31 de maio de 2011

Mensagem depois de partir

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Postar um texto após a própria morte parece uma idéia macabra. Lembro de um caso em que um locutor, conhecido em sua pequena cidade, chegou a gravar uma mensagem sobre sua própria morte para ser divulgada no alto falante da igreja local, assim que ele morresse.

Desta vez, um canadense pediu para um amigo postar uma mensagem póstuma em seu blog, assim que ele morresse, a fim de avisar seus amigos blogueiros que acompanhavam sua triste trajetória, com o agravamento do câncer. Narrar sua própria dor, compartilhar seus sofrimentos, e dividir seus momentos finais lhe trouxe um consolo (se assim pode-se definir) para quem já não tinha mais esperança em viver. O blogueiro tinha seus seguidores, mas seu maior “ibope” veio justamente após sua morte, com a tal mensagem póstuma. Estranho, não?

Se soubéssemos sobre o nosso breve destino, assim como ele, será que seríamos capazes de escrever um texto falando de nossa própria morte, como uma mensagem de despedida?

De toda forma, estamos deixando nossas mensagens a cada post publicado, sem a pretensão de eternizá-las.

Alguns sites já oferecem serviços para o internauta “precavido”, funcionando como uma espécie de testamento de assuntos diversos. Depois da morte do usuário, o site envie mensagens, contendo, por exemplo, senhas de contas de email e outros sites, para as pessoas indicadas pelo cliente.

Cartas programadas, como no filme “P.S. I Love you”, e flores encomendadas, como na novela “A Viagem”, já mostraram como personagens da ficção reagiam com as mensagens póstumas. Mas e na vida real? Como será, para aqueles que ficam, continuar recebendo mensagens de pessoas mortas?

Diferente das cartas psicografadas, as mensagens póstumas foram escritas ainda em vida terrena, portanto, o indivíduo deixa algo que enquanto vivo não soube ou não teve oportunidade de dizer, ou melhor, que só tem valor após sua morte. Uma revelação bombástica, um segredo guardado, uma declaração a pessoa amada...

Já a mensagem escrita em psicografia é de alguém vivo também, não em carne e osso, mas em outro plano espiritual, cuja essência é a mesma de quem viveu por aqui. É como se escrevesse um cartão postal, dizendo sobre seus sentimentos de agora, do momento em que se escreve. Para muitos que ficam, essas mensagens servem de verdadeiro consolo, porque não significam mensagens retrógradas, mas sim da verdadeira vida.

24 de maio de 2011

Você casa com um Pinto?


Renata não sabe se troca seu nome depois que casar. Ela acha tão romântico colocar o sobrenome do maridão no seu nome. Ainda tem a boa desculpa para tirar o Silva, que ela odeia. “Quase todo mundo tem Silva no nome”.

Mas ela vive um dilema. Ela vai casar com um Pinto. Imagina, tira-se Silva para colocar um Pinto? Fica feio...

Ninguém casa já pensando em separação, mas ela ficou pensando: “Se eu caso, põe o Pinto, se separo, tiro o Pinto”, não vai dar certo.

Mas Renata, minha filha, você não precisa casar com o Pinto. Ou melhor, você está casando com um Pinto, mas não precisa colocar o Pinto em você, entendeu?

Renata está esquecendo um outro detalhe importante. Não bastava o Silva do pai, ela ainda leva o Leite da mãe. Seria um tanto gozado Renata incluir o Pinto do marido depois do Leite da mãe, e resolver tirar o Silva do pai. Que desgosto daria ao seu pai...

Para o futuro marido, tanto faz ela ter Leite da Silva, ou Leite do Pinto.

Afinal, Renata, querida, que nome você vai querer assinar?

20 de maio de 2011

Tempos “mudernos” para o sexo fácil


A internet trouxe uma ferramenta revolucionária para aqueles com dificuldade de relacionamentos amorosos. Há uma série de sites para achar o seu “par perfeito”, dentro do seu perfil, gosto etc. Mas você já ouviu falar em sites para achar sua “amante perfeita”? É essa proposta do site “Second Love”: você, pessoa comprometida, que está insatisfeita com a sua rotina amorosa, pode encontrar de forma prática e simples uma amante.

