Aquele comercial de margarina sempre mostrou uma família feliz.
Os irmãos implicam uns com outros, mas são felizes. O marido acorda atrasado
para o trabalho enquanto a esposa, desde cedo acordada, já havia preparado a
mesa farta para o café da manhã com todos reunidos.
No álbum de aniversário da vovó, todos pareciam também
felizes. Na época, todos os netos com suas respectivas namoradas ou esposa, com
suas respectivas famílias. Pessoas sorridentes, taças de champanhe, música
animando a pista, discursos emocionados, a hora do brinde e depois o parabéns.
Estavam todos ali, reunidos e felizes.
Não foi tanto tempo assim. Passaram alguns poucos anos. Mas
ao rever esse álbum, parece que o mundo virou do avesso. A música parou de
tocar, a bebida acabou, a voz se calou. E aquela família aos poucos se desfez.
Não, ninguém partiu. As pessoas são as mesmas, apenas o contexto mudou. Ficou
estranho. Como se o bolo tivesse desandado.
É foi isso... o bolo desandou. Algumas pessoas já não fazem
mais parte do ciclo familiar, ou porque namoros foram interrompidos, ou porque a
estupidez fez a festa acabar.
Às vezes me pergunto o que aconteceu para o bolo desandar? A
receita não estava certa? Havia ingredientes demais? Ou já estava certo azedar
o que algum dia já começou errado?
Um dia o mundo realmente parou. Esse dia foi tenso e
intenso. Até polícia apareceu para tentar entender a história. E que história!
Foi aí que o bolo começou a desandar. Era tanto rancor guardado que a válvula
não aguentou a pressão. Foi ódio para tudo quanto é lado. Imagina uma cena de
desenho animado, quando o bocão se abre e só sai lixo fedorento lá de dentro. Só
porcaria, de baixo nível, com direito a xingamentos e palavrões. Momento
vergonha alheia total!
E depois da tempestade vem a...
Não, não veio a bonança. O lixo continua espalhado nas ruas.
Os bueiros estão entupidos e a cada enchente é uma agonia, sem saber se as
casas serão inundadas com tamanha imundice acumulada há anos.
Hoje cada um vive sua vida, varre seu quintal, mantém a
lixeira vazia, portão fechado, grades altas para se proteger. Mas o lixo ainda
continua na rua, se é que você me entende. Entende?
Às vezes as metáforas são tão explícitas quanto a veracidade
dos meus contos.
2 comentários:
A bonança às vezes demora, mas chega. Beijos amigo!
Mesmo quem não jogou o lixo no chão pode ajudar a recolher...
bju
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