15 de dezembro de 2014

Trilha para Pedra do Telégrafo




Uma das maravilhas de se viver na cidade do Rio de Janeiro é sempre se deparar com cenários desconhecidos e deslumbrantes. Carioca, nascido e criado na cidade, só agora, depois dos trinta anos, estou tendo a oportunidade de desbravar esses lugares. A primeira vez que visitei a região de Barra de Guaratiba foi para conhecer a praia Perigoso e a Pedra da Tartaruga. Uma trilha de 40 minutos, sendo praticamente uma caminhada com poucas subidas íngremes, leva ao lado selvagem do Rio, com praias desertas, uma vegetação abundante e uma paz indescritível.

Alvorada na Pedra do Telégrafo

E depois de subir na pedra da Tartaruga, onde é possível ver as praias Búzios, Perigoso, do Meio, Funda e Inferno, tive a oportunidade de realizar outra trilha fantástica: Pedra do Telégrafo.
Para chegar ao início da trilha, basta pegar a Estrada Roberto Burle Marx e seguir até Barra de Guaratiba. É recomendado subir acompanhado de um guia porque até a entrada da trilha o caminho não é muito fácil. O nosso grupo resolveu encarar a trilha ainda de madrugada para pegar lá do alto do morro o amanhecer. Em princípio, pareceu loucura, mas o resultado valeu muito a pena.


A subida levou cerca de 30 minutos, sem parar para descansar, o que tornou o desafio um tanto puxado. Apesar de ser aberta e larga, com poucos trechos fechados, a trilha é considerada de nível médio, porque em vários trechos a subida é íngreme e exige um certo preparo físico, pelo menos não há escaladas. Já me perguntaram se pode levar criança. Não recomendo menores de dez anos, porque pode ser cansativo para criança.

Pedra do Telégrafo

A pedra do Telégrafo tem uma bandeira do Brasil fincada, e não tem acesso fácil. Mas a atração mesmo do local é uma pedra com a ponta voltada para um “precipício”, onde os visitantes tiram fotos dando a impressão que estão pendurados a uma altura considerável. É lógico que para saber o truque é preciso ir até o local.


famosa pedra onde os visitantes se "penduram"

Se de um lado a vista contempla as praias de Búzios até Grumari, do outro é possível ver toda Restinga de Marambaia. Independente do horário a ser escolhido para subir a trilha, vale a pena contemplar a natureza local, com minutos de meditação. Escutar o som das ondas e dos pássaros é sentir a presença divina em sua essência, e perceber o quanto somos agraciados por morar nessa cidade.

Restinga de Marambaia

A equipe 360 Sports foi a pioneira em levar grupos para conhecer essa trilha, com acompanhamento de um guia e um fotógrafo.

Para agendar com eles o passeio, entre em contato através da Central de Atendimento - (21) 96904-2600 / contato@360sports.com.br
http://www.360sports.com.br/

8 de dezembro de 2014

Piano meu



Oito de dezembro de 1994. Esta foi a data que meus avós Hugo e Lugenira escolheram para me presentear com o piano. Para muitos, apenas um instrumento musical. Para mim, um presente de valor inestimado, que carrega muitas histórias, sonhos e um amor incondicional.

Quando tinha apenas quatro anos de idade, pedi ao papai Noel um piano. Meus pais não entenderam minha escolha, afinal, não havia músico na família, muito menos um piano na casa de ninguém próximo. Mesmo assim, eles atenderem meu pedido e, naquele ano, o papai Noel do prédio (aquele vizinho que se vestia de papai Noel na festa de natal do play) me entregou um piano de armário proporcional ao meu tamanho.

Aos seis anos, minha mãe, por incentivo de meu avô materno, me matriculou no Conservatório Nacional de Música, na Tijuca, quando iniciei os estudos de teoria musical e prática de piano. Lá conheci tia Mônica, que começava na época sua carreira de professora, tendo como sua orientadora e parceira a também professora tia Cecília. Desse tempo, guardo poucas lembranças das aulas. Apesar do pouco tempo que fiquei por lá, recordo-me das audições, quando sorteávamos na hora qual prova iríamos tocar. Havia sempre duas opções, A e B, e sempre rezávamos para cair aquela que tínhamos estudado mais ou que era mais fácil. Geralmente, a prova tinha apresentação de uma escala musical, em que os dedos gordos e pequenos nem alcançavam direito as oitavas no teclado, seguida de um exercício de dedilhado e uma música ensaiada previamente. As mãos suadas não disfarçavam o nervosismo, e aquela tensão na antessala era prova que não havia diferença entre jovens e crianças durante avaliação. No final da audição, saíamos da sala e ficávamos ansiosos esperando a nota da banca.

