O termo frenemy (friend
+ enemy) em inglês remete à idéia “amigo e inimigo”, ou melhor, aquele que pode
ser considerado um amigo, com defeitos de inimigos (competitivo, invejoso,
pessimista etc). Daí, eu pergunto: estamos rodeados de frenemies?
Uma coisa devemos afirmar: amizade entre mulheres é bem
diferente de amizade entre homens, que por sua vez é bem diferente de amizade
entre ambos os sexos. Mulheres, por natureza, são competitivas entre elas.
Disputam quem é mais bela, mais bem resolvida, mais bem sucedida e por aí vai.
Já amizade entre homens é mais sincera e ao mesmo tempo radical, pois quando um
sacaneia o outro, ou se resolve na “porrada” ou se afastam e ponto. Na amizade
entre homem e mulher, quando não há terceiras intenções, pode parecer a amizade
mais verdadeira, porque não há competições diretamente, não há tempo para
conversas fúteis (comum entre mulheres), e respeita-se o limite do próximo
(pelo menos não há agressões verbais/físicas e nem “brincadeiras de mau gosto”,
esse mais comum entre homens) – desculpe generalizar assim, mas é o que penso
em linhas gerais (sei que há exceções em todas essas relações de amizade).
A questão é que amizade ao mesmo tempo que é saudável e
prazerosa, pode ser também traiçoeira e perigosa. Uma decepção da pessoa amada
pode doer, mas não é tão impactante quanto uma decepção de um amigo, porque
partimos do pressuposto que confiamos muito mais em uma relação de amizade que
em uma relação amorosa, concorda?
Amizade para mim é algo sagrado, precioso, mas não perfeito.
Partindo do princípio que para considerar uma pessoa amiga, você deve confiar
nessa pessoa e conhecer aos poucos seus princípios, seus valores e condutas.
Estou falando de amizade verdadeira e duradoura – ou seja, não é coleguismo
e/ou pessoas “legais” de nosso convívio.
É claro que há níveis de amizade, intimidade e confiança. Há
os amigos da bagunça, dos momentos “leves” da vida. Há os amigos confidentes e
parceiros, em que há uma confiança mútua, um respeito e admiração pelo próximo.
Há os amigos-irmãos, que nem sempre estão presentes full time em nossas vidas,
mas você sabe que quando precisa de “um ombro amigo”, ele estará lá, e
vice-versa; são aqueles que Deus não escolheu para serem irmãos de sangue, mas
colocou em nosso caminho não à toa. Há os amigos que não precisam de
explicação: são amigos e prontos; mesmo quando não compartilham das mesmas
idéias, são muito diferentes de nós, mas mesmo assim cultivamos uma boa
amizade.
Mas, sinceramente, não consigo classificar os tais
“frenemies” como amigos, porque esses, se não são confiáveis, não torcem por nós
e competem em vários aspectos, não podem ser considerados amigos de verdade,
certo? Defeitos, todos os amigos têm, mas há os defeitos aceitáveis e os
não-aceitáveis. E para mim, as características do frenemy são inaceitáveis.
“Amigo que é amigo é sincero, e fala na cara quando não gosta de alguma coisa”.
Ok, posso concordar em parte, mas sinceridade não é sinônimo de ofensa. E há os
que pensam que podem falar o que quiser e da maneira que bem entender, sem
pensar nas conseqüências. “Frenemy pode nos causar uma sensação de desconforto
que geralmente não é consciente”, afirmou a pedagoga Patrícia Morgado, em
matéria no jornal O Globo. Ela também completa dizendo que em toda amizade há
os momentos frenemy. De toda forma, amizade que gera “desconforto” e “ameaça”
definitivamente não é saudável e, portanto, dispensável.
Pelo título acima, já desconfia de quem se trata, certo? Pois esse livro, apesar de não receber declaradamente o nome do poeta e músico Cazuza, é uma “autobiografia” de sua vida após a morte terrena. Assim como no livro Nosso Lar, em que o médico André Luiz narra sua própria experiência no mundo espiritual, após seu desenlace; este romance “Faz parte do meu show” também é um retrato com detalhes emocionantes da experiência de Cazuza no novo mundo.
