15 de julho de 2010

Relógio biológico atrasou

Despertei normalmente
Levantei-me rotineiramente
Banhei-me matinalmente

Aprontei-me apressadamente
Desci escadas rapidamente
Para o ponto fui corriqueiramente

Esperei o ônibus pontualmente...
Mas ele não veio estranhamente

Despertei imediatamente
Levantei o olhar prontamente
O relógio da rua marcava corretamente

8:04!

Atrasei-me logicamente
Levantei tardiamente, pois
Despertei uma hora posteriormente

14 de julho de 2010

Pré-estreia do filme O Bem Amado


Mais atual impossível. É assim que defino o filme de Guel Arraes “O Bem Amado”, com o talentosíssimo Marco Nanini no papel do famoso e pitoresco personagem Odorico Paraguaçú. O texto clássico escrito por Dias Gomes em 1962 recebeu uma ótima adaptação para o cinema, com direito a corte e colagem de momentos da história do Brasil. O contexto é o período nebuloso da história política do país, desde a renúncia de Jânio Quadros, a posse de Jango até o golpe de 64. Análogo a isso, Odorico Paraguaçu assume a prefeitura da pacata cidade de Sucupira, cidade fictícia do litoral baiano.

O grande barato da trama é a relação do político com a cidade, suas artimanhas, trapaças e pretextos estapafúrdios, como a inauguração do cemitério local. Apesar da história e do protagonista já serem bastante conhecidos pelo público, vale a pena assistir ao filme, que tem tiradas inteligentes tanto do político malandro quanto do jornalista Neco Pedreira, dono do jornaleco A Trombeta, que não se cansa de atacar o prefeito. “Política e moral não se combinam” é uma das pérolas ditas no longa. No filme, alguns personagens ficam de fora, como a delegada Donana Medrado e o dentista Lulu Gouveia, inimigo mortal do prefeito.

Mas não podiam faltar as irmãs cajazeiras personificadas nas excelentes interpretações de Zezé Polessa, Andrea Beltrão e Drica Moraes, além do temido Zeca Diabo, vivido por José Wilker, e o secretário Dirceu Borboleta, interpretado por Matheus Nachtergaele.

Nada mais propício lançar esse filme em ano de eleição no país. Quem sabe o povão, mesmo assistindo a uma comédia, consegue perceber que “qualquer semelhança não é mera coincidência”, em relação aos nossos políticos.

A única ressalva minha é que achei o filme longo demais. A história podia ser contada em uma hora e meia de filme. Mesmo assim, mais uma vez, vale uma sessão pipoca – para quem curte cinema nacional, é claro!

13 de julho de 2010

Fala sério

O que faz um publicitário supostamente sério elaborar uma propaganda sobre um curso de Comunicação, usando termos que deduzem vocabulário chulo. Na propaganda de rádio, eles colocam um suposto gago (mal feito por sinal) que solta frases do tipo: “Conheça o curso de co-comunicação. Vá a melhor faculdade logo. Se você fizer outro, depois você vai ficar ‘pu-pu-puxa vida por que não fiz antes’? A Facha é Fo-fo-forte mesmo”.

Há aqueles que acham engraçado e levam numa boa, mas francamente, se você procura uma faculdade conceituada e respeitada para cursar, vai conseguir levar a sério uma faculdade dessa? Só se você quiser mesmo cursar cocô-municação e ser um profissional de merda #prontofalei (como se diz no twitter).

Aproveitando o assunto...

O tradicional Jornal do Brasil, que já estava na UTI há alguns anos, decretou morte cerebral, para infelicidade de muitos saudosistas e fãs do impresso. Acontece que ele deixará de circular porque simplesmente não haverá mais jornal impresso. Agora só na internet. Em tempos de faculdade, levantava-se a velha discussão “os jornais de papel irão acabar ou não com advento da tecnologia?”. Muitos diziam que não, porque se fosse assim, o rádio acabaria com ele primeiro, que por sua vez seria exterminado com a chegada da TV, e esta também não sobreviveria com a chegada da Internet. Nem 8, nem 80. Hoje sabemos que um veículo completa o outro, em muitos casos, mas também sabemos que as novas gerações (e eu me incluo em certas situações) não sabem mais o que é folhear revistas e jornais impressos. Está tudo online.

