12 de março de 2008

Isto é Bossa Nova, isto é muito natural

E num encontro inusitado, passando rapidamente por uma esquina, deparo-me com Vinícius, Tom e Baden, numa conversa muito animada no boteco Chega de Saudade.

Apesar da pressa, peculiar de qualquer carioca às 4 da manhã nas ruas obscuras do Rio Selvagem, não consegui passar desinteressado pela cena. Percebi que havia uma certa celebração, com infinitos brindes embebedados de whisky e conhaque. A comemoração não poderia ser outra: 50 anos de Bossa. E que bossa!

Tom: - Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, aquela menina, que vem e que passa, com doce balanço a caminho do mar.

Baden: - Ela é carioca, basta o jeitinho dela andar, nem ninguém tem carinho assim para dar. Se você quer ser minha namorada, ai que linda namorada você poderia ser. Se quiser ser somente minha, exatamente essa coisinha, essa coisa toda minha que ninguém mais pode ter.

Vinícius: - Mulher, ai, ai, mulher! Sempre mulher! Dê no que der, você me abraça, me beija, me xinga, me bota mandinga, depois faz a briga só pra ver quebrar! Mulher, seja leal! Você bota muita banca, infelizmente eu não sou jornal!

Tom: - Formosa, não faz assim, carinho não é ruim, mulher que nega, não sabe não, tem uma coisa de menos no seu coração. A gente nasce, a gente cresce, a gente quer amar, mulher que nega, nega o que não é para negar. A gente pega, a gente entrega, a gente quer morrer. Ninguém tem nada de bom sem sofrer, formosa mulher!

Baden: - Chegou, sorriu, venceu depois chorou. Então fui eu quem consolou sua tristeza, na certeza de que o amor tem dessas fases más que é bom para fazer as pazes. Bom é mesmo amar em paz, brigas nunca mais!

Vinícius: - Mas afinal, viemos aqui para comemorar a bossa! E a nossa bossa?

A bossa ainda está viva, repaginada, com novas caras e versões, com outros jargões, mas viva! Viva nas novas garotas de Ipanema, Copa, Leme, Leblon, Barra, nas nights bombantes da Zona Sul ou nas rodas de samba da Lapa, nas caipirinhas de morango com saque, nos quiosques reformados da orla, nas Giseles, Ivetes, Julianas. O samba agora é bossa! A Lapa virou bossa! Calça xadrez, sandália rasteira e óculos-abelha são bossas. O carnaval agora é bossa, com seus blocos que tocam de tudo! O carioca continua sendo bossa.

Vinícius: - E eu, um velho capitão do mato, poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil, ainda sou bossa?

A benção, Vinícius de Moraes! Nas rodas de samba, nos repertórios dos bambas, nos batuques e nos cantos de Toquinho, Chico, Bethânia, Milton, Carlinhos, Menescal, Leila, e nas vozes novas de Maria Rita, Roberta Sá, Batuque na Cozinha, Teresa Cristina...

Tom: - Tenho saudades do Rio Bossa Nova. O Rio da paz, da boemia, da natureza invencível.

Não seremos pessimistas, porém realistas, Tom. O Rio cantado no Samba do Avião ultimamente só é belo visto apenas pela janela do avião. Aqui embaixo, a beleza natural, a paz e a tranqüilidade já não rimam as canções atuais.

Baden: - É melhor ser alegre que ser triste! A alegria é a melhor coisa que existe! É assim como a luz no coração.

É Baden, mas para fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não...

Tom: - Minha alma continua cantando quando vejo o Rio de Janeiro. Estou morrendo de saudades. Rio, seu mar, praia sem fim, Rio, você foi feito para mim! Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara! Continue abençoando esta cidade!

Baden começa a batucar desajeitado na mesa do bar...

Vinícius: - É com esse que eu vou sambar até cair no chão, é com esse que vou, desabafar na multidão, se ninguém se animar, eu vou quebrar meu tamborim, mas se a turma gostar, vai ser pra mim.

Ah, como vocês fazem falta! Vai tua vida, teu caminho é de paz e amor! Vai tua vida é uma linda canção de amor! Abre os teus braços e canta a última esperança, a esperança divina de amar em paz! Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver! Uma canção pelo ar, uma mulher a cantar, uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir a beleza de amar, como sol, como a flor, como a luz. Amar sem mentir, nem sofrer.

Existiria verdade, verdade que ninguém vê, se todos fossem no mundo iguais a vocês!

Um comentário:

Cris disse...

Ai, que lindooo!! Meu amigo também é poeta, além de tudo que já é! Adorei! Você vai fazer aniversário, mas nós que temos de comemorar seu nascimento! Beijosss