2 de novembro de 2007

Um sonho especial

A morte não existe. A nossa morte terrena representa apenas a passagem de um lugar para outro. Para uns, um lugar de paz, de muito trabalho e de muitos amigos. Para outros, um lugar nem tão agradável assim, um pouco confuso, escuro. Nós escolhemos qual lugar iremos depois daqui, mesmo que inconsciente. Para quem ainda está neste mundo, hoje é um dia para pensarmos naqueles que partiram. Para esses, oremos a fim de proporcionar a esses luz e conforto.

Hoje, publico um texto que escrevi em março deste ano sobre um sonho especial.

Rio de Janeiro, 24 de março de 2007.

Depois de exatos dezoito dias de tristeza, tive uma manhã feliz. Uma felicidade estranha porque ao mesmo que me confortou, me trouxe a saudade apertada, doída. A mesma saudade que senti no dia em que ele se foi. Foram dezoito dias de muita dor, porque não havia resposta do outro lado. Só a lembrança daquilo que ficou.

Mas hoje ele veio me ver. E veio da maneira mais sublime e delicada que alguém pode fazer depois que faz sua passagem. Veio através de um sonho mediúnico, em que sua presença foi tão real que não pareceu sonho - algo palpável, às vezes fantasioso, às vezes real. Foi um encontro gostoso, caloroso e, por que não, carnal?

Encontrei-o sentado em um banco de madeira, pintado de verde, desses que encontramos em um jardim. O lugar parecia familiar, como se fosse um playground. Não reparei em detalhes, porque só tinha olhos pra ele. Ele era meu foco, meu guia, minha luz. Ele estava bem ali, diante dos meus olhos, com aquele sorriso no rosto. Um sorriso largo, gostoso, como ele sempre tinha quando eu chegava a sua casa.

Minha alegria era tanta em vê-lo, que eu, eufórico, corri em sua direção. Logo quando me aproximei, tive vontade de apertar suas bochechas e assim o fiz. Nossa, que alegria! Vi seu rosto ficando vermelho, como sempre ficava quando se sentia abraçado, beijado, feliz. E ele estava. Estava transbordando uma felicidade serena, calma, confortante, de uma pessoa que estava bem, equilibrada. Sua voz parecia firme, assim como seu abraço que me deu logo em seguida. "Oh meu filho! Eu estou bem!" e voltou a me abraçar forte, com aqueles braços grossos, firmes! Que abraço gostoso. Que força! Que energia! Era esse meu avô! Meu avô de sempre! Aquele que me abraçava de forma bruta, mas ao mesmo tempo, carinhosa e delicada! "Ah bruta flor do querer!"

Em seguida continuou dizendo: "Rezem por mim, meu filho. Eu estou bem, muito bem. Vocês conhecem isso aqui muito melhor do que eu! Mas estou bem".

A minha euforia era tanta que da alegria estonteante veio a bruta saudade, aquela que me fez chorar ininterruptamente. A emoção foi mais forte do que eu. E do meu grande sorriso, veio o choro compulsivo, de alegria e de tristeza. Alegria por estar diante da pessoa que mais desejei revê-la nesses últimos dias. Tristeza por saber que eram apenas momentos e que ele realmente não voltaria mais para cá, entre nós.

Mas só em estar ao seu lado, sentir sua presença, poder apertar suas bochechas rosadas, sentir seu abraço forte, ver seu sorriso largo, já me fez pensar que ele realmente está ali, aqui, entre nós. Ele esteve presente. E tenho certeza disso.

Conforme a emoção me prevalecia, minha visão se desfazia e com ela seu rosto, seu corpo. Só ouvia sua voz, querendo dizer mais coisas. Infelizmente, não compreendia tudo que falava. Ouvia frases soltas, que queriam me dizer algo, mas não conseguia mais entender. Havia ruído, um ruído que não me deixava entender sua mensagem. As poucas coisas que entendia eram "rezam por mim"... "eu estou bem"... mas eram frases soltas.

Meu grau de vibração já não me permitia vê-lo, nem ouvi-lo direito, mas ainda sentia sua presença. Aos poucos, a emoção foi dominando, o choro era involuntário, e a vontade de escutá-lo e vê-lo novamente aumentava. Mas infelizmente, chegou o momento em que nada via, nem ouvia, nem sentia. Ele se foi... ou fui eu que acabei saindo? Deixei a emoção prevalecer e, talvez, foi preciso me afastar para não afetá-lo com a minha dor.

Esta semana completei 25 anos e, durante toda semana, pedi a Deus e aos amigos da Espiritualidade que me deixassem revê-lo, pelo menos para receber o abraço que ele sempre me dava no dia do meu aniversário. Seria o primeiro ano que deixaria de receber esse abraço tão especial para mim. Por isso, pedi que ele viesse em forma de sonho. E ele veio.

Ele veio hoje, por volta das oito horas da manhã de um lindo sábado de sol. Uma manhã que ficará para sempre guardado comigo, porque foi o primeiro sábado que me senti feliz, depois que ele partiu. Feliz porque agora sim, eu recebi o abraço que estava faltando. O abraço dele. O abraço do meu querido avô Hugo.

Obrigado, Vozinho. Obrigado por ter vindo. Obrigado Deus e a todos da Espiritualidade que permitiram a sua vinda. Obrigado por ter sido o primeiro da família a receber sua visita. A visita mais feliz, mais confortante, mais esperada por todos! A visita me trouxe a alegria de volta. A percepção e a certeza de que você está entre nós, perto de todos. Sempre! E que bom que, agora, temos a certeza que você está bem!

5 comentários:

Unknown disse...

Márinho,
Fiquei realmente muito emocionada com essa sua história,pois não sabia que ele tinha aparecido pra vc em um sonho tão real .
Realmente o Vô Hugo nunca deixará de ser especial e acho que nunca vai se afastar de nós.
Parabéns em dobro!!!
Pela mensagem e pelo grande Avô que vc "tem", não importa onde ele estiver.
Quem o conheceu pessoalmente sabe do que eu estou falando....
Beijinhos Gabi.

Luísa disse...

Marinho, que bom ler isso. Mais apropriado impossível. Acho q nao foi por acaso que vim fuçar isso aqui hj. Perdi minha vó ontem... mas sei que está tudo bem.
Bjo, meu amigo querido!

Cris disse...

Mario, meu filho, muito lindo o seu texto, realmente comovente.. Eu tb sonhei com o meu avô logo depois de sua morte, e me reconfortou muito.. ele disse que "ia ficar tudo bem", Disse só isso, sorriu, me abraçou e começou a falar uma lingua q nao entendia, tipo um mantra.. então acordei. É maravilhoso.. uma comunicação mto linda. Saudades tuas! Até sabado!!!

Allyne disse...

Eles nos abraçam sempre... nós é que não somos puros os suficiente pra sentir...

railer disse...

cara,
lindo texto e que bela experiência você teve. eu ando muito triste e é sempre muito bom ouvir/ler palavras bonitas e de conforto.

obrigado pelo apoio e te cuide também.