27 de setembro de 2012

Os melhores anos de nossas vidas

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Há exatos 10 anos, ingressei na faculdade de Comunicação da Escola de Comunicação da UFRJ. Era setembro e o segundo semestre começava com atraso, por conta de uma longa greve. A expectativa era grande. Depois de passar por um conturbado vestibular e conquistar uma das 101 vagas para o disputado curso de comunicação, chegava o momento de começar uma nova etapa da vida. Ambiente novo, pessoas novas, o início de uma trajetória profissional.

Logo no primeiro dia, o tradicional trote ao mesmo tempo que assustava os calouros, proporcionava uma mistura de ansiedade e êxtase. O velho palácio da Praia Vermelha recebia seus novatos, todos com cara de criança, recém saídos do antigo 2º grau. Nada de uniforme, recreio, inspetor, formação, hino, tabuada. O uniforme era bermuda, chinelo e camiseta. Laguinho, sujinho, medinho, CA eram como velho pátio da escola. Em pouco tempo, já éramos reconhecidos como ecoínos (de Escola de Comunicação – ECO).

No início, era todo mundo misturado. Apenas no terceiro período é que nos separamos, quando cada um escolheu sua carreira: jornalismo, publicidade, rádio e TV, ou produção editorial. E foi também o período que muitos desistiram da faculdade. Os grupos já estavam se formando, as amizades foram se estreitando. E o nosso grupo já tinha um apelido: Os melancias.

O que seria uma ofensa se tornou uma definição, um elogio, um estado de espírito. O grupo recebeu o título de um colega de turma: “nossa, como vocês adoram aparecer! São verdadeiras melancias”. E não demorou muito para o grupo assumir o apelido carinhoso. Em um carnaval, foi formado o “bloco dos melancias”, com direito a camisa “pendure a sua também”! A letra foi adaptada do samba “Vou festejar” e virou: “São os melancias, perdendo a linha no carnaval/ Eu vou farofar/ FA-RO-FA-FA/ O teu sofrer/ O teu penar/ Você ficou sem reação/Ao assistir nosso chão chão chão”!

Época da faculdade foi sem dúvida a melhor fase da minha vida. Havia responsabilidades, mas não se comparavam a época chata da escola, das cobranças dos pais com as boas notas. Era o início da fase adulta, mas ainda vivendo como adolescente. A mesada foi substituída pela bolsa do estágio e, por milagre, era possível chegar até o final do mês com aquela miséria.

Período das festinhas, das viagens de turma, dos encontros na casa dos amigos. A cidade do Rio de Janeiro nunca foi tão explorada por nós, desbravadores! Caíamos em cada buraco à procura de aventura! “Festa estranha com gente esquisita” virou rotina, mas tudo valia a pena! O primeiro porre também nasceu na faculdade, nas inesquecíveis chopadas! “Experimenta, experimenta!” e assim conheci o que era a famosa bebidinhalegre – uma mistura de vinho, sprite e vodka, que nos permitia falar besteira com toda sinceridade do mundo!

Quatro anos passaram rápido demais. Mas foram o bastante para transformar nossas vidas para sempre! Nosso aprendizado foi além das teorias de Comunicação. Tornamos comunicólogos e, portanto, críticos até demais! Reclamávamos das aulas chatas de teoria, dos professores malas e daqueles que fingiam que nos ensinavam alguma coisa. Aprendemos sobre a vida de Silvio Santos em aulas que deveriam ser de Economia, ouvimos histórias fantásticas “vivenciadas” pelo nosso antigo diretor nas aulas de redação jornalística, tivemos experiências antropológicas em trabalhos de campo, conhecemos todo acervo de Glauber Rocha, Eduardo Coutinho e outros “ícones” do Cinema Novo. Conhecemos o significado dos princípios masculinos e femininos em edição gráfica, fizemos prova oral em aula de fotografia e descobrimos livros incríveis em aula de radiojornalismo. Entramos na faculdade com sonhos impossíveis, e depois dos primeiros estágios, aprendemos que a vida de um jornalista estava longe de ser o de um âncora atrás de uma bancada do telejornal. Os plantões de fins de semana, as pautas recomendadas, os entrevistados malas, o salário miséria e as broncas estúpidas dos chefes rabugentos.

Mesmo assim, nos formamos felizes. Não nos tornamos rabugentos, nem idealistas. Apenas aprendemos com percalços da carreira e nos adaptamos à realidade do mercado. Saudosismo não é bem a palavra para relembrar com carinho esse período de descobertas, sonhos e realizações. Mas ao comemorar uma década daquilo que lhe proporcionou uma mudança de vida e que definiu a escolha da minha profissão, é uma forma de recordar com satisfação e alegria uma fase importante das nossas vidas!

Fico feliz em reconhecer que fiz a escolha certa e que os amigos continuam presentes em minha vida.