Minha avó acaba de completar 85 anos. Segundo a própria, nem
ela imaginava alcançar essa idade. A cada 24 de janeiro, é um recomeço, um ano
de expectativas, sem saber como será o próximo aniversário. Não é contar o
tempo, muito menos esperar a morte chegar. Apenas o fato de que o avançar da
idade passa ser uma incógnita do que esperar dessa vida, cheia de incertezas.
Minha doce avó não é a pessoa mais otimista que conheço. Suas
inúmeras preocupações e medos lhe fazem uma pessoa antagônica: por um lado, um
ser melancólico, por outro, uma pessoa de fé. Como boa religiosa, recorre
sempre aos seus santos o pedido de saúde, não só para si mas principalmente
para os próximos. Ela vive um dia após o outro, com seus altos e baixos. Mas o
que mais impressiona é sua doação à família. Não existe nada mais importante
que o bem de seus entes queridos. E ela não mede esforços para ver sua família
reunida.
Quando penso sobre o processo de envelhecimento, nada mais
natural que a tenho como minha referência. Ela sempre foi uma pessoa ativa,
cuidadosa, dona de casa zelosa, capaz de preparar o melhor almoço de domingo
para ver sua família feliz em sua mesa redonda. Ela ajudou a criar seus netos, quando
ainda trabalhava fora. E agora, dentro de seu limite, ajuda nos deveres de casa
e nos cuidados dos bisnetos.
Se posso resumir em uma palavra o que minha avó representa
ao longo de seus 85 anos de idade é “doação”. E se amar o próximo mais que a si
mesmo traz vivacidade, então eu quero envelhecer assim.
Pensar no amor como alimento da alma, aquilo
que nos fortalece e é a razão para viver em paz consigo. É envelhecer com
sabedoria, sem excessos, sem vícios, mas sem deixar a vontade de aproveitar
cada momento, principalmente quando temos ao nosso lado nossos amores.
Não sei se chegarei aos 85, mas meu maior desejo é saber
envelhecer, encarando com maturidade os limites do corpo, mas alimentando sempre
o espírito jovem até o fim.
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