Aos oito anos, meu avô conseguiu uma vaga na Escola de Música Villa Lobos. Na época, fiz uma prova em que uma das etapas era reconhecer, apenas ouvindo o som do gravador, qual instrumento era executado. Infelizmente, na época não era possível ingressar na aula de piano. Por isso, tinha que passar primeiro pelas aulas dos instrumentos de sopro, depois percussão para no final seguir com os de corda (piano é considerado instrumento de corda, para quem não sabe). Recordo-me que não foi um período muito feliz o tempo que ia com meu avô às aulas de flauta doce no velho prédio da Escola, próximo ao largo da Carioca, centro do Rio. Minhas impressões eram as piores possíveis, daquele lugar que fedia a mofo, com aparência de largado, num lugar bem distante da minha casa. Depois de três anos, não aguentei mais e pedi para sair da escola. 

Durante essa fase, minhas professoras do Conservatório abriram um estúdio, onde vários professores, além delas, lecionavam aulas de piano, teclado, violão, bateria e tantos outros instrumentos. O Stúdio M&C era praticamente minha terceira casa (a segunda era a casa dos meus avós). Lá, eu passei o final da infância até minha adolescência, convivendo não só com os professores de música, mas também tendo as minhas experiências nas aulas de teatro amador. Como sempre fui muito comunicador, era praticamente o relações públicas do Stúdio, porque conhecia quase todos os alunos e professores. Além das audições, guardo grandes recordações das apresentações musicais de fim de ano. Enquanto a maioria dos alunos ficava nervosa com as apresentações, eu disfarçava meu nervosismo fazendo piada dos meus próprios erros. Eu era tão cara de pau que se eu errasse durante a apresentação, eu não parava de tocar e fazia praticamente um solo com novo arranjo, até conseguir retornar para o que estava escrito na partitura. É lógico que alguns percebiam, principalmente minhas professoras e minha família, mas para o restante da plateia, era como se a música tivesse um arranjo diferente. 

Eu não gostava das aulas de teoria musical. Achava chato demais decorar as posições das notas, os tempos, as claves etc. Tinha preguiça de ler partitura, e por isso decorava a música inteira para evitar olhar para ela. Isso me gerou algumas broncas da tia Cecília, mesmo com aquele jeito risonho dela. Já tia Mônica era espalhafatosa, no bom sentido, e dava uns murros no piano, quando eu perdia o compasso. Eu chegava saltar do banco dos sustos que ela me dava. A reclamação era sempre a mesma: “Mário, você precisa ensaiar mais em casa. Não adianta deixar para estudar a música só durante a aula, porque assim não vai sair nunca!”. E aí que era o problema. Faltava um piano para ensaiar em casa. Eu tinha um teclado, que não fazia o mesmo efeito.

Aos doze anos, já não acreditava em papai Noel, mas meu desejo ainda era ganhar um piano de verdade. Foi quando meus queridos avós resolveram fazer uma surpresa. Com muito sacrifício, eles conseguiram juntar um bom dinheiro e compraram um piano, que não era novo, mas muito bom. O presente seria para o natal, mas eles não esperaram a data e resolveram me presentear alguns dias antes.

Coincidência ou não, nesse mesmo dia morria um dos músicos mais queridos do Brasil, a quem muito admiro, Antônio Carlos Jobim. E a partir desse dia, eu passei a me dedicar aos estudos com meu piano. Até meus dezoito anos, fiz minhas aulas no Stúdio M&C, quando acabei deixando a prática para focar no vestibular. Desde então, o velho piano ficou um pouco de lado, esquecido na sala.

Se antes, meu maior prazer era reunir a família para minhas “audições domésticas”, hoje ele é meu refúgio. Em 2007, meu maior incentivador e incansável ouvinte partiu desse plano, e voltar aos teclados se tornou uma tarefa bastante difícil. Desde então, não escuto mais seus calorosos aplausos, nem sinto mais seus abraços de parabéns. Meu saudoso avô Hugo foi com certeza o meu maior fã, pois era o único que sentava ao meu lado todas as vezes que eu ensaiava. E com toda paciência do mundo, era quem acompanhava os acertos e erros nos dedilhados. Nas apresentações, era o primeiro da fila, o primeiro a aplaudir e o primeiro a me dizer que o talento nas bastava, era preciso ensaiar, ensaiar muito.

Apesar de não ter levado os estudos adiante e praticamente ter parado de tocar, o velho piano continua reinando em minha sala. Um dia pensei em me desfazer dele. Mas quando olho para ele, não vejo apenas um piano. Como descrevi, ali estão as melhores recordações da minha vida. Ele representa o bem mais precioso que tenho hoje, sem dúvida. E minha maior alegria é poder, mesmo com os dedos enferrujados, sem aquela prática de antes, sentar no banco e tocar. Continuo tocando para mim mesmo, pelo prazer de executar uma boa música, pelo prazer de ouvir (mesmo desafinado) as notas emitidas pelas velhas cordas. Continuo tocando por ele, principalmente, porque sei que hoje, onde estiver, tem ouvidos mais apurados do que nunca.

