24 de fevereiro de 2013

Sintonia


É normal buscarmos mais qualidades, ou melhor, afinidades na pessoa em que queremos um relacionamento. Essas afinidades passam por gostos musicais, por exemplo. Não é uma fórmula de sucesso dos relacionamentos, mas o casal que gosta das mesmas coisas, e discordam de poucas, apreciam juntos e vivenciam mais momentos especiais.

“Gostar de gêneros musicais diferentes não impede um relacionamento, mas quando há compatibilidade, dois amantes evoluem e transforma-se em dois cúmplices”, escreveu Martha Medeiros no seu último artigo “Afinados” (revista O Globo). Pode acontecer o oposto, quando ambos não gostam de um gênero musical, mas, acidentalmente, acaba gerando uma aproximação. Isso aconteceu com meu irmão e sua esposa. Durante uma viagem, acompanhados de alguns amigos, os dois (que até então eram apenas conhecidos) resolveram se afastar do grupo, quando este procurou um lugar de samba. Por não gostarem de samba é que os dois se aproximaram e o romance deslanchou.

Martha descreve ainda que se aquilo que gostamos de ouvir estimula as mesmas sensações, acabamos criando um diálogo sem palavras, apenas sintonia. E é essa sintonia que vai consolidando um relacionamento maduro em vários aspectos, criando confiança, parceria e união. 

No filme “O lado bom da vida”, não é exatamente a música a “causa” do despertar de uma paixão, mas outra arte que também faz o mesmo efeito: a dança. Dois personagens, vítimas de perturbações psíquicas graves, encontram uma forma de amenizar a ansiedade descontrolada, canalizando suas energias e responsabilidades em um concurso de dança. Esse encontro, em princípio despretensioso, torna-se fundamental para que eles se enxergassem apaixonados um pelo outro, deixando para trás as sombras dos ex-amores.

Mais que uma boa cantada ou um físico atraente (formas “tradicionais” para atrair duas pessoas), uma música e uma dança podem surpreender duas pessoas para outros olhares, outras intenções. A música envolve sentidos, sensualidade, sensações diferentes que podem ser responsáveis por grandes paixões. Cada um tem sua trilha sonora, ou pelo menos deveria ter.

14 de fevereiro de 2013

Porque eu sou da Vila!


“Quem nasce lá na Vila / Nem sequer vacila / ao abraçar o samba (...) Lá, em Vila Isabel / Quem é bacharel / Não tem medo de bamba / São Paulo dá café / Minas dá leite / E a Vila Isabel dá samba” (Noel Rosa)

Nasci e moro no bairro de Vila Isabel. Um bairro da Zona Norte, que fica entre dois grandes bairros – Tijuca e Méier. Desde pequeno, sempre ouvi as histórias desse lugar, conhecido principalmente por seus dois principais personagens: Noel Rosa e Martinho da Vila. Ambos músicos, compositores e sambistas de carteirinha. Ambos divulgaram amplamente os “encantos da Vila” como um bairro boêmio, cercado de botecos, vilas e bambas.

Apesar de um bairro sem muitas belezas naturais e ainda um lugar de “passagem”, Vila realmente tem seus encantos e particularidades, como tantos outros bairros típicos de subúrbio. As muitas vilas de casas e antigas construções de sobrados são marcas fortes desse lugar, onde ainda se encontram pessoas nas calçadas jogando conversa fora. Outra característica são os vários bares e botecos de cada esquina, onde concentram moradores para chope do final do trabalho ou do churrasco de final de semana.

