16 de abril de 2010

"O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer"

Imagina uma mulher, no auge de sua vivacidade e beleza, com seus vinte e poucos anos, linda, loira, independente e casada com um “verdadeiro príncipe encantado”, segundo a própria. Ok, não existe príncipes encantados na vida real, e por mais que ela vendesse essa imagem do maridão, muitos duvidavam de tal perfeição. Na verdade duvidavam até dos gostos do rapaz, de suas atitudes e feições.

Apaixonada, fiel e crente no ideal “casados até que a morte os separe”, ela vivia sua vida de “bem-casados”, mesmo suportando o peso dos desencontros conjugais, devido ao trabalho, principalmente do marido.

Acreditava nele integralmente, capaz de assinar cheques, pagar contas altas com seus cartões, confiar em suas decisões financeiras, como toda “boa esposa”. Entretanto, alguns assuntos eram meio tabus em rodas de amigos, como transas inesquecíveis, loucuras de amor, e prazeres conjugais. Ok, eles tinham direito de serem discretos e preservarem ao máximo suas intimidades. Mas nem para as amigas mais próximas ela fazia confissões amorosas.

Uma vez, numa conversa feminina, ela confessou que o casamento andava morno e estava pensando em fazer uma surpresinha, para esquentar a relação do casal. A amiga sugeriu a compra de um bom espartilho vermelho para causar impacto. Causou impacto sim, mas não fez muito efeito. Na verdade, nem chegou a ser usado.

O mau humor e o constante cansaço já se faziam presentes em seu cotidiano. Brincadeiras à parte, alguns soltavam “isso é falta de sexo”! E realmente podia ser, mas ela insistia dizer que seu relacionamento não se baseava em prazeres carnais.

Certa ou não, ela persistia em viver a dois, sem perceber o quanto sua vida estava sendo deixada de lado aos poucos. Sabia que lá no íntimo ela não era feliz... mas fazer o quê? Terminar um casamento por nada? Ainda trazia consigo a herança cultural da família, em que casamento é para vida toda. O medo de “magoar” seus familiares era grande – maior que a certeza que o fim era inevitável.

Até que um dia... 

Um parêntese aqui: quando somos espectadores da vida alheia, percebemos logo de cara qual o final daquela história, mesmo que o enredo demore um pouco para chegar no clímax. Portanto, o final dessa história já era esperado por muitos, para “felicidade” de uns, e “tristezas” de outros.

Logo depois de um natal indiferente, ela recebeu um telefonema da mãe. “Filha, vem para cá, precisamos conversar com você”. Como assim, precisamos? Além de sua mãe, quem estaria por lá? Em plena segunda-feira pela manhã, dia comum de trabalho, uma reunião familiar? Assunto sério? Estranho.

Quando ela chegou a casa de seus pais, o circo estava armado. Seus pais, sua irmã e até seu futuro cunhado estavam reunidos aguardando sua chegada, menos ele. “O que está acontecendo?”. É simples. Seu casamento acabou. Seu marido nos procurou, disse que vocês já não estavam bem e que ele não pode mais ficar em casa. Pediu-nos que ficássemos ao seu lado para dar o apoio e o conforto necessário. Filha, vai ficar tudo bem com você.

O motivo veio à tona pouco tempo depois. Ela descobriu (não por ele, é claro) que ele era gay e estava saindo não só do armário como de sua fingida vida de casado. Era tudo uma farsa? Nunca saberá de fato quanto tempo ele escondeu isso dele mesmo. Talvez por medo de rejeição dos próprios familiares, dos amigos mais próximos, enfim, da sociedade.

O fato é que ela foi “enganada” por uns longos nove anos de relacionamento, entre namoro e casamento. Depois vieram as outras descobertas, como cheques sustados, pagamentos não-realizados, um verdadeiro rombo em sua conta bancária. O prejuízo passava do emocional e invadia o financeiro. Ela deixou tudo para trás, carro, apartamento, móveis etc.. As megalomanias dele só a deixaram mais “desfalcada” no final das contas. Inevitáveis seriam a tristeza, a baixa auto-estima, a depressão. Ela chorou por semanas seguidas.

Porém, o estalo se deu em meio ao desespero total: “sabe de uma coisa? Foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida. Quanto tempo eu iria viver no engano? Engano dele, engano meu em acreditar num casamento infeliz e farjuto”. Portanto, o “despertar da consciência” seria necessário e surgiu no momento certo. Recuperada totalmente talvez seja exagero dizer, mas ela hoje está bem. Meio tímida ainda, ela anda descobrindo prazeres até então desconhecidos.

Essa história é real. Sem exageros, hoje vejo que esta pessoa encarou a desilusão amorosa como mais uma provação dentre tantas que passamos na vida. Como dizia padre Antônio Vieira, “Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera!”

2 comentários:

Ju disse...

Acredito que o maior medo das pessoas é ficar sozinho para o resto da vida. Por isso, nos apegamos a mentiras, pois é mais fácil e cômodo acreditar nelas como verdade absoluta.

Mas como nada é por acaso nesta vida, fico feliz que isso tenha acontecido. Assim, ela pode seguir a vida dela ou melhor, começar a vida! Dar um novo rumo, escrever uma nova hisória.

ps. adorei o título musical

Geli, Angie, Angel, Angélica disse...

Caracoles!!! Acho que, por hoje, não reclamarei da minha vida!
Beijos