Ok, no caso do JB, especificamente, houve uma série de equívocos: compras e vendas mal sucedidas, direção desalinhada, uma tentativa frustrada de renovação na linha editorial, uma nova cara para o velho jornal no formato tablóide etc. No final, a circulação caiu, e a venda e assinatura do jornal não suportaram a dívida acumulada de R$100 milhões, com uma íntima tiragem de 17 mil diariamente (chegando a 22 mil aos domingos). O pior de tudo isso é o número crescente de jornalistas desempregados e mal remunerados no mercado.

Leia matéria sobre JB.

12 de julho de 2010

Cheiro de infância em Paquetá.

Quem já fez um piquenique na Ilha de Paquetá? Aquela praia de Baía, com água tranqüila, com salubridade duvidosa, mas certamente mais segura para criançada, era a garantia de uma programação divertida e barata para toda família, com direito a passeio de bicicleta dupla até tripla. Mas depois de um tempo caiu em esquecimento, nunca mais se ouviu falar em Paquetá. 


Pois bem, em um domingo ensolarado desse, tive um revive da velha infância com um passeio de escuna até a Ilha e depois um almoço no Iate Clube de Paquetá. De certa forma, é estranho voltar depois de tantos anos em um lugar que parecia mágico quando era criança, onde se podia andar solto, sem preocupação com violência, assalto etc. O lugar parece o mesmo, com a mesma calmaria, os mesmos cavalos, as mesmas bicicletas...

Porém, com os olhos de adulto, aquela beleza talvez não seja a mesma. Não que a Ilha esteja feia, mal tratada, nada disso. Mas a calmaria é tão intensa que cai no marasmo completo. Ok, para quem busca tranqüilidade plena e inabalável, realmente lá é o lugar. Mas passado um dia, o que mais encontrar na pacata ilha da Baía de Guanabara? Nada.


Confesso que hoje, ao contrário de ontem, não me apetece tomar banho em um... “mar de lodo”. Inevitável não imaginar que você está entrando na Baía de Guanabara. Desculpe os saudosistas, mas para mim, é o mesmo que entrar em uma das praias da Ilha do Governador, Sepetiba, Ramos e redondeza.


Mas não vamos reduzir o passeio à Paquetá a um “programa de índio”. Ainda vale a paisagem bucólica, um passeio despretensioso, um domingo de sol e de paz. É como se voltássemos a viver em 1844, época do romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, passado em Paquetá. Sem querer, tirei a foto da casa que serviu de cenário (a própria casa da protagonista) para a novela A Moreninha da Rede Globo, em 1975, bem conservada por sinal.


11 de julho de 2010

Fobia = medo intenso, ou irracional, medo mórbido, aversão instintiva.

Por conta de uma dor na região lombar, procurei o médico que por sua vez me indicou o exame ressonância magnética. Até aí, tudo bem. Eu já fiz esse exame quando mais novo, mas como o foco era outro (cabeça), o aparelho só tinha uma espécie de arco que passava pela região do corpo e pronto. Para quem já fez esse exame, sabe que se trata de um aparelho em que o indivíduo adentra em um tubo – esse sendo totalmente fechado ou não. Aí que está o detalhe.

Quando marquei o exame, não me lembrei deste detalhe importante e não fiz nenhuma objeção. Fui ao local sozinho e na hora marcada entrei na sala de exame. Na ante-sala, enquanto aguardava o término do exame anterior, a responsável pelo atendimento (acho que a técnica, não sei dizer) me fez algumas perguntas, mas em NENHUM MOMENTO me perguntou se eu tinha fobia por lugares fechados. Quando terminou o exame anterior, a paciente era uma idosa bem fragilizada, que deveria ter uns 90 e poucos anos, e precisou da ajuda da filha e da enfermeira para sair da sala. Daí, ouvi um: “parabéns, a senhora se comportou muito bem!”, e a filha completou “ela está merecendo até um sorvete, não é?”. Achei a cena bonitinha, por se tratar de uma senhora bem debilitada, mas confesso que não entendi tantos elogios.

