2 de março de 2012

A Vida da Gente


Meu saudoso avô, depois que se aposentou, tinha o hábito de assistir às novelas de TV. Muitas ele não perdia tempo e deixava de acompanhar logo no início, quando achava uma história boba, sem graça. Já outras, ele acompanhava tão seriamente, que era capaz programar suas saídas antes ou depois da novela.

Eu acho que puxei esse gosto dele. Sou noveleiro, mas não é qualquer folhetim que me agrada. Mas ultimamente, duas novelas me chamaram atenção não só pelas suas histórias como também pelo formato. A primeira foi Cordel Encantado, que realmente encantou o público da novela das seis. Apesar de ser um verdadeiro conto de fadas, com uma história fantasiosa e bem leve, o elenco era excelente, o enredo muito bem amarrado e a fotografia linda, assim como figurino de época.

E toda vez que uma novela de sucesso acaba, sempre fica no ar “será que a próxima será tão boa quanto?”. Pois a novela “A Vida da Gente”, apesar de uma história complexa, que envolvia um triângulo amoroso de quase irmãos – o que seria um enredo no mínimo arriscado para o horário –, também agradou muito seu público.

Coincidência ou não, as duas novelas foram escritas por autoras ainda não muito conhecidas: Thelma Guedes e Duca Rachid (Cordel) e Lícia Manzo (A Vida da Gente). Isso mostra que a renovação na televisão brasileira está dando bons frutos, porque são novas concepções e formatos que dão certo (mais até que novelas de autores badalados).

E por que do sucesso? Uma novela que tem em suas falas frases que nós gostaríamos de dizer para certas situações, ou de questões que paramos para refletir e às vezes tem a ver com momentos da nossa vida, no passado ou no presente.

A trama principal envolvia duas irmãs e um irmão de criação. No primeiro momento, dois irmãos resolvem assumir uma paixão resguardada, ela acaba grávida, se afasta dele no momento que nasce a criança, mas logo depois sofre um trágico acidente que lhe deixa em coma por muitos anos. E justamente nesse período é que sua irmã se aproxima do pai da criança e surgi um novo amor. A família estava perfeita, quando a irmã acorda do coma e reassume sua vida, sua filha e... sua antiga paixão. O conflito amoroso rende bons capítulos, prende o público, cria torcidas rivais das irmãs. No final, os três se separam e quem mais sofre é a pequena Júlia. A autora resolve então terminar o folhetim reunindo, de forma “torta” (como diz velho ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”), graças a uma doença grave da filha, os três novamente. Mas os três protagonistas chegam ao final já maduros, depois de passarem por transformações íntimas. Outros personagens entram na trama e contribuem para essa mudança.

Paralelo a tudo isso, a autora ainda trata de forma consistência e inteligente separações dolorosas, filhos criados sem amor dos pais, relacionamentos ciumentos e inseguros na terceira idade, imaturidade de homem sonhador que não consegue sustentar a própria família, filho que se torna órfão e aprende a conviver com a madrasta imatura, dentre outros. São assuntos tensos, drásticos, mas sempre abordados com tom de realidade.

As mães severas (e megeras) vividas pelas atrizes Ana Beatriz Nogueira e Gisele Fróes mostraram que nem todas as mães são amáveis e compreensíveis (assim como a descuidada e fútil Cris, vivida por Regiane Alves), por outro lado a novela mostrou como é importante a relação entre avós e netos, como a brilhante Iná (Nicette Bruno) e suas netas.

Outro ponto alto da novela foi a escolha da cidade de Porto Alegre como cenário da trama. Mais uma vez, fugiu do comum: Rio de Janeiro ou São Paulo, mostrando belas paisagens do sul brasileiro.


A vida da gente tem todos esses dramas, conflitos, dúvidas, desapegos, amores, decepções, relacionamentos, amadurecimento, perdas. Podem não acontecer tudo ao mesmo tempo, mas são fatos da vida.

2 comentários:

Leticia disse...

Eu adooooro essa novela. Assisto desde o primeiro dia e acho que o principal é que a história é leve, sem apelação. Ela se sustenta pela sutileza, pela emoção, pelos bons diálogos e pela interpretação dos atores. Adorei o trabalho da autora, iniciante ainda nesse universo, mas mostrou a que veio! Agora vamos ver a próxima. Acho q não vou gostar tanto.

PS - Não é pq acabou a novela que vc vai deixar de ir para a esteira, ne?? haha

railer disse...

já tentei mas não consigo ver novela. acho chato. por outro lado, assisto a várias séries e adoro. acho que a série, ao contrário da novela, é mais fácil até pra eu seguir pois é um capítulo por semana.