25 de outubro de 2007
A máfia da fichinha!
Há uns cinco anos, mais ou menos, conheci um mundo obscuro, cercado de pessoas estranhas com suas armas de Jorge, coordenadas por uma espécie de cafetão. As clientes eram velhinhas aparentemente inocentes, que se produziam para o bote! O ataque vinha ritmado, com “dois pra lá, dois pra cá”, segurando um braço aqui, um pescoço ali, um tanto obsceno para idade avançada.
O cenário contribuía: uma casa de show de grande repercussão, principalmente nos dias carnais do carnaval. Uma mistura de cassino com boate dos anos 70, com decoração espelhada, brilhos, luzes e poltronas de parede acolchoadas.
O leitor deve estar perguntando: como fui parar neste lugar?
Bem, de forma resumida, digo que por um tempo fui o bendito fruto de quatro mulheres na idade da loba. Calma, vou explicar melhor. Eu as ensinava o "dois pra lá e dois pra cá", apenas. Por falta de aluno masculino, eu fazia o papel de professor-instrutor-acompanhante (dos bailes).
Com um convite de uma delas para uma “tarde dançante”, não pude escapar e fui conferir o cenário, apesar de já imaginar o que viria pela frente!
O esquema era simples: a Dona Odete comprava um número considerável de fichas para uma tarde dançante com o... vamos chamar de cafetão. Cada ficha valia um real e cada música valia uma ficha! A partir daí, ela só escolhia sua mira, apontava seu indicador e: “é você quem eu quero! Vamos dançar!”. O mais importante: depositava sua ficha na POCHETE do rapaz, estrategicamente localizada na região frontal do elemento.
Enquanto seus soldados marchavam no salão, o cafetão observava discretamente o andamento ritmado do ambiente. Quem chegava, quem dançava, quem comprava suas fichas, até que de repente ele passou a me observar. Perigo. Um olhar investigativo questionava: “quem é esse rapaz que está invadindo meu espaço e tirando proveito de minhas clientes?”.
Na minha inocência, estava eu apenas dançando com as minhas alunas, quando fui chamado por uma delas ao canto:
- Ele gostou muito de você, disse que dança muito bem. Gostaria de te chamar para fazer parte do grupo dele.
Então, o negócio é este. Ele observa o produto, verifica se encaixa no perfil de dançarino de programa, com boa aparência, pé de valsa e pronto. Fechamos o negócio. Afinal, eu estava na área dele e lá “tá tudo dominado”. Não é qualquer um que vai chegando assim e chamando atenção...
- Peraí, eu estou à venda? Ah não, desculpe, sou descartável por uma música, não é isso? Não, muito obrigado, mas neste negócio clandestino estou fora.
- Fazemos festas também, contratamos um grupo e ficamos durante duas horas à mercê das convidadas.
Que beleza, estamos agregando valor ao produto! O negócio é lucrativo e a demanda só aumenta com o avanço da medicina, com a expectativa de vida aos 100 anos, com a liberdade sexual na terceira idade! Carpe Diem, meus velhinhos, enquanto há tempo!
Quero deixar claro que não sou contra a puberdade da terceira idade, mas pega mal aproveitar desses garotos dança-dança da Estrella (bonecos movidos a fichinha) em plena luz do dia!
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2 comentários:
A ficha custa quanto mesmo, hein?
Sabe que você me inspirou nessa coisa de Blog?
Eu disse que não lembraria o endereço, mas lembrei!
Visitante constante ;)
bjs
Eu estava lendo e relendo nossos posts e sabe o que eu percebí? Rolou um "troca de papéis"! Vc, jornalista, escreve textos poéticos... e eu, quase-professora-de-português, escrevo textos sobre reportagens. Curioso, né?
Adooooro o que você escreve! Até tive umas idéias! E viva as crônicas!
bjs
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