
“Se as meninas do Leblon não olham mais para mim (eu uso óculos)”, agora todas vão me ver, porque de uma vez por todas EU ESTOU SEM ÓCULOS!
Ao contrário de várias tristes histórias de fim de relacionamentos duradouros, essa é uma separação que só veio proporcionar liberdade rimando com felicidade!
Desde os meus dois anos de idade, eles me seguiam, me perseguiam, me guiavam e me enlouqueciam. Já foram esquecidos dentro de um aquário e se multiplicavam a cada perda de um companheiro. Seus modelos acompanhavam a moda do momento. Estilo Clark Kent, Mr Magoo, discreto, arrojado, executivo... mas todos feios e incômodos. Em todas as fotos, eles marcavam presença. O visual estava tão impregnado que já não me reconheciam sem eles. Onde eu estava, lá estavam eles.
Em pensar que durante anos eles sempre foram desnecessários...
Com a desculpa de um estrabismo medonho, os médicos diziam que eles eram essenciais. Eu não podia enxergar nada com aquele grau de estrabismo. Mesmo depois da cirurgia aos seis anos, eles permaneceram. O problema não foi resolvido, mas amenizado – pelo menos parei de assustar as pessoas com as bolas pretas dançando nas escleras (parte branca dos olhos).
As dores de cabeça permaneciam e a cada visita ao oftalmologista, mais um grau era acrescentado. Resultado: quatro graus de hipermetropia em cada olho, verdadeiro fundo de garrafa.
Mas aí conheci um médico. Ô médico. Então, meu ponto de vista mudou. E para muito melhor. A mudança começou em 1995, ainda com treze anos. Os exames foram feitos e a grande surpresa: “meu filho, você enxerga muito bem, o problema é que você faz um certo esforço muscular para corrigir seu estrabismo”. Ok, isso quer dizer o que?
Isso quis me dizer que eu nunca precisei usar óculos, se não fosse o tal do estrabismo... Resultado: de quatro graus eu passei a usar 0,75 de hipermetropia. Só para não ficar vesgão!
Mais ou menos na mesma época, conheci um tesouro: a lente de contato! Isso realmente abriu meu horizonte! E um novo mundo surgia diante os meus olhos! Aos poucos, fui largando meu calvário e me transformando em um outro homem. Aquela velha imagem de um garoto com seus olhos biônicos já ficava esquecida, e nem era conhecida pelas novas amizades. Tudo bem, que a lente me proporcionou momentos hilários, mas nada comparável ao mundo dos quatro-olhos. (só para citar um desses momentos, uma vez fiz a proeza de colocar duas lentes no mesmo olho sem perceber. Passei praticamente um dia achando que estava enxergando muito bem de uma vista em relação a outra).
Entretanto, porém, contudo, todavia... o melhor estava por vir! E acabou de chegar! Depois de sete anos sem visitar o super-médico-amigo, resolvi marcar uma nova consulta! E para minha grande surpresa, ele me deu alta! Disse que estou enxergando como nunca e que aquele velho estrabismo agora não incomoda mais a olho nu (só se você for muito inconveniente e ficar observando bem de perto, aí sim é capaz de perceber).
O casamento durou 24 anos. Mas finalmente chegou ao fim. Óculos agora? Só os escuros!