15 de fevereiro de 2012

Narciso acha feio o que não é espelho

Resolvi resgatar umas fitas VHS antigas, com gravações da família. Tirei a poeira do velho videocassete e coloquei na TV. Revi momentos inesquecíveis, recordei passagens que nem lembrava mais e matei a saudade de entes que já não estão mais conosco agora.
Mas o que me chamou atenção foi me ver ainda criança. Por um lado, observei com um olhar de adulto, achando graça e me divertindo com as palhaçadas, as brincadeiras e o meu jeito de ser. Por outro, enxerguei a mesma pessoa que sou hoje, com alguns comportamentos comuns até hoje. É natural sermos críticos conosco. Por várias vezes, me peguei pensando “nossa, como fui capaz de fazer isso, ou falar isso...”. A autoanálise sempre nos faz pensar que podíamos ser diferentes, agir diferente.


Por que não gostamos de nos ver em vídeo ou ainda quando escutamos a nossa própria voz em uma gravação? Por que não nos aceitamos do jeito que somos? Se vivêssemos 24 horas diante de um espelho, certamente não seríamos nós mesmos, porque iríamos nos policiar as 24 horas. Pelo menos é essa sensação que tenho.


É claro que em certos momentos somos vaidosos. Escolhemos a melhor foto para postar no perfil, escolhemos a melhor roupa para festa, cuidamos da aparência, do corpo etc., mas acima de tudo somos críticos com a beleza. E ainda contamos com a opinião alheia para amenizar a insegurança.


Às vezes, buscamos mudar certos comportamentos, principalmente quando esses afetam outras pessoas. Mas a personalidade é algo imutável. É a velha história da máscara quando cai. Paulo da Viola encerra o assunto definindo: “eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim...”

Para ver a banda passar


“Vai passar nessa avenida o samba popular...”

Depois de alguns carnavais longe do Rio, esse ano volto a passar na cidade. Se pudesse, aproveitaria o longo feriado para descansar, em lugar tranqüilo, longe da confusão, mas outras prioridades me impediram desse planejamento.

Se o lado folião clama pelos bloquinhos de rua, por outro lado confesso que não tenho mais paciência para ruas lotadas, multidões, calor infernal, aperto, pouca estrutura, som baixo, falta de educação do povo. O programa deixa de ser divertido e passa ser de índio. Desse bloco, tô fora!

Mas para não deixar a banda passar, acabo selecionando alguns poucos blocos que valem a pena ir. A primeira opção é escolher aqueles fixos, que ficam parados em uma praça ou área suficiente grande para suportar a aglomeração. Assim, você consegue curtir a música, sem aperto. Outra escolha são os blocos tradicionais que prezam pela cultura do samba, ou seja, nada de músicas modinhas para o repertório. Isso só chama público típico de baderna e confusão, porque não querem curtir carnaval, só buscam bebidas, brigas e pegação.

O bloco Fogo & Paixão, que citei aqui, não é propriamente um bloco de carnaval, com músicas típicas, mas pelo menos segue a linha irreverente, com espírito do carnaval, com as pessoas fantasiadas que só querem se divertir com tranqüilidade.

O bloco que mais se aproxima dessa “cultura” do samba de rua é o Cordão do Boitatá, que sai domingo bem cedo no Centro do Rio. As pessoas capricham na fantasia, levam seus confetes e serpentinas, e vão com o único intuito de se divertir. Fica cheio, mas dá para curtir sem precisar passar por perrengue.

Outros blocos tradicionais como “Bola Preta”, “Carmelitas” (em Santa Teresa), “Barbas” (Botafogo) e “Escravos da Mauá” são ótimos, mas atraem uma multidão. Tem que sair de casa já preparado para aguentar alguns contratempos. Sinto falta dos bailes de carnaval nos clubes. Não estou me referindo a bailes tipo do Scala, porque isso é outro tipo de público, se é que você me entende. Mas bailes à fantasia, com banda ou bateria de escola de samba. Só para não dizer que estou sendo radical, segunda de carnaval vai rolar o baile dos grupos de samba Casuarina e Bangalafumenga, na Fundição Progresso, na Lapa.

