Ontem, quando fomos ao cinema, fui infeliz na compra dos assentos. Como pude esquecer do peso da idade e achar que comprar na penúltima fileira não teria problema algum? Pois ela já não sobe as escadas com tanta facilidade assim, e demorou alguns minutos para recuperar o fôlego.
Engraçado, esse mesmo fôlego que eu precisava para
acompanhar aqueles passos largos e ligeiros, quando me buscava na pré-escola. A
diferença é que eu deveria ter uns cinco anos, enquanto ela tinha seus 56.
Hoje, ela tem 84, veja só.
Deus me deu a felicidade de conviver até a fase adulta com
meus quatro avós. Há exatos 10 anos, eu perdi meu avô paterno. Meu querido avô
João Baptista me contava velhas histórias, de antepassados que não tive a oportunidade
de conhecer. Minha avó Odete, ou melhor, vovó Dedé, ironicamente não gostava de
apelidos e só me chamava de Mário Cesar Filho
Meu avô Hugo é um caso de outras vidas. Desde meu
nascimento, até sua partida, fomos sempre ligados. Digo que somos ligados até
hoje, porque ele está sempre presente meus sonhos. Ao lado dele, minha doce avó
de nome difícil, mas de coração fácil. Lugenira, nome que aprendi muito cedo e
sempre tive orgulho de explicar aos meus amigos desde a infância. Se dizem que
avó é mãe duas vezes, a minha confirma isso. Porque ela é mãe da minha, mas se
desdobrou em três para ser mãe de Marcelo, Márcio e Marinho. Ela que se tornou
avó com quarenta e poucos anos, sempre se mostrou presente em nossas vidas e
com um gás de dar inveja.
Minha avó trouxe a segurança e o apoio que minha mãe
precisou, durante nossa infância. Enquanto minha mãe se dividia entre casa,
trabalho e estudo, ali estava minha avó oferecendo o suporte necessário,
zelando por nós. São nas manhãs em sua casa escutando o disco na velha vitrola, com o
socador de alho em formato de microfone, em que eu cantava na sala enquanto ela
preparava o almoço, que guardo as minhas melhores lembranças da infância.
Minhas férias escolares eram no antigo edifício Orquídea, onde fiz meus
primeiros amigos da vida. Às dez da noite, quando o play era fechado, e nós
insistíamos permanecer no corredor, ela descia as escadas (às vezes de pijama)
para me chamar. “Filho, vem pra casa. Já está tarde”.
Poderia citar aqui tantas coisas que aprendi com ela ao
longo de minha formação. Mas minha avó me ensina o valor da família todos os
dias. Ela não mede esforços para isso. Força e fé traduzem a mulher, a mãe,
a esposa, a avó que se tornou. Mas chega ser paradoxal e até engraçado seu
jeito um tanto pessimista para algumas situações, além de seus inúmeros medos.
E com todos seus medos, ela se casou cedo, se mudou para longe de sua família,
criou sua filha, construiu seu lar ao lado do meu avô, e hoje goza de suas
conquistas.
Hoje ela continua conquistando novos corações. São os
sorrisos de seus bisnetos que mais a felicitam. Minha satisfação é vê-la feliz,
vivendo seus 84 anos com seus defeitos, medos, preocupações, mas cheio de
experiências, histórias e vivacidade.
O dia dos avós deve ser lembrado e comemorado, não como uma
data comercial, mas como um dia especial, para reconhecer essas pessoas que
fazem a diferença em nossas vidas, em nossa formação. Meus avós são presentes
de Deus em minha vida, e agradeço imensamente por ter crescido convivendo com
cada um deles, com cada experiência, cada história, cada carinho, bronca, lição
de vida. Continuo aprendendo com minha avó, inclusive agora que já sei qual
melhor fileira para ela no cinema.
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