O texto é simples: “às vezes acontece com você? Na verdade, você continua feliz com o seu relacionamento, mas de vez em quando acha que a monogamia é monótona? Você não quer problemas no seu relacionamento, mas a rotina não o faz feliz? À procura de romance porque em casa tudo virou rotina? O Second Love é um site de relacionamentos para homens e mulheres em busca de um caso ou uma aventura emocionante (...) neste site pode criar seu perfil com fotos e buscar pessoas que se adéquem a si”.

Corre-se o risco do casal, insatisfeito com suas rotinas, acabar se encontrando no site, com seus respectivos perfis falsos.

Outra novidade é como empresas vêm reconhecendo a excelência de seus empregados, com premiações um tanto quanto inusitadas. Uma empresa alemã resolveu premiar seus executivos de melhor desempenho comercial com uma orgia que teve participação de 20 prostitutas, na Hungria. Eles foram recepcionados pelas mulheres “reservadas” (traduz-se: disponíveis para favores sexuais) num spa e depois que elas completavam o serviço, ganhavam um selo afixado no antebraço.

Para terminar, a tecnologia do GPS também está a serviço do sexo fácil, mais conhecido como “GPSexo”. Existe um aplicativo para quem tem smartphone, que funciona assim: você está em um determinado local (um restaurante, um bar etc), acessa o GPS e identifica alguém próximo dali que esteja a fim de um sexo casual. Os interessados trocam mensagens sobre um ponto de encontro, se conhecem e logo se encaminham para o objetivo comum, simples assim. Depois, cada um segue seu caminho, satisfeitos ou não. Por enquanto, a ferramenta é voltada para o público homossexual, mas em breve o seu criador irá disponibilizar uma semelhante aos homens e mulheres de libidos instantâneos.

Diante de tanto “avanço tecnológico”, perguntamos: será que relacionamento sério e fiel está em extinção?

19 de maio de 2011

Tango - filme de 1998


Como filmar artisticamente uma dança tão peculiar, intensa e complexa como tango? O filme Tango, do espanhol Carlos Saura, não só conseguiu isso como arrisco dizer que é a obra que melhor representa essa cultura argentina. Na visão de um leigo, filmar uma bonita apresentação de dança pode ser sinônimo de registrar apenas um ato, sem maiores cuidados. Entretanto, quando estuda-se técnicas de filmagem, é possível identificar a preocupação do diretor em capturar da forma mais artística possível, ou seja, usando elementos que venham complementar algo que já é belo para quem assiste.

E essa preocupação do diretor Carlos Saura está em optar filmar seu longa em boa parte dentro de um estúdio, com inúmeras possibilidades de visão – plano aberto, plano fechado, plano em detalhe (close) etc, com jogo de câmeras e espelhos. O mais espetacular está em transferir o que é mágico no palco para as telas, sem perder o brilho do espetáculo.

Quando você assiste a um DVD de um show, por exemplo, o que se percebe é um mero registro da apresentação. Com três pontos de captura (duas laterais e uma central, podendo aumentar para mais um ponto, capturando detalhes), você consegue registrar o que acontece no palco, sem interação nenhuma, como um simples expectador. Pois bem, nesse filme, o diretor coloca o telespectador para dentro da cena, o tempo inteiro, como se esse fosse mais um dançarino de tango, acompanhando os nuances das jogadas e entrelaço de pernas, características de um bom tango dançado.

A história em si é bem fraca e tenta, sem muito sucesso, usar uma linguagem com função metalingüística, ou seja, explicar a arte cinematográfica em seu próprio enredo. Portanto, o grande barato do filme são as sequências coreografadas, prato cheio para quem curte dança, em especial o tango.

E certamente um elemento fundamental durante o processo de filmagem foi a escolha da fotografia (iluminação), assinada por Vittorio Storaro. Num cenário cru, ele preenche, como num verdadeiro palco de teatro, as luzes certas para a encenação dramática da dança.

A trilha sonora é de Lalo Schinfrin, que, apesar de não muito conhecida, percorre diferentes versões do tango, buscando em músicos mais experimentes (e por sinal, bem velhinhos) a raiz dessa cultura.