Mas para quem é do bloco do sossego, o Rio também oferece opções interessantes de lazer longe da multidão. Além de algumas praias que valem a pena freqüentar, longe da Zona Sul ou Barra, como Prainha, Grumari (só tem que chegar bem cedo!), cachoeira do Horto e a trilha para Pedra Bonita são ótimas opções para aproveitar a tranquilidade que natureza resistente e ainda abundante do Rio oferece! Verdadeiro Oásis na cidade.

A verdade é que o Rio respira carnaval, faz parte da cultura carioca. “Quem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”. Não é à toa que o hino oficial do Rio de Janeiro é uma marchinha de carnaval: Cidade Maravilhosa!

Seja qual for seu bloco, bom carnaval!

Algumas listas de blocos no Rio:

- site Sebastiana

13 de fevereiro de 2012

O tal do remedinho


Whitney Houston acaba de entrar no seleto grupo de artistas que morreram inesperadamente porque abusaram de... medicamentos. Ao lado dela, juntam-se Michael Jackson, que morreu com overdose de Propofol, além do ator Heath Ledger, encontrado morto em seu apartamento em 2008, também por abuso de medicamentos (mistura de oxicodona, hidrocodona, diazepam). Ainda não se sabe a causa real da morte de Amy Winehouse, mas essa possibilidade não foi descartada.

O que chama atenção é o motivo pela qual esses artistas – com uma longa trajetória de abusos, principalmente de drogas pesadas – têm suas vidas rompidas, sem mais sem menos. Ok, o abuso de medicamento é tão perigoso quanto overdose de drogas e bebidas. Mas é como se contássemos uma história triste de um paciente que conviveu anos com uma doença incurável, fez mil tratamentos, realizou várias cirurgias, teve sua vida limitada, sem poder planejar um futuro digno por conta da tal doença e acaba morrendo... atropelado.

O “tal do remedinho” nos faz pensar que são pessoas que viveram normalmente, como todos nós, sem exageros, sem intensidade, sem noites regadas a muito álcool e cocaína, e que em uma infeliz noite resolveu tomar remédio além da dose certa para “relaxar” um pouco e acabou morrendo.

Não quero dizer aqui que essas pessoas morreriam cedo de qualquer maneira por conta dos abusos, muito menos que mereciam morrer. Absolutamente! Fico triste do mesmo jeito, porque são pessoas com grandes talentos e partiram de forma precoce. De fato, são pessoas que mereciam cuidados médicos especiais, um acompanhamento psicológico, quiçá psiquiátrico pelo histórico que conhecemos.

Somos pegos de surpresa, porque são mortes estúpidas, que com certeza poderiam ser evitadas. Contudo, deparamos com situações extremas, de pessoas que chegaram ao fundo do poço, capazes de aumentar, por conta própria e de forma descontrolada, suas doses de relaxantes, calmantes e entorpecentes com um único motivo: tentar burlar o que é inevitável - a vida! Eles buscavam a fuga, às vezes, inconscientemente, daquilo que era impossível fugir.

Muitos vão dizer: “mas eles são artistas. Artista é assim mesmo, vive em outro mundo”...

10 de fevereiro de 2012

Musicais de Tim & Tom


Estão em cartaz alguns musicais que valem a pena conferir para quem está no Rio. Em janeiro, assisti primeiro a estréia de “As Mimosas da Praça Tiradentes”, no Teatro Carlos Gomes, e depois vi o já badalado “Tim Maia – Vale Tudo”, do outro lado da praça, no teatro João Caetano.

O primeiro retrata o universo dos cabarés já em decadência, com performances clichês de drags e homens, mas com um texto bem humorado. O musical fala um pouco sobre a história da própria Praça Tiradentes, no tempo em que se dizia que lá era “a Broadway brasileira”, quando se concentravam vários teatros na região. Mas a peça vai além, misturando humor com dança.