Na minha vez, a mesma moça me entregou um tapa ouvidos (?), me direcionou para deitar corretamente no leito e ainda completou: “você não irá poder se mexer de maneira alguma, tudo bem?”, inocente eu respondi: “tudo bem”. Como estava começando a ficar gripado, o espirro era inevitável, então ela completou: “e sem espirrar”. Foi então, que ela resolveu me dar um cobertor, já que o ar-condicionado da sala estava um pouco forte. Para completar, ela me entrega uma espécie de bombinha e diz: “qualquer emergência, você aperta isso que vai acionar o alarme para gente; mas isso só em último caso!”. Mais uma vez, eu inocente pergunto: “que tipo de emergência?”. “Ora, se você sentir fobia, ou alguma dor, ou mesmo se espirrar. O exame leva 30 minutos”.

“Fobia? Dor? Não se mexer? Só apertar o botão no último caso? Tapa ouvidos?”, que diabos era aquilo que eu estava entrando? Confesso que ao ver o aparelho, não percebi um túnel por trás do tal arco que já tinha visto da última vez. Deitei, me posicionei, e ainda pensei: “ah, vai ser tranqüilo. Estou com sono mesmo, vou acabar dormindo...”

Assim que deitei naquele aparelho e me vi entrando no tal tubo, por um milésimo de segundos abri o olho e vi que o tubo era extremamente apertado e que a distância entre minha cabeça e o tubo fechado era mínima. Logo de início, me desesperei. Como assim, eu estava entrando em um tubo, TOTALMENTE fechado, imobilizado, durante 30 MINUTOS? Não ia conseguir, pensei. Eu que SEMPRE tive pavor de caixão, desde criança*

E aqui eu abro um parêntese: desde que me entendo por gente, eu sempre tive pavor, quase desespero quando via um caixão. Era capaz de atravessar a rua só para não passar diante de uma funerária só em pensar em ver um por perto. Talvez, o medo superava qualquer situação macabra, como ficar perto de um cadáver. E talvez isso tenha explicação em outras vidas. Sério, eu acredito que em uma de minhas encarnações, me enterraram vivo e por isso esse temor em entrar em lugar fechado e escuro.

Nem preciso dizer que só pensei nisso na hora. Eu estava preso em um caixão. O calor do medo me fez transpirar absurdamente, e aquele cobertor que antes ia me proteger do frio era mais um motivo de desespero pelo tempo que ficaria coberto sentido aquela ardência.

Por mais que o pensamento fosse controlável, eu fiquei imaginando mil coisas negativas. Pensei “e se acaba a luz agora nessa clínica? Até o gerador entrar em funcionamento, vai demorar séculos para eu sair daqui. E se pega fogo? Essas mulheres não vão pensar em me tirar daqui primeiro e vão embora. Se a máquina entrar em pane? Como vão me tirar daqui rapidamente?”, e por aí vai.

Nessa hora, comecei a imaginar as pessoas que são soterradas em deslizamentos. Como deve ser desesperador não poder se mexer, não poder se comunicar e ainda não ter idéia se alguém vai conseguir salvar. Passar horas naquela situação horrível.

Para o desespero não aumentar mais ainda e acabar com aquele exame, só me vinha na cabeça a imagem da velhinha saindo da sala e sendo parabenizada pela filha e pela funcionária do laboratório. “Eu também mereço um sorvete quando sair daqui”, pensei na hora. Imagina o vexame se eu apertasse o botão por conta do meu medo, logo depois do exemplo maravilhoso da velhinha? Foi meu alento.

A partir dali, fiquei pensando em coisas boas, tentando ignorar o barulho infernal que era emitido pelo aparelho durante o processo (e por isso do tampa ouvido!). Era como se eu estivesse em uma rave, sem poder dança, é claro. Então, os pensamentos passaram a ser: “imagina que estou num cruzeiro, na sala de spa, deitado agora, esperando as mãos deliciosas da massagista em meu corpo. Ou então, pegando um solzinho na praia tranqüila, com esse calorzinho gostoso que está fazendo agora (o cobertor continuava esquentando absurdamente)”.