O processo de auto-conhecimento, suas dúvidas sobre o “despertar” para vida imortal e a descoberta desse novo mundo estão contadas da forma mais natural, espontânea e irreverente, bem peculiar do poeta exagerado que fora. Talvez seja esse estilo na escrita que “denuncie” o autor do livro, mostrando que ninguém muda seu jeito de ser mesmo depois da morte. Aliás, há sim uma mudança significativa no que diz respeito aos novos princípios e valores de um ser que viveu intensamente sua vida terrena, não poupando sua saúde.
O artista debochado, rebelde, envolvido com mundo de sexo, drogas e muito rock´n´roll dá lugar a um espírito consciente, longe de ser perfeito, mas a procura de sua evolução espiritual, capaz de reconhecer seus erros terrenos e, o mais importante, tentar corrigi-los procurando praticar a caridade e buscando no trabalho o seu caminho para o tal crescimento pessoal. Artista, ele não deixa de ser, tanto que se envolve com espíritos afins, tão famosos quanto ele, para promover shows de arte e música com objetivo de despertar espíritos situados em regiões de sofrimento no mundo astral.
Uma das passagens mais interessantes do livro é quando ele reconhece o velho guerreiro, Chacrinha, como um grande comunicador e provedor desses shows. É Chacrinha quem convida Cazuza a voltar a trabalhar com música, seu maior talento como artista. Ele passa então a escrever letras, tão bem feitas como as que conhecemos, entretanto, com outro tipo de mensagens, certamente mais impactantes e significantes para os que lá habitam. Para nós, leitores, o fascinante é perceber que a vida lá continua para eles, de certa forma, com os mesmos prazeres saudáveis que cultivamos por aqui. Ao mesmo tempo, música e arte ganham função evangelizadora, servindo de instrumentos do bem-fazer, capaz de atrair e despertar os espíritos ainda sofredores ou ignorantes para conhecimento, a verdade e a luz.
Depois de passar por um momento obscuro, de sofrimento e angústia, o personagem recebe ajuda e reconhece sua fragilidade. O mais bacana é perceber que parte dessa ajuda veio justamente de pessoas que conviveram com ele na Terra, como os amigos mais próximos e a sua mãe, que juntos resolveram criar uma importante obra de caridade conhecida como a Sociedade Viva Cazuza. Indiretamente, o próprio recebeu fluidos positivos que só aceleraram seu processo de recuperação, deixando o período no umbral e passando para o tratamento de socorro em hospitais espirituais. Já consciente de tudo que passou, Cazuza recebe autorização para voltar a Terra, em espírito, para rever parte de seus entes queridos, seus lugares prediletos (como a praia do Arpoador), como também lugares não tão agradáveis que serviram de cenário dos momentos de vícios e exageros da carne, durante sua encarnação. Foi nesse momento, que ele pôde perceber o quanto suas ações terrenas geraram conseqüências degradantes, sofrimentos e doenças que não só atingiram seu corpo, mas principalmente seu perispírito e espírito.
Diferente de Nosso Lar, a leitura desse romance, escrito por Robson Pinheiro e psicografado pelo espírito Ângelo Inácio (que serviu de "intermediário" para esta obra), é bem mais simplificada, mas nem por isso deixa de ser intenso e rico. Ao contrário, para aqueles que não têm leitura de obras espíritas (ou seja, não costuma ler romances já consagrados e clássicos da doutrina), esse é um livro muito bom para começar a entender o “outro lado da vida”. Vale muito a pena ler! E quem sabe no futuro próximo não venha despertar o interesse de algum cineasta para transformá-lo em um longa?
Para finalizar, vale citar as palavras do espírito Ângelo Inácio: "O autor das palavras preferiu não se identificar diretamente; todavia em seus apontamentos, fica a sua marca. Quanto a mim, fui convidado tão-somente a auxliar o intérprete destas experiências com meu jeito escritor e repórter dos dois lados da vida. Sei que este trabalho causará polêmicas, discussões e rebeldia. Afinal, de uma forma ou de outra, todos somos rebeldes, exagerados... aprendizes. Talvez, mesmo, apenas simples aprendizes do grande artista cósmico: Deus. E, como principiantes, ao compor a música de nossas experiências, erramos, gritamos, ou choramos. Exageramos nas atitudes e nos punimos ao realizar o próprio julgamento, no tribunal de nossas consciências. Até o momento em que descobrimos que, com nossa arte, por mais singela, é possível participar da orquestra divina, do show da vida".
