22 de setembro de 2015

Que horas ela volta? O Filme



Tratar a desigualdade social de forma tão familiar, próxima à realidade da classe média, pode impressionar mais que as cenas que enxergamos todos os dias nas ruas das cidades. Por que? Talvez porque serve muitas vezes de espelho, para aquilo que presenciamos se não em nossa própria casa, pelo menos na casa de alguém conhecido. 

A história contada no filme “Que horas ela volta?”, que traz uma excelente interpretação de Regina Casé no papel de Val, é a velha relação de patrão e empregada. Na verdade, são muitas histórias dentro de uma. Ali é possível ver a real relação de uma dondoca patroa que acredita ser uma excelente empregadora, um filho adolescente que demonstra seu afeto àquela que de fato o criou e educou, e o patrão que revela suas paixões e deslizes diante da filha da empregada. Além, é claro, a relação da empregada com aquela família que a recebeu e por quem tem grande respeito.

A rotina muda com a chegada da filha da Val à cidade de São Paulo, depois de 13 anos longe da mãe. A filha não entende aquela relação entre patrão e empregada, o que torna o filme ainda mais interessante. “Ela é praticamente da família, está conosco há tantos anos”, mas é justamente esse “praticamente” que faz toda a diferença. No final das contas, o que vale é a máxima “cada macaco no seu galho”. Ou seja, “se o patrão lhe oferecer aquele melhor sorvete da geladeira, é apenas por educação, porque ele tem a certeza que você dirá não”. Existe um protocolo velado.

E nessa relação, a desigualdade é escamoteada nas pequenas atitudes, nas cobranças, no olhar de reprovação, no descaso e até na inveja quando a filha da empregada passa no vestibular para uma universidade pública e o filho da patroa, que teve todas as oportunidades possíveis, nem chegou perto da classificação.

É um filme engraçado, leve, cheia de tiradas inteligentes, mas vale mesmo pela reflexão. Se por um lado, as empregadas domésticas vêm conquistando seus direitos nas leis trabalhistas, por outro, falta respeito e verdadeiro reconhecimento por parte dos patrões. De fato, há ótimas histórias com finais felizes, mas há também muitos conflitos nesses relacionamentos.

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