Ninguém se lembra, ou pelo menos isso não é comum, quando
aprende a falar e, portanto, a comunicar com o mundo. Somos seres comunicáveis
por natureza e isso a ciência tem como provar. Mas daí ser entendido pelo outro
já é uma outra questão.
Comunicar deixou de ser o velho paradigma de Emissor =>
Meio => Receptor, como se este receptor só recebesse a ação, sem reagir. Hoje,
o paradigma nos atualiza que a verdadeira comunicação acontece entre interlocutores, portanto I <=>
I (relembrando as aulas de teoria!). Para acontecer uma comunicação de fato, o
receptor precisa identificar a mensagem, compreendendo-a. Quantas vezes
falamos, falamos e não recebemos o tal feedback?
Viajar para um país estranho e deparar com uma língua
diferente da nossa nos mostra como ainda somos seres inquietos, justamente por
não conseguirmos obter esse feedback.
A sensação é horrível: falar e não ser compreendido, assim como ouvir e não
entender nada. Ok, há diversas formas de se comunicar, mas ainda somos baseados
na linguagem falada.
Percebemos diferenças e entraves na comunicação também entre
gerações: enquanto o vovô diz que é “uma brasa mora” namorar um “brotinho”, o
neto responder “viajou na maionese”, “tá ligado”, “boladão”. Entre regiões de
um mesmo país, com a mesma língua pátria, existem jargões próprios.
Linguagem informal, linguagem formal, sem linguagem. Aprendemos
desde cedo a forma certa de se comunicar: com o amigo da mesma idade, com as
pessoas mais velhas, com estranhos, com pessoas de cargo superior, com colega
de trabalho etc. Medimos a nossa fala para todas as ocasiões, assim como
escolhemos as nossas roupas para os momentos de festa, lazer, esporte, trabalho.
Talvez a maior dificuldade de “moldar” nossa fala seja no período da adolescência,
quando as gírias predominam (o homem é produto do meio!) e quando deparamos com
situações em que elas devem ser evitadas (parece que há um bloqueio e que não
conseguimos falar a nossa própria língua).
O fato é que comunicação, por mais que seja um ato inerente
ao homem, é complicado. Há pessoas que falam sem parar, outras medem cada
palavra que fala e chegam a ser lentos. A rapidez de raciocínio também
influencia na fala. Quando deparamos com uma situação de perigo, ou bronca, ou
surpresa, é comum gaguejar, justamente porque a fala não acompanha o raciocínio
lento.
Tudo isso eu escrevo (e reflito enquanto escrevo) para dizer
o quanto é complicado pelo menos para mim
aprender uma nova língua e conseguir, com desenvoltura, a comunicação ideal. Somos
lentos para decifrar o significado das palavras, absorver a mensagem e
compreendê-la de forma plena. Mais difícil é canalizar o que pensamos em nossa
língua mátria e traduzir em novas palavras, totalmente estranhas ao nosso
vocabulário comum. Ok, os especialistas afirmam que não devemos pensar em nossa
língua, mas sim na nova – o que dificulta ainda mais o processo.
Somos capazes de nos comunicarmos, de toda forma, porque no
final, damos um jeito na mímica, nos gestos, nas caras e bocas, nos desenhos...
quem brinca de Imagem&Ação sabe o que estou falando. E tenho dito, rs!
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