Em época de guerra, um jovem se despede de sua amada, após a
convocação do serviço militar. Havia pouco tempo juntos, mas o bastante para
criarem um laço profundo. Tristes pela forçosa separação e pelo destino incerto,
eles não se prometeram nada, apenas cartas.
Ele partiu sem saber seu futuro, enquanto ela lamentava aquele
súbito desfecho de um romance promissor. Os anos se passaram, as cartas foram
se tornando cada vez mais raras, e um novo pretendente apareceu no meio do
caminho. Só restavam as boas lembranças daquele que talvez fosse seu verdadeiro
amor.
Mas o destino tem lá suas belas surpresas. Com o fim da
guerra, as tropas retornaram às suas origens, trazendo seus heróis, entre feridos,
mutilados e sobreviventes. Dentre tantos, lá estava aquele rapaz apaixonado,
que deixou uma vida pendente, um amor incubado. E sua força em retomar aquela
história inacabada era tão forte, que não importavam as páginas escritas por
terceiros durante sua ausência. Ele voltou disposto a retornar do ponto que
parou.
Ao descobrir do novo romance de sua amada, com a mesma
bravura e persistência que lutou nos difíceis anos de guerra, ele decidiu
brigar por ela. Ah! O amor... não há tempo e distância que o separem de
verdade. Eles se reencontraram, é claro, e aquilo que já estava previsto, só
confirmou com matrimônio.
E Deus, com sua benevolência infinita, lhes permitiu uma
vida a dois digna dos grandes romances. Em novembro de 2013, eles completaram
66 anos de casados.
Recentemente, um dos casais mais emblemáticos da televisão
brasileira – Paulo Goulart e Nicette Bruno – comoveu a todos com a partida do
ator, que desencarnou após longo período doente. Depois de 60 anos de casados, comemorados
durante a internação dele, nem a morte trouxe a separação do casal. Como Nicette
afirmou na ocasião, trata-se de uma breve separação, porque o amor é eterno e a
certeza de que um dia estarão juntos novamente é a mesma de que somos imortais.
Diante de exemplos como esses, questiono como nossa geração
enxerga o verdadeiro valor do casamento, de um relacionamento em geral. Vejo alguns
casais descrentes de uma vida longa a dois, incapazes de superar crises
conjugais e dificuldades comuns da vida moderna. É claro que, para existir um casamento
maduro, é preciso renúncia, mais acima de tudo respeito e companheirismo. A
vontade de um não pode sempre prevalecer a do outro. Não existem regras, somos
sujeitos ao erro, mas saber reconhecer suas falhas e buscar o equilíbrio é
sempre o melhor caminho. Aprendemos com os erros nossos e alheios. Aprendemos a
ouvir mais que falar. Aprendemos a reconhecer a renúncia do próximo, ou pelo
menos deveríamos prestar mais atenção.
Por outro lado, vejo pessoas que buscam incessantemente por
um amor perfeito, quando sabemos que não há perfeição. Muitas vezes, por
depositar nossa felicidade no próximo, nos decepcionamos, frustramos nossas
inúmeras expectativas quando não “encontramos a pessoa certa”. A velha
ansiedade nos cega para o que está ao nosso lado. Desejamos o impossível, o
inviável, o inexistente. Vivemos a vida alheia, daqueles que “deram certo”,
acompanhando a felicidade superficial estampada nas redes sociais. Estou para
ver alguém postar uma foto de separação com a legenda “já vai tarde”!
Acredito no destino, no amor duradouro, no casamento maduro
e feliz, como os exemplos descritos lá em cima. Eles superaram a dor da
separação, seja por uma guerra, seja pela dor da morte, mas nem por isso esqueceram
o verdadeiro significado do casamento. Amor para toda vida, com todos seus
dilemas, suas dúvidas, seus dramas, distâncias, brigas, desencontros, mas, sobretudo,
amor eterno.
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