6 de junho de 2008

O Erudito clama pelo popular

Ou é o popular que clama pelo erudito? Só sei que hoje tive uma experiência fascinante. Graças ao projeto “Rio Folle Journée” (Jornada Louca, no Rio), em que concertos são apresentados a preços populares, estudantes de escolas públicas do Rio e tantos outros jovens de classe média baixa, ou baixa, puderam se deliciar ao som clássico e retumbante de Mozart e Beethoven. A Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, composta – como o próprio nome já sublinha – por jovens e talentosos músicos, se apresentou hoje, na sala Cecília Meireles para um concerto único e admirável.

É comum pessoas julgarem música clássica como música para elite, ou seja, para poucos. Muitos fazem cara feia, torcem o nariz ou resmungam quando escutam alguém dizer que a verdadeira arte está na profundidade e eloqüência (no sentido de expressividade) da música de Ludwig Van Beethoven, Johann Sebastian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart, Johann Strauss, Tchaikovsky, Frédèric Chopin e tantos outros. “Música clássica só serve para dormir”, já ouvi várias vezes. Ou então: “música assim só na entrada dos padrinhos e noivos num casamento”.

Onde e quando você escuta música clássica?

Aos mais idealistas, puritanos da arte clássica, só os mais preparados e estudiosos conseguem compreender a verdadeira grandeza da música erudita. Por aí, mergulham-se em opus, quartetos, sonatas, primeiro, segundo e terceiro movimentos, sinfonia número 39 em mi bemol maior, com adágio, allegro, andante, allegretto ou menuetto... Mas vamos falar a verdade, precisa entender tudo isso para apreciar a boa música? Qual a sensação que sentimos ao ouvir uma orquestra? Eu pelo menos, não muito raro, me vejo com olhos fechados, refugiado em lindas paisagens, com cachoeiras, montanhas, bosques, banhado de luz e energia positiva, sentindo a presença dos bons fluidos.

Essa sensação de fuga não é tão utópica quanto pensamos. Quando assistimos um filme, em que um clássico alinha à trilha sonora, conciliamos os sentidos audiovisuais em sentimentos, em sensações de fuga da realidade. Saímos do nosso mundo para invadir o mundo cinematográfico, da fantasia, do irreal. É certamente o casamento perfeito.

Onde quero chegar com essa filosofia barata? Ao ponto de partida: quando o erudito clama pelo popular. Vamos nos permitir ouvir os acordes e arranjos de um clássico. Perceba as sensações que a música nos proporciona, sem preconceitos, sem elitismo, bemóis, sustenidos, allegrettos, opus... não importa nomes, técnicas, teorias musicais. O que importa é o sentimento sublime de paz íntima e grandeza espiritual que a música clássica nos propicia! Perceba o diálogo entre violinos e violoncelos, trompas e trompetes, oboés e fagotes, piano e flautas!

Se Beethoven, mesmo com deficiência auditiva, teve a bravura de compor suas últimas sinfonias, tendo apenas a percepção da marcação do ritmo com as batidas no piano (e para tanto, ele cortou os pés do piano de caldas, para “ouvir” direto do chão as vibrações emitidas pelo instrumento), por que nós, agraciados de audição, não consentimos ao espetáculo sonoro?

Saiba mais sobre Rio Folle Journée

Um comentário:

railer disse...

gosto de música clássica, escuto em casa enquanto faço outras atividades, escuto pra relaxar e também deixo tocando quando vou dormir.

já fui em recitais de piano. acho muito bonito, apesar de não entender muito... vou acompanhando o roteiro e quando acho que já ouvi várias performances e acho que já está perto do final, ainda está bem no início... rs