Já no segundo, o fenômeno Tiago Abravanel, até então um desconhecido ator e neto de Silvio Santos, interpreta e incorpora Tim Maia com seus trejeitos e voz marcante. Mesmo quem não gosta do repertório de Tim Maia, gosta da performance e da história de vida de um artista que viveu à margem da beleza, mas com um talento único. É claro que o foco é voltado para o personagem principal do musical, mas todo o elenco é maravilhoso. São três horas de peça, sem ser cansativo, diga-se a verdade! No final, Tiago empolga a platéia com um momento “bis” de show, já sem texto, sem roteiro. Não é à toa que todas as temporadas (já passou por várias inclusive) ficam lotadas. O texto de Nelson Motta é bem amarrado, com as histórias bem contadas ao longo da peça, o que faz ser um musical completo (melhor que o primeiro, inclusive).

Saindo de teatro, mas não deixando de falar de música, o filme “Música segundo Tom Jobim” é um deleite aos ouvidos de quem ama a obra dele. Sou suspeito em falar, porque – para mim - não há dupla melhor que Vinícius e Tom em todos os tempos! Ao contrário do documentário “Vinícius”, lançado em 2005 e dirigido por Miguel Faria Jr, que reúne depoimentos de artistas que conviveram com o poeta, mesclando registros históricos sobre a vida e obra; esse novo filme, feito por Nelson Pereira dos Santos, mostra a música pela música, sem falas, depoimentos e narrações. São registros de vários artistas, internacionais e nacionais cantando versões múltiplas de suas canções, além, é claro, do próprio artista em diferentes fases da carreira.

De certo que, à primeira vista, o filme surpreende. Aos potencialmente críticos, Nelson Pereira deixa bem claro sua verdadeira intenção ao colocar nos créditos finais uma citação de Tom Jobim: “a linguagem musical basta”. E basta mesmo. Suas letras, suas melodias nos fazem pensar o quanto a linguagem musical é emblemática e atemporal. Jobim era um maestro completo e sua melhor expressão artística estava na... melodia, portanto, nada mais justo homenageá-lo com um filme diferente, sem deixar de ser completo.

Sempre apreciei o repertório de Tom, desde pequeno. Por influência dos meus pais, que escutavam seus discos, cresci admirando as melodias e os arranjos dele, principalmente porque me chamava atenção seu jeito de tocar num piano que parecia ser tão fácil.

Quando comecei a estudar piano, tinha apenas seis anos de idade, e na falta de um instrumento em casa, limitava meus estudos de prática em um pequeno teclado. Passei alguns anos praticando pouco por conta disso. O sonho de ganhar um piano de verdade, grande, com um som forte, um teclado firme, parecia bem distante. Até que, aos doze anos, meus queridos avós me fizeram bela surpresa. Coincidência ou não, eles me presentearam com o meu piano no dia 8 de dezembro de 1994, dia em que Tom Jobim morreu.

Depois de 18 anos da morte dele (e 18 anos com meu piano em casa), hoje posso dizer que Tom Jobim é o artista que mais me influenciou nos estudos de música.

Há 50 anos, o Grammy homenageia o conjunto da obra de grandes artistas de todos os tempos. E esse ano é a primeira vez que a premiação escolheu um artista brasileiro para receber tal categoria.



Veja matéria sobre o Grammy

8 de fevereiro de 2012

Você é luz, é raio, estrela e luar


Diante da morte precoce de um ícone da música brega brasileira - o cantor Wando - resolvi rascunhar uma homenagem. Quem nunca cantarolou os versos do clássico “Fogo e Paixão”, imortalizado por ele?

Eu confesso que gosto de Wando e de outros clássicos bregas, porque vejo nesse “estilo” musical uma forma de catarse! Para explicar melhor, vamos a uma breve conferida do significado da palavra catarse no dicionário: “método de purificação mental que consiste em revocar à consciência os estados afetivos recalcados, para aliviar o doente dos desarranjos físicos e mentais oriundos do recalcamento” – quer definição melhor?