25 de novembro de 2014

Irmã Dulce - o Filme



Tanto o cinema quanto o teatro nacional estão numa fase boa de retratar a biografia de grandes personagens brasileiros. No teatro, os musicais de Tim Maia, Cazuza, Elis Regina e, o mais recente, Chacrinha são alguns exemplos dessa nova leva. No cinema, alguns filmes também contam a trajetória de personalidades como Ayrton Senna, Raul Seixas, Renato Russo, Paulo Coelho etc.

Muitas dessas biografias contam passagens de superação, dificuldades, mas também polêmicas de vidas regadas a muitas brigas, bebidas e drogas. Alguns artistas são endeusados, considerados transgressores, vanguardistas, muitas vezes heróis. Mas estão longe de ser exemplos de qualquer coisa. Boas histórias devem ser contadas sempre, independente de seus protagonistas.


Mas quando se trata de uma personagem como a freira baiana, mais conhecida como Irmã Dulce, a impressão que temos é que a arte atingiu seu verdadeiro objetivo. Quantos de nós buscamos nos livros, principalmente, histórias que nos sirvam de exemplos e, mais que isso, despertam a vontade de mudar?


Irmã Dulce é exemplo de amor, e suas ações nos levam a acreditar que basta boa vontade e perseverança para ajudar a quem precisa, seja lá quem for. Ela enxergou isso e foi capaz de enfrentar até a instituição da Igreja Católica para alcançar seu maior objetivo na vida: praticar a caridade. No caso, o “enfrentar” a igreja corresponde transgredir regras, não respeitar a hierarquia por uma boa causa, e provocar uma mudança de paradigma de que todos, sem exceção, podem colocar a mão na massa. O maior exemplo disso foi o fato dela levar para dentro do convento pessoas carentes e doentes que não eram atendidas nos hospitais da região de Salvador, ainda na década de 1940. Ela foi capaz de transformar o galinheiro ao lado convento, onde morava, em um ambulatório, com ajuda do governador e de empresários locais. 


Atualmente, o hospital Santo Antônio se tornou um dos maiores da região, e um dos principais em atendimento a usuários do Sistema Único de Saúde, entre idosos, pessoas com deficiência e com deformidades, moradores de rua, jovens e crianças carentes. As Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) foi o principal legado que ela pôde deixar, porque, segundo a própria, o que é de Deus é eterno. 


Um filme simples, porém extremamente sensível e emocionante. Assim resumo essa belíssima obra que estreia essa semana nas salas de cinema do Rio. Todos nós precisamos, sem exceção, ouvir suas palavras, ver suas ações, sentir sua emoção em ajudar ao próximo.

27 de outubro de 2014

Por um país mais igualitário




Depois de uma eleição disputadíssima, com debates acalorados, trocas de acusações e inúmeras manifestações das mais radicais nas redes sociais, finalmente chegamos ao fim. Se o resultado não agradou 48,36% dos brasileiros que votaram contra ao atual governo, o que vale agora é a união de um país, não o preconceito e a repulsa.

Assusta-me o nível de preconceito nas pessoas que se dizem a favor da democracia, da justiça e de um país por todo igualitário. Preconceito com o pobre, com o nordestino e com todos que pensam e votam contra seus ideais. Todos desejam mudança, até quem votou no atual governo. Todos desejam um país desenvolvido, em todas as instâncias. Mas para isso de fato acontecer, precisamos enxergar além do nosso umbigo. Ir além do poder de compra, principalmente. Antes de repugnar a corrupção em alto escalão, que de fato existe e deve ser combatido, perceber suas próprias atitudes, mesmo nas pequenas ações.

Um povo que não respeita seus idosos, os necessitados, os vizinhos de estados, as leis de trânsito, a fila do supermercado, a vaga restrita, que joga lixo na rua, não deve exigir de seus representantes postura melhor. 

Diante de tantas atrocidades que li, como melhor resposta, cito um amigo que soube definir bem essa imagem de um homem negro, trabalhador rural. “Pense, por favor, que ele é brasileiro, nordestino e inscrito no bolsa família... Sei que para alguns é difícil acreditar. Mas a democracia é assim: um homem, um voto. Sim, ele tem e MERECE ter direitos. Independente de bens, riqueza, educação (aqui me refiro a acadêmica, e não sabedoria), sabedoria (aqui me refiro à capacidade generosa de saber aprender com a vida, e não com os diplomas que você tem), independente de carros, viagens, benefícios sociais, calos nas mãos... Todos votam de acordo com os seus interesses, ele também. Todos votam defendendo seu futuro, ele também. Todos votam com suas convicções, ele também. E assim é formado esse país chamado Brasil... tão seu, tão meu e tão dele também. E sinto muito orgulho disso!”