passar pelo aterro do Flamengo, dirigindo ou não, e se deleitar com o estrondoso Pão de Açúcar à sua frente.
É ter a experiência única de passar por debaixo da ponte Rio-Niterói, com a luz do luar.
É estar em qualquer ponto da cidade e procurar lá em cima o imponente Cristo.
É pegar o charmoso bondinho de Santa Teresa e vislumbrar lá do alto uma cidade a brilhar. Depois é só descer do morro e, entre uma caipirinha e outra, trocar os passos de um samba bem marcado da Lapa.
É ter o privilégio de escolher qual praia do momento – Barra, Copa, Ipanema, Leblon, Leme, Prainha, Grumari, Arpoador...
E por falar em Arpoador, não tem como fugir do visual de suas pedras esculturais.
É ser mais um na multidão da arquibancada lotada do Maraca, abraçando e comemorando o gol suado com seu mais novo amigo de infância do lado.
É andar no calçadão no fim de semana, se prometendo a cumprir - a partir daquele dia - uma rotina de caminhadas, afinal o verão está sempre chegando e a forma física deve estar em dia.
É não se importar muito “com que roupa eu vou ao samba que você me convidou”. Tem havaianas? Então está bem vestido.
É ter sempre um ângulo diferente para admirar o Cristo (acho que já falei dele hoje... mas o que importa?)
É saltar de asa delta da Pedra Bonita e sentir-se um pássaro, perfurando o ar e sentindo a brisa salgada das orlas.
É simplesmente olhar para o lado e perceber uma natureza incubadora, com suas montanhas protetoras.
E por falar em natureza, lembremos dos bosques, florestas e jardins botânicos que inundam a caótica capital com sua tranquilidade esverdeada.
E quando você acha que já conhece todos os cantos da cidade, ainda se surpreende com uma deslumbrante cachoeira em plena fervilha urbana.
Um conselho de amigo, se possui uma digital, não se descuide. Você pode perder a oportunidade de registrar uma boa foto do dia.
Ser carioca é representar ao mundo uma identidade, um estado de espírito, uma beleza desigual, uma expressão de vida.
É ter a certeza de ser bem recebido por onde quer que vá, dentro ou fora do país.
Porque, no fundo, todos sabem que o carioca já nasceu com o visto aprovado para o paraíso.

17 de junho de 2008

“Tornar o amor real é expulsá-lo de você, para que ele possa ser de alguém” (Nando Reis)

Ele coleciona amores platônicos. É mais fácil pra ele lidar com a frustação. Passou a ser cômodo idealizar um amor perfeito, uma deusa, um futuro bom... mas nunca fez nada para mudar isso, ou se fez, acha que não deu certo...

A última paixão platônica dele não tem muita explicação. Se apaixonou, para variar, por uma mulher linda, sorriso claro, simpática, boa conversa, atenta, delicada. Até que essa era acessível! Olhou pra ele, dançou, conversou, trocou elogios, se aproximou... pronto! A velha história do simpatia é quase amor. Confundiu, talvez... comum aos bobos. Ser romântico passou a ser patético.

Daí encheu-se de esperanças, sorriu, espalhou aos quatro ventos sua alegria, sua admiração, seus sonhos. Se expôs demais - desnecessariamente - aos mais próximos, menos a ela. Ela não sabe dessa admiração. Ela mal o conhece. Ela está longe dele. Lá longe, quase intocável, uma deusa, uma perfeição.

Enquanto isso, ela se apaixona, se entrega, se aproxima de outros, que lhe procuram. Enquanto isso, ele sofre calado, escondido. Enquanto isso, ela termina namoro, desfaz qualquer relacionamento. Enquanto isso, ele enxerga uma esperança, tenta se aproximar novamente, quem sabe é agora? Quem sabe?

O tempo passa, e ele nada.

Ela tudo. Aberta para um novo amor, este reaparece na pele de um outro cara bacana...

É meu amigo, o que dirá agora? Quanto tempo mais levará para abafar mais esse amor utópico?

Ele percebe que ela não lhe pertence, nunca lhe pertenceu e nunca lhe pertencerá. Se ele não age, como ela pode saber de seu amor? Nada fez para mudar a situação cômoda.

Joga fora esses óculos escuros, rapaz! Vá enxergar a vida! So many special people in the world! Mas é preciso mudar de atitude, ou melhor, da falta dela! Perceba as oportunidades e saiba aproveitá-las! Esqueça as impossíveis, creia nas reais! Não tenha medo!