São nas letras mais toscas, de mensagens clichês, com romantismo à beira da fossa total que nos deparamos com os tais “estados afetivos recalcados” e acabamos nos deliciando e delirando nessas canções, na melhor expressão “quem canta seus males espanta”! Não só sou adepto a essa catarse coletiva como incentivo a todos se “permitirem”, deixando de lado preconceitos com as músicas bregas!


E essa expressão tomou força total com a criação de um bloco de carnaval inspirado nos clássicos da cafonice que está fazendo maior sucesso. O nome vem homenagear justamente o clássico de Wando, chamando “Bloco Fogo e Paixão” e traz em seu repertório novos arranjos para Wando, Fábio Jr, Roupa Nova, Reginaldo Rossi, Rosana, Beto Barbosa, Chitãozinho e Xororó, Gretchen, Sidney Magal e por aí vai. Próximo dia 12 de fevereiro, uma semana antes do carnaval, o bloco vai se concentrar no Largo São Francisco de Paula, no Centro! E começa cedo: 11h! É imperdível!


Você é luz
É raio estrela e luar
Manhã de sol
Meu iaiá, meu ioiô
Você é "sim"
E nunca meu "não"
Quando tão louca
Me beija na boca
Me ama no chão...(2x)
Me suja de carmim
Me põe na boca o mel
Louca de amor
Me chama de céu
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
E quando sai de mim
Leva meu coração
Eu sou fogo
Você é paixão...

6 de fevereiro de 2012

Filosofia de novela...

Em mais uma frase "filosófica" dita em novela das seis...

A personagem é uma senhora idosa, madura, que resolve terminar o relacionamento com seu parceiro depois de presenciar uma cena tosca de ciúmes e insegurança. Depois de frases do tipo "eu não vou mudar meu estilo de ser e agir por conta da sua insegurança, você que trate de mudar", ela lança mais uma frase de efeito em uma conversa com uma amiga:


- O amor só não basta. Ele é 50% de uma relação. Os outros 50% é a relação em si, se ela te faz bem, se te completa, se te equilibra. A vida já é complicada demais para escolher um parceiro que ainda torna tudo mais caótico.

- Então quer dizer que tudo acabou de vez?

- Não sei... mas uma coisa tenho certeza, só volto quando perceber uma mudança significativa naquela cabeça dura.

 obs: não sei se é porque passei a prestar mais atenção nos diálogos e, consequentemente, em suas mensagens, ou se realmente essas mensagens são exatamente aquilo que eu precisava escutar (só confirmando minhas opiniões sobre relacionamento).

2 de fevereiro de 2012

A gente vai levando...


Outro dia escutei em uma cena de novela o seguinte diálogo:

- Estou em período de adaptação.
- Eu reparei que o período de adaptação começa quando nascemos e não termina nunca. Todos os períodos da vida são de adaptação.
- Você tem razão... e já estamos pós-graduados em adaptação.

Se estamos solteiros e começamos um relacionamento, estamos nos adaptando. Se passamos da fase de namoro para casório, entramos em outra adaptação. Se rompemos e voltamos para o estágio de solteiro (depois de anos), precisamos de uma nova adaptação.

Isso acontece em mudança de emprego, de cargo, de moradia etc.

Algumas mudanças são positivas, mostram novos horizontes, ambições, desafios; já outros vêm impactar de maneira avassaladora, deixando cicatrizes. Sobretudo, todas as mudanças nos trazem ensinamentos.

Em cada fase, o importante é “viver um dia após o outro”, mesmo que seja um clichê. Nada é tão difícil hoje que amanhã não passe... e dependendo do seu olhar otimista, você ainda consegue enxergar o lado positivo das coisas. É exatamente o que busco para mim, todos os dias de “adaptação”.

Às vezes, tenho vontade de ser mais explícito em meus pensamentos em meu blog, e deixar essa filosofia barata de lado. Afinal, criei esse blog como uma forma de expor aquilo que penso... mas ele é público e não pretendo “machucar” nenhum coração com meus pensamentos.