Que as redes sociais
transformaram as relações interpessoais, isso já não é novidade para ninguém.
As mudanças são inúmeras e cada vez mais essas redes tomam papéis sociais até
então atribuídas às grandes mídias. Tornar-se popular passou ser algo palpável
para qualquer pessoa comum, até para pessoas excluídas da sociedade.
Dois casos chegaram na
mídia tradicional a partir da repercussão imediata no facebook. Tratam-se de
histórias parecidas, com finais felizes, que se tornaram popular porque tinham
um “apelo” sentimental, misturado com admiração e culto à beleza humana. No
primeiro caso, um mendigo jovem pede para uma transeunte tirar uma foto dele.
Ela posta a foto do rapaz com boa aparência, porém com um semblante doente e olhar
melancólico. A beleza do Rafael e seus olhos azuis atraíram muitos
curiosos “por sua história de vida” e resolveram ajudá-lo. (Leia mais na
matéria)
Já no segundo caso, uma
família pobre também teve uma foto postada na rede social por uma advogada que
por curiosidade conheceu a história do casal, enganado por uma suposta proposta
de emprego e acabou nas ruas em
São Vicente, São Paulo. (Leia mais na matéria)
Quantos moradores de rua
deparamos diariamente e nem por isso saímos fotografando e postando suas
histórias para comoção em massa? Tanto no caso do “mendigo gato”, como ficou conhecido, quanto na
família bonita de São Vicente mostraram mais
uma vez que a beleza faz a diferença no quesito “mídia”. A estranheza da
história foi o fato de pessoas bonitas estarem vivendo de forma precária, numa
sociedade que preza pela boa aparência.
A mídia realimenta o que
ela mesma propaga todos os dias nas suas capas de revistas e sites de
entretenimento. O que é belo acaba atraindo o público, portanto, o belo vende bastante.
Não importa se tratamos de uma super estrela do cinema, das passarelas, enfim,
do meio artístico, ou se estamos revelando belezas ocultas, o que importa é a
mídia que essas pessoas podem gerar.
O lado positivo de ambos
os casos é que se tratavam de pessoas com problemas sérios e mereciam sim
atenção de pessoas caridosas que pudessem agir (e não apenas propagar,
cultivar!) e ajudá-las de fato. O “mendigo gato” conseguiu ingressar em
um tratamento sério para largar o vício das drogas, motivo pelo qual o levou a
viver nas ruas e deixar até mesmo sua carreira de modelo. Assim como a família
que conseguiu sair das ruas, arranjar uma moradia e um trabalho para o
patriarca.
É claro que ficamos
felizes em ler na mídia histórias de
superação, de conquistas, de pessoas que se recuperaram graças a benevolência
de pessoas do bem. O que é alvo de observação é como acontece essa seleção, por
parte da humanidade, daqueles que “merecem ser ajudados” e aqueles que
continuarão esquecidos pela sociedade, porque não tem boa aparência, porque são
analfabetos, porque foram esquecidos pela família, porque são negros, doentes,
velhos, deficientes...
Chico Buarque quando
escreveu a letra “O meu guri” mostrou a outra face da mídia. Na inocência de
uma mãe humilde, seu filho “chegou lá” na capa do jornal, ficou famoso
independente do modo: “Chega estampado/ Manchete, retrato/ Com venda nos olhos/
Legenda e as iniciais/ Eu não entendo essa gente/ Seu moço!/ Fazendo alvoroço
demais/ O guri no mato/ Acho que tá rindo/ Acho que tá lindo/ De papo pro ar/
Desde o começo eu não disse/ Seu moço!/ Ele disse que chegava lá”. A fama aqui é
outra, mas o que importa?
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