Em um minuto, o aparelho parou de funcionar. Escuto a porta abrir e ouvi alguém gritando: “vê se agora vai”. Pronto. Toda minha calmaria foi por água abaixo. Como assim “vê se vai agora?”, o aparelho não estava funcionando como deveria? Quanto tempo mais eu precisava agüentar aquele tormento?

Para minha felicidade, pouco tempo depois, ouvi o silêncio do aparelho e logo em seguida o leito se movendo para baixo, e finalmente eu me livrando daquele aperto terrível. Abri os olhos para ver “a luz no fim do túnel” com toda expectativa.

Quando vi a funcionária, fiquei tranqüilo e a certeza que o pesadelo tinha acabado. “Nossa, como você está vermelho. Está tudo bem?”. Não, definitivamente não estava nada bem. Eu desabafei durante uns cinco minutos narrando os 30 minutos mais angustiantes. No final, pensei: “pelo menos eu tive controle da mente, e não acionei o alarme”. Mas no fundo, eu devo a minha coragem e meu agradecimento aquela bendita velhinha!

9 de julho de 2010

Quando política e esporte se encontram

Não é de hoje que a dupla política e esporte andam juntos e quase sempre por uma boa causa. Estamos vivendo um momento histórico, mesmo a maioria do mundo não percebendo isso. Pela primeira vez o continente africano sedia uma Copa do Mundo de Futebol e muito bem representado pela África do Sul, palco do fim do apartheid e terra de um dos exemplos mundiais, Nelson Mandela. Independente do resultado entre Espanha e Holanda, que irão definir o vencedor desta copa, o grande campeão desse episódio escrito na trajetória do futebol mundial certamente é a África do Sul. Seu povo, sua história, sua cultura não eram foco desde a chegada de Mandela à presidência, depois que este passou 30 anos preso.

E mais uma vez, esse destaque mundial se deve ao esporte. Mesmo para quem não gosta de futebol, como eu, temos que admitir que esse esporte, paixão nacional nossa, mobiliza um mundo inteiro, em busca de conquista, honra, glória e reconhecimento internacional! Posso está sendo exagerado, mas talvez seja mais importante que resultado de uma eleição presidencial, ou mais que o fim de uma guerra. A conquista por uma copa é a prova que o patriotismo de um país, pelo menos o nosso, se torna visível enquanto houver jogo. Jogo perdido, fim de copa para os perdedores, tira-se a bandeira da janela, guarda-se a camisa da seleção no fundo da gaveta, apagasse a memória de um país idolatrado salve-salve.

No filme Invictus, do diretor Clint Eastwood, o episódio verídico, ocorrido em 1995, logo após do fim do apartheid e ainda no início do mandato de Mandela, mostra como uma copa pode transformar o pensamento de uma nação ainda dividida pelo preconceito e a cultura do apartheid. Nelson Mandela "usou" como pretexto a Copa Mundial de um esporte nada conhecido no Brasil - Rugdy - para unir negros e brancos em uma só torcida pela seleção sul-africana, predominantemente branca, tanto entre jogadores quanto torcedores. Mandela criou a oportunidade apropriada para reunir seus compatriotas, incentivando os jogadores e, mais que isso, aproximando esses à realidade daquele país dividido. Os jogadores brancos foram "obrigados" a ensinar a criançada pobre e negra da África do Sul a jogar rugdy, enquanto a população negra se acostumava a torcer por um time até então estranho para a maioria.

O resultado, independente do placar final do jogo decisivo, se mostrou uma vitória para história que Mandela queria construir para seu país, para sua nação. E quando pensamos sobre a atitude desse homem, capaz de enfrentar as barreiras do preconceito, pensamos que somos capazes de seguir esse exemplo aqui, em nossa terra chamada Brasil. Vamos além do futebol para acreditar que negros e brancos, pobres e ricos, velhos e jovens podem construir uma nação verdadeiramente unida e patriota. Se o esporte é o caminho, tudo bem, vamos valorizá-lo. Porém, não esqueçamos da educação, da saúde, da cidadania, da ordem e do progresso.  Filmes como esse mostram muito mais que a simples relação entre esporte e política... pelo menos para mim.

