16 de outubro de 2007
O taxista
É comum alguns taxistas assumirem a função além de motorista. Muitos acabam exercendo papel de psicólogo, psiquiatra, consultor técnico sobre mecânica de carro, consultor amoroso, pai de santo e por aí vai. Acontece que às vezes, nós, ilustres passageiros, também passamos por situações as quais vivemos o personagem de psicólogo, psiquiatra...
A história começa quando eu entro no taxi de uma cooperativa já conhecida.
- Bom dia.
- Bom dia, eu respondo. Vamos para o hotel Excelsior em Copa, sabe onde é?
- Sei.
Silêncio. E por um bom tempo ficamos em... Silêncio.
De repente uma mulher em seu carro Renault atravessa a pista na frente do taxi. Os dois se entreolham. Ela encara ele. Ele encara ela. Silêncio.
-Você viu isso? Você viu o que ela fez?
Vi, respondi e soltei um riso, apenas para não o deixar sem graça.
É por essas e outras que eu não deixo minha mulher pegar meu carro. Fala sério! Desculpa o termo, mas aquela filha da puta nunca vai pegar meu carro. Ah mas não vai mesmo! O meu carro ela não pega! Ele custou muito caro. Todo de fibra de vidro, rebaixado, duas portas, novinho... não, nem a pau ela pega meu carro.
Outro dia veio me pedir pra deixar a chave do carro em casa para ela ir se acostumando com o carro quando precisar. Como assim “se acostumando”? Ela está achando que eu vou deixar pegar meu carro? Nem o cacete! Mulher é foda!
Bem, a essa altura pensei: “comecei bem meu dia. Pego um taxista que sete e pouca da manhã já começa a contar sua vida, assim de graça, sem ter me perguntado nada”. Mas logo percebi que ali se tratava de um personagem peculiar. Já estava atrasado mesmo para o evento quando percebi que ele escolheu o caminho mais engarrafado para chegar em Copa.
- Antes desse meu carro, eu tive um Ipanema que era minha paixão. Toda bonitinha, ajeitada. Linda. Aí ela veio com um papo que gostaria de colocar silicone nos seios, porque estavam caídos, feios depois que teve as duas filhas. Ela queria que EU pagasse o silicone dela...
Vendi meu Ipanema e paguei os peitos dela. Falei logo: “olha, agora não vem com história de comprar carro depois! Fique satisfeito com seu peito”. Agora quer pegar meu carro? Ah, o cacete, o silicone que a pros lugares!
Minha mulher é foda. Ela que compre o carro dela! Ela não trabalha? Então compra, porra. Outro dia ela veio me propor vender meu carro e comprar um importado, dizendo que dividiria comigo. Ah, é ruim! Não troco meu carro!
- Então por que ela não compra um para ela? Que seja um simples...
- Ela? Ela vive endividada. Nunca tem dinheiro pra nada. Gasta tudo. Vive no vermelho. Não pode ver ninguém vendendo nada que sai logo comprando, sem saber se tem dinheiro pra pagar as contas. Aí no final, quem acaba pagando?
- Você?
- Eu não, o babaca! BABACA aqui!
- Ela é mais nova?
- 31 anos. Já não é novinha, né? Tava na hora de aprender a lidar com dinheiro. Mas não, deixa pra eu pagar tudo.
Este mês ela veio com papo que queria comprar um biquíni. Disse que estava sem dinheiro (porra, já no início do mês) e queria um biquíni. Aí eu fui comprar. Encontrei uma loja na Rua da Alfândega... não era de camelô, era de loja, com tecido bom. Comprei. Quando entreguei, ela olhou... “onde você comprou isso?”. Ela adora marca. Só compra roupa de marca pra ela. “Pô, comprei na Alfândega. Numa loja boa. Não é porcaria não”. Ela veio dizer “pra você trazer isso, preferia que você não me trouxesse nada. Essa porcaria aqui?”. Cara, me deu uma vontade de dar uma porrada na cara dela. “Eu não vou dar mais porra nenhuma pra você!”, disse ele convencido! - Minha vontade era de ter jogado no meio da rua, mas ela pegou mesmo assim. Da próxima vez... (bem, agora ele vai ter uma atitude!) eu dou o dinheiro pra ela comprar! Ah, porra!
- Você é casado?, perguntou ele pra mim.
- Eu não.
- Porra, mulher é tudo igual!
- É sua segunda esposa?, perguntei.
- Não, na verdade eu já me juntei duas vezes, mas quando me pegava no saco, eu largava tudo e ia embora. Eu era muito estourado! (era, penso eu). Mas até eu me casar com essa.
- Quantos anos de casados?
- Treze. Ela tinha 17 anos, e eu 31. Eu não queria casar não. Ela que quis casar logo. Tinha um fogo do cacete. Queria transar antes do casamento. Recém casados, era foda sempre. Não podia sair de casa sem antes dar uma. Agora? Nunca quer. Tá sempre cansada!
Cara, antes de casar eu peguei muita mulher! Tinha semana que eu saía toda dia, uma a cada dia. Pô, feio desse jeito, eu pegava muita mulher. Cheguei a marcar uma vez com três ao mesmo tempo. Nossa, esse dia foi foda. Elas quiseram me matar quando descobriram. Aí casei né?
- E com essa, você ficou mais calmo.
- Engulo muito sapo, né? Muitas vezes quis chutar o balde, mas eu sempre penso nas meninas. Uma de três e outra de nove. Aí não dá.
- A diferença é um pouco grande né? Talvez ela te veja como um pai... por isso se acostumou mal. (pronto, lá estava eu me achando o psicólogo)
Com uma voz baixa, como se fosse uma confissão, meio desabafo, finalmente assumiu a culpa:
- Pô, acho que eu sou culpado disso. Sempre acabei pagando tudo. A única responsabilidade dela é pagar a empregada. Quando ela quis trabalhar fora, eu disse que tinha que ter uma empregada. Mas que ela pagasse. Ela paga. Mas eu acabo ajudando, né? Pago a passagem... no final acabo dividindo...
Nessa hora o taxi já entrava na rua do hotel. A sessão de terapia automobilística chegava ao fim.
- é aqui.
- Rapaz, você vai lembrar dessa conversa de hoje. Aprende com isso! Mulher é tudo igual!
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4 comentários:
Queria ver é esse abusado falar desse jeito comigo. Ia rolar um 'pega-pra-capá' no taxi! hahaha
AAAAAAAAAAAAh
não, não e NÃO..
nada de generalização!
até rimou.. rs
gahfarias@gmail.com
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=1717834743864334804
mário... olha nos meus olhos e me diz:
vc acha que mulher é tudo igual?
peeeensa bem?!?!!!
ok, vou perguntar de novo...
vc acha que mulher é tudo igual?
é verdade, mário. cada passeio de táxi tem uma história pra contar. e se a deixar, tem até mais! hehe
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