26 de setembro de 2008

Amor pretérito

Duas pessoas se conhecem em um belo fim de noite, conversam, trocam olhares, falam um pouco dos seus gostos, suas vidas, seus sonhos. Despedem-se com um forte abraço e prometem se rever no dia seguinte. Então chega o segundo dia, eles se encontram e resolvem passear de mãos dadas na rua, continuam se curtindo, trocando simples carinhos enquanto conversam. Ela diz a ele que voltará para o país dela no dia seguinte. Ele promete levá-la até a estação para se despedir. E neste último dia, apenas no instante de despedida, rolou o primeiro beijo. Ela tomou a iniciativa. Um beijo. Ele está namorando... ela não.


Essa história pode parecer tirada de um romance do início do século passado, quando um namoro era consolidado com apenas um beijo, depois de muito tempo. Mas ela aconteceu recentemente e o cenário do breve romance foi Paris. Ele, um francês, ela... uma brasileira.

Parece estranho para nós, mas não para o resto do mundo. O que para nós, brasileiros, se tornou banal e até considerado careta e antigo, para eles, isso é o normal entre um homem e uma mulher em todo início de namoro. Há romantismo em Paris! E em Londres, em Madri, em Moscou, em Roma...

Infelizmente, nos acostumamos com uma relação mais carnal e esquecemos um pouco da relação sentimental e até mesmo espiritual entre os seres humanos. Vivemos na era do sexo fácil, em que basta chegar em uma noite, trocar meias palavras e depois levar para cama, sem mesmo saber seu nome. Esse é o normal.

Se, aqui no Brasil, um homem se aproximar de uma mulher, conforme a história acima, com certeza a mulher vai achar estranho o comportamento dele, no mínimo. Elas já se acostumaram com o amor fácil. O homem romântico virou um chato, meloso, inconveniente e atrasado.

Mas será que todos pensam assim?

Essa amiga que voltou recentemente de Paris – e que foi protagonista deste breve romance – teve a oportunidade de conversar sobre o assunto com outras pessoas, de diferentes nacionalidades. E ela constatou que essa “libertinagem”, como uns ainda definem, só acontece aqui no nosso país. Segundo ela, não existe “ficar” com as pessoas na noitada, como estamos acostumamos aqui. Os europeus, em geral, são conservadores neste sentido. O ato de beijar na boca para eles já significa um relacionamento sério, namoro mesmo. E até chegar no beijo (lembrando que não é o BEIJO que também estamos acostumados aqui), muito carinho, muita pegada de mãos, muita conversa e mais conversa para começar rolar uma certa intimidade. Eles não são adeptos do “ficar por ficar”, conhecer uma pessoa numa night, trocar amassos e depois cair fora.

Já os latinos americanos vão um pouquinho além disso. Eles podem até “ficar” com uma pessoa, desde que esta se mantenha fiel a esta “ficada”. Nada de sair pegando geral, sem ter compromisso com ninguém. Então, eu lhe pergunto, quem está certo nesta história toda?

Será que somos um país “avançado” nesse aspecto, ou ao contrário, mostramos o quanto “selvagens” somos, nos preocupando apenas em satisfazer os nossos “instintos carnais”, comum a todos animais?

Não estou levantando a bandeira de “sejamos puritanos e deixemos de lado o sexo”. Não é isso! Até porque, a idéia de que “entre quatro paredes vale tudo” ainda é válida, desde que seja praticada com alguém realmente especial. Ou estou sendo retrógrado?

6 comentários:

Cris disse...

é, marinho, eu só tenho uma resposta pra vc. Não existe certo e errado neste caso, existem as pessoas fazerem o que realmente sentem vontade. Acontece que para isso as pessoas precisam ter a real consciência do que querem e buscam, ou seja, precisam se conhecer bem, se analisar, se entender e se respeitar. Buscar seus interiores. Mas hoje todos só agem por imagens, imposições sociais e midiáticas, são robozinhos, sem conhecimento da sua individualidade. "Todos fazem, eu faço", "alguém espera que eu faça, eu faço, todos condenam, eu "não faço". Fuder com todos ou ser virgem até o casamento é o mesmo se a pessoa realmente se sente bem com isso, e não age por pressão externa. Essa é a minha opinião! beijoss amore

Fabiana disse...

Acho que perdemos a linha de até onde as coisas podem ir.o Brasil mudou muito nos ultimos tempos e trouxe um imediatismo.Talvez por isso as relações ficaram mais superficiais. Saimos de um país de tranbiqueiros para um que está cotado para compor o G8. Isso muda a forma de consumir. E digo consumir no sentido geral. A tv vende amor, carinho e felicidade em 5 minutos. Então porque esperar que um cara só te beije no segundo encontro?
Só que deveria ser assim...porque assim não ficariamos com a sensação de vazio ao voltar de uma balada onde todo mundo ficou com todo mundo. Adorei o post. bjs

Camila disse...

É linda a mensagem que você trasmitiu com o texto, principalmente por você ser homem. Não espero mais pelo princípe em um cavalo branco, mas adoraria ser tratada como uma princesa.
É verdade o amor ficou banal.
As pessoas não se olham mais nos olhos. Procuram por partes que são supostamente atraentes. Na quinta-feira teve uma festa no meu trabalho e nos estavamos brincando sobre joelhos e cotovelos, no sentido que ninguém repara nessas coisas. As pessoas são taxadas como objeto e aceitam essa qualificação.
Beijar é algo tão lindo. Tão intimo e bom, e tem gente que sai por aí a beijar qualquer um, sem qualquer emoção. É tão diferente quando se beija alguém com quem a gente se importa.
E concordo com o termo "selvagens". Quem se deixa levar pelos desejos carnais, não pode ser taxado de outra maneira.

Sexo casual é um dos absurdos do modermismo.

Parabéns pelo blog. Gostei muito.
Conheci pelo da Fabiana.

Anônimo disse...

Gostei bastante!...Seria esta uma selva de pedras?? O amor encontra-se tão banal assim??
Culpa de quem? Do Homem, do ambiente ou da "modernidade"??

railer disse...

a fabiana disse tudo. a maneira de consumir as coisas está mudada nessa sociedade imediatista. mas sigo acreditando que coisas assim podem acontecer, pois, como eu, tem gente que ainda acredita numa parada maneira.

Anônimo disse...

Ao longo do tempo perderam-se muitos valores que conseguiam regular um pouco mais as relações. Hoje, a liberdade está sendo vivida de forma equivocada, quando, na verdade, deveria ter um limite: a liberdade do do outro. É muito bom quando jovens expressam esse tipo de preocupação: a valorização do homem, da mulher e da relação entre os dois. Pois, na maioria das vezes, as massas são levadas a agir de forma inconsciente. E as pessoas? As pessoas? Estas deixam de ter sua individualidade valorizada e passam a ter a cara e as atitudes do que a sociedade espera. E aí ... beijar, transar, entre outras infinidades de "coisas" passam a ser ações realizadas para "agradar" determinado grupo. E o próprio prazer, satisfação e até mesmo honra, onde ficam. Não ficam, né?!
Espero não ter viajaaaaaado muito.
Bjs em todos.