Aproveitando o período de comemoração de 60 anos da TV
brasileira, que teve sua primeira transmissão em 18 de setembro de 1950 em São Paulo, graças ao
empreendedor e inescrupuloso Assis Chateaubriand (dono dos Diários Associados),
e pegando uma carona no Blog da Patrícia Kogut (patríciakogut.com) que
selecionou alguns marcos da TV brasileira, faço um rascunho retrospectivo do que mais me marcou na nossa televisão,
dos 60 anos de vida, os últimos 28 anos dos quais eu faço parte nessa vida!
Quem estuda ou fez faculdade de Comunicação, sabe que a TV é
um dos mais importantes veículos de massa capaz de reunir telespectadores de
todas as classes e idades. Querendo ou não, ela ainda é a mídia mais acessada
(talvez perdendo apenas para o rádio) no país, e mesmo com uma programação
aquém de sua verdadeira utilidade, ela garante acesso à cultura de massa,
informação e entretenimento da forma mais barata.
Tanto para quem assiste, quanto para quem trabalha, TV é uma
cachaça que vicia. Todo mundo fala mal – principalmente os que trabalham nos
bastidores – mas ninguém deixou de assistir, mesmo que por muito pouco tempo.
Então, vamos lá:
Quando criança e início da adolescência, os programas
imperdíveis: Chaves, Xou da Xuxa (ok, ok, sou da geração Xuxa sim, e daí? E
ainda tinham os genéricos: Mara Maravilha, Angélica (que particularmente não
gostava) e o hilário Serginho Malandro com sua “porta dos desesperados”),
Palhaço Bozo, Os trapalhões, os inúmeros desenhos animados (impossível
mencionar todos), TV Pirata, Armação Ilimitada, Escolinha do Professor
Raimundo, Silvio Santos (show de Calouros) e Cassino do Chacrinha, Globo de
Ouro, Vídeo Show (na época que valia a pena assistir!), Malhação (bem no
início, em 1995).
Algumas novelas: “Cambalacho”, “Brega e Chique”, “Bambolê”,
“Sassaricando”, “Vale Tudo”, “Que Rei Sou Eu?”, “Top Model”, “Tieta, “Rainha da
Sucata”, “O Dono do Mundo”, “Vamp”, “Felicidade”, “Despedida de Solteiros”,
“Deus nos Acuda”, “Mulheres de Areia”, “Sonho Meu”, “A Viagem”, “Tropicaliente”,
“Quatro por quatro”, “História de Amor”, “Por Amor”, “Anjo Mau”, “Força de um
Desejo”, “Laços de Família”, “Um anjo caiu do céu”, “Mulheres Apaixonadas”,
“Celebridade”, “Cobras e Lagartos”, “O Profeta”, “Páginas da Vida”, “A
Favorita”; Xica da Silva” (Manchete), “Carrossel” (SBT), “Éramos Seis” (SBT). Minisséries:
“Anos Dourados”,“Anos Rebeldes”, “Agosto”, “Sex Appeal”, “Engraçadinha... Seus
amores e seus pecados”, “Hilda Furacão”, “Labirinto”, “Chiquinha Gonzaga”,
“Presença de Anita”, “JK”.
Outros programas: “A Grande Família”, “A vida como ela é”,
série “Mulher”, Sem Censura, Roda Viva, Conexão Roberto D´Ávila, antigo “Programa
Legal” do SBT, Caldeirão do Huck, antigo “H”, Pânico na TV, CQC, BBB (os primeiros,
quando ainda era novidade), “Fama” e Ídolos (meu lado brega, assumo,rs!), Profissão
Repórter, Bom dia Brasil, Observatório da Imprensa (às vezes!), e os de sempre
– Jornal da Band, Jornal Nacional, Jornal da Globo...