7 de julho de 2010

Theatro Municipal do Rio de Janeiro


Quem passa pela Cinelândia, no Centro do Rio, observa de longe. Definitivamente ele não passa despercebido. Sua grandeza, sua beleza chamam atenção não só de turistas mas também de muitos cariocas que, infelizmente, nunca passaram do portão de entrada.




O Theatro Municipal teve sua inspiração no Palais de Garnier (ou Ópera Garnier), de Paris. Não à toa. O Rio respirava a Belle Époque da capital francesa no final do século XIX, onde a arquitetura no estilo art nouveau refletia riqueza, presente na decoração, nas colunas de mármore, em esculturas e superfícies folheadas a ouro, muito ouro. Em 1903, o então prefeito da capital brasileira Pereira Passos lançou um edital para o concurso do projeto do futuro teatro. A construção durou quatro anos e 1909 foi inaugurado pelo presidente Nilo Peçanha.



O Theatro não comemorou seu centenário no ano passado porque desde 2008 estava fechado para obra de restauração e modernização. Mas agora já se encontra aberto para os incríveis concertos e apresentações. Como bom carioca, e amante da música, desde garoto, quando ainda estudava piano, costumava assistir concertos por lá.



E depois de anos, tive a oportunidade de voltar recentemente para apreciar uma das apresentações mais brilhantes da Orquestra Sinfônica Brasileira, no concerto “Fora de Série”. No repertório, músicas que fizeram sucesso no cinema, entre eles: E.T. o Extraterrestre, Tubarão, Aprendiz de Feiticeiro, Harry Potter, Indiana Jones, Jurassic Park, A Lista de Schindler, Perfume de Mulher e Guerra nas Estrelas. E o melhor: ainda paguei a metade do preço no ingresso pelo projeto Carioquinha, que acontece geralmente no mês de junho.





É roteiro certo para quem curte muito mais que praia, Pão de Açúcar, Corcovado, Lagoa e Maracanã. É claro que faz parte conhecer esses lugares, mas o turista que tiver interesse em ir além dos tradicionais pontos turísticos, vale a pena conhecer o Centro do Rio. E daí eu incluo: Mosteiro de São Bento, Candelária, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Confeitaria Colombo, Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Fundação Casa França Brasil, Centro Cultural Light, Paço Imperial, Espaço Cultural da Marinha, Ilha Fiscal, Arcos da Lapa...


Essas fotos foram tiradas depois da reforma e monstra um pouco da beleza do interior desse palácio da cultura nacional e internacional.

 
Acesse o site oficial do Theatro

3 de julho de 2010

Infinito enquanto dure? (parte 3)


O roteiro do filme “Entre Lençóis” traça uma idéia que resume o comportamento do ser humano. Estamos sujeitos a tudo nessa vida, e a qualquer momento podemos ter uma reviravolta porque somos volúveis, imprevisíveis e insatisfeitos 100%. Até o certo ponto.

Eles se conheceram numa boate, numa noite qualquer. Trocaram os primeiros olhares, se sentiram atraídos, e essa atração lhes fez saciar a vontade do corpo. Foram para um motel e transaram. Sem nomes, nem identidades, se permitiram por um instante os prazeres da carne. Sem culpa, sem história de vida. Um não conhecia o outro.

Mas depois do sexo animalesco, a consciência se fez presente. Ele era um homem ainda em processo de separação. Ela uma noiva na véspera de seu casamento. Eles tinham vida lá fora. Cada um com sua história. E do diálogo, nasceu um entendimento, que gerou uma curiosidade, uma vontade de experimentar mais e mais. Foram aos poucos se conhecendo de verdade. Finalmente se apresentaram: Roberto e Paula. Ele fotógrafo. Ela arquiteta. O roteiro segue uma sequência de mais descobertas, mais entendimentos e até as primeiras brigas. Perceberam que até ali, o passado era “perfeito”, o sexo era bom com seus respectivos, suas expectativas eram praticamente as mesmas, eles tinham uma vida comum. Depois, perceberam ao longo da madrugada que seus parâmetros estavam ultrapassados. Agora o sexo era bom diante do novo parceiro. Mas só de sexo se faz um bom relacionamento? Não importa, eles estavam se entregando a ponto de se apaixonarem, mesmo que em pouquíssimo espaço de tempo. Era apenas uma madrugada, mas que significou uma vida, praticamente. Chegaram a cogitar um recomeço a partir dali. Ela estaria disposta a deixar seu noivo no altar e ele deixar sua esposa em casa. Mas no final, perceberam que tudo não se passava de uma fantasia. Viveram intensamente aquele momento. Um relacionamento com começo, meio e fim. O tal do infinito enquanto dure. Afinal, a vida continuava para ambos depois daquele encontro no motel.

