Como filmar artisticamente uma dança tão peculiar, intensa e
complexa como tango? O filme Tango, do espanhol Carlos Saura, não só conseguiu
isso como arrisco dizer que é a obra que melhor representa essa cultura
argentina. Na visão de um leigo, filmar uma bonita apresentação de dança pode
ser sinônimo de registrar apenas um ato, sem maiores cuidados. Entretanto,
quando estuda-se técnicas de filmagem, é possível identificar a preocupação do
diretor em capturar da forma mais artística possível, ou seja, usando elementos
que venham complementar algo que já é belo para quem assiste.
E essa preocupação do diretor Carlos Saura está em optar
filmar seu longa em boa parte dentro de um estúdio, com inúmeras possibilidades
de visão – plano aberto, plano fechado, plano em detalhe (close) etc, com jogo
de câmeras e espelhos. O mais espetacular está em transferir o que é mágico no
palco para as telas, sem perder o brilho do espetáculo.
Quando você assiste a um DVD de um show, por exemplo, o que
se percebe é um mero registro da apresentação. Com três pontos de captura (duas
laterais e uma central, podendo aumentar para mais um ponto, capturando
detalhes), você consegue registrar o que acontece no palco, sem interação
nenhuma, como um simples expectador. Pois bem, nesse filme, o diretor coloca o
telespectador para dentro da cena, o tempo inteiro, como se esse fosse mais um
dançarino de tango, acompanhando os nuances das jogadas e entrelaço de pernas,
características de um bom tango dançado.
A história em si é bem fraca e tenta, sem muito sucesso, usar
uma linguagem com função metalingüística, ou seja, explicar a arte
cinematográfica em seu próprio enredo. Portanto, o grande barato do filme são
as sequências coreografadas, prato cheio para quem curte dança, em especial o
tango.
E certamente um elemento fundamental durante o processo de
filmagem foi a escolha da fotografia (iluminação), assinada por Vittorio
Storaro. Num cenário cru, ele preenche, como num verdadeiro palco de teatro, as
luzes certas para a encenação dramática da dança.
A trilha sonora é de Lalo Schinfrin, que, apesar de não
muito conhecida, percorre diferentes versões do tango, buscando em músicos mais
experimentes (e por sinal, bem velhinhos) a raiz dessa cultura.
2 comentários:
se o uso da metalinguagem nesse filme não obtém sucesso, então, eu pergunto, qual filme consegue isso na sua opinião?
Rafael, não sei se você volta no blog para ler essa resposta, mas o diretor Almodóvar é mestre nisso e "Má educação" é um bom filme com uso da metalinguagem. Há um outro filme que essa linguagem é muito bem explorada, mas no momento não me recordo o nome. Assim que lembrar, posso lhe encaminhar. Quer deixar seu email? E obrigado pela visita e comentário no blog.
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