Quando estava na faculdade, um professor muito reconhecido
(e um dos poucos que realmente valiam a pena assistir aula) criou uma matéria
eletiva chamada “Propaganda política na TV”. Pelo título, e pelo horário da
aula – às sextas-feiras e à noite -, o coitado do professor achou que não iria
ter quórum algum. Ledo engano. Suas aulas eram sempre lotadas e geralmente
terminava às 22h. E sabe por quê? Porque brilhantemente ele
ensinava o fantástico mundo da propaganda política do estilo “como tornar um Zé
Ninguém em um político apresentável” e, portanto, um candidato com chances de
ser eleito. Isso porque, todos nós
sabemos o que mais tem por aí é figurinha bizarra, sem menor preparo
para se expressar, muito menos confiável e digno de ser eleito.
Imagem é tudo, e político que é político sabe disso – tanto que
basta comparar a imagem do nosso digníssimo presidente nos anos 80 com sua
atual (a mudança veio mesmo na campanha eleitoral de 2002). Ele teve que mudar e muito para ser aceito pelo público, principalmente
das classes A e B. E campanha política é uma mina de ouro para o profissional
da área, porque não falta é dinheiro (pelo menos os políticos ricos, não os de
fundo de quintal). Mal comparando, é como se você fosse contratado por um novo-rico
que resolve dar uma repaginada em sua vida, em sua casa, para ser “aceito” pela
alta sociedade.
Tirando os principais partidos e os políticos mais
preparados, é inevitável encontrar candidatos bizarros e sem noção no horário
político. A seleção de bizarrices feita pelo globo.online é fantástica!Veja aqui!
Eu sempre gostei de fotografia e depois com a facilidade da
máquina digital passei a ter a câmera quase como um amigo inseparável para os
“melhores momentos da vida”. Por outro lado, a facilidade de você tirar zilhões
de fotos de um evento, de um passeio, aniversário etc faz também com que os
arquivos se multipliquem em sua memória do computador, mas quase nunca você tem
tempo e vontade de mandar imprimir. Resultado: depois da máquina digital,
conta-se nos dedos as vezes que tive o trabalho de mandar imprimir fotos e
arrumar em álbuns.
Na época do analógico, ficávamos ansiosos em querer revelar
as fotos depois de uma viagem, e separávamos até uma graninha só para pagar
aquela revelação de 5, 6 rolos de filme de 36 fotos. Ficávamos tristes quando
uma foto não saia boa, quando o flash não pegava legal, ou a foto saia fora de
foco etc.
Hoje, graças à bendita tecnologia, conseguimos ajustar a
máquina para melhor luz, melhor foco, e conferindo o resultado logo depois do
clique. E mesmo quando a foto não saiu tão boa, conseguimos depois
“photoshopar”, e tentar melhorar um pouco mais. Eu estou longe de ser um
especialista em photoshop, mas como bom curioso que sou, sei fazer o básico
(pelo menos para mim).
E nessa onda de tecnologia, aprendi recentemente uma
novidade (nem tão novidade assim para muitos) que é fazer o fotolivro e mandar
imprimir. Finalmente é possível agora você não só escolher as melhores fotos,
editá-las, como diagramá-las em um álbum personalizado.
Desde quando voltei da minha última viagem, coloquei na
cabeça que iria selecionar algumas fotos para imprimir. Daí, eu me lembrei
dessa ferramenta disponível na internet para montar seu próprio fotolivro, com
capa dura etc, e resolvi tentar montar o meu. Para quem já conhece essa
ferramenta, sabe que existem vários sites que oferecem esse produto, com seus
respectivos programas de edição/diagramação. Uns são limitados, outros são mais
complexos, e outros são livres, básicos e fáceis de manipular.
Eu escolhi montar meu álbum através do programa chamado
D-Book, que está disponível para Download. Nele, é possível escolher a
ferramenta online, montando no próprio site, mas daí a ferramenta é limitada,
mostrando layouts já prontos, ou como eu fiz, baixar no computador e fazer tudo
do seu jeito. Ou seja, a partir da folha em branco, você escolhe as cores do
seu álbum, o formato (quadrado, retângulo – paisagem -, capa dura, tipo revista
etc), o número de fotos em cada página, o tamanho e a disposição de cada foto
etc. Para quem curte fotografia, é uma terapia mexer nisso. Há zilhões de
opções para diagramar, o que faz do seu fotolivro um produto único e com a sua
cara (e seu gosto também!).