1 de julho de 2010

Infinito enquanto dure? (parte 2)

Conhecer uma pessoa, se interessar por ela, sentir atração, depois seduzir, conquistar e alcançar o objetivo. Daí vem o conhecimento mútuo, as descobertas, o envolvimento, o comprometimento, a ligação. Cria-se um vínculo, uma certa dependência afetiva saudável, a busca pelo relacionamento duradouro, confiável e companheirismo. O ideal do viver a dois. Compartilhar as idéias, os desejos, os objetivos de vida. Construir um patrimônio juntos, dividir despesas, vivenciar experiências comuns. Acreditar que o melhor da vida é somar e não subtrair. Às vezes, desse entrelace, nasce o herdeiro, fruto da entrega mútua, do desejo de perpetuar, de continuar sua árvore genealógica, constituir sua própria família.

Muitos têm vontade e acreditam que isso é possível, pelo menos os que acreditam na instituição familiar. Desde que haja comprometimento, renúncia, entrega, e vontade de acertar. Outros, já pensam de forma diferente. Acham casamento uma bobagem, ou pelo menos não se planejam para isso. Preferem conquistar outros caminhos. Ser independente, dono absoluto do seu destino e definitivamente não acredita que “é impossível ser feliz sozinho”.

Acontece que há os que estão no meio do caminho. Aqueles que desejam conhecer alguém e se apaixonar de verdade e ao mesmo tempo buscam sua independência, seus caminhos, seus objetivos, não necessariamente de acordo com o próximo. Chegam a se relacionar, por um tempo conseguem se manter fiel, comprometidos com o companheiro, acham que podem viver a dois de forma independente, mas... acabam sozinhos, porque não conseguem ser “solidários”, pensar no próximo, construir com alguém, saber somar. São egoístas e assumem isso (ou pelo menos tentam assumir).

Taí a questão. Até que ponto o ser humano está disposto a se “anular”, ou melhor, ser menos egocêntrico, para passar a pensar a dois, quando consegue um relacionamento sério? Conhecer a pessoa certa já é uma tarefa difícil, porque somos exigentes, por natureza. Buscamos no próximo, mesmo inconscientemente, sua imagem semelhança. E quando conseguimos nos apaixonar por alguém, confiamos quase 100% a NOSSA felicidade no próximo. E se não há retorno esperado, pronto, não vai dar certo. “Ela é quem está errada. Eu posso estar também, mas eu sou assim, não vou conseguir mudar. Somos diferentes, não tem jeito. Paciência”.

Então, pensemos em algumas questões: Será que somos capazes de “escolher” a pessoa certa? OU será que já “escolhemos” a pessoa antes de nascer e, pelo esquecimento necessário da vida, achamos que fizemos a escolha errada? E se acreditarmos nessa segunda hipótese, será que somos obrigados a conviver até o final com essa “escolha” pré-definida? Há o livre arbítrio, mas há também a suspeita que “se não foi nessa vida, não há saída, voltará na próxima”. Será? Se pensarmos assim, então, não tem jeito: nessa ou em outra, estaremos juntos, porque “assim que tem que ser”, é o tal do destino. “Está escrito nas estrelas”.

O tal do livre arbítrio talvez seja o responsável pelo número de separações, divórcios, brigas e desentendimentos. Não estou feliz, não estou satisfeito, coloco um ponto final e pronto. Para quê insistir no erro?