2 de setembro de 2011

“Princípios editoriais”, eis a questão!


Nessa longa discussão sobre o “futuro do jornalismo” na Era Digital, é interessante refletir que tipo de jornalismo nos é servido diariamente. Por um lado, as mídias tradicionais querem impor seu monopólio como os únicos intermediários da notícia. As Organizações Globo lançaram em agosto “Princípios Editoriais das Organizações”, com intuito de reafirmar sua credibilidade diante do público. Em outras palavras, o recado é simples: “ainda somos uma empresa de comunicação respeitada, confiável, transparente e seguimos princípios éticos, o que nos mantém no posto de liderança nesse mercado”. Será?

Por outro lado, somos massacrados diariamente por informações destorcidas, forjadas, implantadas e sensacionalistas nas mesmas mídias tradicionais que se dizem éticas e transparentes. Para o grande público, o processo de produção pode não ser tão transparente assim, mas nos bastidores, sabemos bem o que significa a famosa matéria REC (Recomendada), pautas prontas (pagas) e “orientações editoriais” sobre uma determinada matéria (quando o repórter induz na resposta do entrevistado ou edita apenas o que lhe interessa informar).

Como profissional de comunicação e jornalista de formação, tento acompanhar as mudanças e as novidades trazidas pelas as novas mídias, mas confesso que o avanço tecnológico é mais rápido que minha curiosidade. Quando o filósofo francês Pierre Levy diz que devemos distinguir canais de fontes, isso quer dizer que podemos usar um canal e escolher diferentes fontes. Ele usa o twitter para exemplificar: “o twitter é uma rede, ou seja, um canal. As pessoas que usam é que são as fontes – sendo essas confiáveis ou não. Cada um é responsável por filtrar essas informações, porque as fontes estão enviando várias informações ao mesmo tempo”.

Esse raciocínio deve ser também para as grandes mídias, ou melhor, as mídias tradicionais. A exemplo das Organizações Globo, sabemos que há diferentes fontes dentro de um mesmo canal. No caso dela, há vários canais para diferentes públicos. Nós - leitores, ouvintes, telespectadores e internautas – devemos filtrar as informações que recebemos e selecionar as fontes que nós confiamos.

O dia a dia de uma redação pode gerar pautas viciadas e clichês como “Enchentes causam transtorno no Rio”, “Tiroteio/Assalto/Tumulto/ causam pânico na cidade”, “Fulano é flagrado almoçando no Leblon”, do mesmo modo que os blogs, redes sociais e o próprio tt podem nos informar algo realmente novo, inovador ou instantâneo. Resta a nós escolhermos qual notícia iremos “digerir” diariamente, diante de múltiplos intermediários (os tradicionais e os novos).

Para os profissionais de comunicação, restam trabalhar diariamente em um jornalismo inovador, interativo e, claro, confiável. A transparência que Pierre Levy defende na nova esfera pública  deve estar presente em todas as mídias, sejam elas tradicionais (principalmente nelas!) quanto às novas. A confiança é uma conseqüência dessa transparência.

Portanto, o discurso sobre os “princípios editoriais” devem sair da teoria nas academias, dos manuais de redação, para a prática diária nas redações. Isso tudo está muito além da polêmica sobre a obrigatoriedade do diploma em jornalismo, porque independe se o profissional que escreve é formado ou não, mas sim se ele é ético e confiável em sua prática.

Chamo atenção do seguinte parágrafo retirado de “Princípios Editoriais das Organizações Globo”:

 “Com a consolidação da Era Digital, em que o indivíduo isolado tem facilmente acesso a uma audiência potencialmente ampla para divulgar o que quer que seja, nota-se certa confusão entre o que é ou não jornalismo, quem é ou não jornalista, como se deve ou não proceder quando se tem em mente produzir informação de qualidade. A Era Digital é absolutamente bem-vinda, e, mais ainda, essa multidão de indivíduos (isolados ou mesmo em grupo) que utiliza a internet para se comunicar e se expressar livremente. Ao mesmo tempo, porém, ela obriga a que todas as empresas que se dedicam a fazer jornalismo expressem de maneira formal os princípios que seguem cotidianamente. O objetivo é não somente diferenciar-se, mas facilitar o julgamento do público sobre o trabalho dos veículos, permitindo, de forma transparente, que qualquer um verifique se a prática é condizente com a crença. As Organizações Globo, diante dessa necessidade, oferecem ao público o documento ‘Princípios Editoriais das Organizações Globo’.”

Diante da reflexão anterior e o que está escrito acima, tire suas conclusões.

2 comentários:

railer disse...

hoje em dia é preciso não ler só um jornal, não se fixar em uma só fonte e sempre pesquisar pra saber se é verdade.

railer disse...

oi mário, quero o resumo sim!
abraços!