Depois que você conclui a diagramação, você envia o arquivo
(arquivo Master) para o site e conclui a compra no site. No meu caso, eu
escolhi o livro de capa dura, paisagem, do tamanho G (A4), que vinha com um
pacote no valor X para 20 páginas. A partir da 21ª página, eu paguei R$2,50 (no
formato que escolhi) por cada página adicional.
O interessante é que você fica livre para destacar a foto
que você mais gostou, colocar o número de fotos que você quiser e ainda
imprimir um produto de qualidade (com boa impressão). Assim, dá vontade de você
voltar imprimir suas fotos, de forma “quase” profissional, por um preço justo e
do tamanho que você desejar. Antes, você escolhia um número de fotos, o tamanho
(em geral 10x15) e arrumava em um álbum pronto, sem muitas opções.
A proposta de fazer uma refilmagem veio de um dos cinco
cineastas que participaram do original “Cinco Vezes Favelas”, documentário de
1961 que marcou a criação do chamado Cinema Novo. Cacá Diegues apostou na
renovação da linguagem e no “olhar de dentro” dos jovens cineastas moradores
das comunidades do Rio.
Enquanto no primeiro filme, eram jovens de classe média que
subiam os morros para documentar a vida das pessoas que moravam nas favelas
cariocas; desta vez as histórias realistas são contadas pelo ponto de vista de
seus moradores. O resultado é um filme de ficção fascinante, com ótimas
histórias, mesclando leveza, comédia e conquistas com medos, violências e
tragédias dos dois mundos que existem dentro das comunidades.
O primeiro episódio “Fonte de Renda” aborda uma realidade de
muitos jovens que buscam uma formação acadêmica de qualidade, mas com a grana
curta até para pegar o ônibus e pagar o volume de Xerox de qualquer faculdade,
têm que dar um jeito, mesmo que esta solução não seja da mais digna. Já na
comédia inocente “Arroz com Feijão”, dois garotos se vêem na tarefa quase
impossível de comprar um frango para surpreender (e matar a fome) do pai de um
dos meninos.
O mais, digamos,
pesado, no estilo “Cidade de Deus” fica por conta do terceiro episódio
“Concerto de violino”, particularmente, o melhor dirigido dos cinco episódios.
Esse, inevitavelmente, envolve disputa de tráfico, corrupção policial e
violência, mas não deixa de ter uma história bem contada.
“Deixa voar” e “Acende a Luz” são os dois últimos
episódios e mostram histórias divertidas de pessoas comuns, com direito a funk
como trilha sonora, sol na laje, disputa de pipa, jargões peculiares e mulheres
dourando pelo!
Sempre quando vejo alguma peça interessante, um show bacana ou um filme que tem algo pra dizer, venho aqui rascunhar um comentário, geralmente positivo.
Desta vez, venho escrever dois comentários diferentes: um positivo e outro negativo.
Essa semana assisti à estreia do Grupo Corpo com apresentação espetacular, no Theatro Municipal do Rio, de "Ímã" + "Lecuona". No ano em que comemora 35 anos de companhia, o Grupo Corpo mostra em sua turnê 2010 o espetáculo inédito para os cariocas - Ímã (2009) - já que ano passado a turnê não passou pelo Rio; e a reapresentação de Lecuona de 2004. Vamos lá: o primeiro é o clássico balé contemporâneo: impressiona de início, mas depois cansa com seus movimentos repetitivos. A sincronia dos corpos em movimentos colados é perfeita e a coreografia é uma boa mistura de ritmos, acrobacias e, claro, dança propriamente dito.
Mas o grande momento mesmo é o segundo ato com a reapresentação de Lecuona - para muitos, o melhor trabalho da Companhia nos últimos anos, tanto que foi escolhido pelo público para fazer parte da turnê de comemoração de 35 anos. Com trilha de Ernesto Lecuona, as músicas carregadas de romantismo dramático, típico do sangue latino, transformam a dança a dois em uma entrega sensacional de corpos, banhados de muita sensualidade, paixão, ciúmes e outros sentimentos passionais. São boleros tangados, e outros ritmos latinos, muito bem coreografados, lembrando casais de dança de salão, com direito a vestido curto esvoaçante para as damas e sapatos de verniz para os cavalheiros.
