26 de outubro de 2010

Juventude - uma vida de “big brother”

Final da adolescência início da fase adulta é um momento de muitas descobertas, mas também de conflitos internos e auto-afirmação. Os jovens são críticos por natureza e não perdoam qualquer tipo de atitude que foge da “normalidade”, mesmo sabendo que nessa fase nada é 100% normal. Ao começar pelas descobertas sexuais.

Quando você é jovem, perder a virgindade é uma questão de honra e afirmação da masculinidade entre os amigos, principalmente. Se não arranja um sexo com alguma menina da sua idade, ou com as mais “experientes”, procura as profissionais mesmo. E aí é que está o primeiro conflito. Quem disse que o garoto tem que perder a virgindade logo cedo, com seus 14 anos ou até menos? E por que tem que pagar para transar com uma estranha? 

Ser popular na escola, ter boa lábia, conquistar as meninas mais sebosas e, obviamente, as mais gostosas do colégio parece ser o mais importante para um garoto considerado “normal” para essa faixa etária. E aquele que não se encaixa nesse perfil, já pode ser considerado marginal, esquisito, ou problemático.


Passar por essa fase da vida “ileso” não é garantia de que o adulto em que este jovem irá se tornar será bem resolvido com ele mesmo. Muitas vezes, o adulto cresce, mas continua com pensamento infanto-juvenil, querendo mostrar para os outros aquilo que ele muitas vezes não é. É claro também que as preocupações são outras, os problemas são muito mais sérios que isso. Mas quando o jovem enfrenta certos problemas chamados de “gente grande”, eles são desafiados a crescerem de forma rápida e drástica. Isso acontece, por exemplo, quando se torna órfão, quando passa por uma doença grave, ou questões financeiras etc.


Realmente, uns amadurecem e se tornam adultos respeitáveis. Já outros não aguentam a carga e acabam entrando em caminhos tortuosos, perigosos e, quando não, mortais, se “fazendo de vítima das circunstâncias”.

No inteligente filme “As melhores coisas do mundo”, os conflitos peculiares dos jovens estão lá: puberdade, sexualidade, relacionamentos, frustrações amorosas, desejos, problemas familiares, escolares etc. Em princípio, pode parecer um filme para essa idade, mas não é. Com quase trinta anos, eu me vi em alguns momentos do filme, se não agora, pelo menos pela lembrança das mesmas histórias vividas enquanto adolescente, terminando o antigo ensino médio.


Na história, Mano é um jovem de 15 anos que parece ser como outro qualquer, mas não é bem assim. Ao contrário dos seus amigos, ele não teve coragem de ir para cama com uma prostituta, não tinha lábia fácil para conquistar as meninas de sua idade e era apaixonado pela garota mais bonita (traduz: a mais gostosa) da escola. Estudava violão para impressionar as meninas. Seu melhor amigo na verdade era uma menina que andava entre os garotos, e que era a única para quem ele contava seus segredos. Admirava seu irmão um pouco mais velho que ele, por ser um cara mais “safo”, ser músico e poeta, namorar uma linda garota e levar uma vida tranquila, aparentemente sem complicações.


Talvez Lulu Santos traduzisse bem em suas letras um pouco de Mano e tantos outros garotos dessa idade. “Faltava abandonar a velha escola, tomar o mundo feito coca cola, fazer da minha vida sempre o meu passeio público, e ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único”, ou ainda “Os garotos da escola só a fim de jogar boa, e eu queria ir tocar guitarra na TV; aí veio a adolescência, e pintou a diferença, foi difícil de esquecer. A garota mais bonita, também era a mais rica, me fazia de escravo do seu bel prazer”.


Mas ao longo do filme, principalmente depois da separação de seus pais e a descoberta que seu pai tem uma nova companhia (no caso, um novo companheiro), seus problemas aumentam de forma incontrolável. Mesmo nos tempos modernos, como passar ileso numa conturbada fase da vida, quando o seu pai tem um namorado e toda sua escola fica sabendo disso? Daí entra a questão em voga do bullying (intimidação), hoje tão discutido nas escolas. Mano sofre e até apanha por preconceito dos outros garotos. Mas como ele mesmo afirma, o problema não é só com ele. Na verdade, ele é a vítima da vez, porque qualquer jovem está sujeito a passar por constrangimento, exposição e preconceito entre seus colegas. “Vivemos em um big brother do mal”, ele diz revoltado no pátio do colégio. E realmente o que se tem hoje, facilitado ainda mais pelas mídias digitais, é uma exposição exacerbada e inescrupulosa da vida alheia. Ninguém pode peidar debaixo do edredom porque no final todo mundo vai sentir o cheiro, de uma maneira ou de outra. E com certeza vão rir da sua cara, sem piedade.


O que achei interessante, talvez porque na minha época de escola não era tão comum assim, é como os jovens hoje vivem interligados e até viciados em tecnologia em tempo integral. A fofoca chega por torpedo. Uma das alunas do colégio é praticamente uma paparazza juvenil, que anda para todo canto da escola com sua máquina digital, sempre pronta para captar a imagem de alguém em situação suspeita, e depois jogar em seu blog sensacionalista para criar polêmica.


Os educadores de agora têm preocupações a mais por conta disso, assim como os pais desses jovens. Não basta educar, tem que acompanhar de perto esse avanço tecnológico, pelo menos para entender a língua dos jovens e como a Internet, através de sites de relacionamentos, comunidades online, blogs etc., interfere na vida deles.


Esse olhar crítico dos jovens está cada vez mais aguçado, apurado e, portanto, perigoso. Não existe inocente nesse jogo. O que deve existir sempre é limite dado pelos pais, principalmente. Mas isso é papo para outro post.


O que é legal citar aqui é como às vezes nós, já adultos, não percebemos como essa fase é importante para o resto das nossas vidas, seja para o bem, seja para o mal. É nessa fase que estamos formando nossa personalidade, nossos princípios, nossos ciclos de amizade, nossa conduta para vida. Aos que passaram por essa etapa cheio de dúvidas e conflitos, podem se tornar adultos emocionalmente perturbados ou, no mínimo, mal resolvidos consigo mesmo, transferindo ao próximo seus medos, suas culpas, suas frustrações.


É claro que isso não vale para todos. Muitos conseguem crescer de fato e perceber que isso foi apenas uma fase chata da vida, sem muitas boas lembranças para contar. Ninguém vai “morrer” se não foi o mais popular, o mais inteligente, o mais pegador, o mais querido etc. Não somos programados para sermos o máximo, pelo menos não deveríamos.

2 comentários:

Geli, Angie, Angel, Angélica disse...

Ai concordo totalmente com voce! Eu morei na Inglaterra nessa época e tive alguns problemas com esse tipo de coisa, mas superei e virei quase uma adulto normal - hehehehe. No fundo se a juventude olhasse mais pro que realmente importa teríamos adultos menos frustrados. beijos

railer disse...

não vi esse filme, mas gostei da crítica.

a escola ensina muito pra gente.