Quem acompanha na mídia os noticiários sobre as
manifestações realizadas nas ruas do país, pode perceber que houve uma nítida e
clara mudança no discurso utilizado. Se antes, tratavam-se de vândalos e
baderneiros os manifestantes que provocavam policiais que eram obrigados a
impor ordem, usando cassetetes, spray de pimenta e balas de borracha, hoje
esses mesmos manifestantes são estudantes e trabalhadores que lutam pelos seus
direitos de forma pacífica.
Eles não imaginavam a proporção que tudo isso iria tomar.
Eles menosprezaram o poder do movimento e criticaram os protestantes. Eles são
não só a mídia, mas o próprio poder público. Governantes também tiverem que
mudar seus discursos. Foram obrigados a voltar atrás e deixaram de atacar os opositores.
Afinal, quem são os opositores? É toda uma nação.
Em uma breve análise desse discurso midiático, separei
alguns trechos do Jornal Nacional, um dos principais jornais televisivos do
país. É fácil e ao mesmo tempo impressionante perceber como a mesma mídia, que
ataca e critica o comportamento dos protestantes, selecionando imagens de
violência, da ação dos radicais, muda seu discurso dias depois, quando o movimento
de rua cresce e toma força.
Vamos aos fatos:
Quinta-feira, 13 de junho de 2013 – Primeiro Dia da
Manifestação do Movimento Passe Livre no Rio:
Fala da Repórter Bette Lucchese, em cobertura ao vivo
durante telejornal:
“Manifestantes fazem provocação o tempo todo. A confusão
começou há pouco, quando os manifestantes jogaram pedras em policiais militares
que tiveram que reagir. Vocês estão vendo que jogaram fogo em lixo. Os policiais
tiveram que usar cassetetes, tiveram que usar a força contra os manifestantes.
Neste momento, a avenida Presidente Vargas está interditada e a gente espera que
esse tumulto seja brevemente controlado.”
Segunda-feira , 17 de junho de 2013 – O Dia da Manifestação
mais emblemática.
A mesma repórter que noticiou ao
vivo o vandalismo dos manifestantes, que provocavam os policiais, voltou às ruas
para contar como foi o movimento. “Pelo caminho, manifestantes distribuíram
flores. Aos poucos, o protesto contra o aumento das passagens e custos de vida
foi ganhando mais participantes”. Sorrindo, Bette Lucchese narra do helicóptero
a movimentação dos manifestantes vestidos de branco: “a avenida foi
completamente tomada, uma imagem impressionante. Estudantes e trabalhadores
caminhavam pacificamente carregando bandeiras do Brasil e muitos cartazes. A
maioria dos manifestantes se dizia sem partido político. Bandeiras partidárias
eram vistas em pontos isolados do protesto. A polícia acompanhou a multidão sem
que houvesse qualquer confronto”.
No final, mais uma vez ao vivo,
ela volta dizer que após o movimento pacífico, um pequeno grupo seguiu para
Assembléia Legislativa e transformou as ruas em uma praça de guerra.
Chama atenção também o número de matérias relacionadas às
manifestações em todo país nessa mesma edição do Jornal Nacional. O movimento
ganhou força o bastante para ser manchete de jornal, em plena Copa das
Confederações.
Hoje, dia 20 de junho, o convite feito nas redes sociais diz
“Quinta-feira será maior. Eu Vou.” e promete mais participantes – estudantes e trabalhadores – todos
reivindicando por verdadeira mudança no país.
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