Ok, você vai dizer que é fácil falar, estando fora do aquário. Tudo bem. Mas te permito apenas um dia de tristeza, e nada mais! Chore! Chore bastante! Coloca a raiva de um amor frustrado para fora em um único dia! Mas no dia seguinte, ah o dia seguinte! Este será diferente! Ao invés de colecionar paixões platônicas, expulsa-as de si, de seus sonhos tristonhos.

12 de junho de 2008

O que é o amor?


Os homens deram vários nomes a ele: há o amor fraterno, amor de irmão, amor-amigo, amor bandido, amor materno, amor próprio...
Desde que o mito de Tristão e Isolda se propagou, ainda no século IX, acredita-se na mais bela e fascinante história de amor entre o homem e a mulher. Daí surgiram Romeus e Julietas e tantos outros casais apaixonados. Mas ainda pergunto: o que é o amor?

Talvez seja o instinto mais elevado do ser humano. É o sentimento mais puro e, ao mesmo tempo, mais evoluído do homem. Não é egoísta, não é passageiro, não é pagão, não sente inveja e nem se envaidece. É o eterno amor menino e que, portanto, não envelhece. Não sei explicar o que é o amor. Quem saberia definir na linguagem dos homens? “Ainda que eu falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria”.

O mais bruto e criminoso dos homens ainda sabe amar. Pode não reconhecer, perceber tal puro sentimento em si, mas de alguma maneira, em algum momento, transmite isso a alguém. Afinal, o amor é instinto, por mais que seja elevado, evoluído, ainda é instinto. E instinto, como sabemos, é inerente ao animal.

Preservemos o amor. Não importa quem amamos. Somos seres amantes! Podemos viver e amar sim nossas conquistas, nossas riquezas. Mas amemos a vida em primeiro lugar! Amemos a natureza e tudo que nos cerca. Amemos nossos pais, por mais que estes sejam tão diferentes de nós. Amemos nossos irmãos sanguíneos, por mais que estes nada têm a ver conosco. Amemos nossos amigos, já que estes escolhemos ainda conscientes. Amemos até os inimigos, para que esses um dia percebam que da vida só nos restam amizade e... amor. E mais que tudo: ame a ti mesmo, para que te conheças tão intimamente, capaz de perceber seus defeitos, e que saibas repará-los antes que alguém te julgues imperfeito. (Imperfeitos todos nós somos, mas é mais fácil apontar o defeito do outro do que os nossos primeiros)

Existem muitas histórias de amor. Entretanto, prefiro resumir uma linda história de amor à imagem de dois velhinhos, que mesmo diante dos anos passados, dos 56 anos de casados, continuaram se amando. Por mais que a surdez ou esclerose pudessem afetar o entendimento e a compreensão, a paciência, o companheirismo e o respeito estiveram sempre presentes. Quando ela tentava ensaiar algum desentendimento, ele retribuía... com beijos. É esse o retrato que guardo do amor. O amor que meus queridos avós viveram até a partida dele. Minto. Amor assim não se resiste apenas a uma breve separação. A carne envelhece, apodrece. O amor não. Ele está acima de nós, pobres mortais. É desse amor eterno que nascem famílias. Hoje marido e mulher, amanhã pai e filha, depois irmão e irmã... por isso, nós humanos demos vários nomes a ele, mas este, no fundo, não precisa ser adjetivado. Chamemos simplesmente, então, de amor.

6 de junho de 2008

O Erudito clama pelo popular

Ou é o popular que clama pelo erudito? Só sei que hoje tive uma experiência fascinante. Graças ao projeto “Rio Folle Journée” (Jornada Louca, no Rio), em que concertos são apresentados a preços populares, estudantes de escolas públicas do Rio e tantos outros jovens de classe média baixa, ou baixa, puderam se deliciar ao som clássico e retumbante de Mozart e Beethoven. A Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, composta – como o próprio nome já sublinha – por jovens e talentosos músicos, se apresentou hoje, na sala Cecília Meireles para um concerto único e admirável.

É comum pessoas julgarem música clássica como música para elite, ou seja, para poucos. Muitos fazem cara feia, torcem o nariz ou resmungam quando escutam alguém dizer que a verdadeira arte está na profundidade e eloqüência (no sentido de expressividade) da música de Ludwig Van Beethoven, Johann Sebastian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart, Johann Strauss, Tchaikovsky, Frédèric Chopin e tantos outros. “Música clássica só serve para dormir”, já ouvi várias vezes. Ou então: “música assim só na entrada dos padrinhos e noivos num casamento”.