Sua proximidade com o mais famoso estádio de futebol do país, o Maracanã, faz com que as comemorações após as partidas deixem esses bares ainda mais cheios de torcedores e beberrões. Sem esquecer a presença de universitários que emblemam um ar juvenil às ruas próximas à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Vila Isabel é conhecido também por três tesouros que se tornaram símbolos do bairro. O primeiro, e mais emblemático, é antiga fábrica de tecidos, que até hoje mantém arquitetura desde sua construção. Cantada em versos de Noel, na música Três Apitos (“Quando o apito da fábrica de tecidos / Vem ferir os meus ouvidos / eu me lembro de você”), a fábrica foi construída pela Companhia de Fiação e Tecidos Confiança Industrial, fundada em 1885. Hoje funciona ali um supermercado. Já o segundo é a famosa calçada da Avenida Boulevard 28 de Setembro, feita com pedras portuguesas formando partituras famosas de Noel Rosa e outros importantes compositores.

A terceira é a quadra da Escola de Samba Unidades de Vila Isabel, onde se concentra os ensaios e o coração da escola. No último dia 13 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, ela ficou pequena aos muitos moradores que comemoram a vitória merecida do Carnaval 2013!

Esse ano, a Vila acertou na escolha do samba para o enredo “A Vila canta o Brasil celeiro do mundo – água no feijão que chegou mais um”, com versos simples, melodia fácil e empolgante. O samba contagiou, a escola veio alegre e muito bonita. O desfile impecável garantiu com muita justiça a vitória, na frente de duas escolas que nos últimos anos vêm disputando o primeiro lugar – Unidos da Tijuca e Beija Flor. A nossa Azul e Branco veio desbancar as favoritas e mostrar que um tema tão simples mas não deixando de ser emblemático – a agricultura do país e a vida no campo – pode sim fazer um espetáculo maravilhoso e encantador.

Como morador do bairro, como torcedor apaixonado pela escola (desde pequeno) e apreciador do samba, estou extremamente feliz e emocionado por essa conquista. É indescritível ver a Boulevard 28 de Setembro repleta de moradores vestidos com as cores da bandeira, cantando o samba e comemorando o campeonato. A festa no arraiá foi pra lá de bom! “Mas, tenho que dizer, modéstia à parte, meus senhores, eu sou da Vila”!

Matéria do Jornal O Globo

7 de fevereiro de 2013

Piadas customizadas do carnaval carioca


Uma das características típicas do carnaval brasileiro é o espírito cômico dos foliões. Ao começar pelos nomes de blocos de rua, carnaval é a época em que os brasileiros imprimem sua criatividade e seu bom humor nas fantasias.

Domingo passado fui me aventurar no bloco Fogo & Paixão, no Centro do Rio. Mesmo não estando 100%, eu consegui me divertir, porque esse é ainda um dos poucos blocos de rua que não enche tanto e não tem confusão. Pelo tema do bloco, já dá para saber que não só as músicas são engraçadas (o repertório é predominantemente brega!) como as fantasias acompanham o estilo.

Algumas fantasias são clássicas em todo carnaval, como os super heróis, a turma do Chávez, palhaços etc. Mas os que mais chamaram atenção são fantasias que aproveitam os assuntos que estão na moda, seja a personagem da novela, seja a música do momento etc. Tem piada para todos os gostos, até para quem tem mau gosto e espírito de porco.

Entre os foliões, havia uma “freira” com cartaz “Sentei no pau do gato”, já outra estava vestida de Carminha (da novela Avenida Brasil) e uma que resolveu “abordar” o tráfico de bebês, vestindo de Wanda (da novela Salve Jorge) com direito a bonecas espalhadas em bolsas e um cartaz “Hoje é na promoção: 3 bebês por 10 reais”. Fora as inúmeras mulheres vestidas de “camaro amarelo”, sucesso sertanejo chiclete da dupla Munhoz e Mariano. E, claro, um folião vestido de Roberto Carlos, com crachá “Esse cara sou eu”.

Outro bloco famoso por ter concentração de fantasias inusitadas é o “Cordão do Boitatá’, também no centro, mas em 2012 estava tão cheio que já não compensou sair cedo de casa para passar perrengue. Infelizmente, muitos blocos que antes valiam a pena curtir, hoje já se tornaram tumultuados e sem estrutura (som baixo, pouco espaço para circular etc.).