11 de maio de 2011

Brothers


Marcelo, Marcio e Marinho
O primogênito já nasceu valentão
O do meio saiu cabeção
O caçula com olho puxadinho

Marcelo, Marcio e Marinho
O primeiro era todo certinho
O segundo meio malandrinho
Já o terceiro era vesguinho

Marcelo, Marcio e Marinho
O mais velho sempre foi estudioso
Já o do meio era preguiçoso
E o mais novo só ia para escola no “cóio” do vozinho

Marcelo, Marcio e Marinho
Os três estudaram no Pedrão e no Pedrinho
O segundo roubava o uniforme passado do primeiro
Enquanto os uniformes velhos só sobravam para o terceiro

Marcelo, Marcio e Marinho
Para dormir, só na tricama
A do meio era um verdadeiro ninho, a do primeiro...
Esticadinha, e o terceiro, bagunceiro era sua fama.

Marcelo, Marcio e Marinho
Os três se formaram, mas ninguém virou doutor
O primeiro se tornou engenheiro,
O geógrafo virou professor
E jornalista ficou para o “Mainho”.

Marcelo, Marcio e Marinho
O primeiro ficou velho metido a fortão
O segundo agora é careca e gordão
Já o terceiro é o mais bonitão

Marcelo, Marcio e Marinho
Marcelo parece marrento
Marcio é meio lento
Marinho um pouco mimadinho

Marcelo, Marcio e Marinho
O primeiro é mais racional
O segundo tende ao emocional
O terceiro segue a linha alto astral

Marcelo, Marcio e Marinho
Os dois primeiros Ms foram escolha dos pais
E o terceiro M, não foi de Mariana,
Mas respeitou as mesmas iniciais

Marcelo, Marcio e Marinho
Cada um com seu temperamento
Tem no respeito mútuo o nosso alento
Esses são meus amados irmãos
Que recebem aqui meu poético reconhecimento.

8 de maio de 2011

As mães de Jú

No aniversário de seis anos, depois de três anos de espera, ela finalmente voltou. Estava decidida levar sua pequena Jú, que havia deixado com sua vizinha quando resolveu abandonar seu lar. Ela só não esperava encontrar Jú sorridente, bonita em seu vestido rodado, comemorando com a nova família seus seis anos. A nova mãe já tinha se preopucado em preparar uma humilde festinha para a mais nova integrante da família de três irmãos.
Todos estavam celebrando os seis anos de Jú e os três de convivência. Triste e desolada, Neusa, a mãe biológica, resolveu ir embora porque percebeu que já havia perdido sua filhinha. A culpa lhe fez voltar depois de tanto tempo para tentar resgatar o passado. Achou que iria reencontrar sua filha triste, saudosa, a sua espera, mesmo depois de três longos e penosos anos. Enganou-se. Neusa, inconsolada, deparou com uma família feliz. O que mais lhe impressionou foi ver sua pequena Jú integrada àquela bela família, que a recebeu como a caçula.
Lídia, a nova mãe, sabia que esse momento poderia acontecer mais cedo ou mais tarde. Na época, Neusa pediu um favor para sua vizinha. “Cuide bem de minha filha, por favor. Preciso encontrar um emprego, uma casa... está difícil viver aqui”. Lídia prontamente recebeu Jú com muito carinho, até sua mãe voltar e buscá-la. Só não sabia que levariam três anos para isso.

A cada ano que passou, Lídia via em Jú uma desesperança de uma mãe que lhe abandonou porque não estava preparada para assumi-la, para ser uma mãe de verdade. Não julgou a falta da vizinha, mas era impossível não se envolver com aquela doce menina. Aos poucos, Jú foi esquecendo sua mãe e enxergou em Lídia sua verdadeira. A mãe que cuidava, que lhe dava carinho, lhe educava, lhe dava o mais importante: o amor materno.
Jú sabia que existia uma mãe no passado, mas seu coração já não tinha dúvidas: sua mãe era Lídia. A criação de Jú, não diferente dos demais filhos, foi ríspida, linha dura. Às vezes, Jú se perguntava se a antiga mãe seria tão dura em certos momentos, mas naquela altura, o que importava? Jú cresceu e, como muitos adolescentes, resolveu enfrentar sua família. Chegou a questionar por que era tão “maltratada” pela mãe? “Será por que você foi obrigada a me adotar? Por que não me devolveu para minha verdadeira mãe?”. Lídia sofria com isso, mas nem por isso deixou de amar sua filha rebelde. A escolha foi feita lá no passado, Jú era sua filha como os outros. Os direitos eram iguais. O amor era o mesmo. Mas a culpa por não ter dado chance a filha escolher entre ela e sua verdadeira mãe lhe fez questionar se agora não era hora de Jú conhecer Neusa.