Onde e quando você escuta música clássica?

Aos mais idealistas, puritanos da arte clássica, só os mais preparados e estudiosos conseguem compreender a verdadeira grandeza da música erudita. Por aí, mergulham-se em opus, quartetos, sonatas, primeiro, segundo e terceiro movimentos, sinfonia número 39 em mi bemol maior, com adágio, allegro, andante, allegretto ou menuetto... Mas vamos falar a verdade, precisa entender tudo isso para apreciar a boa música? Qual a sensação que sentimos ao ouvir uma orquestra? Eu pelo menos, não muito raro, me vejo com olhos fechados, refugiado em lindas paisagens, com cachoeiras, montanhas, bosques, banhado de luz e energia positiva, sentindo a presença dos bons fluidos.

Essa sensação de fuga não é tão utópica quanto pensamos. Quando assistimos um filme, em que um clássico alinha à trilha sonora, conciliamos os sentidos audiovisuais em sentimentos, em sensações de fuga da realidade. Saímos do nosso mundo para invadir o mundo cinematográfico, da fantasia, do irreal. É certamente o casamento perfeito.

Onde quero chegar com essa filosofia barata? Ao ponto de partida: quando o erudito clama pelo popular. Vamos nos permitir ouvir os acordes e arranjos de um clássico. Perceba as sensações que a música nos proporciona, sem preconceitos, sem elitismo, bemóis, sustenidos, allegrettos, opus... não importa nomes, técnicas, teorias musicais. O que importa é o sentimento sublime de paz íntima e grandeza espiritual que a música clássica nos propicia! Perceba o diálogo entre violinos e violoncelos, trompas e trompetes, oboés e fagotes, piano e flautas!

Se Beethoven, mesmo com deficiência auditiva, teve a bravura de compor suas últimas sinfonias, tendo apenas a percepção da marcação do ritmo com as batidas no piano (e para tanto, ele cortou os pés do piano de caldas, para “ouvir” direto do chão as vibrações emitidas pelo instrumento), por que nós, agraciados de audição, não consentimos ao espetáculo sonoro?

Saiba mais sobre Rio Folle Journée

4 de junho de 2008

Devaneios Líricos - o livro

É com imensa satisfação que convido para o lançamento do livro "Devaneios Líricos" da minha queridíssima amiga, jornalista, poetisa (e futura escritora de auto-ajuda, como gosto de brincar com ela!) Cristine Gerk. Aqui é proibido merchandising, mas para ela, eu abro uma exceção!!!!

Olha o convite!


para conhecer mais um pouco, acesse Devaneios Líricos (blog)

3 de junho de 2008

O fanatismo à beira da loucura

Que crença é essa que preza pela competição, pelo menosprezo ou, pior, pelo confronto? Tenho medo dessas religiões que se dizem únicas capazes de garantir a salvação! E por serem únicas, não adimitem concorrência. São os donos do paraíso eterno e garantem sua passagem para lá em troca de fiéis contribuições. Alucinados por uma religiosidade pragmática, são ferozes aos que não compartilham da mesma fé. E por isso, são capazes de insultar, xingar, pisar, destruir, ridicularizar as crenças alheias.

Foi o que aconteceu na noite de ontem, quando três jovens fiéis fanáticos invadiram e depredaram um templo religioso no Rio (Jovens depredam templo religioso no catete). Aos gritos, os três diziam que, por ordem de Jesus, todos os presentes deveriam abandonar o demônio, que estaria ali presente. “Jesus faz da brandura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena, por conseguinte, a violência, a cólera e até toda expressão descortês de que alguém possa usar para com seus semelhantes” (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IX, “Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos”).

O fanatismo religioso é capaz de destruir nações. Não falta exemplo na chamada terra santa. Por aqui, esses religiosos entorpecidos estão destruindo (ou pelo menos tentando) a liberdade da crença pelas múltiplas religiões. O maior receio está naqueles que aproveitam essa cegueira fidedigna dos crentes para alcançarem o poder, principalmente o do Estado. A supremacia religiosa é uma ditadura, tão covarde e brutal quanto às outras já conhecidas pela sociedade.