Já o segundo comentário é sobre o musical Orfeu, do salve-salve poeta Vinícius de Moraes, com trilha de outro salve-salve maestro Tom Jobim, e direção do respeitável Aderbal Freire-Filho. Até aí, você deverá pensar: são três nomes de peso, portanto, não tem erro, é sucesso garantido. Grande engano!
O musical impressionou na época que foi escrito e lançado em 1956, quando, pela primeira vez, um elenco formado só por atores negros encenou uma peça no pomposo Theatro Municipal do Rio. Desta vez, a peça deixa a desejar (e muito!) com um elenco fraco e despreparado. Com músicas tão belas, dentre elas "Se todos fossem iguais a você", "Esse Seu Olhar", e "Chega de Saudade", os atores são mais dançarinos que cantores (lembrando que se trata de um musical!!!), sem apresentar afinação suficiente para encantar o público, com duas exceções (apenas duas boas atrizes-cantoras em todo elenco). Longo, cansativo, confuso e forçado é o que o musical se resume, infelizmente. Só destaco a apresentação da banda que acompanha ao vivo o musical, com direção dos respeitáveis diretores musicais Jaques Morelenbaum e Jaime Alem. Achei as canções perdidas e, portanto, fora do contexto; a coreografia de Carlinhos de Jesus completamente batida com seu jeito malandro de ser bastante conhecido e uma atualização desnecessária da peça, com direito a traficantes e baile funk.
Para quem acompanha o blog desde o ano passado, sabe que a expectativa era grande. Afinal, testemunhei o início das filmagens, quando o longa nem era assunto na internet. Na época, publiquei um post divulgando uma foto que fiz de um dos cenários, e de longe foi o post mais acessado e mais comentado até hoje.
Finalmente no último dia 3, o filme Nosso Lar estreou nos cinemas, e eu consegui assistir logo no sábado. A primeira impressão foi que o filme resumiu bem o livro, deixando de lado alguns detalhes e passagens interessantes. Mas como sabemos que nenhum filme consegue ser 100% fiel ao livro de origem, acho que o resultado foi excelente. Não houve preocupação com a ordem cronológica do livro em alguns detalhes, quando, por exemplo, André Luiz (o protagonista) conhece D. Laura, mãe de Lísias e também seu novo lar na colônia. Mas são detalhes que não comprometem o conteúdo.
A grande produção teve preocupação com os efeitos visuais, um cenário futurístico, como o livro propõe, uma trilha sonora maravilhosa, mas nada disso teria sentido se a mensagem não fosse transmitida da melhor maneira. Apesar de ter uma narrativa um pouco lenta (e para alguns parecer arrastado), o filme emociona em diversas passagens. O olhar curioso do protagonista às novidades de um novo mundo é o que torna o filme esclarecedor e de certa forma didático para o espectador. Afinal, trata-se uma colônia espiritual, e para quem não enxerga o filme como ficção científica, acredita que tudo ali seja real.
Vale lembrar que o livro foi lançado em 1944, quando nem se pensava em computadores, e outras tecnologias comuns hoje. Se nos dias atuais, as imagens de uma cidade futurística impressionam, imagina na época quando foi lançado? A história de André Luiz se passa em meados da segunda guerra mundial, quando muitos espíritos chegaram em massa à colônia por conta da guerra. São muitas histórias dentro de uma mesma história. Infelizmente, o filme não contempla todas elas, por isso vale a pena ler o livro, independente de ter assistido ao filme.
Particularmente, a cena que mais me emocionou foi quando André Luiz consegue visitar sua família em sua antiga casa e rever sua esposa e seus filhos já crescidos. Aos que partem para o outro lado, a saudade é a mesma de quem fica e por isso a vontade de reencontrar os familiares encarnados é enorme. André precisou passar um tempo em recuperação após seu desencarne, até mesmo para se preparar para esse reencontro. E quando chegou o momento, ele estava sereno e feliz. Inevitável não chorar quando vi sua filha ao piano tocando a música predileta de André, e ele ao lado, admirando sua filha. É como se eu me visse naquela cena, tocando piano para meu querido avô – meu maior incentivador e admirador. Acredito que ele também esteja escutando minhas melodias por lá, matando a nossa saudade.