O encontro foi feito. Jú finalmente, depois de quinze anos, reencontrou sua primeira mãe. O encontro foi estranho. Neusa só se culpava pela ausência mas tentou uma reaproximação, mesmo que de forma tímida. Esse e tantos outros encontros só fez Jú valorizar ainda mais o papel de Lídia em sua vida. Ela foi a mãe que realmente esteve ao seu lado, em todos momentos.
Depois de alguns anos, Neusa adoeceu e, na beira da morte, pediu perdão mais uma vez a sua querida Jú. Seria a última vez que Neusa pedia perdão...

Essa história é baseada em fatos reais. Jú perdoou sua mãe biológica. Mas o perdão veio depois da morte de Neusa.

5 de maio de 2011

Atração

Sabemos que cientificamente falando somos repletos de bactérias espalhadas pelo corpo, possíveis focos de doenças transmissíveis, mas nem por isso nos importamos na hora de nos aproximarmos de alguém. O beijo é a troca mais intensa dessas bactérias, mas nós, seres humanos, não fomos “treinados” para repudiar esse tipo de contato físico. Ao contrário, desejamos essa troca, com olhos de prazer, assim como desejamos um gostoso e apetitoso prato de comida.

Não enxergamos falhas, manchas, pêlos, espinhas, ou quaisquer imperfeições minúsculas na pele da pessoa amada. Ao contrário, deparamos com uma pele fina, limpa, delicada, atraente. Somos atraídos pelo imã da carne, da pele ardente, do frisson apaixonado.

Fechamos os olhos para sentir melhor a sensação da língua molhada, enroscada com outra língua delicada, permeando os sabores do beijo, confundindo as salivas e o gosto dos lábios. Daí, acompanham os toques e amassos, verdadeiros apertos e pegadas que torneiam o corpo, simulam entrelaços. Não existem bafos nem cheiro de respiração quente. Há uma entrega despudorada.



O corpo se prepara para isso: nossos sensores são despertados, nossos sentidos são apurados, nossa vontade pelo afago entorpecente nos cega de qualquer impureza. A atração física é imbatível. O cheiro do corpo é outro elemento fascinante, que prontamente transforma o outro em presa fácil.

Dificilmente, paramos para pensar em tudo isso, porque quando o corpo está em estado de êxtase, a mente quase não age, apenas reage aos estímulos. Em momentos posteriores, quando não existe mais o contato físico, as lembranças, ou seja, a memória do corpo ainda pode resgatar certos prazeres. Entretanto, há também o momento de repulsa, quando nos questionamos “como eu pude me envolver assim com essa pessoa”?

Que estranho comportamento esse do nosso corpo, não? Estranho pensar que somos capazes de nos apaixonar loucamente ou nos enojar pela mesma pessoa, em questão de tempo. De perto, ninguém é perfeito, mas buscamos a perfeição inconscientemente. Enquanto os olhos da paixão nos cegam, percebemos tamanha perfeição. Quando apuramos nosso olhar, tais imperfeições aparecem de modo assustador. O tempo tem sua parcela de culpa nessa nossa descoberta. Não só pelo fato de enxergamos melhor o outro, sem os tais olhos da paixão, mas porque nossas feições mudam conforme o passar do tempo, nos castigando com a velhice. As rugas e imperfeições são inconfundíveis aos olhos nus.

Os desejos podem até continuar, porém com bem menos intensidade. A atração física já não é tão impulsiva como antes e o corpo não responde aos mesmos caprichos de ontem. Nem por isso o carinho acaba. Ao contrário, talvez passamos a perceber que os olhos da alma se tornam muito mais aguçados, enxergando o outro muito além da simples pele enrugada e do corpo cansado. São outros prazeres, são outras sensações. Tudo isso gera outra explicação...