19 de maio de 2011

Tango - filme de 1998


Como filmar artisticamente uma dança tão peculiar, intensa e complexa como tango? O filme Tango, do espanhol Carlos Saura, não só conseguiu isso como arrisco dizer que é a obra que melhor representa essa cultura argentina. Na visão de um leigo, filmar uma bonita apresentação de dança pode ser sinônimo de registrar apenas um ato, sem maiores cuidados. Entretanto, quando estuda-se técnicas de filmagem, é possível identificar a preocupação do diretor em capturar da forma mais artística possível, ou seja, usando elementos que venham complementar algo que já é belo para quem assiste.

E essa preocupação do diretor Carlos Saura está em optar filmar seu longa em boa parte dentro de um estúdio, com inúmeras possibilidades de visão – plano aberto, plano fechado, plano em detalhe (close) etc, com jogo de câmeras e espelhos. O mais espetacular está em transferir o que é mágico no palco para as telas, sem perder o brilho do espetáculo.

Quando você assiste a um DVD de um show, por exemplo, o que se percebe é um mero registro da apresentação. Com três pontos de captura (duas laterais e uma central, podendo aumentar para mais um ponto, capturando detalhes), você consegue registrar o que acontece no palco, sem interação nenhuma, como um simples expectador. Pois bem, nesse filme, o diretor coloca o telespectador para dentro da cena, o tempo inteiro, como se esse fosse mais um dançarino de tango, acompanhando os nuances das jogadas e entrelaço de pernas, características de um bom tango dançado.

A história em si é bem fraca e tenta, sem muito sucesso, usar uma linguagem com função metalingüística, ou seja, explicar a arte cinematográfica em seu próprio enredo. Portanto, o grande barato do filme são as sequências coreografadas, prato cheio para quem curte dança, em especial o tango.

E certamente um elemento fundamental durante o processo de filmagem foi a escolha da fotografia (iluminação), assinada por Vittorio Storaro. Num cenário cru, ele preenche, como num verdadeiro palco de teatro, as luzes certas para a encenação dramática da dança.

A trilha sonora é de Lalo Schinfrin, que, apesar de não muito conhecida, percorre diferentes versões do tango, buscando em músicos mais experimentes (e por sinal, bem velhinhos) a raiz dessa cultura.

2 comentários:

rafael disse...

se o uso da metalinguagem nesse filme não obtém sucesso, então, eu pergunto, qual filme consegue isso na sua opinião?

Mário Cesar Filho disse...

Rafael, não sei se você volta no blog para ler essa resposta, mas o diretor Almodóvar é mestre nisso e "Má educação" é um bom filme com uso da metalinguagem. Há um outro filme que essa linguagem é muito bem explorada, mas no momento não me recordo o nome. Assim que lembrar, posso lhe encaminhar. Quer deixar seu email? E obrigado pela visita e comentário no blog.