“Ele diz que tem, que tem como abrir o portão do céu/ ele promete a salvação/ ele chuta a imagem da santa, fica louco-pinel/ mas não rasga dinheiro, não./ Ele diz que faz, que faz tudo isso em nome de Deus/ como um Papa na inquisição/ nem se lembra do horror da noite de São Bartolomeu/ não, não lembra de nada não./ Não lembra de nada, é louco/ mas não rasga dinheiro/ promete a mansão no paraíso/ contanto, que você pague primeiro/ que você primeiro pague dinheiro/ dê sua doação, e entre no céu/ levado pelo bom ladrão/ Ele pensa que faz do amor sua profissão de fé/ só que faz da fé profissão/ aliás em matéria de vender paz, amor e axé/ ele não está sozinho não/ Eu até compreendo os salvadores profissionais/ sua feira de ilusões/ só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz/ deixa o outro vender limões./ Um vende limões, o outro/ vende o peixe que quer/ o nome de Deus pode ser Oxalá/ Jeová, Tupã, Jesus, Maomé/ Maomé, Jesus, Tupã, Jeová/ Oxalá e tantos mais/ sons diferentes, sim, para sonhos iguais” (Guerra Santa, Gilberto Gil)

1 de junho de 2008

Amigos para sempre

Eles se conheceram no cursinho pré-vestibular. Estudaram juntos, passaram para a mesma faculdade, mesmo curso, mesma turma. A convivência era intensa e se extendia para as suas casas. Ela namorava na época um militar. Ele preferiu curtir a vida de solteiro. Às vezes pintava uma cena de ciúmes entre eles. Um confidente do outro. Compartilhavam suas experiências, seus amores, aventuras, até que ela resolveu se casar. Ainda estavam cursando engenharia.

Ele não foi convidado para padrinho, mas com certeza era um convidado especial. Até seus familiares foram convidados para o casório. E que casamento! O mosteiro de São Bento, com sua elegância banhada a ouro, repleto de flores e luzes. As espadas se cruzaram para os recém casados passarem. Um lindo casamento.

O marido foi transferido para Santa Catarina, e ela teve que se despedir da família e dos amigos para viver numa nova e estranha cidade. A distância era grande. Mas o casamento valia pena.

Um ano depois, ele decide pôr fim àquela história romântica. “Não era bem isso que esperava para minha vida”, simples assim, como se fosse trocar uma peça decorativa da sala. Mas a verdade veio à tona. Havia uma terceira pessoa no jogo conjugal. Uma antiga e resistente amante, que esperou o matrimônio se consolidar para provocar a bruta e seca separação.

Ela voltou para o Rio, desolada, arrasada, descrente do casamento. Mas encontrou o conforto e o amparo de um ombro amigo, aquele antigo amigo da faculdade.

Amigos eles já eram, mas o momento pedia uma atenção maior, um carinho maior. A afinidade também era grande. Passaram a se ver mais, sair mais, viver mais. Com a convivência maior, foi quase dedutiva uma aproximação afetiva. O olhar passou a ser diferente, havia um brilho diferente. O ciúme também aumentou. O sentimento de posse era visível. A amizade se confundia com amor. E este sentimento acabou vencendo.

Eles se casaram. Não no papel, mas na vida à dois. Foram morar juntos. Certamente um casamento perfeito. Eles se completam em tudo. Curtem as mesmas amizades, os mesmos passeios, os mesmos desejos, as mesmas viagens.

Almejavam o mesmo futuro: trabalhavam muito para curtir a vida. Viajaram muito, conheceram várias cidades, países, culturas. É a tal da afinidade, não adianta. Até o espírito aventureiro era compartilhado.

Depois de oito anos dividindo o mesmo teto, eles anunciaram o fim do casamento para surpresa de todos. Ninguém acreditava. Nem Eduardo e Mônica eram tão perfeitos quanto eles. Até hoje não tem uma explicação para o fato. “Incompatibilidade de idéias”. Como assim? Não eram tão afinados?

Vai entender a mente humana...
Separação sim, fim da amizade não. Esta continua acesa, como sempre foi. Talvez confundiram as coisas, nem sempre tamanha afinidade significa sucesso no casamento. A parceria pode ter chegado ao fim entre quatro paredes, mas não fora de casa. A separação ainda dói, mas são amigos para sempre...

(baseado numa história real, pra falar a verdade, bem próxima! Aliás, na época da tal separação, escrevi um post “Eduardo e Mônica se separam” )