No final do filme, notei pessoas bastante emocionadas com que viram. A mensagem do filme é linda e nos convida à reflexão sobre nossos atos, nossas condutas e nossos pensamentos. Para aqueles que pensam que a morte é o fim de tudo, ou pelo menos uma passagem para o paraíso, talvez se enganem ao ver que há muitas moradas do outro lado, dependendo do nosso grau de evolução, assim como há muito trabalho pela frente, independente de nossa formação profissional e nosso status social terreno.
Não só recomendo assistir esse belo filme, como recomendo ler o livro. Tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir, pois isso não é tão óbvio como se parece
Há tempos tinha vontade de rever a minissérie Chiquinha
Gonzaga que foi exibida na TV em 1999. Na época, eu tinha 17 anos e, apesar de
gostar muito das músicas, estudar piano e conhecer um pouco da trajetória dela,
eu não tinha “olhos críticos” como tenho hoje. Resolvi pegar a série completa e
assisti recentemente. Confesso que fiquei um pouco decepcionado porque a obra
segue o estilo Jayme Monjardim (diretor
do seriado): arrastado, melancólico, clichê e brega em alguns momentos. Mas
valeu pela história fantástica dessa mulher.
Ao começar pela escolha das atrizes, Gabriela Duarte e
Regina Duarte, que pecam na interpretação excessivamente sentimental e
melancólica (a voz da Gabriela é irritante!), e o fundo musical que é o mesmo
do início ao fim do seriado (um arranjo péssimo que “assassinou” a melodia de
Chiquinha). Para se ter uma idéia do que estou falando, há uma cena da
Chiquinha jovem que enquanto é estuprada pelo marido, solta uns gritinhos sem
graça e sem emoção nenhuma, com uma ópera de fundo. Sinceramente, o bom gosto
passou longe. Se analisar, esse estilo está em toda obra do Jayme,
principalmente no filme Olga e na recente minissérie Maysa – nesta então a
atriz passou o seriado todo com aquela cara de “meu mundo caiu”.
Voltando para o que de fato interessa comentar, a história
de Chiquinha Gonzaga impressiona até as feministas do século XXI. Em uma época
que casamento era arranjado pelo pai e era considerado sagrado, Chiquinha não
só se separou, como foi viver com seu grande amor, João Batista de Carvalho, deixando
para trás dois filhos. Isso lhe custou o rompimento de seu pai (militar
absurdamente severo) e de sua mãe (totalmente submissa). Como o segundo marido
não fugia à regra da época (e tinha várias amantes), não se submeteu à vida de
dona de casa submissa e o abandonou, deixando mais uma filha. O único filho que
o acompanhava era o mais velho, por quem Chiquinha tinha um carinho especial.
Trabalhou com música – sua verdadeira paixão – até sua morte
aos 85 anos e não se incomodava com os preconceitos da época. Lutou contra a
escravidão (chegava a vender suas partituras para comprar alforria de
escravos), lutou pelo fim da monarquia, chegando a ser presa, e criou, ao lado
do músico Joaquim Callado, uma das expressões musicais brasileiras mais
importantes (e mais difíceis também!): choro brasileiro.
Escandalizava a sociedade com suas músicas, seu estilo
livre, seus pensamentos e atitudes e, principalmente, com seus casos amorosos.
Pioneirismo pode ser a palavra que resume sua personalidade. Foi a primeira
mulher a se apresentar em público como musicista, a primeira mulher a assinar
um musical, a primeira a reger (ou seja, a primeira maestrina) uma orquestra e,
consequentemente, a primeira a ser conhecida e reconhecida, com todos os
preconceitos peculiares da época. Nasceu em 1847, casou-se aos 16 anos em 1863,
e morreu aos 85 anos em 1935. Vivenciou abolição, a Proclamação da República e a
primeira grande guerra mundial.
Quando estudava piano, aprendi a tocar Lua Nova, uma de suas músicas mais conhecidas e mais bonitas
também. Para quem gosta de música popular brasileira, principalmente chorinhos,
polcas, valsas, conhecer a história dela é conhecer a história da MPB.