Correr uma prova de meia maratona
exige mais que esforço e dedicação. Quando escolhi correr a meia, sabia que
seria um processo a ser encarado com muita força de vontade. Afinal, não são
apenas 21 quilômetros de corrida. São alguns finais de semanas acordando cedo
para correr. É uma reeducação alimentar necessária para corrigir os erros e
abusos da dieta. É abrir mão de às vezes sair com os amigos para beber. É
encarar a malhação como se fosse uma fisioterapia para que seus joelhos
suportem tanto esforço concentrado.
Há três anos, fiz uma cirurgia de
emergência no joelho esquerdo. Foi um longo processo de recuperação, que
cheguei a pensar que não seria possível voltar às condições normais físicas
para praticar esportes, como a corrida. Em 2014, aos poucos, fui experimentando
as primeiras corridas, sempre buscando melhorar o desempenho, não em tempo, mas
em distância. E assim consegui passar de apenas 2km para 4, 6, 8 até chegar aos
10km. Na época, cheguei a completar uma prova de 16k, o que já me deixou satisfeito.
No mesmo ano, cogitei em me inscrever em uma meia maratona. Mas como teria uma
viagem de férias que me exigiria bom condicionamento físico, fiquei com medo de
forçar e, talvez, me prejudicar durante a viagem.
O ano de 2015, confesso que dei
uma boa relaxada, e pouco me esforcei para seguir um ritmo de treino. Fiz
apenas uma prova durante todo o ano, e o resultado não poderia ter sido pior.
Fechei o ano com 6 quilos a mais que meu peso anterior, sem condicionamento
físico para voltar a correr.
Mas o ano de 2016 iniciou já com
a ideia da Meia Maratona do Rio, com data marcada. O plano era buscar uma ajuda
de uma profissional nutricionista para prescrever uma dieta e já começar o
planejamento de treinos para prova, com cinco meses pela frente. Ainda em
janeiro, procurei uma amiga e nutricionista, que logo preparou uma dieta
“radical” para que eu pudesse ver um bom resultado ao longo dos primeiros dois
meses. O mais radical mesmo foi cortar totalmente o açúcar, o que para quem é
viciado em doces e café foi de fato um sacrifício. Aos poucos, o café foi
ficando amargo, mas não menos gostoso. E o que parecia impossível, passou a
virar hábito. Café sem açúcar, sem nada. O chocolate passou a ter 70% cacau. Bolos
e afins totalmente cortados do cardápio.
O resultado veio de forma
gradual, mas prazerosa. As corridas, por sua vez, foram ficando constantes e
longas. Os treinos passaram a fazer parte de uma rotina. Segunda, quarta e
sexta passaram a ser o dia do fortalecimento muscular. Terça, quinta e finais
de semana meus treinos regulares. Buscava deixar para sábado ou domingo as
corridas mais longas. Já durante a semana, os treinos de até 8k, ou tiros
totalizando 5k.
Não fiz parte de nenhum grupo de
corrida, com acompanhamento profissional. Mas tive o apoio de dois amigos que
já somam duas maratonas no currículo e, portanto, sabem qual ritmo certo de
treinos. Busquei adaptar meu ritmo e meu tempo para objetivo final:
correr 21k com tranquilidade, sem forçar demais o joelho, sem acabar um
derrotado no final da prova.
De janeiro até maio, foram cerca
de 30 corridas de rua (sem contar os treinos na esteira), alcançando a
distância máxima de 18k na última semana (o que não foi ideal, mas ok). Meu
tempo nunca foi de um corredor típico, com pace médio de 6:30 min/km.
Finalmente, chegou o tão esperado
dia da prova. O desafio foi lançado. A largada foi na Praia da Barra. A prova,
incluindo maratona, meia e family run, somava 29 mil participantes, mas a
grande maioria foi para tentar a meia maratona. O percurso não poderia ter sido
mais especial: começando na praia da Barra (próximo do Pepê), passando pelo
Elevado do Joá, São Conrado, Avenida Niemeyer, Praias do Leblon, Ipanema,
Copacabana, passando ainda por Botafogo e chegando ao Aterro do Flamengo (sem
precisar dar aquela maldita voltinha de retorno). Foram 21 quilômetros em um
percurso apaixonante, vendo o esforço de cada um, ouvindo os aplausos e os
gritos de quem acompanhava da rua, passando por músicos se apresentando em
tendas montadas especialmente para a prova, até alcançar a tão aguardada linha
de chegada, cercada de fotógrafos, imprensa, familiares, amigos, pessoas que
você nunca viu antes, mas que estavam ali, incentivando por aquela conquista só
sua, única, especial.
Não foram apenas 21k, foi uma
soma de garra, superação, suor, dor, força, determinação, concentração, cinco
meses, 30 treinos, bolhas nos pés, sol na cabeça, treinos intermináveis,
dietas, domingos às 6h, ladeiras, esteiras, ciclovias, lagoas, maracanãs,
areias, asfaltos, chuvas, ventos... uma medalha e várias recompensas!
A alegria de poder olhar para
trás e ver que cada quilômetro valeu a pena.
Quando me perguntam: “e a
próxima? Maratona?”.
Confesso que ainda não estou preparado
para tanto.