18 de janeiro de 2011

Língua pátria, língua mátria, língua estranha, língua.


Ninguém se lembra, ou pelo menos isso não é comum, quando aprende a falar e, portanto, a comunicar com o mundo. Somos seres comunicáveis por natureza e isso a ciência tem como provar. Mas daí ser entendido pelo outro já é uma outra questão.

Comunicar deixou de ser o velho paradigma de Emissor => Meio => Receptor, como se este receptor só recebesse a ação, sem reagir. Hoje, o paradigma nos atualiza que a verdadeira comunicação acontece entre interlocutores, portanto I <=> I (relembrando as aulas de teoria!). Para acontecer uma comunicação de fato, o receptor precisa identificar a mensagem, compreendendo-a. Quantas vezes falamos, falamos e não recebemos o tal feedback?

Viajar para um país estranho e deparar com uma língua diferente da nossa nos mostra como ainda somos seres inquietos, justamente por não conseguirmos obter esse feedback. A sensação é horrível: falar e não ser compreendido, assim como ouvir e não entender nada. Ok, há diversas formas de se comunicar, mas ainda somos baseados na linguagem falada.

Percebemos diferenças e entraves na comunicação também entre gerações: enquanto o vovô diz que é “uma brasa mora” namorar um “brotinho”, o neto responder “viajou na maionese”, “tá ligado”, “boladão”. Entre regiões de um mesmo país, com a mesma língua pátria, existem jargões próprios.

Linguagem informal, linguagem formal, sem linguagem. Aprendemos desde cedo a forma certa de se comunicar: com o amigo da mesma idade, com as pessoas mais velhas, com estranhos, com pessoas de cargo superior, com colega de trabalho etc. Medimos a nossa fala para todas as ocasiões, assim como escolhemos as nossas roupas para os momentos de festa, lazer, esporte, trabalho. Talvez a maior dificuldade de “moldar” nossa fala seja no período da adolescência, quando as gírias predominam (o homem é produto do meio!) e quando deparamos com situações em que elas devem ser evitadas (parece que há um bloqueio e que não conseguimos falar a nossa própria língua).

O fato é que comunicação, por mais que seja um ato inerente ao homem, é complicado. Há pessoas que falam sem parar, outras medem cada palavra que fala e chegam a ser lentos. A rapidez de raciocínio também influencia na fala. Quando deparamos com uma situação de perigo, ou bronca, ou surpresa, é comum gaguejar, justamente porque a fala não acompanha o raciocínio lento.

Tudo isso eu escrevo (e reflito enquanto escrevo) para dizer o quanto é complicado pelo menos para mim aprender uma nova língua e conseguir, com desenvoltura, a comunicação ideal. Somos lentos para decifrar o significado das palavras, absorver a mensagem e compreendê-la de forma plena. Mais difícil é canalizar o que pensamos em nossa língua mátria e traduzir em novas palavras, totalmente estranhas ao nosso vocabulário comum. Ok, os especialistas afirmam que não devemos pensar em nossa língua, mas sim na nova – o que dificulta ainda mais o processo.

Somos capazes de nos comunicarmos, de toda forma, porque no final, damos um jeito na mímica, nos gestos, nas caras e bocas, nos desenhos... quem brinca de Imagem&Ação sabe o que estou falando. E tenho dito, rs!


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